quarta-feira, 21 de novembro de 2018

MAIS UMA DISCIPLINA INTEIRINHA PRA VOCÊ: UTOPIAS E DISTOPIAS FEMINISTAS, PARTE II

Pessoas queridas, este ano eu comecei a dar aula na pós-graduação. Ofereci uma disciplina no primeiro semestre sobre distopias e utopias feministas. Deu tão certo que, por sugestão de alunas e alunos, estou dando uma segunda parte agora, no segundo semestre (quase no fim).
Para preparar esta disciplina, mais uma vez pedi sugestões a experts no assunto, como a Ana Rusche, Amanda Pavani e Melissa de Sá, todas pesquisadoras (e escritoras). Também pedi textos a Aline Valek (a turma adorou o seu conto!), e a professora Ildney Cavalcanti, referência internacional no tema. 
Como fiz em abril, gostaria de compartilhar esta disciplina com vocês. Todos os textos, todos os links, todas as referências, estão aqui. Quem quiser pode se inspirar pra montar seu próprio curso (primeira parte inteira aqui), misturar tudo, incluir textos que achar mais relevantes. E quem não está na academia pode só ir atrás das leituras, que são maravilhosas. Vamos aprovueitar, antes que proíbam qualquer cosia relacionada a feminismo e pensamento crítico na universidade, e antes que bombeiros venham queimar nossos livros (como na distopia de Ray Bradbury Fahrenheit 451). 

DISCIPLINA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS    2018.2   
Teoria dos Gêneros Literários II: Utopias e distopias feministas
Professora responsável: Lola Aronovich
Carga horária: 64h. No. de créditos: 4

Ementa: Distopias e utopias são gêneros literários que foram apropriados pelas feministas já no início do século XX. Nada mais adequado: este tipo de ficção científica conectada à crítica socio-econômica permite que mulheres imaginem universos alternativos bastante radicais no futuro. É uma chance de revisar o passado e de especular sobre o futuro próximo, pensando em corpos alienígenas e identidades de gênero menos binárias, alternativas para políticas reprodutivas, e saídas para cenários apocalípticos. A disciplina tem como objetivo estudar algumas obras de ficção representativas deste gênero híbrido e analisar não apenas gêneros (genres) literários (e uma série de TV), como também gênero (gender), entendido como uma construção social, cultural e histórica do que é feminino e masculino. Atenção: Não é preciso ter cursado a disciplina de 2018.1 sobre utopias e distopias feministas para fazer esta disciplina.

Forma de avaliação: Cada alunx deverá apresentar individualmente um ou dois seminários de 20 a 30 minutos relacionado a um dos textos teóricos, fazendo a ligação entre a teoria e a obra literária em questão (50% da nota). Além disso, o aluno deverá trazer por escrito reflexões acerca dos textos e duas ou três perguntas bem elaboradas para cada aula (40% da nota). 10% da nota será pela participação em sala de aula. 

Corpus
Speech Sounds (conto de 1983 da afro-americana Octavia Butler)
Eu, Incubadora (conto de 2013 da brasileira Aline Valek)
The Woman who Thought She Was a Planet (conto de 2009 da indiana Vandana Singh)
Morgana Memphis contra a Irmandade Gravibranâmica (conto de 2011 da brasileira não binária Alliah)
A Rainha do Ignoto (romance de 1899 da cearense Emília Freitas, uma das primeiras obras de ficção científica publicadas no Brasil, e o primeiro romance publicado por uma mulher cearense)
Terra das Mulheres (romance de 1915 da americana Charlotte Perkins Gilman)
The Female Man (romance de 1975 da americana Joanna Russ. Não tem em português. Tem no original, em inglês. E em espanhol, com o delicioso título de El Hombre Hembra).
O Conto da Aia (série de TV de 2018 adaptada do romance de 1985 da canadense Margaret Atwood)
A Parábola do Semeador (romance de 1993 da afro-americana Octavia Butler)
O Poder (romance de 2016 da britânica Naomi Alderman)

Cronograma
– Introdução à disciplina, apresentação, recapitulação da disciplina de 2018.1

– Contos: “Speech Sounds”, de Octavia Butler, e “Eu, Incubadora”, de Aline Valek
Texto: The three faces of utopianism revisited, de Lyman Tower Sargent   
Texto: Dystopias, do The Encyclopedia of Science Fiction, editado por Clute et al

– Contos: "The woman who thought she was a planet", de Vandana Singh, e "Morgana Memphis contra a Irmandade Gravibranâmica", de Alliah
Texto: Feminismo e utopia, de Susana Bornéo Funck  
Texto: A distopia feminista contemporânea, de Ildney Cavalcanti 

– A Rainha do Ignoto
Texto: A Rainha do Ignoto: um romance fantástico?, de Goretti Moreira  
Texto: Capítulo 2: A Rainha do Ignoto e a construção de uma alteridade insubordinada, da dissertação de Adriana Emerim Borges

– A Rainha do Ignoto e Terra das Mulheres
Capítulo 3: A Rainha do Ignoto e a construção de uma utopia feminina, da dissertação de Elenara Walter Quinhones
Texto: A Rainha do Ignoto e Herland: feminismos utópicos-separatistas, de Ildney Cavalcanti e Aline Maire de Oliveira Gomes 

– Terra das Mulheres
Texto: Essencialismo e construcionismo na ficção utópica de Charlotte Perkins Gilman: Herland e With Her in Ourland, de Fátima Sousa  
Texto: Sex before gender: Charlotte Perkins Gilman and the evolutionary paradigm of utopia, de Bernice L. Hausman 

– The Female Man
Texto: Entrevista de Amanda Pavani com Marge Piercy  
Texto:  "Something like a fiction": speculative intersections of sexuality and technology, de Veronica Hollinger  

– The Female Man
Texto: Marginalization of "the Other": gender discrimination in dystopian visions by feminist science fiction authors, de Anna Gilarek 
Texto: Parte 3 da dissertação de mestrado Três leituras de ficção científica, de Marlova Soares Mello 

– O Conto da Aia (série de TV)
Texto: Pesadelo sem Fim: por que distopias feministas devem parar de torturar as mulheres, de Sarah Ditum  
Texto:  Competência midiática: o ativismo dos fãs de The Handmaid's Tale, de Daiana Sigliano e Gabriela Borges 

– O Conto da Aia (série de TV)
Texto: O imagético vitoriano e a produção do saber sobre a sexualidade em “The Handmaid's Tale”, de Bárbara Bianchi Rolim   
Texto:  Atributos de séries dramáticas de sucesso e engajamento da audiência, de Silvio Antonio Luiz Anaz  

– A Parábola do Semeador
Texto: Octavia Butler, afroculturismo e a necessidade de criar novos mundos, de Carlos Calenti  
Texto: Devil girl from Mars: Why I write science fiction, de Octavia Butler  

– A Parábola do Semeador e O Poder
Texto: Sobrevivendo pela mudança: a temática do deslocamento na literatura fantástica afro-americana, de Alexander Meireles da Silva  
Texto: The persistence of hope in dystopian science fiction, de Raffaella Baccolini  

– O Poder
Texto: What if women were in charge?, de Bridget Read  
Texto: Naomi Alderman on the world that yielded “The Power”, de Ruth La Ferla 

Bibliografia

ALDERMAN, Naomi. O poder. Trad. Rogério Galindo. São Paulo: Planeta do Brasil, 2018. 

ALLIAH. Morgana Memphis contra a Irmandade Gravibranâmica. A fantástica literatura queer, Vermelho. São Paulo: Tarja Editorial, 2011. P. 13-48. Acesso em: 29 jul 2018.

ANAZ, Silvio Antonio Luiz. Atributos de séries dramáticas de sucesso e engajamento da audiência. Significação: Revista de Cultura Audiovisual USP, São Paulo, v. 45, n. 50, p. 239-258, jul-dez 2018. Acesso em: 30 jul 2018. 

BACCOLINI, Raffaella. The persistence of hope in dystopian science fiction. MPLA, v. 119, no. 3, Special       Topic: Science Fiction and Literary Studies: The Next Millennium (May, 2004), p. 518-21. Acesso em: 26 jun 2018.

Emilia Freitas em rara imagem
BORGES, Adriana Emerim. Capítulo 2: A Rainha do Ignoto e a construção de uma alteridade insubordinada. A representação de duas heroínas marginais: uma leitura gendrada de A Rainha do Ignoto, de Emília Freitas, e de Videiras de Cristal, de Luiz Antonio de Assis Brasil. p. 26-40. Dissertação de mestrado. Pontífica Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2010. Acesso em: 16 jun 2018.

BUTLER, Octavia. “Devil girl from Mars”: why I write science fiction. Palestra em MIT em 1998. Acesso em: 16 jun 2018.

_____. A parábola do semeador. Trad: Carolina Caires Coelho. São Paulo: Morro Branco, 2018.

_____. Speech sounds. Asimov's science fiction magazine, 1983. Acesso em: 29 jul 2018.

CALENTI, Carlos. Octavia Butler, afrofuturismo e a necessidade de criar novos mundos. Afrofuturismo: cinema e música em uma diáspora intergaláctica. São Paulo: Caixa Cultural, 2015. P. 10-25. Acesso em: 29 jul 2018. 

CAVALCANTI, Ildney, GOMES, Aline Maire de Oliveira. A Rainha do Ignoto e Herland: feminismos utópicos-separatistas. Anais do VI SENALIC. Org. Carlos Magno Gomes, Ana Maria Leal Cardoso, Maria Lúcia dal Farra. São Cristóvão: GELIC, v. 06, 2015. Acesso em: 16 jun. 2018. 

CAVALCANTI, Ildney. A distopia feminista contemporânea: um mito e uma figura. Refazendo nós: ensaios sobre mulher e literatura. Org. Izabel Brandão, Zahide L. Muzart. Florianópolis: Mulheres, 2003. P. 337-60.

CLUTE, John, LANGFORD, David, NICHOLLS, Peter, SLEIGHT, Graham, ed. Dystopias. The encyclopedia of science fiction. 3a ed, 2014. Acesso em: 26 jun 2018. 

DITUM, Sarah. Pesadelo sem fim: por que distopias feministas devem parar de torturar mulheres. Trad. Vinicius Simões. Escreva Lola Escreva, 21 de junho de 2018. Acesso em: 21 jun. 2018.

FREITAS, Emília. A Rainha do Ignoto: romance psicológico (1899). 2a ed. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1980. 

FUNCK, Susana Bornéo. Feminismo e utopia. Estudos Feministas ano 1, n. 1/93, UFSC, Florianópolis, p. 33-48. Acesso em: 29 jul 2018.

GILAREK, Anna. Marginalization of “the Other”: Gender discrimination in dystopian visions by feminist science fiction authors. Text Matters, v. 2, no. 2, 2012. Maria Curie-Sktodwska University, Lublin. p. 1-18. Acesso em: 16 jun. 2018.

GILMAN, Charlotte Perkins. Terra das Mulheres. Trad: Flávia Yacubian. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018. 

HAUSMAN, Bernice L. Sex before gender: Charlotte Perkins Gilman and the evolutionary paradigm of utopia. Feminist Studies, v. 24, no. 3 (Autumn, 1998), p. 488-510. Acesso em: 30 jul 2018.

HOLLINGER, Veronica. "Something like a fiction": speculative intersections of sexuality and technology. Queer universes: sexualities in science fiction. Liverpool: Liverpool University Press, 2008. P. 140-160. Acesso em: 30 jul 2018. 

LA FERLA, Ruth. Naomi Alderman on the world that yielded “The Power”. The New York Times, 29 de janeiro de 2018. Acesso em: 30 jul 2018. 

MELLO, Marlova Soares. Parte 3. Três leituras de ficção científica: uma dissertação sem título. Dissertação de mestrado em Letras. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2017. P. 68-100. Acesso em: 30 jul 2018. 

MILLER, Bruce. O Conto da Aia (série de TV baseada no romance de Margaret Atwood). Hulu, 2018.

MOREIRA, Goretti. A Rainha do Ignoto: um romance fantástico? Revista da Academia Cearense de Letras. Ano CVI, n. 61, 2006. P. 102-121. Acesso em: 29 jul 2018.

PAVANI, Amanda. Comunidades, ficção científica e literatura com Marge Piercy (entrevista). Em Tese, Belo Horizonte, v. 23, n. 3 (2017). Acesso em: 4 set 2018. 

QUINHONES, Elenara Walter. Capítulo 3: A Rainha do Ignoto e a construção de uma utopia feminina. Entre o real e o imaginário: configurações de uma utopia feminina em A Rainha do Ignoto, de Emília Freitas. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Santa Maria, 2015. P. 95-125. Acesso em: 16 jun 2018.

READ, Bridget. What if women were in charge? Vogue. 13 de outubro de 2017. Acesso em: 30 jul 2018. 

ROLIM, Bárbara Bianchi. O imagético vitoriano e a produção do saber sobre a sexualidade em "The Handmaid's Tale". Revista Fantástica. Verão 2018.  P. 85-94. Acesso em 29 jul 2018. 

RUSS, Joanna. The female man. Nova York: Bantam Books, 1975. (Trad em espanhol).

SARGENT, Lyman Tower. The three faces of utopianism revisited. Utopian Studies v. 5, no. 1 (1994), p. 1-27. Penn State University Press. Acesso em: 16 jun. 2018.

SIGLIANO, Daiana, BORGES, Gabriela. Competência midiática: o ativismo dos fãs de The Handmaid's Tale. Comunicação e Inovação, v. 19, n. 40 (2018), p. 106-122. Acesso em: 30 jul 2018.

SILVA, Alexander Meireles da. Sobrevivendo pela mudança: a temática do deslocamento na literatura fantástica afro-americana. Cerrados. UnB, v. 27, Brasília, 2009. P. 147-169. Acesso em: 30 jul 2018. 

SINGH, Vandana. The woman who thought she was a planet. The woman who thought she was a planet and other stories. P. 39-54. India: Penguin, 2009. Acesso em: 29 jul 2018.

SOUSA, Fátima. Essencialismo e construcionismo na ficção utópica de Charlotte Perkins Gilman: Herland e With her in Ourland. Panorâmica: Revista Electrônica de Estudos Anglo-Americanos. 2A ser. 1 (2008): 83-98. Acesso em: 16 jun. 2018. 

VALEK, Aline. Eu, incubadora. Universo desconstruído: ficção científica feminista. Org. Aline Valek, Lady Sybylla. 1a ed. 2013. P. 117-148.

7 comentários:

Anônimo disse...

Que linda! Presentão mesmo! Você é muito generosa, Lola. Seria bom se mais professor@s compartilhassem suas disciplinas.

Anônimo disse...

Nossa, Lola, muito obrigada! Excelente material!

Anônimo disse...

Bons artigos indicados. Não poderei participar do curso mas já estou lendo os artigos.

Felipe Roberto Martins disse...

Lola lindo!!! :).

NomeDiferentus disse...

Queria tanto participar do curso. Mas Já fico feliz com as recomendações.

Alan Alriga disse...

Como foi bom ter esperado para receber tantas indicações boas 😍

Georgia disse...

que ideia maravilhosa Lola!