quarta-feira, 11 de setembro de 2013

PROCURA-SE VILÃ PARA ESTA CENA

Quem serão os usual suspects?

Encontrei um tema interessante num lugar totalmente improvável: num fórum mascu (que, como eu havia dito, só sobreviviam enquanto tinham espaço no Facebook. Depois que o FB fechou a maior página mascu, fóruns e blogs andam às moscas). 
Trata-se de uma cena de oito minutos de uma série de TV americana que eu nunca tinha ouvido falar, Louie, criada, escrita e protagonizada pelo famoso stand-up comedian Louis C. K. A série, que já tem três temporadas, fala de um comediante de uns 40 anos, recém-divorciado, com duas filhas, que mora em Nova York. 
A cena de 8 minutos (que você pode ver aqui, com legendas), mostra Louie num primeiro encontro com uma bonita mulher (a atriz Amy Landecker), que não parece estar muito a fim dele.
Mas ele a convence a ir com ele numa lojinha/lanchonete que vende donuts e café ruim.
Lá dentro, após uma cena inicial inspirada em Woody Allen, a moça já está mais simpática com Louie, e eles até que estão num papo entrosado, quando entra um grupinho de cinco rapazes falando grosserias num tom muito alto e fazendo aquelas "brincadeiras" físicas facilmente identificáveis como homoeróticas.
Fica impossível pra Louie e seu par continuarem a conversa. Sem se levantar, Louie pede ao grupo pra falar mais baixo. 

Só que, alguns segundos depois, um dos garotos do bando vem atormentar o casal. A cena segue num clima de muita tensão, já que o rapaz, embora aparentemente educado (ele pede desculpas, se apresenta, estende a mão, sorri), parte pras ameças. 

Ele pergunta a Louie: "Quando foi a última vez que vc apanhou?", se ele está com medo, e o que faria se ele decidisse quebrar sua cara.

Sean mostra os machucados que tem na mão, decorrência da última surra que deu, dois dias atrás, quando deixou um cara todo arrebentado, sem os dentes. 

E diz que gostaria de fazer isso com Louie, a menos que ele gentilmente peça para não fazer. Louie pede -- duas vezes. O rapaz ainda diz: "Isso foi difícil de assistir", e vai embora. Antes de sair, ele e seus amigos, sacaneando, gritam e aplaudem.
Isso rompe qualquer clima, lógico. A mulher, desorientada, tenta dar razão à atitude de Louie, mas seu rosto e linguagem corporal não a deixam mentir. 
Louie lhe diz que ele não é do tipo que entra em briga, e ela concorda. Mas também concorda rápido demais que o que se passou foi bem humilhante. Ela responde que nunca iria querer que ele brigasse, que se zangaria se isso acontecesse, que violência é estupidez, que quem liga o que tem que falar pro cara ir embora, mas... "Se é pra ser honesta, assistir isso foi broxante". Louie a repreende; ela pede desculpas: "É, eu sei, é uma coisa primitiva".
Louie, que tinha sido tão calminho com o bully, agora quer dar uma lição de moral na moça: "Tenho que te criticar por isso. É por isso que a situação é tão ruim. Por causa de mulheres como vc que preferem os fortes idiotas em vez dos fracos e gentis". 
Ela resume: "Minha mente está dizendo que vc é um cara fantástico. Mas minha química diz que vc é um fracasso". Acaba com Louie colocando-a num táxi, indignado.
Quer dizer, parece que o episódio continua. Louie segue Sean até a casa dele, conta o que aconteceu ao pai do rapaz, que bate no filho. Louie tenta interromper aquela violência, e a mãe de Sean põe o comediante pra fora. E eis que o pai do garoto vai fumar com Louie, e ambos conversam sobre a educação que os pais dão pros filhos

Bem, qualquer pessoa que passou mais de meio minuto num fórum mascu pode adivinhar como eles interpretaram a cena: a mulher, pra variar, é a vilã da história. Nenhuma palavra sobre o bully e seu grupo de amigos. Algumas críticas a Louie, que seria um beta, além de um coroa careca e gordo. 
E dá-lhe psicologia evolucionista e comparações com, hum, leões, pra explicar a reação da mulher. Eles têm certeza que a "balzaca" da cena agora estaria doida pra dar pros adolescentes. Um mascu diz que não passa mais por situações desagradáveis, porque colocou as rédeas na namorada (pois é, qualquer pessoa vendo aquela cena vê que o problema é com a mulher). Outro conclui: "É isso que nos diferencia das mulheres: sabemos ponderar. E somos racionais". 

Aham. Exatamente isso que pensei ao ver cinco rapazes ameaçando um inofensivo casal pra marcar território: nossa, como os homens são racionais! Como ter que provar sua masculinidade a cada instante faz bem pra humanidade!

Certo, mas vamos tratar desta cena de um modo minimamente inteligente (ou seja, ignorando "análises" mascus). 
A cena incomoda, não há dúvida. A mim me incomodou porque ela soa misógina. Uma personagem reage mal a uma situação e o "herói", ou pelo menos o protagonista da série, a repreende. E ela ainda parece falar em nome de todas as mulheres, apelando prum primitivismo ridículo, à la "blame it on the cavemen" (culpe os nossos antepassados das cavernas). A cena não condena o bully. Mas condena a moça.
Claro que se identificar com a cena, e se perguntar "O que eu faria num caso desses?", é o básico. Se eu fosse homem, eu teria feito o mesmo que Louie, exceto que, antes de mandar os rapazes ficarem quietos, eu teria me levantado, saído da loja com meu par, e procurado um outro lugar pra continuar a paquera. Mas eu sou mulher, e o que me incomodou foi também o silêncio da parceira de Louie durante o ocorrido.

Eu já passei por uma situação em que me tornei invisível. 
Faz muito tempo. Eu era jovem e morava em SP e trabalhava como revisora e estava de paquera com um rapaz que nunca daria certo (ele era conservador). Mas ele era revisor como eu, e mais de uma vez tivemos que varar a noite trabalhando. Numa ocasião já passava da meia noite e fomos conversar na Praça da República (nosso escri ficava lá perto). 
Estávamos sentados num banco na praça quando três caras surgiram do nada. Um deles tinha um revólver, deu pra ver claramente (foi uma das duas vezes na vida que tive a infelicidade de ver uma arma de fogo bem próxima, longe das telas de TV e cinema). Assim que eles se aproximaram, meu colega se levantou, foi pra trás do banco, e em seguida se refugiou atrás de uma árvore. Eu fiquei lá sentada, imóvel. Perguntei pros assaltantes se não queriam a minha bolsa, e eles me ignoraram. Só queriam o relógio do meu colega. Não conseguiram, e foram embora. E nós também, rapidinho.
Alguém em sã consciência pode realmente pensar que eu dividiria os homens em alfas e betas e decidiria "dar" pros "alfas" (os assaltantes)? Que meu "instinto" feminino me faria querer ser acolhida por... criminosos?! Não condenei na ocasião, e não vou condenar hoje, o modo que meu colega agiu. De um jeito ou de outro, ele evitou um assalto. Mas o que me espantou foi como eu não existi pra nenhum dos homens envolvidos na situação.

Essa cena de Louie, do nono episódio da terceira temporada, já tem três anos. Encontrei uma provocação bem relevante: e se o grupo de rapazes fosse composto de negros, e não brancos? Alguém ainda condenaria a atitude de Louie de engolir o orgulho e obedecer?
E há outras hipóteses: se a moça não tivesse estado lá, Louie teria mandado o grupo ficar quieto? Ou teria simplesmente ido embora? Sem a mulher na equação, Sean teria ido até a mesa de Louie para intimidá-lo? Ou partiria pra agressão física imediatamente? Ou todos se tornariam melhores amigos e comeriam uns donuts juntos? Ha ha, du-vi-do! Só gente que acredita que mulheres são as principais responsáveis pelas mazelas do mundo (tem um nome pra isso: gente misógina) pode crer nessa variante.

Olha, achar que a mulher da cena é quem causa a cena, ou que gangues de bullies existem pra impressionar as minas, é muito ridículo. Prefiro culpar os donuts.
Ainda bem que os donuts estão presos.

52 comentários:

Anônimo disse...

Uma situação como essa, um bando de garotos idiotas tentando intimidar uma pessoa, dificilmente acabaria sem um clima constrangedor e ruim.
Eu sou mulher e se uma pessoa me fizesse pedir para que ela não me agredisse, eu também me sentiria humilhada, indefesa, constrangida, tal e qual o cara se sentiu.
Se sentir indefeso, vulnerável e se sentir humilhado por isso, não é exclusividade dos homens, ao contrário do que mascus pensem.
Tal como acontece com a gente quando somos assediadas e acabamos não reagindo por medo da situação acabar de forma pior.
Sobre a atitude da mulher, é uma coisa bem idiota, mas mais idiota ainda são essas falas da personagem masculina generalizando todas as mulheres. Acho que no lugar dela eu sentiria raiva, raiva do bando de garotos por fazerem àquilo, raiva de mim por me sentir indefesa.
Acho que é muito humano que a gente deseje que uma pessoa que nos ameace tenha a cara partida ao meio, por nós, ou por um paquera, um namorado, um amigo. Mas desejar é uma coisa, ser racional para tomar a atitude certa não exclui esse desejo.

Anônimo disse...

É realmente uma forma bem interessante de ver essa cena, não discordo na conclusão do texto.
Mas algo que sinceramente não entendo é aquela coisa de "gosto de você, você é realmente incrível, mas não rolou química" eu realmente não entendo.
Não é dando uma de mascu ou algo do tipo, aceito bem um não e sigo em frente com a minha vida, mas convenhamos que é chato quando não rola nada por falta de química.

Bruxinha disse...

Ainda bem que os donuts estão presos. #euri :)
Lola, já conheces esse documentário aqui, de uma estrangeira que vem estudar e conhecer a TB brasileira?
http://www.youtube.com/watch?v=QM-Ujx7JET4

@dddrocha disse...

Ótimo post, Lola. Sua análises sempre me deixam com vontade de ver o filme/série.
Pena que agora tô com muita fome e só consigo pensar nesse donut, rsrs.

Thomas disse...

Me surpreende a quantidade de coisas que você não conhece, Lola. Bora sair dessa caverna aí.

L. G. Alves disse...

Nesta situação, em que a mulher se encontrava, eu teria pedido ao cara para sairmos do local. Com essa gente desordeira e violenta não tem papo. Eles jamais vão entender uma repreensão verbal e vão querer revidar e são um grupo disposto a
quase tudo ou a tudo. Quando estão em grupo ficam "mais corajosos". Se fosse meu namorado, no lugar
deste sujeito, ele teria ficado estressado logo e sei que iria querer dizer algo, mas eu já evito qualquer possibilidade dele se envolver em brigas desnecessárias.
Sem a mulher na situação o tal rapaz teria ido sim, pois a questão é que foi repreendido em público, na frente dos "amigos". Não importa se é negro, branco, amarelo
ou vermelho. O personagem Louie fez o que era certo, neste caso, mesmo tendo detonado com a imagem do "macho protetor que enfrenta o perigo e defende sua fêmea".
"Mas o que me espantou foi como eu não existi pra nenhum dos homens envolvidos na situação." E suas palavras foram o que me espantaram agora. Eu ficaria feliz em ser "invisível" para criminosos. Não sabemos se eles querem "apenas" roubar ou cometer outros crimes, principalmente com mulher. Você teve foi sorte, digamos assim, de ter se tornado, naquele momento perigoso, incerto e tenso, um "ser invisível". Foram três caras e um estava armado com um revólver! Ainda bem que eles só queriam o relógio do seu amigo.

Anônimo disse...

Lola,

Não sei se estou sendo ingenua, mas ao assistir a cena eu não achei que foi um episodio misógino ou que a mulher estivesse generalizando e dizendo que todas as mulheres pensam assim.

O sentimento que tive foi que diante daquela situação, quem teve uma resposta "machista" para o incidente, ironicamente, foi aquela mulher em especifico.
Entendi foi uma critica a atitudes machistas tomadas por algumas mulheres. E convenhamos, isso acontece.
Talvez algumas mulheres nem mesmo percebam o machismo nisso, mas elas esperam sim que seus pares venham em sua defesa como o príncipe que salva a donzela, seja enfrentando dragões, assaltantes ou valentões numa padaria. Eu sei pq conheço mulheres adultas que pensam assim.

Não vou entrar no mérito das razoes por trás desse pensamento, mas acho que foi isso que a cena quis explorar, sem necessariamente culpar as mulheres em geral por isso.

Alexandra

carla disse...

eu vi a cena e eu fiquei morrendo de vontade que ele ou alguém metesse a porrada naqueles idiotas,a única coisa que senti por eles foi repulsa,conversar com esse tipo de gente n adianta.
se fosse comigo eu sentiria a mesma coisa mas claro q n agrediria pq eu levaria a pior. provavelmente foi o q comediante pensou na cena e foi uma atitude inteligente,seria ele contra uns 5 idiotas,com certeza ia apanhar bastante.
só pq a mulher deu mais valor aos idiotas,n significa que todas somos assim mas para os mascus nenhuma mulher presta mesmo.


Anônimo disse...

O que falar sobre isso?
http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2013/09/esportes/fora_da_linha/1460181-ditador-da-coreia-oferece-100-mulheres-por-semana-para-dennis-rodman-treinar-time-de-basquete.html

Anônimo disse...

Na minha opinião, os bullies foram atormentar o Louie porque ele era gordo e estava com uma mulher atraente (esses caras já não gostam de gordos, mas gordos pegando mulher então...). Se ele estivesse sozinho, talvez os caras nem tivessem entrado lá. Mas eu não tõ dizendo que a culpa é da mulher, a culpa é dos bullies, obviamente.

E na minha opinião, essa mulher é muito babaca. Porque:

- se o Louie tivesse entrado na briga, ela ficaria puta com ele (como ela mesma disse)

- se o Louie tivesse tentado sair, provavelmente os bullies o impediriam, e a cena seria exatamente a mesma.

De qualquer forma, ele seria um babaca ou um fracassado pra ela. Essa mulher é muito confusa, meu deus.

E ao contrário de você, Lola, eu queria muito, muito mesmo, ser invisível para os criminosos.

Anônimo disse...

TUDO, absolutamente tudo, que os mascus fazem é para aparecer para os próprios mascus. É bem claro que os mascus não gostam de mulher e o que eles adoram/amam mesmo é aparecer para os outros machos.

vitor disse...

que necessidade feministas tem de alardear por ai que nenhuma mulher gosta de homens q segundo vcs são babacas.

lola acha mesmo q os criminosos q queriam assaltar seu colega n pegam mulher?
traficantes n pegam mulher?
sim,todos eles pegam,pq muita mulher adora esse tipo de cara,babaca e violento e desprezam os outros.

lembram do assassino da filha da gloria perez? está bem casado hj,como uma mulher consegue ficar com um cara q é capaz de matar??

Anônimo disse...

Pois é, Vitor. Só que o contrário também acontece.

Anônimo disse...

Lola, concordo com a Alessandra. Me pareceu, na verdade, que a moça queria que ele tivesse uma atitude de "macho".

Só aproveitando o ganho do Louie, pelamor, diz que você já viu Parks & Recreation! Vale, principalmente, o episódio da Miss Pawnee. A Leslie Knope é uma feminista invicta, super positiva (me lembra vc), num departamento público, sofrendo bastante com as atitudes de lá. É uma série excelente e supercurtinha.

Anônimo disse...

Anônimo das 13:08, essa reportagem nos leva a crer na maior falácia do mundo que é a de que um homem dá conta de 100 mulheres, HAHAHAHA. Thomas, e bora sair dessa caverna aí você, né.

Joana disse...

Lola, não entendi sua explicação sobre sua situação de assalto. Vc não queria ser invisível naquela situação? Vc acha que ele não te assaltou pq vc é mulher? Eu não entendi nada! rss Acho que os assaltantes só queriam o relógio do seu colega pq devem ter pensado que tinha mais valor, pq vc acha q eles não te viram? Essa agora me deixou confusa...

Rodrigo disse...

Mas afinal de contas, a série é boa?

aiaiai disse...

eu vi a cena antes de ler o texto para ver se eu achava o vilão. e o vilão que eu achei foi o machismo. O machismo criou a situação, fez a situação se desenvolver daquela forma constrangedora e fez a mulher tomar aquela atitude. Ela é mulher mas é machista como muitas de nós, pois, afinal, nascemos e fomos criadas em uma sociedade machista.
não acho que o louis seja misógino. já vi trechos de shows dele e acho que ele é bastante sensível às questões femininas. Mas, sem dúvida, ele aponta para o machismo da mulher nesta cena. Tem um trecho de show dele que vi no qual ele fala de uma mulher que, no dia seguinte, fica chatiada porque ele não transou com ela quando ela estava com ele e ficou dizendo "não isso" "não aquilo". Ele parou. E ela diz q gosta qd o cara fica com tesão por causa dos "nãos" e agarra ela. Ele diz q ela é louca. Ou seja, ele não diz q todas as mulheres são loucas, mas que existem algumas que estão tão inundadas de cultura de estupro que até acham bom. Eu já conheci uma menina assim. existe mesmo. Eu acho que o Louis usa isso para evidenciar o machismo e não para sacanear as mulheres.

a cena do estupro é essa http://www.youtube.com/watch?v=A3WAHr1CcvY

Carol disse...

Lola, pode ser ingenuidade minha, mas não entendi a cena como ela expressando como todas as mulheres se sentiriam.
Sinceramente, pedir "por favor não me bata" só mostra como ele é mais inteligente e educado que o outro. A atitude do Louie seria um baita de um "turn on" pra mim. E não vejo a cena como ele sendo humilhado de forma alguma. Pelo contrário, pra mim, quem se humilha sozinho e esse "alpha" aí.

M. W. disse...

Eu não conhecia a série, nem vi o episódio completo, mas interpreto essa cena de forma bem diferente. Sim, a atitude da moça foi misógina, no entanto, a reação dela foi bastante realista. Condená-la com base no que outra pessoa faria, é perder o sentido da cena. As atitudes dela simplesmente mostram que existem muitas situações em que ficamos divididos entre as nossas convicções e aquilo que julgamos ser correto. É nessas horas que as nossas crenças aparecem, mesmo que conscientemente não concordemos com elas.
Posso citar como exemplo sua própria reação no caso da estagiária da CBN. Num primeiro impulso você chamou o agressor de "velho babão" no twitter. Depois, repensou o ato e pediu desculpas. Fica claro que há um conflito entre o que você pensou e o que considera ser a atitude correta. Eu vejo o mesmo acontecendo nessa cena.

Bruno S disse...

Vou dar meu pitaco só pelo que li da discrição das cenas. Não tenho como assistir ao video agora.

Acho que o machismo é expressado por todos os agentes envolvidos.

O Louie provavelmente não teria interpelado os jovens se não estivesse acompanhado, se não se sentisse na posição de macho de mostrar força para a mulher que está com ele dando bronca em caras mais novos.

O rapaz que vai ameaçá-los usa do machismo ao fazer o cara passar por uma situação humilhante em frente a mulher que está com ele. Ferir o orgulho do outro, torná-lo ridículo frente a uma mulher lhe dá mais prazer que o agredi-lo.

A mulher acaba sendo machista ao perder o tesçao no cara ao vÊ-lo numa situação submissa.

O Louie volta a ser machista ao se sentir no poder de repreendê-la por sua atitude.

Em resumo, os homens envolvidos acabam vendo a moça como alguém sobre o qual exercem poder e proteção e que é repreendida como toma partido.

Marcelle disse...

Louis CK sempre acerta a forma que aborda temas que na mão de outros comediantes stand-up acabaria caindo no lugar comum. O propósito da cena foi mostrar que o machismo está enraizado na sociedade, inclusive desde o berço, como o decorrer da cena mostra com Louie seguindo o rapaz e conversando com o pai dele sobre educar filhos. Aí cabe ao espectador racionalizar, questionar qual o motivo da mulher dispensar o Louie quando ele fez a coisa certa? Fica evidente que a tal teoria da evolução é falácia machista. Fosse um CQC qualquer, a graça seria o gordo se dar mal, mas Lois CK aponta o dedo na ferida.

Recomendo mesmo a série, e Parks&Rec também, duas comédias que mostram que é possível ser engraçado sem atingir minorias.

Marcela disse...

Aliás, sobre como Lois CK lida bem com temas espinhosos, ao contrário dos comediantes brasileiros, segue esse link

http://sobrecomedia.com/2013/09/10/a-falacia-do-politicamente-incorreto-por-pablo-villaca/

Anônimo disse...

Sabe, eu realmente acho que o machismo levam os homens a criar muitas 'mazelas' pro mundo em função das mulheres...

Tipo, eu noto que a probabilidade de você levar uma 'cantada' na rua aumenta com a quantidade de homens que estão no grupo.

Eles sentem uma necessidade de competir quem é mais idiota, sei lá, de se mostrar pros amigos, enfim... Mas acho que isso não tem absolutamente nada a ver com uma possível resposta feminina positiva pra essas atitudes, até pq uns 98% das mulheres devem desprezar atitudes como essa.

Agora confesso que fiquei um pouco confusa com, achei que ficou um pouco misturado a opinião da lola com a dos mascus e no fim ela não concluiu o que pensa, aí me perdi.

Caroles disse...

Talvez seja porque eu amo o Louis CK, mas não achei que ele foi machista. Do jeito que a mulher falou ("Foi meio broxante") realmente parece que o que ela quer é um ~bad boy~ e não um cara com instinto de sobrevivência haha

MCarolina disse...

Eu nunca tinha visto essa série, e a cena me causou uma sensação muito estranha. Parece que as pessoas envolvidas, mesmo o próprio Louie até certo ponto, encararam tudo como uma volta ao colégio, aquele negócio de high school dos jocks populares e agressivos e dos losers. Já eu como espectadora vi como uma ameaça de se jogar na rua gritando "polícia". Quando acabou achei que ela ia perguntar se ele faria um boletim de ocorrência. No geral achei que a cena mostrou uma situação bem machista, tanto por parte deles por se exibir de maneira agressiva, mostrando poder sobre uma pessoa que não tinha como se defender, quanto dela, com esse bizarro pensamento de adolescente de morro que namora traficante.

Beatriz disse...

Eu acho difícil mulheres realmente deixarem de sentir atração por um cara por causa de coisas "primitivas" como esta. Sempre que isso acontece é só uma desculpa para dar um fora e ela tenta explicar utilizando argumentos 'consolidados" toscamente em algum mundo.
Mas a questão de que se fossem negros realmente teria mais aceitação para a atitude do cara, também acho.
A mulher acaba sendo a vilã porque ela não gosta do cara que é ético, correto e bom. Só que ético, correto e bom são adjetivos bem discutíveis. Um sujeito que te leva no colo na chuva, paga os impostos, não se mete em brigas e é preconceituoso, machista, tapado não é nenhum um pouco ético, correto e bom p/ mim. Então, digno de levar um pé sim.

Alessandro disse...

Algumas coisas que ele poderia fazer:

(AMEAÇAR)
- Contar coisas escabrosas que aconteceram com alguém que o ameaçou no passado;
- Perguntar se já ouviu falar da máfia russa que vive na cidade (aqui no Brasil seria alusões ao tráfico), e contar detalhes do relacionamento dele (talvez até falando algumas palavras em russo);
- Dizer que ele pode apanhar muito, mas vai agarrar as genitálias dele e não vai soltar por nada no mundo;
- Dizer que vai atrás dele ou dos seus entes familiares e vai causar um grande sofrimento à ele;
- Dizer que infelizmente não pode brigar, pois está esperando nos próximos minutos o irmão dele, que é policial.

(EMPATIA)
- Responder que está sempre apanhando, pois pratica kickboxing, mas realmente não consegue bater em ninguém, ainda mais em um cara jovem como ele.
- Dizer que não pode brigar, pois tem câncer terminal, e amanhã é aniversário da filha mais nova dele, e ele realmente não quer perder a ocasião. Note que aqui ele está fugindo da briga, mas ao mesmo tempo sendo "malandro" ao inventar uma história convincente.

(CONFUNDIR)
- Olhar para ele de forma insistente, e perguntar se ele já namorou a filha dele. Começar a dar detalhes da filha, como ela era e tal.

Mas o mais garantido mesmo seria se retirar do local ANTES do problema ser instaurado.

Anônimo disse...

Sawl - The Rebel

Querida Lola e caros amigos e amigas.
Sei que é só uma gota do que aqueles covardes, da agora extinta banda New Hit, merecem receber pela violência brutal que cometeram contra duas garotas menores de idade, mas, já é um começo!!

http://g1.globo.com/bahia/noticia/2013/09/empresario-anuncia-fim-da-new-hit-9-integrantes-sao-suspeitos-de-estupro.html


Quanto à questão mostrada no episódio eu não posso julgar. Acho o Louie um comediante inteligente e que costuma pegar situações de preconceito e "vomitar" em forma de humor, em cima dos que cometem o preconceito.
Infelizmente a série Louie não passa no Brasil(não que eu saiba) e por isso não posso avaliar.
Talvez a questão seja essa, ele mostrar o quanto as pessoas são ridículas por serem machistas.
O moleque por ser um valentão acéfalo, a moça por ser a típica validadora (infelizmente há muitas mulheres que validam o machismo, mas NÃO são todas e é errado generalizar) e o próprio Louie que mesmo sabendo que fez o certo criticou a mulher pela atitude dela, enfim, é só uma opinião, mas não vi o episódio todo pra poder julgar.

Abraço.

Sawl - The Rebel

André disse...

Acho que vai um pouco do histórico. Como o Louie C. tem um histórico de crítica ao preconceito acaba-se fazendo uma leitura positiva da atuação dele, mesmo porque aparentemente ele não estende a crítica a todas as mulheres. Mas é um típico vídeo que apareceria fácil no Testosterona.

Anônimo disse...

não entendo o hype em cima dessa série (que não acompanho, ok), pq esse vídeo faz parecer algo meio rafinha bastos:

http://www.youtube.com/watch?v=zNRNCk3YwqE

e o final com o discurso 'moral' dele é patético. e retratando a mulher como uma bitch convencida, que aliás talvez teria ficado com ele. yeah, right.

Anônimo disse...

e como esse louis ele foi elogiado nos comments, vamos ver:

http://factreal.wordpress.com/2012/03/09/louis-cks-vile-sexist-tweets-rants-against-palin-images-video/
comentários 'divertidos' q ele fez sobre sarah palin (que sim, talvez mereça 'ódio', mas leiam o q ele diz sobre ela)

e parece q ele elogiou um tal daniel tosh, depois de uma polêmica em que este atacou uma mulher na platéia de um de seus shows dizendo que seria engraçado se ela fosse gang raped (parece q ela se revoltou no meio da apresentação com uma piada sobre estupro e expressou indignação). acho q o louis não citou o episódio especificamente, mas parece q surgiu no twitter elogiando esse daniel depois do episódio ter acontecido (e ser 'notório). enfim.

lola aronovich disse...

Concordo contigo, anon das 23:14. Não é porque Louis C. K. esteja mais à esquerda que ele não seja misógino. Eu já havia questionado se uma "stand-up comedy routine" dele sobre estupro era realmente inofensiva.
E também o critiquei quando ele saiu em defesa de uma "piada" nojenta desse tal de Daniel Tosh.
Mas, nossa, nunca tinha ouvido falar de todos esses insultos dele a Sarah Palin nesse link que vc passou. Horríveis e violentos. Não há contexto possível em que chamar uma vagina de "buraco nojento" seja engraçado, ou aceitável. E o fato do alvo ser a Sarah Palin não torna nenhum desses "comentários" bonitinhos. Argh.

Anônimo disse...

sim, lola, nada justifica os comentários dele. (qdo falei q sarah palin merece 'ódio', espero não ter sido mal entendido, quis dizer q ela pode até ser odiável, mas a forma como louis expressou sua aversão a ela foi extremamente ofensiva/desagradável/misógina - isso ela não merece)

vou ler seus posts sobre ele (se bem que capaz de já ter lido)!

(e conte-me como mais um que acha q vc deve continuar com o blog! =) )

Anônimo disse...

fui pesquisar, e os comentários do louis sobre sarah geraram (alguma) polêmica na época, e ele cancelou sua aparição (como host) num jantar da Radio and Television Correspondents Association.

http://newsbusters.org/blogs/matthew-sheffield/2012/03/09/greta-van-susteren-i-wont-attend-media-dinner-hosted-pig-louis-ck

(eu devo estar linkando um monte de sites republicanos, mas eles que fizeram maior cobertura sobre o assunto eu suponho)

Becx disse...

Bom, o responsabilidade de manter pessoas encrenqueiras fora do estabelecimento e manter os clientes seguros é do estabelecimentos... eu teria pedido para o dono, gerente, sei lá oque, pô-los para fora, e caso a coisa escalase, chamaría a polícia,saíria do estabelecimento se preciso, mas não pediria desculpas. Não condeno a atitude dele, mas condeno o escritor que fez o papel da mulher como uma "asshole". Sério, alguma mulher aqui teria a atitude que dela ?? falaria as coisas que ela falou? Alguém???

Caroles disse...

Hmmm tô meio chocada com isso tudo, sempre achei que o Louis CK fosse ~diferente~ :/

Sara disse...

Lola querida ainda q na cena a mulher fosse representada apenas por uma estatua, ainda assim esses descerebrados dos mascus iam culpa-la por qualquer fato ruim que acontecesse, é a lógica deles.

donadio disse...

Algumas coisas meio soltas.

Sobre a moça broxar com a situação. É, num mundo ideal talvez as pessoas teriam um controle racional sobre seus desejos sexuais. Na prática não é assim; as pessoas se excitam ou desexcitam de forma meio ininteligível até para elas mesmas, quanto mais para os outros. No caso específico, não vi o vídeo, mas pela descrição da Lola parece que ela já não estava exatamente entusiasmada com ele antes do episódio.

E, afinal... sim, é ele é inteligente, ele é sensível, ele é razoável, ele fez a coisa certa. E daí? Eu tenho que ir pra cama/me apaixonar/namorar firme/sei lá que mais todas as mulheres que são inteligentes, sensíveis, razoáveis, e fazem a coisa certa? Espero que não, por que não vou dar conta. Por que então ela deveria ter essa obrigação? Ela ficou em alguma espécie de dívida com ele por que ele passou por um episódio constrangedor na presença dela?

Eu acho que não. Tem mulheres que têm tesão em homens frágeis, que nessa situação se apressariam a consolar o orgulho ferido dele. É válido, mas pelo visto ela não é assim. Nem tem obrigação de ser.

Sobre ele questionar a postura dela. Por que não? Que mal pode haver nisso, além de ele possivel(provavel)mente estar errado? É machismo? Acho que não. Ela é grandinha, parece perfeitamente capaz de decidir que não está interessada nele, e por consequência perfeitamente capaz de colocar os pingos nos is e dizer a ele, como diz, que ele pode até ter razão, mas não rola química. Ele tentou, perdeu, a forma como ele perdeu é mais ou menos engraçada (e um bocado triste), talvez revele uma maneira de pensar meio contraditória da parte dela, ele reclamou que perdeu, o que não adiantou nada, e é isso.

Sobre química. É assim mesmo, para o bem ou para o mal. Certas pessoas são maravilhosas, mas não me dão tesão (ou ao Louie, ou à amiga dele no episódio, enfim). De certa forma, ainda bem que é assim. Imagina se simplesmente ser uma pessoa decente, ou mesmo excepcionalmente decente, colocasse todos os outros na obrigação de ter tesão por você?

Sobre xingar a Sara Palin. Primeiro, acho lamentável as pessoas se iludirem achando que políticos obviamente muito inteligentes são "burros" por que apelam para a ignorância do eleitorado. No Brasil, o caso típico é o ex-governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz. "Burro" como os petistas gostávamos de dizer, mas costumava nos dar surras eleitorais em intervalos mais ou menos definidos. Ou, como os apoiadores dele lapidarmente definiram em uma faixa comemorando uma dessas ocasiões, "nóis é anarfabeto, mais a gente sabemos ganhá eleição". Subestimar seus adversários, isso sim, é burrice.

Mas acho que há uma obsessão americana, que vem se espalhando para cá, com as palavras, independentemente de contexto. Chamar alguém, por exemplo a Sarah Palin, de "retard" seria inadmissível, porque afinal de contas os coitados dos deficientes mentais não têm culpa das coisas que a Sarah Palin faz ou diz. Só que, por esse raciocínio, deveria ser inadmissível dizer, por exemplo, que a projetada aventura militar do Obama na Síria é uma loucura - afinal de contas, os pobres dos loucos, etc.

Mais grave parece ser o uso do termo "cunt", cuja associação com a feminilidade é bastante evidente. Chamar a Sarah Palin de "cunt" pode sim ser uma forma de dizer, ou deixar implícito, que ela é estúpida por ser mulher.

Enfim, xingar os outros é uma reação natural, mas os xingamentos dificilmente são inteligentes. E, de uma forma geral, é sempre preferível discutirmos as ações e palavras do que as pessoas.

donadio disse...

Quanto aos donuts, reivindico o a autoridade e o direito de apreendê-los e julgá-los. Trata-se de assunto sério demais para ser deixado exclusivamente nas mãos da polícia.

Anônimo disse...

"Sério, alguma mulher aqui teria a atitude que dela ?? falaria as coisas que ela falou? Alguém???"

Assim, da forma sincera e direta que ela falou, não.
Mas de forma velada e indireta, a maioria.
Nossos instintos primais são muito fortes.
Eu nem condeno a mulher por isso, a verdade é que um cara que fuja do conflito comunica, inconscientemente, que não será um bom protetor para a mulher e sua cria.

donadio disse...

Corrigindo a mim mesmo, ele não chamou a Sarah Palin de "retard". Chamou-a de "retard making", isto é, de "fazedora de retardados". Por que ela tem um filho com síndrome de Down.

E isso foi simplesmente escroto, não tem justificativa.

André disse...

Anônimo 10:46,

Mesmo após o acontecido, com tempo e calma para pensar melhor, me parece ser ainda bastante intuitivo (mesmo para mulheres feministas) esperar proteção por parte dos homens. http://blogueirasfeministas.com/2012/03/a-violencia-cotidiana/comment-page-1/

Anônimo disse...

Oi Lola!!! Vi a cena alguns meses atras, quando eu e meu marido assistimos a serie praticamente toda. Lembro q a cena me marcou muito, considerei algo super ofensivo. Senti super odio dos garotos e achei a mulher uma super machista. Comentei com meu marido q se passassemos algo desse tipo eu seria a primeira a levantar e falar "vamos pra outro local" assim q os caras entrassem no ambiente. E se a cena em si de ameaca viesse a acontecer, eu mesma iria implorar pra que meu marido ou meu pai ou um amigo ou qualquer companhia masculina q estivesse comigo fizesse o mesmo q o Louie fez. Atitudes racionais sempre! Babufs

Natascha Fox disse...

Lolinha, um dos melhores que li ultimamente :) Não pare de postar querida, quando entro aqui e leio me lembro todo dia porque temos que estar sempre nos comunicando umas com as outras, sempre refletindo. Bjo

WICKED WOMAN disse...

É realmente uma situação muito constrangedora... Eu não sei qual seria a minha reação no lugar de ambos.

Anônimo disse...

Acho que concordo com a Alexandra. O foco é a ironia da situação, do machismo vir da mulher também. Fora que, agora os seriados vão fazer o que? Fingir que a vida é diferente? Fazer propaganda de ideais? Que não existe mulher escrota no mundo? Tem que ter sempre alguém pra contrabalançar o discurso para americano burro entender, mostrando no mesmo episódio uma mulher que fosse acolhedora e companheira, empática? Fora que o que mais tem é cena de filme americano mostrando a mulher ficando irritada por que o cara resolveu brigar.

Anônimo disse...

Qualquer crítica, se envolver mulher, tá virando misoginia, agora?

Anônimo disse...

Eu sempre tive dificuldades pra entender essa aversão à psicologia evolutiva. Eu acho, honestamente, Lola que você - e muitas outras pessoas - não entendem bem o significado do estudo do comportamento e da psicologia humanos do ponto de vista evolutivo. Mas, claro, parece que a sua fonte de pesquisa sobre o assunto são os sites de notícia e os fóruns mascus. Você também tem aversão aos estudos genéticos por causa da busca incessante pelo ~gene gay~? Porque, sabe, não sei se já passou pela sua cabeça, mas a maior parte dos jornalistas não tem preparo algum pra escrever e divulgar ciência nos meios de comunicação em massa. Pelo contrário, eles são experts em distorcer as conclusões de muitos pesquisadores e trabalhos científicos. Você, por um acaso, já leu Steven Pinker? Você sabe o que significa evolução? Já leu algum artigo científico que trate do assunto? Ou só o que os mascus pensam que entendem sobre o tema? Tipo, logo os mascus, que, ér... interpretam Matrix como uma mensagem masculinista... Mas você não odeia Matrix, né. Você já viu os filmes.

Mas, olha, se você não tem interesse em ler/pesquisar sobre Psicologia Evolutiva, tudo bem. Ninguém é obrigado. Mas você faz muitas críticas impertinentes sobre um tema que claramente não conhece, dá pra ver pelo seu post "Bingo da psicologia evolucionista", dentre outros. E ter que ler que é uma "ciência machista" é de doer, viu. Muito. O fato é que a psicologia evolucionista não existe para JUSTIFICAR determinados comportamentos humanos. Algumas pessoas podem usá-la (erroneamente) com esse propósito, mas daí querer condenar toda uma área do conhecimento por causa de ideias incompreendidas que circulam por aí é foda. Essa ciência existe como uma tentativa para EXPLICAR a origem do comportamento humano, explicar porque apresentamos algumas tendências a agir de certa forma em determinadas situações, como numa situação de medo ou de afeto. Ela tenta explicar o ciúme, por exemplo. Ela não JUSTIFICA o ciúme, ela não diz "é por isso que todas as pessoas devem ser ciumentas", mas ela explica o ciúme como um fenômeno que possui uma origem biológica, como um comportamento que foi moldado ao longo da evolução. Porque o ser humano tem uma história e o estudo da evolução nada mais é do que estudar história numa escala macro de tempo. E estudar um comportamento sob esse prisma não exclui as ponderações sociais e culturais a respeito, não LEGITIMA um determinado comportamento no âmbito social. Na verdade, qualquer cientista que leve a Ciência minimamente a sério sabe que essa discussão "natureza/biologia versus cultura/sociedade" é ridícula. E, se você ainda acha que existe esse dualismo, você está algumas boas décadas pra trás em relação ao avanço do conhecimento sobre a natureza humana.

Quando a teoria da evolução começou a se popularizar, muita gente quis usá-la para justificar a corrida desenfreada pelo lucro, a competição desonesta, a busca pela vitória e o sucesso a qualquer custo... até mesmo para respaldar a eugenia. (Você pode até pesquisar sobre essas interpretações equivocadas que, em conjunto, ficaram conhecidas como "Darwinismo social".) Mas isso NUNCA foi a ideia de Darwin e de Wallace. Tipo, nem perto disso. Mas distorceram tudo, assim como fazem hoje com a psicologia evolucionista. Que não deixa de ser Evolução, na verdade.

Enfim, você tem todo o direito de não simpatizar, não ser uma entusiasta da Psicologia Evolutiva ou - até mesmo - da Evolução. E essa ciência, como qualquer outra, tem argumentos questionáveis (porque pessoas têm ideias questionáveis) e podem ser criticadas, no que couber. É só que as suas críticas a respeito não têm fundamento sólido nenhum, parece mais um diz-que-me-disse, um li-isso-em-algum-lugar, do que uma crítica honesta.

Anônimo disse...

(Desculpa se eu estiver mandando o mesmo comentário mais de uma vez)

Sou anon das 20:32. Fui ler os outros textos que você linkou neste post sobre o que você pensa a respeito da Psicologia evolucionista.

Estou vendo que perdi meu tempo argumentando, né. Algumas pessoas expuseram um ponto de vista parecido com o meu de maneira muito mais contundente e - ainda assim - você continua não enxergando (ou não querendo enxergar) a diferença entre Ciência e sensacionalismo pseudocientífico. Ler uma notícia qualquer sobre alguma baboseira de auto-ajuda que intitularam por aí de Psicologia evolucionista e acha que entende tudo sobre o assunto. Parece até má-fé da sua parte. Não porque você discorda, mas porque você acredita em fontes nada confiáveis sobre o assunto e sai difundindo pré-conceitos sobre uma área do conhecimento que você não se propôs a entender com seriedade.

Enfim, parece que você vai morrer achando que sabe o que é psicologia evolucionista, ainda que pessoas mais familiarizadas com o tema tenham tentando de maneira idônea lhe explicar que isso tudo que você critica não é psicologia evolucionista, não é nem mesmo Ciência.

Anônimo disse...

Bom, interessante o caso descrito aí. Especialmente pra mim, que já passei por situação muito parecida.

Eu fui, com uma amiga, na qual estava interessado e já tinha uma história, e um "amigo" dela, que assim como eu, também estava interessado, a um show de metal. O show foi cancelado no meio, pelo juizado de menores local, devido a presença de menores. Isso exaltou os ânimos de todo mundo presente. Como sou jornalista, resolvi fazer o registro fotográfico do ocorrido. Cometi o erro de mirar a câmera num grupo de metaleiros hell frost mal encarados, que imediatamente começaram a me xingar, no que tentei conversar com eles, mas eles continuaram com o desrespeito. Daí, os chamei de vermes e fui embora. Eles, obviamente, perseguiram, em grupo de seis. Eu fui burro de ter reagido verbalmente, pois isso era um convite pra briga, mas não raciocinei muito bem no momento.

Bom, eles vieram pra cima, já chutando e talz, e eu olhei pra minha amiga e o amigo dela, e nessa hora, apesar da rapidez, passou muita coisa na minha cabeça: eu podia brigar, mas provavelmente quebraria a câmera fotográfica que estava comigo. Tinha sido roubada uma câmera minha a pouco tempo, e eu não queria isso. Eu podia brigar, e isso não era tão preocupante, DESDE que nenhum deles estivesse armado com uma faca. Não havia como saber se estavam, e não havia maneira segura de saber qual o nível de perigo que eles ofereciam. Eu podia chamar um grupo de amigos que estava distante uns 400m dali, e eles seriam surrados, mas isso poderia criar problemas pra mim com a polícia, e a última coisa que eu queria era esse tipo de problema. Eu olhei pra minha amiga, e ela parecia desnorteada. Eu concluí que o melhor caminho seria correr dali, e ir em direção a praça próxima, onde a polícia estava concentrada no momento. Eu jamais sairia correndo, pois sou gordo, se não tivesse certeza que poderia conseguir reverter a situação. O que eu não esperava, é que a minha amiga ficasse paralisada.

E ela ficou. Eu corri, e no momento, tudo que pensei foi em chegar a PM, que demorou pra voltar ao local. Ela já tinha ido embora, eu fiz BO, o cara que liderou o ataque foi preso. Mas ainda assim, eu me senti um lixo. O amigo que ficou com ela lá, levou uns socos, deus uns chutes, eu não sei ao certo o que se passou. Mas no fim, o que aconteceu é que eu me senti um lixo por correr da situação.

Nesse dia, eu aprendi que nem sempre a abordagem mais racional é aquela que te faz mais feliz consigo mesmo. Que valeria mais o risco de cair na porrada com aqueles sujeitos, do que agir sem machismo. Hoje, essa amiga está casada e com um filho com o rapaz que ficou para protegê-la. Essa não é a única razão que pesou na escolha dela, mas tenho certeza que pesou.

Quando aconteceu o massacre em Aurora, nos EUA, tudo que me passou pela cabeça é que eu era justamente como o único cara que correu, deixando para trás a esposa e uma filha pequena, protegida pela mãe. Eu não entendi, logicamente, pq minha amiga não correu quando eu corri, nem pq eu não consegui gritar para ela me seguir (nunca fui bom em verbalizar coisas). Mas o que eu sei, hoje, é que não vale a pena se proteger ou agir logicamente nesse tipo de situação. Vc simplesmente não consegue se respeitar depois...

Anônimo disse...

Eu não digo que seja possível reagir sempre. Às vezes, é melhor vc simplesmente ficar do lado da pessoa, seja ela mulher ou não. Dividir a experiência violenta com ela, encarar aquilo de frente, não ser covarde. Se precisar apanhar, apanhe. Não é nem sobre o respeito da pessoa com a qual vc se encontra, é sobre respeito próprio, de não fugir deixando alguém para trás.

Enfim, eu nunca tinha, até o momento dessa briga, passado por uma situação semelhante. Eu já tinha sofrido todo tipo de bullying, mas solitariamente. Nunca tinha pensado sobre o melhor curso de ação quando se está em dupla ou em um grupo. E depois desse dia, jurei a mim, que nunca mais correria, até que todos estivessem correndo antes de mim, se fosse o caso, ou então, revidaria ou assumiria a frente.

Nesse dia, eu queria ter sido machista. E jurei que nunca mais agiria como uma franga, como agi naquele dia. Assim, a atitude correta para o cara do seriado aí, seria mandar a mulher de volta pra casa dela, e aguentar as porradas que ele mesmo provocou. Pq assim como eu revidei o ataque verbal do grupo, ele fez o mesmo. Ao ser desafiado por alguém que você não conhece, um homem que se respeita tem que estar preparado pra responder de acordo. E isso não deve ser sobre o que os outros pensam sobre ele. É sobre auto-respeito, é sobre não se deixar dominar pelo medo e covardia.