quinta-feira, 24 de novembro de 2016

GUEST POST: STEVEN UNIVERSE, UM DESENHO REPRESENTATIVO E FEMINISTA

Carla, leitora assídua, estudante de veterinária e amante de animações, me enviou este texto:

Eu quero trazer à tona o desenho Steven Universe, que vem sendo chamado de “o desenho mais representativo de todos os tempos” “com a mais positiva imagem de sexualidade na TV” e “o herói animado feminista que precisávamos”. Não estranhamente, este é também o primeiro desenho no Cartoon Network criado por uma mulher, Rebecca Sugar.
No entanto, antes que eu posso falar sobre os pontos interessantes, e são muitos, tenho que explicar um pouco a história.
O desenho segue as aventuras de Steven Universe e sua três “mães adotivas”, as Crystal Gems, Garnet, Amethyst e Pearl, em uma Terra repleta de elementos fantásticos.
Steven é na verdade filho de Rose Quartz, uma alienígena e líder rebelde que salvou a Terra há muitos anos, e Greg Universe, um humano; o que faz de Steven um híbrido. Sua mãe faz parte de uma espécie alienígena conhecida como “Gems”, que podem ser definidas como “pedras polimórficas sencientes”, e para que ela pudesse ter um filho com um humano ela teve de abrir mão de sua forma física. Assim a criação de Steven recai sobre seu pai e ao que restou do grupo rebelde de sua mãe, as Crystal Gems. Seguimos então com Steven enquanto ele aprende mais sobre si mesmo, sobre o que é ser parte Gem e sobre o passado de sua família nada convencional.
Acho que o primeiro ponto interessante é justamente essa raça alienígena que protagoniza a série. Gems são o que o nome sugere, são pedras, gemas, que criam para si uma forma física. E, assim como pedras, são assexuadas, mas todos os membros dessa espécie são seres femininos, pois, embora não sejam fêmeas propriamente ditas, se identificam com pronomes femininos, sendo Steven a única exceção. Só isso já traz uma ótima discussão sobre a diferença de sexo e identidade de gênero, o que será para muitas crianças o primeiro contato com esses conceitos. 
Poucos questionam a falta de
mulheres entre os minions
No entanto, isso trouxe muito questionamento quanto à ausência de um Gem masculino e a decisão de criar uma raça exclusivamente feminina, cuja resposta muito bem dada fez uma comparação com os Smurfs, que são uma raça exclusivamente masculina cuja única exceção é a Smurfette, e ela não é protagonista da série. São vários exemplos -- há Minions, Smurfs, Muppets, todos quase exclusivamente masculinos, em que nós mulheres e meninas temos que tentar nos enxergar naquele único e estereotipado representante do nosso gênero, sem que ninguém reclame. Na vez em que se faz o contrário vem um monte de críticas.
O segundo ponto que eu quero comentar é nosso protagonista, até porque muitos podem questionar como um desenho pode ser feminista se segue a vida de um garoto. Mas é justamente o fato de ser um menino que mais enriquece o personagem. Steven não é um protagonista convencional, o típico “menino que se torna homem”, o clichê cansado de masculinidade juvenil. Ele é um rapaz sensível, emocional e romântico, que usa muito rosa, cor símbolo de sua mãe, e odeia machucar outros seres. 
E isso se reflete nas cenas de ação. Enquanto as outras Gems têm táticas ofensivas e usam armas poderosas, Steven está sempre na defensiva e a única arma que usa é seu escudo. Nas cenas de batalha ele é sempre um suporte, uma ajuda à suas companheiras de batalha mais experientes. Mesmo assim ninguém questiona sua sexualidade, não há nenhuma ofensa nesse aspecto, e quando ele se interessa por uma garota, não há qualquer indicio de que alguém possa ter pensado que ele era homossexual. 
Praticamente um petista
(reparou na camiseta?
Só não vê quem não quer!)
Ele é só um garoto sensível, e mesmo assim é o grande herói da história, sendo que por ser sensível, compreensivo e paciente é que ele consegue fazer coisas e resolver conflitos que as outras Gems, por vezes muito hostis e violentas, não conseguem. Imagine todos os meninos que estão crescendo assistindo isso, tendo este contraponto à masculinidade ligada à violência, que terão Steven como seu herói e a empatia como uma grande qualidade.
O terceiro ponto é a forma como a equipe do desenho conseguiu explicar de forma simples e bem metafórica conceitos como relacionamentos abusivos, relacionamentos saudáveis e consentimento. Mas antes vou precisar explicar um conceito do desenho: as Gems são capazes de se fundir, literalmente formando um novo ser. Para a espécie isso era originalmente uma tática de batalha, um meio de tornar duas Gems fracas em uma forte. Entretanto, para que ocorra a fusão, elas devem ter certa coordenação e correspondência entre si, afinal, elas estão juntando a essência de seus seres numa única entidade. 
Os criadores do desenho conseguiram sabiamente criar vários paralelos entre fusões e relacionamentos, explicando que fusões boas vêm da junção de Gems que confiam uma na outra e que estão em harmonia, e que fusões baseadas em qualquer outra coisa podem até ser feitas, mas serão instáveis, difíceis de lidar e podem prejudicar as Gems envolvidas ou mesmo outros seres. 
Há também vários episódios dedicados ao porque o consentimento é tão importante, além de um lindo texto em um livro oficial do desenho fazendo a mesma comparação, acrescentando que as boas fusões ficam melhores quando há confiança, respeito, honestidade e constante comunicação.
O que nos traz ao próximo ponto, um dos que mais trouxe destaque ao desenho: a representatividade, tanto LGBT quanto de personagens não brancos. Começando pela LGBT, eles fazem um bom uso do conceito de fusão para nos mostrar um ótimo relacionamento entre duas Gems, que são claramente duas representações de mulheres. As duas possuem um dos melhores relacionamentos e algumas das cenas mais românticas. Houve muitas dúvidas, no início, até por preconceito, se o relacionamento delas era romântico de fato, mas isso foi se tornando óbvio. 
Há também a complexa relação de uma das Crystal Gems com a falecida mãe de Steven. Outro ponto interessante é quando Steven se funde com sua amiga e forma uma pessoa levemente andrógina, que chama a atenção tanto de homens quanto de mulheres. Inclusive algumas dessas cenas sofreram censuras em certos países.
Quanto à representatividade de personagens não brancos, temos alguns ao longo da trama, mas há duas escolhas de destaque: 
uma é Garnet, atual líder das Crystal Gems, que, embora seja alienígena e, portanto, de nenhuma etnia terrestre, é claramente a representação de uma mulher negra. Seus traços, sua cor de pele, e sua voz (no original a cantora Estelle) são todas escolhas conscientes para reforçar isso. 
O outro exemplo é o interesse amoroso de Steven e sua melhor amiga, Connie, uma garota indiana. Como uma personagem chave na trama, muito inteligente e menos emocional, Connie acaba sendo mais próxima do clichê “menino aventureiro” do que o próprio Steven, sem se tornar a típica “tomboy”.
O último ponto que quero ressaltar é a representação de família. Uma das primeiras coisas que chama atenção é a família não convencional de Steven, formada por um pai e três mães não biológicas. Seu pai já não mora mais com ele, mas está sempre presente e faz o possível para dar todo o suporte que Steven necessita. Vale notar que seria fácil fazer dele o estereótipo de pai inútil e incapaz, um Homer Simpson, mas resolveram fazer o contrário. 
Quanto às mães, ninguém nunca as chama assim, mas o papel que exercem na vida de Steven deixa óbvio que são suas mães. Há inclusive um momento em que um personagem se refere a elas como “suas irmãs”, e Steven nem entende sobre quem estão falando. 
Este é um um texto relativamente grande, eu sei, mas são tantos os pontos positivos do desenho, tantas lições e analogias, que quis tentar passar a maior parte delas. Acho um desenho fantástico, mas ainda não tão querido no Brasil, e quero trazer à tona os tantos temas que ele promove.

35 comentários:

Anônimo disse...

Amo demais steven, hora de aventura e clarencio.

Anônimo disse...

"e para que ela pudesse ter um filho com um humano ela teve de abrir mão de sua forma física"

olha aí um outro ponto a se destacar e q parece q passou batido tanto pela autora do artigo, e acho q até pelos produtores da série, algo meio "inconsciente", ou q talvez levante questionamentos em episódios futuros da série

Em q a mulher, a mãe (Rose Quartz), ela é quem teve q abrir mão de ser quem é pra ter o filho, não o pai, uma condição q a princípio se mostra inevitável, pq é ~biológica~, mas q nos faz pensar em tantos exemplos próximos disso na nossa realidade. O ônus de se ter um filho inquestionavelmente sempre fica com a mulher, e o desenho (inconscientemente ou não), demonstrou bem isso

Anônimo disse...

"Poucos questionam a falta de mulheres entre os minions"

Nossa, e q mulher sente falta de umA minion? Esses bobinhos amarelos são a pura representação do sexo masculino, o próprio diretor do filme afirmou isso uma vez, além de q no brasil eles já viraram sinônimos de gente retardada (omens em sua maioria) e fanboys do boçalnaro, os bolçominions, kkk

Não faço questão nenhuma de ter uma XX entre os boçais amarelos, obrigada

Anônimo disse...

Adoro esse desenho, realmente, é o mais "progressista" e "cripto-didático/proto-educativo" q poderia haver, ensina respeito e diversidade de uma maneira muito leve e gostosinha, é uma delícia essa série

Mas não é a primeira vez q a Cartoon Network oferece animações assim, desde as Meninas Superpoderosas q o canal levanta a bandeira da representatividade, e vale a pena dar atenção às produções contemporâneas, q embora menos, tb erguem questionamentos sociais pertinentes: Hora de Aventura, Titio Avô, o remake das Meninas Superpoderosas e Clarêncio, q mostra bem nítido uma família formada por um garoto e suas duas mães

Não é de hj q o canal tem esse tipo de preocupação, parabéns à Cartoon e à Rebecca Sugar

Anônimo disse...

O Steven é inspirado no irmão da Rebecca, a criadora, q tb se chama Steven e é desenhista, igual a irmã

E ela trabalhou no Hora de Aventura, saiu pra poder ter a própria série, parabéns pra Cartoon Network por ter dado essa chance para as mulheres mostrarem seu talento, olha a incrível série q ela criou

Anônimo disse...

Gostei do fato desse cartoon ser considerado feminista e mesmo assim não ter caído no clichê pretensioso de se ter uma protagonista feminina q não é nada além de uma versão masculina de algum protagonista de outro desenho

Anônimo disse...

os minions são a representação perfeita do q são os omens: retardados e bolçominions, (a relação entre boçalnaro e minion não é a toa)

enquanto q as gems são a representação mais q perfeita de melhores, ops, quis dizer... mulheres: poderosas, lindas e inteligentes

Por isso os (bolço)minions são só omens e as (perfei)gems são só mulheres

Anônimo disse...

q pisão na nickelodeon fudida

Anônimo disse...

"So assisto desenhos onde personagens sejao a minha copia"

Pqp!

Reprensentatividade virou NARCISISMO.

Anônimo disse...

não assisto mais cartoon no brasil, jovens titãs em ação é chato demais, remake podre, só passa episódios repetidos (de todas as séries do canal) e os comerciais duram mais q o desenho, faça-me o favor

Anônimo disse...

14:55 é só vc quem tá dizendo isso seu patife, em nenhum lugar do post isso está escrito e nem entre os comentaristas

mas esperar o q de um omen, o mínimo de inteligência já é demais pra eles, por isso q os minions são apenas do sexo masculino

Anônimo disse...

Já tinha notado q algumas fusões representavam relacionamentos lgbt's e outras o relacionamento abusivo, mas não q o fato das gems serem personagens femininas, porém não do sexo feminino tecnicamente, levantava questionamento sobre identidade de gênero, interessante

Unknown disse...

Eu adoro Steven Universe, os episódios são curtos e leves e ao mesmo tempo fazem analogias ótimas. Me vejo muito na Garnet.

Gostaria de escrever sobre A Lenda de Korra pra vc um dia.

Unknown disse...

Além da representatividade gorda: O gordo da mãe de Steven, Rose tinha formas de uma mulher gorda e alta (bem mais alta que o pai de Steven inclusive). Steven também é gordo e gosta de comer e você não vê nenhum personagem sugerindo que ele deve parar de comer para emagrecer ou o ridicularizando por isso. Inclusive em um episódio ele manifesta sua vontade de se tornar mais forte fisicamente para conseguir ajudar melhor as gems e para isso cria com alguns amigos e seu pai um grupo para fazerem exercicios. Há outros personagens gordos no grupo mas ninguém fica falando de emagrecer o foco é ser saudavel. Achei isso bacana também.

Michelle disse...

Meu filho tem 7 anos e passei a assistir o Clarencio o otimista, não é que fui gostando e agora estou viciada. Muito BOM!!!

Anônimo disse...

No episódio "A Resposta", depois q a Garnet conta sua biografia e de como elas (safira e rubi) se conheceram e como permanecem juntas por tanto tempo, o Steven pergunta: "Qual a resposta", e a Garnet responde: "Amor"

Uma das coisas mais lindas q eu já vi em um desenho, claro q escrevendo assim não passa nem 1/3 da emoção, então assistam

Anônimo disse...

"Ele é só um garoto sensível, e mesmo assim é o grande herói da história, sendo que por ser sensível, compreensivo e paciente é que ele consegue fazer coisas e resolver conflitos(...) Imagine todos os meninos que estão crescendo assistindo isso, tendo este contraponto à masculinidade ligada à violência, que terão Steven como seu herói e a empatia como uma grande qualidade."

Acho bastante válida a discussão acerca de determinados aspectos negativos da masculinidade/família tradicional. É fato que essa concepção limita bastante o potencial humano dos homens. No entanto, pelo que foi descrito pelo trecho acima, não consigo pensar em outra coisa senão no fato de que esse meninos vão tomar um coice da realidade após saírem da frente da TV. Essa frustração que -suponho- eles vivenciarão ao verem que os valores de passividade e de delicadeza que lhes são ensinados no desenho pouco valem no cotidiano infanto-juvenil é algo semelhante à desilusão que impele vários jovens, já no final da adolescência, a movimentos como o dos masculinistas. É frequente, nesses grupos, a alegação de que os valores explicitamente exaltados pela sociedade não são aqueles que trazem o sucesso social e amoroso. Ou seja, aquilo que é muito bonito no papel (pouca assertividade, passividade etc) nem sempre traz a felicidade para quem embarca nessa onda.

Anônimo disse...

Adoro esse desenho ♥
E tb vejo nele várias representações positivas \o/

Anônimo disse...

Miga, é questão de representatividade, saca ? Nós temos muito pouca, é isso que a autora do post criticou...

Mas concordo com você, em alguns pontos... Em alguns ! Pois não sou tão rebelde assim...

Anônimo disse...

Ai, escreve sim Camila ! Eu adoraria !!!

Anônimo disse...

O cães machista ladram, mas a caravana feminista não para.
maravilhoso a iniciativa de um desenho que desconstrói tantos estereótipos machistas, e o mundo aos poucos vai percebendo que masculinidade e um fracasso humano a ser superado.

Nibelung disse...

Vale lembrar também que a primeira temporada já está disponível na Netflix brasileira.

Anônimo disse...

Escreve sim, mana! 🎈

Anônimo disse...

23 comentários? Pára que já tá patético. Fecha logo esse blog. Falo na boa.

Anônimo disse...

É sério que tem gente adulta que assiste isso? E eu que pensava que os nerdões fossem os mascus.

Anônimo disse...

Por que uma pessoa que assiste desenho logicamente tem que ser um nerd? Por que só os homens podem ser extremamente inteligentes?
Pelo amor de qualquer coisa que você acredite, não seja boçal! Mulheres podem se desenvolver intelectualmente tal qual homens e qualquer idiota pode assistir desenhos animados.

Anônimo disse...

Você se importa com quantos comentarios tem o blog de outra pessoa cujo conteúdo você nem aprecia. Para que já tá patético. Vai achar o que fazer. Falo na boa!

Rafael disse...

1- Smorfete foi um experimento do Gargamel.

2- Vi alguns episódios com meu menino, ele não gostou, prefere os supers tradicionais, mas vi que era bem moderno, assim como Clarencio, Otimista, outro desenho ótimo e nada careta.

LuCaS disse...

É um texto lindo e um desenho animado excelente. Comecei a assistir como um desenho qualquer de aventura, mas aos poucos, percebi tudo que estava envolvido. É bem mais profundo do que aparenta. Precisamos de mais desenhos assim, leves, bons de assistir e que pontue em assuntos que realmente precisam ser levantados. Parabéns pelo blog. ;)

Anônimo disse...

Acho que hoje em dia a palavra "nerd" refere-se mais as pessoas ligadas a cultura pop do que inteligentes de fato. Uma cientista poderia ser extremamente inteligente sem ser nerd, isto é,ligadas a revistas, filmes e jogos relegados a nerds.

Death Neko disse...

Steven Universe é maravilhoso!
Só assistindo mesmo para sentir a beleza do desenho. As músicas, a dublagem (em inglês) são simplesmente cativantes.

Gandalf disse...

Eu adoro Steven Universe (Clarencio, o otimista também é legal) é muito fofo ver meu irmãozinho brincando que é o Steven e me pedindo para ser a Garnet e me explicando (eu já sabia) sobre a fusão de Ruby e Saphira "a Ruby gosta da Saphira e a Saphira gosta da Ruby, ai elas dançaram e a Garnet nasceu" espero que ele cresça com uma mentalidade tolerante, mas infelizmente, se depender dos nossos pais, nesse quesito ele será mais um babaca no mundo.

Unknown disse...

Na verdade, tem um episódio que Steven vai conhecer a família da Connie e eles são bastante rígidos com ela, o que faz com que ela minta e diga que Steven tem uma família nuclear
Steven pensa logo em levar as gems como mães.

Anônimo disse...

Não há nada de novo nesse desenho...quem foi criançça na década de 80,se lembra das produções da hanna barbera como Bug a jato:

https://i.ytimg.com/vi/VQ_UolAg4yg/maxresdefault.jpg

gasparzinho,o fantasma espacial:

http://s2.dmcdn.net/Hytz.jpg

dentre outros.Falta de memória histórica.

Anônimo disse...

Verdade eu sou MT fã desse desenho e muitos episódios mostram um lado do mundo que nos não conhecemos a história do Steven e MT bonita