quarta-feira, 22 de agosto de 2018

BABIY, PRESA E CONDENADA POR SER NEGRA

Esta é mais uma história de como o racismo institucional segue forte no Brasil.
Bárbara Querino, conhecida como Babiy, tem 20 anos, é modelo e dançarina. Foi acusada de fazer parte de dois roubos de carro à mão armada. Está presa desde 16 de janeiro. Agora no dia 10 de agosto, foi condenada a 5 anos e 4 meses de prisão -- por um crime que não cometeu. 
No dia 10 de setembro do ano passado, o irmão de Babiy, junto a outros três rapazes, roubou um carro num semáforo em SP. Babiy sequer estava em São Paulo nesse dia. Ela estava no Guarujá, trabalhando, junto a outras 30 modelos (três delas foram testemunhas de Babiy, e há fotos e vídeos provando que ela estava lá). 
Porém, no dia da prisão de seu irmão, 04/11/2017, Babiy, a mais velha entre seis filhos, e a única mulher, estava em casa. 
Foi ver na rua o que estava acontecendo, junto a outras duas amigas. Todas foram levadas para a delegacia. Já no trajeto da viatura, os policiais tiraram fotos das "acusadas" com seus celulares. Na delegacia, Babiy foi fichada e as fotos foram compartilhadas com um programa sensacionalista de TV e grupos de policiais nas redes sociais. As imagens foram espalhadas pedindo que as pessoas fizessem o reconhecimento. 
No dia seguinte, depois de passar 16 horas no camburão aguardando ser chamada para prestar depoimento e finalmente ser liberada, Babiy correu para fazer o Enem.
O irmão conta que a prisão de Babiy foi uma retaliação por ele ter repassado os pertences que roubou antes de ser preso. Os policiais exigiram armas e dinheiro dele na tentativa de extorsão e, diante da negativa, levaram Babiy como castigo
Veja a reportagem a partir do
23o minuto
Mesmo sem provas contra ela, foram abertos dois processos. Em 16/01/2018 foi emitido um mandado de prisão e ela foi encaminhada para a Penitenciária de Franco da Rocha.
Desde então, a mãe de Babiy pede doações para pagar o advogado e para poder visitar a filha na prisão. 
Fernanda (mãe de Babiy) e Mayara
Ela pediu ajuda a Mayara, assistente social e amiga de Babiy desde o ano passado, quando se conheceram através da dança e da religião. Segundo Mayara, ainda estão aguardando a decisão pelo segundo processo, já que Babiy responde a dois processos errôneos e injustos. 
Bruno Cândido, o advogado de Babiy, explica que era impossível a vítima ter reconhecido Bárbara no dia do assalto, pois a vítima estava deitada no chão com a cabeça para baixo. Ela diz ter reconhecido Babiy pelo "cabelo parecido". Diz Bruno: "O caso da Bárbara lembra o que aconteceu com o Vinicius Romão (ator negro que foi preso por engano e solto após 16 dias preso), que 'todo preto é igual'. A vítima (do assalto) não reconhece o fenótipo dela, e acha que, pelo cabelo e tamanho, 'pode' ser ela. Se fosse uma pessoa branca, fariam questão de verificar uma identidade".
Outro advogado, que não está no caso, vê com estranheza a condenação de Babiy: "Para desconsiderar um álibi, você tem que ter muita prova contrária". Ele entende a sentença como típica do racismo institucional do Judiciário. 
Como é comum, Babiy teve que esperar sete meses presa até ficar cara a cara com um juiz. E, mesmo diante de todas as evidências de sua inocência, o juiz a condenou. Não é irrelevante notar que o juiz que condenou Babiy é o mesmo que acabou de inocentar o estudante de medicina (e atualmente médico que vai se especializar em ginecologia) da USP, acusado de seis estupros. Segundo o juiz, não havia provas suficientes sobre os estupros.
O que aconteceu com Babiy não é exceção. É a regra. Felizmente, ela está recendo apoio de famliares, amigos, políticos e ativistas por sua liberdade. Mas, se não fizermos barulho, ela (e tantas outras negras encarceradas por serem negras) continuará presa.
Você pode acompanhar toda a movimentação do caso pela página criada por Mayara, Todos por Babiy. E, para compartilhar essa história, é importante usar a tag #TodosPorBabiy
Babiy está presa há oito meses. Se você não se revolta com essa situação, você é conivente com o racismo. 

16 comentários:

Anônimo disse...

O Brasil é um dos países mais racistas do mundo, deve perder só pra Argentina na América Latina. Apesar de ser um país de maioria mestiça/negra. Desde a fundação o Brasil é racista, o Engenheiro Rebouças que foi o maior engenheiro do império num baile entre a nobreza europeia, foi humilhado de uma forma que prefiro nem comentar.

Se vocês procurarem estudos genéticos, até mesmo no Sul, os "brancos" tem em média de 5 a 10% de Sangue Negro/Índio : http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0017063

Rafael disse...

Não teve audiência de custódia?

Anônimo disse...

Os processos dela podem ser consultados no site do Tribunal de Justiça de São Paulo fazendo a consulta pelo nome da parte e, pelos números, você encontra os inteiros teores das decisões no Google (daquilo que não aparece no TJ) e em sites como o Escavador p.ex. (no Jus Brasil os acórdãos estão cortados). Aí dá pra entender bem direitinho o que aconteceu. O nome dela é Bárbara Quirino de Oliveira.

Anônimo disse...

Seria interessante se fosse verificada a possibilidade desse caso ser atendido por defensor público, assim não teriam que pagar coisa nenhuma para advogado visitar e certamente teria um acompanhamento adequado.

Anônimo disse...

Mas que história absurda, é inacreditável isso tudo.
Este país ainda precisa evoluir muito

Ana Lucia Fagundes Souto disse...

Infelizmente se ela for aguardar a defensoria publica vai continuar presa. O brasil está o fim da picada.

titia disse...

Essa é a instituição responsável pela proteção do povo ou a máfia?

Luciana disse...

Que coisa revoltante!!!

Anônimo disse...

Que história absurda! Por essas e outras que não confio na polícia, tenho mais medo que qualquer outra coisa!

Anônimo disse...

"Os processos dela podem ser consultados no site do Tribunal de Justiça de São Paulo fazendo a consulta pelo nome da parte e, pelos números, você encontra os inteiros teores das decisões no Google (daquilo que não aparece no TJ) e em sites como o Escavador p.ex. (no Jus Brasil os acórdãos estão cortados). Aí dá pra entender bem direitinho o que aconteceu. O nome dela é Bárbara Quirino de Oliveira."


Bastante esclarecedor por sinal. Ela foi reconhecida em 3 roubos, então (10 de setembro de acordo com a postagem, 26 de setembro e 29 de setembro de acordo com um dos habeas corpus). Complicado.

De um dos processos:

"O pedido de prisão preventiva formulado pelo Ministério Público merece acolhida. Ao que consta dos autos, trata-se de crime de roubo praticado mediante grave ameaça com emprego de arma de fogo, sendo que os réus WILLIAM, RENATO, WESLEY e FELIPE foram presos em flagrante, cerca de dois meses após os fatos apurados nestes autos, na prática de crime da mesma natureza, na mesma rua em que se deu a ocorrência que versa a presente denúncia, justificada a necessidade da cautelar para garantia da ordem pública, evitando-se a reiteração delitiva, bem como para conveniência da instrução criminal, já que será necessária a presença dos acusados em audiência para fins de reconhecimento. Quanto à corré BARBARA, a prisão se impõe, ainda, para garantir a aplicação da lei penal, eis que, reconhecida pelas vítimas, não foi localizada para prestar esclarecimentos no Distrito Policial, razão pela qual foi indiciada indiretamente."

Mas se ela ficou 16 horas detida em um camburão, então foi localizada. Ou será que ela foi chamada depois a prestar esclarecimentos (a famosa cartinha da delegacia) e não compareceu? Em caso afirmativo e ainda mais se tratando de roubo a mão armada, na prática deixar de comparecer é basicamente pedir pra ser ordem de prisão contra si.

E na audiência, ela foi novamente reconhecida também? por todas as diferentes vítimas?

Devemos acompanhar essa história bem de perto.

Anônimo disse...

detalhe que o último HC dela foi negado basicamente porque a defesa esqueceu de instruir nele as provas das ilegalidades cometidas

https://www.escavador.com/diarios/690979/STJ/P/2018-08-02/341825593/movimentacao-do-processo-2018-0166971-3

'Na hipótese em análise, é inviável o exame do pleito deduzido, na medida em que os
autos foram deficientemente instruídos, porque nenhuma peça foi juntada aos autos, nem mesmo a
decisão que decretou a prisão processual ou a decisão monocrática que denegou a ordem no writ
originário. E, como se sabe, é ônus da Defesa a correta instrução do pedido de habeas corpus, que
demanda prova pré-constituída.'

Anônimo disse...

Se estamos falando de uma pessoa que foi reconhecida três vezes, em três roubos a mão armada diferentes, por três vítimas diferentes e se o irmão não apresentou quem seria afinal a moça do cabelo parecido nem pra salvar a própria irmã, é melhor ter um pouco mais de cautela no caso.

Anônimo disse...

Antes de qualquer comentário Lola... você leu o processo?

BLH

Unknown disse...

O PROBLEMA NAO É A COR DELA É O FATO DELA SER IDENTIFICADA PELA VITIMA
EEEEEEEE SER PARENTE DE AUTORES CONFESSOS DOS CRIMES.
CONCORDO COM O COMENTARIO ACIMA: CADE O IRMAO PRA APRESENTAR A MULHER QUE ESTAVA COM ELE NO ASSALTO E ASSIM SALVAR A IRMA DE SER ACUSADA INOCENTEMENTE? EU NUNCA DEIXARIA UMA IRMA MINHA NESSA SITUACAO SE ELA FOSSE INOCENTE....
FALTA RECURSOS, CAMERAS, PROVAS...TA BEM MAL EXPLICADO ESSE CASO. VAMOS ORAR POR JUSTIÇA.

Unknown disse...

Meus deus que pais e esse ainda vi esse relato comecei acompanhar o noticiário achei um absurdo estou indignada com tudo isso, como estava falando liguei a tv o documentário com ótimo repórter Celso Caprini no dia 24/09/2018 cárcere conexão fiz bastante interessada, como posso ajudar, nossa justiça e cerga e vai continuar pois negro sempre vamos ser perseguindos a lei áurea foi libertada mas a justiça não, vamos lutar pra essa cidadã tem direito de um julgamento digno pagando que não fez

Unknown disse...

Quero me enpenhar no caso ajudar, odeio injustiça vamos lutar pra esse caso aguardo resposta