quarta-feira, 12 de setembro de 2012

GUEST POST: RACISMO NA CABELEIREIRA

Cecilia é uma cientista com um cabelão loiro, crespo, que vai até o joelho. Esta foto que ela me enviou é de quatro anos atrás. Hoje seu cabelo está muito mais longo e, como dá pra imaginar, exige muito tempo pra cuidar. 
Bom, o guest post em que o Robson falava do nosso padrão de beleza racista inspirou Cecilia a relatar algo que tinha acabado de acontecer com ela. Quer dizer, não com ela -- ela foi mais testemunha que vítima da história. A vítima? Todos nós. Uma sociedade só tem a perder quando é racista. Ainda mais quando o racismo está enraizado dentro de nós.

Este post caiu como uma luva para uma situação horrível que vivi ontem, e que gostaria de desabafar. Não quero me expor nem expor o nome do salão cabeleireiro, já que vou relatar um crime do qual não tenho nenhuma prova (além do meu testemunho). Não quero sofrer retaliação ou mesmo gerar uma onda de ódio caso a pessoa seja reconhecida.
Moro numa cidade no interior de São Paulo. Meus pais são imigrantes europeus, o que me garantiu uma pele branca, olhos claros e cabelos loiros.
Não sou exatamente vaidosa, mas gosto muito do meu cabelo. Muito mesmo -- ele tem mais ou menos 1,5m de comprimento, e o cultivo com muito carinho!
Hoje resolvi experimentar um salão novo que abriu aqui perto de casa para fazer uma hidratação (faço mensalmente). Geralmente quando chego no salão já vou logo avisando que meu cabelo é difícil -- é fino, embaraça muito fácil. E que topo pagar mais por causa disso, sei que é quase tortura tratar dele.
Como sempre, fui muito bem tratada; a moça, que é dona do salão, disse que não cobraria a mais por causa do comprimento (R$ 150 para cabelos longos) e foi logo puxando papo. Disse que iria até me fazer desconto, porque o movimento tá fraco agora em agosto, e ela está com dificuldades para pagar as contas, muitos horários vazios, naquele dia mesmo ela não tinha mais ninguém, e ainda era 13h.
Começou o serviço. Primeiro, tentou me convencer a fazer escova progressiva (meu cabelo não é liso, é ondulado). Não, obrigada, gosto dele do jeito que é. Depois de insistir um pouco, começou a me oferecer fazer luzes, que ficaria muito bom. Novamente, não, obrigada, gosto dele do jeito que é e não quero pintar/mudar, estou satisfeita. Não gosto da ideia de passar produtos que possam prejudicá-lo, e realmente gosto dele do jeito que é.
Aí veio o primeiro choque. Ela tentou me provar que luzes não fazem mal ao cabelo mostrando a foto da sua sobrinha de um ano (!) que tinha feito luzes. E aproveitou para compará-la comigo, que ela era loirinha como eu. Essa situação me desconcertou: dizer que a menina era loira sendo que não era. A menina (devo dizer bebê?) tinha a pele morena e traços fortemente africanos. Não tinha nada de loira além das luzes no cabelo. Não sei dizer o que me chocou mais: fazer luzes numa criança de um ano ou fazer isso para que ela fique 'loira'. Essa criança vai ouvir desde sempre que é errado ser do jeito que ela é, com seus cabelos negros -- melhor é ser loira.
Comecei a me sentir desconfortável no salão. A moça não parava de sugerir que a cor do meu cabelo era ótima, bem melhor do que os cabelos que ela costumava atender. Como se ela me dissesse: você é melhor porque é branca.
Mas isso não foi o que mais me chocou. Quando estava quase terminando, um carro parou na porta e uma moça entrou. A princípio não dei muita atenção, ela só estava pedindo para fazer uma hidratação. A cabeleireira disse que para o cabelo dela custaria 450 reais. Isso me chamou a atenção (três vezes mais do que ela me pediu! -- qual seria o tamanho do cabelo da moça?) e dei uma boa olhada nela. Era uma mulher bonita, vinte e poucos anos, negra, com uma cabelo muito bonito um pouco abaixo dos ombros. Ou seja, bem mais curto que o meu.
Mesmo com o preço salgado, a moça disse ok e perguntou se poderia ser no mesmo dia ou no dia seguinte. A cabeleireira abriu a agenda e disse que estava lotada até setembro -- enquanto eu olhava a agenda pelo reflexo do espelho, vendo que não tinha NADA marcado.
A cliente agradeceu e perguntou se ela conhecia algum salão na região. A resposta: "Ah, para tratar seu tipo de cabelo, sugiro que você procure salões nos bairros tal e tal" (bairros extremamente pobres da minha cidade).
Novamente ela agradeceu e foi embora num carro novinho (não entendo de carro, mas era um carrão -- desses grandes, que custam bem caro). E a cabeleireira voltou para finalizar o meu, comentando:
Cabeleireira: "Ah, ainda bem que ela foi embora. Tentei colocar um preço alto mas mesmo assim ela não desistiu"
Eu (chocada): "Mas você não estava precisando de dinheiro e com horário vago?"
C: "Estava, mas ainda não tô passando fome para atender gente assim."
Eu: "Assim como?"
C: "Ah, esse pessoal de cor. O cabelo é muito ruim, não é bonito e fácil de lidar como o seu. Além do mais eles têm um cheiro esquisito, já reparou? Não cheiram bem como a gente que é loira, o suor deles é muito fedido."
Não consegui responder. Fiquei olhando para ela. Loira como a gente? Ok, eu sou loira, mas ela decididamente não era. Tinha os olhos castanhos claros, a pele bem escura, cabelos que no original deviam ser negros e ondulados, mas que estavam alisados e pintados de loiros, e traços africanos no rosto.
Não sei o que me chocou mais: se foi o racismo, ali, na minha frente, quase cuspindo no meu rosto, ou se foi a fonte dele, uma moça comum, com óbvia ascendência negra. Não que o racismo por pessoas brancas seja justificável, mas aquela mulher, além de rejeitar o próximo, estava rejeitando a si mesma.
Eu fiquei pensando naquela moça que foi dispensada. Não bastava ela ter dinheiro para pagar (pertencer à tão privilegiada e minoritária classe média), ter tempo livre (não é todo mundo que pode ir para um salão numa sexta à tarde), dirigir um bom carro. Nada disso importava. Ela ia continuar sendo mandada para a periferia, lá é o seu lugar, não importa quanto dinheiro tenha. Ela ia continuar sendo 'fedida'.
Eu não consegui reagir. O que responder, Lola? O que responder, pessoal? Denunciar para quem? Provar como? Se a própria vítima foi embora. 
Essa moça não entrou no salão da Ku Klux Kan. Não havia uma suástica desenhada na parede. A pessoa que a atendeu não era um exemplar racista, era uma mulher como ela, como somos todos nós, filhos de pessoas de outras terras. Era só um salão de esquina, igual a tantos outros. E mesmo assim ela sofreu um racismo bárbaro.
Visualizei a cena dela entrando de salão em salão e sendo rejeitada, enquanto todos a mandavam para o seu lugar.
Não consegui falar mais nada depois disso. A moça ainda fez alguns comentários, mas respondi com monossílabos, paguei e fui embora. Sei que não vou voltar mais lá. Pessoas da minha família também não. Mas me pergunto se isso é o bastante. Mesmo que a mulher tivesse sido processada e presa (afinal, racismo é crime inafiançável), seria o bastante? Quando as pessoas negam a si próprias, tentam ser aquilo que não são, acham que os outros que têm os genes ligeiramente diferentes são melhores, o que fazer?
Parei e pensei: quantos amigos negros eu tenho? Dois. Sou racista? Não. Mas no meu mundinho de classe média pessoas negras não entram. Tenho amigos brancos como eu e asiáticos, porque essas pessoas estudam em escolas particulares, moram em bairros bons e estudam em faculdades de primeira. Os negros são minoria nesse mundo. E, quando entram, há aqueles que não os aceitam, que acham que eles devem continuar pobres, como gente fedida deve ser.
O que fazer quando o racismo bate tão violentamente a sua porta? 

Meu comentário: Deixo para vocês responderem às questões da Cecilia. Mas eu me lembro de um dos maiores exemplos de racismo que já vi impressos. Saiu na coluna esportiva de um jornal catarinense, talvez em 1996. Tinha havido um daqueles tensos duelos do vôlei feminino, Brasil vs Cuba, arena de muita rivalidade. E o jornalista decidiu focar na aparência física das jogadoras. As brasileiras, quase todas brancas (apesar de vivermos num país em que mais de 50% da população é negra ou parda), eram lindas, delicadas e dignas, segundo o colunista. As cubanas, todas negras, ele chamou de crioulas, macacas, fedidas -- enfim, todos os termos racistas que a gente conhece. Eu fiquei de cara. Não conseguia acreditar que estava lendo aquilo. E, a ironia suprema: o jornalista é negro. Deve ser o único colunista negro de SC, se bobear.
Eu não escrevi pro jornal protestando, porque pensei: sou branca, acho, e o cara é negro. E eu vou estar acusando um negro de racismo. Hoje protestaria sem piscar. Aliás, hoje, com a internet, aquela coluna, e as reações a ela, correriam o Brasil. Mas eram outros tempos, pré-internet. Não li nenhuma carta de protesto no jornal. Nunca vi aquele colunista se retratar.
Só que individualizar o problema é fácil demais. Pensar que a cabeleireira com ascendência negra ou o jornalista negro é que são racistas, e a gente não, é bem cômodo. Dá até pra jogar aquelas frases de efeito no meio, né? Aquelas baboseiras de "negros são os piores racistas". Pena que não é verdade. A cabeleireira, o jornalista, eu e você, somos produtos da nossa época e lugar. Eles não foram jogados de uma nave espacial e vieram parar no Brasil por acaso. Eles -- nós -- respiram o racismo de toda uma sociedade. E internalizam tudo. Fica automático. Eles -- nós -- aprendem qual é a cor desejável, a cor padrão, a cor bonita, a cor de quem tem poder. Aprendem que negros são feios e fedidos. E que tudo bem chamar negro de crioulo e macaco, ainda mais se for só uma piadinha inocente, o politicamente correto quer acabar com nossa liberdade bla bla bla!
Este relato da Cecilia é interessante também para rebater o pessoal do "não somos racistas", que tá mais pra "não somos apenas racistas". Sabe o pessoal que diz que a discriminação no Brasil é pela classe social, não pela cor? Pois é. Pensem na moça que, mesmo tendo dinheiro pra pagar, não é atendida num salão por uma cabeleireira que acredita que negros cheiram mal.

141 comentários:

Unknown disse...

Que coincidência...rs
Esse fim de semana conheci uma amiga de minha cunhada. Ela era branca e tinha duas filhas negras. Eu fiz um elogio ao cabelo das duas meninas - uma tinha cachos lindos e definidos, a outra um cabelo mais volumoso, comprido e crespo, diferente, mas bem bonito.

Fui surpreendida pela mãe dizendo que o cabelo delas eram "ruins" e que de vez em quando ela mesma passava alisante no cabelo delas para ficarem mais bonitas. Fiquei sem graça, ainda reforcei o elogio, dizendo que "Imagina, é lindo".

Ela insistiu dizendo que era um cabelo difícil de pentear e cuidar. Por isso ela alisava o cabelo de meninas de 5 e 8 anos. Uau! Fiquei boba com aquilo. Uma mãe dizendo aquilo e, acho que por ignorância, passando química na cabeça de crianças sem se tocar dos danos que isso pode causar.

Não só no salão que uma negra ou qualquer mulher (independente da cor) que tenha um cabelo crespo chega e já toma um: "Ai, porque vc não faz uma progressiva? vai ficar tão lindo!". Ou como a autora do post colocou, o preço é diferenciado dependendo do tipo de cabelo e cor de pele.

Isso é racismo e preconceito.

Parabéns pelo post!

Unknown disse...

Quero escrever um comentário mas não tô conseguindo, meu estômago tá embrulhado. Não tê me sentindo bem ao ler esse fato! Tô custando acreditar!

Marilia disse...

Deprimente. Qualquer tipo de preconceito denota o atraso do ser humano. Muito triste.

manah disse...

bom, penso que a testemunha em questão deveria ter se pronunciado a respeito no momento do acontecimento.

Leio Lola Leio disse...

Lola e leitoras,
Estou achando estranho, o link para denúncia de crimes na internet da polícia federal não está funcionando, nem o da Safer Net Brasil.
Ia denunciar o UOL (eles estão se superando a cada dia com seu conteúdo extremamente preconceituoso e muitas vezes machista), mas não consegui.

ta-chan disse...

Desculpa postar aqui mas tudo a ver com o post de ontem:
http://jezebel.uol.com.br/eu-sou-uma-atriz-porno-e-vou-te-chutar-o-saco-se-voce-me-assediar/

O texto é de uma atriz pornô falando sobre o assedio que ela sofre na rua.
E antes que digam alguma coisa ela deixa claro que esse tipo de coisa já acontecia antes dela entrar para o mercado de filmes adultos.

Josiane Caetano disse...

Eu fiquei arrasada com esta história: me vi em tantas, em tantas situações em que o meu cabelo afro só poderia ser " resolvido" se fosse alisado. E eu me sentia horrível com meu cabelo, especialmente porque as químicas é que na verdade acabam o estragando. Não esqueço de uma vez que recebi um bilhete anÔnimo no segundo grau, eu fazia magistério.Só havia meninas em minha classe. O bilhete dizia mais ou menos assim: " Porque vc não raspa seu cabelo para resolver o seu problema? Como vc tem coragem de ter um cabelo destes e não fazer nada?"
Falar sobre cabelo afro, para quem está do lado de fora, pode parecer bobagem. Mas quem vivencia o problema sabe os anos necessários para que consigamos resgatar a nossoa auto-estima em meio a uma sociedade racista como a nossa.Não é fácil! E eu aqui, bobinha, achando que as coisas estavam melhorando...
Por isto assumi meus cabelos afros de uma vez! E eles ficaram lindos da forma como realmente são. Gostaria que toda adolescente negra ou mulata como eu soubesse disso. Como professora, tento fazer a minha parte, mas não tem sido fácil, a grande maioria delas desfila uma "progressiva" com orgulho...

Anônimo disse...

Que texto bobo! Lugar comum demais " o lugar dela é na periferia" .. Lola não enche de inventar histórias reais.

CCX disse...

Assim como a menina que escreveu o depoimento vivo no sul, em um mundinho branco de classe média. Busco sempre que possível sair do meu gueto e principalmente, mostrar os outros universos para minha filha, mas é o meio em que vivo. Acho que não sou racista, mas será? Com a política de cotas nas universidade federais, e os brancos-classe-média se sentindo prejudicados, percebo que o racismo que era velado está mais aberto, que começa a ser permitido falar alto o que antes era apenas sussurrado. E isto me dá um tremendo medo.

ta-chan disse...

Que caso mais nojento!
estou me sentindo como se tivesse sido comigo.Passei por uma situação parecida quando adolescente, num salão de um bairro de classe media próximo ao meu que na época era "periferia".tinha ido fazer escova,e estava com o cabelo trançado e na época ele era bem longo, cheio e crespo.A cabeleireira que me atendeu pediu para eu destrançar o cabelo para ela ver e em seguida disse que não tratavam de cabelo ruim e que só faria a escova se eu fizesse um relaxamento...Fiquei tão mal que só voltei a entrar num salão depois de oito anos, mas nunca para mexer no cabelo.Agora cuido dele em casa.

Carla disse...

Olha, eu entendo muito bem a leitora (autora do guest post). Por mais que depois do ocorrido a gente sinta que "deveria ter feito alguma coisa", muitas vezes o choque não deixa. Eu, honestamente, não sei o que faria.
Só sei que ler isso me deixa mal. É triste. Eu, loira, de cabelos lisos em excesso e olhos azuis, jamais passaria por isso, e aí que eu acabo esquecendo o mundo em que eu vivo, credo! Tenho medo! "Pare o mundo que eu quero descer"

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Agora queria comentar uma coisa: tá loco fazer luzes em uma guria de 1 ano??? O.O
uma vez eu tava numa manicure e ela vira e me fala: "ahh eu fiz a unha da minha filha no dia que ela saiu da maternidade." - heim??

Unknown disse...

Gente,

Imagina o tanto de situações parecidas essa moça que fora rejeitada no salão não passa! Algumas descaradas e muitas outras não!

Anônimo disse...

Ao anonimo das 14:19, o texto tb não me pareceu real. Mas apesar de discordar da Lola em diversos aspectos, tudo indica que ela é uma pessoa integra. Não acho que inventaria estorias. Acho mais fácil que a Lola esteja sendo vitima de algum mitômano desocupado, empenhado em queimar o filme do seu blog.
Luiz

Cynthia C. disse...

Eita porra! Que absurdo!!! Pior é que esta mulher se sente bem à vontade para falar essas coisas para qualquer desconhecido, de tanto que sabe que concordam com ela... Vi uma vez uma frase que acho que se encaixa bem nesta situação: "O problema das mentes fechadas é que geralmente vêm acompanhadas de bocas abertas."

Quando morava no Brasil, também no interior de SP, a dona do salão que eu frequentava me contou que uma vez ela (branca) estava atendendo uma cliente e sua filha (também brancas) e seu filho (negro) apareceu na porta do salão... A cliente puxou a bolsa para mais perto e mandou a filha esconder o celular, assim, na maior cara dura... Ela disse "Ele é meu filho, pode ficar tranquila que ele não vai fazer nada" e disseq ue fez a maior cara de bunda pra mulher, tanto que ela mal conseguiu encará-la até a hora de ir embora...
É triste saber que, em vez de combater esse tipo de pensamento que enfiaram nas nossas cabeças, estejam perpetuando.

Fábio RT disse...

Realmente é de doer o estomago...
Totalmente surreal !!!

Anônimo disse...

Que história triste, nem sei o que faria no lugar dela, às vezes a gente fica paralizada na hora.
Uma vez eu estava no ônibus em São Paulo, transferindo de um aeroporto pro outro e uma senhora olhou pra baixo, dentro de um carro, tinha uma família negra e disse: olha lá, levando os macaquinhos pra passear. Era tão surreal que eu pensei que tivesse entendido errado, a gente fica um tempão processando. É muito triste saber que existe gente assim e que não se pode fazer nada em algumas situações.
Leila

Flavia Vianna disse...

Olha, eu admiro muito o auto controle da menina que escreveu para você, Lola. Mas acho louvável a decisão dela de nunca mais voltar ao salão.

Tenho a impressão que quando mais se abre uma perspectiva de democratização e de reconhecimento das minorias, um monte de gente vomita os preconceitos velados. Seja contra negr@s, mulheres e homossexuais.

Anônimo disse...

Sei lá, achei o texto meio forçado, parece fake. A mulher tá com o salão vazio, cheia de conta pra pagar, e vai recusar uma hidratação de 450 reais só porque a pessoa é negra? E ainda fala pra mulher do carrão ir pra periferia que é o lugar dela e a mulher não faz nem fala nada? Ah, tá.
Sei que existe muito racismo, mas essa história não me parece verdadeira.

Suzana disse...

Olá Lola, me identifiquei muito com essa história... Descobri que o cabeleireiro que frequentava ha 3 anos cobrava mais caro do que as outras clientes... Até então achava "normal", porque todo o cabeleireiro que pega o meu cabelo diz que tenho muito cabelo, que tenho cabelo para 3 pessoas e bla-blá-blá.

Até que um dia ele abusou, me cobrou quase R$700,00 para fazer um procedimento simples de RELAXAMENTO! Foi aí que caiu a ficha, estou pagando para acabar com o meu cabelo e identidade?

Saí do salão com muita raiva e prometi a mim mesma que nunca mais colocaria meus pés lá... E até que foi bom, estou deixando o meu cabelo crescer... ele é cacheado, é lindo! Até hoje eu não entendo porque fiz isso com ele...

Acho que agora entendo muitas coisas que no passado não entendia, como pude destruir minha identidade?
Quem disse que cabelo crespo é ruim? Ruim é quem diz isso...

Depois dos alisamentos, escovas e sei lá mais o quê, percebi que ele estava fraco e sem vida...

Cortei radicalmente para eliminar as pontas lisas e percebi que ele está forte e brilhoso...

Infelizmente, tem pessoas que não conseguem lhe dar com as exclusividades de outras pessoas... Afinal, elas não conseguem lhe dar com elas mesmas...

Bjs Lola, desculpe o desabafo. Acho que é primeira vez que comento... Não resisti, leio o seu blog há tempos...

Dayane disse...

Minha mãe é cabelereira, Lola. Quando comecei a ler o texto, imaginei que a mulher estivesse apenas tentando conseguir mais dinheiro com "pq vc não faz luzes tbm?E pq nao uma escova progressiva?" isso é até meio que normal, cm a vendedora que diz "leve um sapato pra combinar com essa bolsa!Esse vestido cairia bem com esse colar!", mas depois eu fui vendo que não era isso e fui ficando bem trsiete, ainda mais por terem feito luzes no cabelo de um bebê, coisa que minha mãe jamais faria!
Cm já disse aqui em postas anteriores, sofri muita discriminação quando era adolescente por ter o cabelo cm o da Cecília (que hoje, assim cm ela, acho lindo!!!!!E o cabelo dela é maravilhoso, heni!), cheguei até mesmo a arrancar meus cabelos achando que eles cresceriam "melhores". Hj em dia os amo!Amo a cor, principalmente. Ele é ruivo, um castanho bem acobreado. mas mesmo ele tendo essa bela cor, ainda ouço "mas vc ficaria linda de luzes, loira, combinaria com sua pele" que é branca. A tentativa para que eu os alisasse então, perdi as contas! "Seu cabelo é lindo!" seguido de "Pq vc não faz uma progressiva?".Ué, mas tu não disse que ele era lindo???Pra que progressiva???

Quanto a isso da moça que foi vítima do racismo, estou muito chocada e é MUITO TRISTE ver que uma pessoa tbm com ascendência negra tenha feito isso. Triste não por ela ser má, mas triste por ver cm nossa sociedade consegue fazer com que nos neguemos e nos odiemos. Minha avó é negra, mas ai de quem diz isso pra ela!Meu namorado é moreno, cabelos cacheados, mais para negro, mas ela disse que eu deveria ter escolhido um mais branquinho. Eu fico triste por ela não se achar bonito, não achar as pessoas que se parecem com ela bonitas, assim cm crescei ouvindo que meu cabelo não era bonito.
Lamentável td isso.

Mirella disse...

é um absurdo.

é nojento.

Uma coisa é cabeleireira cobrar a mais por um tipo de serviço em um tipo de cabelo, mas nunca baseado na cor da pessoa! É como a Cecilia citou: cabelos como o dela, que podem demandar mais produto e mão de obra. Mas se um ondulado loiro paga X, um ondulado negro paga igual, e etc. Um crespo loiro para Y, é o valor para todo crespo. Cobrar TRÊS vezes a mais por um serviço num cabelo mais curto é patético.
Sem essa de cobrar a mais pela pessoa ser negra, somente por isto já seria racista. Mas depois dos comentários da mulher, não ficou dúvida nenhuma.

Um caso que me impressiona até hoje foi minha mãe que contou. Ela é professora e dá aulas para alunos do fundamental, além de médio e universidade. Ela conta de alunas de 12, 13 anos acordando quase duas horas antes do necessário, todas as manhãs, pelas mães, para fazer chapinha e escova e etc para ir à escola. E com isso as meninas morriam de sono nas aulas.
Eram meninas de bom poder aquisitivo, em escola particular. Que imagem essas mães estão passando? "Não precisa aproveitar bem as aulas, contanto que você se sacrifique para se encaixar num padrão que vai te excluir da mesma maneira." E isso em crianças! Já acho absurdo lembrar de uma colega de sala que fazia a mesma coisa aos 16 anos. Ela tinha um cabelo loiro e bem crespo. Como com qualquer umidade já começava a ondular, ela lavava e fazia escova todos os dias de manhã (madrugada, né, às 6 da manhã).

Meio fugi do tópico do post, o racismo. É muita cretinice e ignorância juntas. Cabelo crespo ser cabelo "ruim". Cabelo RUIM, gente? Cabelo bom é qual, aquele que fala aramaico fluente? Ou o cabelo que adota animais? Oi? Preto fedido? Suor fedido? Tem gente que quando sua exala água de rosas, né. Não é possível.

Ah, lembrei dos polêmicos mamilos e pepekas rosa. Pelamor


Nestes momentos

Bruno S disse...

Esse relato é nossa triste realidade.

Sempre vejo as pessoas reproduzindo comportamentos profundamente racistas como se fosse a coisa mais normal do mundo.

É muito recorrente essa história da mãe (ou qualquer outro adulto) falando que a crainaç tem cabelo ruim, que precisa fazer escova, chapinha, etc. É um belo desserviço que fazem a autoestima dessas crinaças.

Carolina disse...

Eu tenho cabelo enrolado também, um bando de gente acha lindo, mas já teve quem veio dizer coisas como:
“Ah o seu cacheado é bonito! Não é daquele pixain, é mais Europeu”
De repente pro cacheado ser bonito tem que ser europeu, como se tal diferença existisse. Dentro do tipo cabelo cacheado existe uma infinidade de padrões diferentes, isso é certo, mas selecionar um tipo que os europeus tem pra chamar de mais bonito é o cúmulo de racismo e eurocentrismo. Certamente a pessoa que me disse isso, chamaria o cabelo da Cecília de “cacheado europeu”.
Mas né? Essas pessoas esquecem que toda a população humana é africana. Os europeus não brotaram da terra do nada, nem os asiáticos, nem os próprios africanos. Então todo cacheado é africano, todo liso é africano, todo mundo é africano. E sem contar que eu tenho mãe índia, pai de origem européia e avô materno negro. Sou aquela mistura louca que mais típica do Brasil não seria possível, pq meu cabelo só é bonito pq é “europeu”?
E agora outro ponto que a Cecília deve conhecer bem: a dificuldade pra se cuidar de cabelo enrolado por aqui. Basta observar dois pontos cruciais, o primeiro diz respeito a oferta de bons produtos pra esse tipo de cabelo, é uma verdadeira tragédia. Existe uma completa falta de bons produtos nas prateleiras, só coisa genérica, só coisa que a indústria cosmética joga de qualquer jeito, mas se você olhar a oferta de produtos pra cabelos quimicamente tratados, opção não vai faltar.
Agora olha só... numa população em que predomina o cabelo crespo dos mais variados tipos, a oferta desse tipo de produto é irrisória, gente. Um absurdo. Pra conseguir tratar do meu cabelo eu importo produtos ou compro os importados aqui. Entro em blogs de moças que tem o cabelo parecido, colho dicas e tudo mais. Tive que aprender sozinha a cuidar do meu cabelo e investir um bocado nele pra ficar bonito. Assim como a Cecília eu sou apaixonada pelas minhas madeixas. Gosto mesmo de investir.

Agora segundo ponto sobre a dificuldade de se ter cabelo enrolado bem cuidado por aqui são exatamente os salões de beleza. Quando eu chego por aí a primeira coisa que me sugerem é fazer um relaxamento, alisar a franja e tal. Gente, não quero! Gosto do meu cabelo selvagem mesmo, super cuidado e volumoso, esvoaçante. Capacetão MESMO! ADORO!
Mas os profissionais do ramo, na maioria que eu já encontrei, não todos obviamente, tem dificuldade de lidar com isso. Eles não conhecem jeitos de tratar cabelo assim, é frustrante. Um dia eu finalmente achei um cara que olhou pra mim e disse: “nossa cabelos lindos! Adoro cabelo enrolado! Vamos cuidar dele pra ficar ainda mais lindo”. Eu agarrei nesse homem e pago quanto ele quiser, pago mesmo.

E daí eu penso em todas as moças que tem cabelo enrolado, se eu com meu “cacheado europeu” já sofro pra me impor, imagina uma moça que tem o crespo beeeeeeem crespo? Coitada, essa deve sofrer. Não tem informação, não tem produtos. E com um bando de gente insistindo que seu cabelo é melhor liso... o Brasil acaba virando um país de cabelos quimicamente tratados e não de cabelos enrolados. É triste.

Eu sei que não é só aqui. Nunca fui aos EUA, mas já me disseram que lá tbm é complicada essa questão, principalmente entre as negras.

Mas graças a minha mãe sempre me apoiando quando riam do meu cabelo e me incentivando a cuidar, hoje eu to MT feliz com ele. E sempre que posso ajudo moças na msm situação, pra que ao invés de perderem tempo e dinheiro alisando e maltratando o cabelo, elas se aceitem lindas e com cabelo cuidado! No fim das contas é o cabelo livre e saudável o mais bonito.

Desculpa o comentário grande e cheeeeeio de erros (a preguiça me consome), Lola. Mas é que tudo isso sempre foi observação e gostaria de compartilhar.

André disse...

É muito triste, pessoas assim são duas vezes vítimas do racismo, quando o sofreram e quando o introjetaram.

Marcelly disse...

texto otimo, acontecimento infelizmente comum..

e sim...a duvida do que fazer com certeza paira sobre nossas cabeças...minha opinião..denuncie...fale..diga..grite...faça cartazes..mande cartas...anonimas ou não..mas nunca, em momento algum se cale..
não falou na hora..otimo..mande uma carta de repudio pra essa mulher..mas não a condenando..nem a ofendendo..mas sim mostrando da melhor forma possivel oq uanto ela está errada...ai talvez...da proxima vez ela pense beA duvida do que fazer com certeza paira sobre nossas cabeças...minha opinião. Denuncie...fale...diga...grite...faça cartazes...mande cartas...anônimas ou não...mas nunca, em momento algum se cale..
Não falou na hora...sem problemas...mande uma carta de repudio pra essa mulher...mas não a condenando nem a ofendendo...mas sim mostrando da melhor forma possível o quanto ela está errada...ai talvez...da próxima vez ela pense bem antes de falar ou fazer algo assim...mas o silêncio te faz cumplice da atitude dela..
m antes de falar ou faer algo assim..mas o silencio te faz cumplice da atitude dela..

IRAILDE SANTANA disse...

Quem diz que o racismo no Brasil não existe, não sabe o que está falando! O racismo aqui é sutil, é mascarado o que acaba sendo quase impossível a prova desse crime. Já vi gente brigar no estacionamento de Shopping porque a "pretinha" havia tomado a vaga dela. Já presenciei no trânsito, pessoas levantando o vidro da porta do carro ao pararem no semáforo ao lado de "gente preta". Já fui transferida do setor de recepção de um colégio interno e o motivo muito simples: Alegaram que não eram todas as pessoas que gostariam de ser atendidas por "gente de cor". Infelizmente essa é a realidade do nosso país e não me choca ouvir um relato como esse do post. Só não enxerga o racismo impregnado na nossa sociedade quem não quer!

Marcelly disse...

quando me pergunto o que se pode fazer pra mudar tudo isso...talvez seja ir contra a maré...
esses dias a filha do meu namorado passou em frente a uma vitrine de maquiagem e ficou olhando..comentando..dizendo que queria...quantos anos ela tem?3 anos..é 3 anos de idade..eu só disse...- vocÊ não precisa disso..é linda do jeito que é..

será que se eu repetir isso durante anos ele entende??...
espero que sim..por que tem mãe que fala na cabeça da filha a vida toda que ela tem que alisar o cabelo..e a filha alisa...espero que o contrario funcione...

Anônimo disse...

Acho que a primeira pessoa que me discriminou foi minha mãe. Ela é descendente de portugueses, tem os cabelos lisos e se casou com um homem negro (um moreno bonito, como ela diria). Meu cabelo foi liso até meus 12 anos e quando começou a encrespar, um dia ela brigou comigo puxando-os e chorando: "Você está ficando negra! Seu cabelo, seu nariz, sua pele! Você vai parar de fazer natação à tarde porque está pegando muito sol!"
Antes disso eu já tinha sofrido preconceito na escola. Duas meninas brancas não quiseram ser minhas amigas e disseram que porque eu não era branca como elas (simples assim, as crianças são sinceras). Quando íamos fazer peças de teatro, um garoto sugeriu: "Você vai ser a empregada, porque tem a pele escura..." e por aí vai.
Eu me casei com um homem loiro de olhos verdes e quem conhece a história sabe que ficamos juntos mais por insistência dele do que minha, que sempre quis me preservar do preconceito. Estamos juntos e a pessoa que mais me incomoda é a cunhada dele, descendente de índios, mas que vive para cuidar do cabelo crespo de negro e vive soltando indiretas: "Minha pele é mais clara, nossa meus cílios são claros..." Às vezes penso que ela quer me atingir, mas que quer, deve ser porque me considera uma "ameaça", já que sou poliglota, tenho bom emprego e a vida toda sempre escutei as pessoas surpresas ao meu respeito: "Nossa, como ela é inteligente!" E talvez nem seja porque sou inteligente, mas porque sou negra E inteligente. Isso ainda surpreende as pessoas e, mais comumente, as incomoda.

Unknown disse...

Tomara que essa "senhora" vá a falência. Só isso que posso desejar.


Confesso que acho salão de beleza um porre. Vivem querendo dar pitaco na vida da gente. Uma vez, a uns anos, fui num salão de beleza para alisar e hidratar, e a tia queria que queria cortar "as pontinhas", e eu não quis, é claro. Ai ela veio dizendo que tinha promoção porque eu também ia hidratar e que cortaria as pontas de graça. Ok então. Na época meu cabelo era um corte reto até próximo o cotovelo.


Ai a moça me faz MULLETS(e comprimento até o ombro)!!! Discuto com ela, afinal, só queria cortar as pontinhas. E eis a desculpa dela: "Ah, mas é corte de homem, estava parecendo mulher e mimimi..." (na época ainda não era trans* mtf)


Minha vontade foi de cortar a garganta dela com a tesoura. Depois disso estudei os tratamentos capilares e nunca mais pisei num salão de beleza. ¬¬

Gabriela disse...

Fedida é a ameba q acredita nessas coisas.Mas o negócio é assim mesmo.Racismo enrustido é a regra nesse país.Vejam só, minha família q é composta por gente boa e honesta, faz piadinhas de como os mais novos tem a missão de clarear a família.Mas claro é só uma piadinha inocente.

Sério essas pessoa deveriam ser presas pelo crime de racismo e e maus tratos a essa criança.Luzes em uma criança de 1ano?Isso é ao menos legal?Acredito q não.

Priscila Boltão disse...

Gente, alguém me dobra que to passada. Quando juntar meu queixo do chão eu venho comentar esse post. Nem sei por onde começar.

Ana disse...

Credo.

Isso me lembra... eu contei no outro post que meus avós são bem racistas, né? Bem, esses dias tava conversando sobre isso com a minha mãe, e ela me contou que meu bisavô, que era ferreiro, nem atendia negros.

E ele tinha um terror especial por negros de olhos verdes - dizia que "todo preto de olho verde é ladrão!"

Tenho uma senhora vergonha alheia de contar isso, mas enfim. Dá pra ter uma idéia de como racismo não faz droga de sentido nenhum ('negro de olho verde é ladrão'? WTF??????? Burrice pouca é bobagem!).

Eu já cansei de ouvir gente usando o termo "da cor", porque o nojo é tanto que nem dizer 'negro' não conseguem. Sim, racismo às vezes atinge níveis absurdos. Não me espanta tanto que tenha gente que prefere perder dinheiro a atender um negro, não.

Vevila disse...

Eu, negra de cabelos assumidamente crespos e sem tintura, fui ao salão de cabeleireiro no fim de semana passado. Ao sentar na cadeira e ter meu cabelo analisado pela profissional, que ficou admirada com o quanto meus cabelos são macios e fáceis de tratar, escutei o seguinte: "Ah, que cabelo lindo! Acho lindo cabelo como o seu. Antes de ter meu salão, trabalhei num lugar onde, se uma moça com cabelo tipo o seu chegasse na porta e pedisse pra fazer uma escova, todo mundo ia gritar lá de dentro: NÃO TEM VAGA!, ou então cobrar o dobro e até o triplo, sem sequer tocar no cabelo da pessoa."
Aquilo me doeu até o tutano, e entendi finalmente o motivo pelo qual alguns salões não me atenderam no passado.

Anônimo disse...

Eu falei muito emocionada e não segui uma cronologia na minha situação pessoal. Eu sempre sofri preconceito, agora vejo em perspectiva e me dou conta de situações que eu não tinha percebido como preconceituosas, mas que foram. A ocasião em que fui sacudida (literalmente) foi quando minha mãe brigou fisicamente comigo por causa do cabelo, da pele e do nariz. Foi aí que me dei conta de tudo.

Leio Lola Leio disse...

Parece até piada ou forçação de barra, mas estou me identificando muito com os últimos textos, então não tem como deixar de comentar.
Minha família é de negros e índios e todo o resto. Daí sai gente de todas as caras, a maioria de pele escura, mas extremamente preconceituosa. Fez todo o sentido dizer que a cabeleireira estava com discriminação contra si mesma, porque é o que vejo na minha família.
Mas, eu sou branca e pobre. Sofro preconceito entre negros e entre brancos. Acho até que meu fenótipo de mulher branca, magra e etc pode ter me favorecido, por exemplo, quando concorri à vagas de emprego par atender pessoas. Mas, sofri discriminação na Educafro (por ser branca, embora seja descendente de negra) e na USP (por ser pobre, mulher e trabalhar ao invés de dedicar-se exclusivamente à graduação e pesquisa), então acho que o assunto é complexo mesmo.

Camila disse...

Eu teria, sinceramente, repreendido a ação da cabelereira diante da cliente negra.

Isso é, perguntaria, pq o meu (seu) cabelo sendo maior que o da moça, era mais barato.

Ou pq ela estava dizendo q a agenda estava cheia, se horas antes, me afirmou que estava vazia...

O que as duas fariam com isso eu não sei, mas depois de presenciar tantos casos de omissão, deste mal eu não sofro mais.

lola aronovich disse...

Gente, por favor, parem de desconfiar de tudo. Desconfiar que racismo existe no Brasil? Que esse tipo de coisa que a Cecilia relatou não é incomum? (como muita gente tá dizendo...). Não acredito que eu tenha que dar credencial de todo mundo que comenta no blog.
A Cecilia publicou este relato como anônima no guest post do Robson (linkado no post). Eu gostei tanto do coment.dela que o deletei e pedi pra que a pessoa que tivesse escrito aquilo entrasse em contato comigo por email. Tá lá nos comentários do post, é só ver. A Cecilia me mandou um email no dia seguinte, me autorizando a publicá-lo. Eu já conhecia um pouquinho mais dela porque ela havia comprado meu livro. Ainda me certifiquei se era isso mesmo sobre o cabelo dela (até o joelho?), e ela me mandou essa foto -- que, aliás, não pedi permissão pra publicar. Espero que vc não se incomode, Cecilia!
É isso. Aí vem um ou dois trollzinhos dizer que eu inventei o post, ou que a Cecilia tá mentindo. E do outro lado eu tenho a Cecilia, com nome, endereço, foto, e um relato chocante, sem motivo nenhum pra mentir. Puxa, em quem será que eu vou acreditar? Na Cecilia ou nos trolls? Que decisão difícil!

Artur do Amaral Henrique disse...

Eu não sou o tipo de pessoa que sofre preconceito diretamente, pois sou homem, hetero, não negro (não me considero branco também, e já me perguntaram se eu tenho ascendência indígena), mas sofro com o preconceito, pois o presencio a todo momento, e em todos os lugares. Moro em um bairro “bom” de São Paulo e ao meu redor estão pessoas com bom poder aquisitivo. E percebo que o racismo brasileiro é o do tipo: “Nada contra os negros, desde que eles sejam os faxineiros, cozinheiros, diaristas...” ou seja “que eles não se misturem com a gente no mesmo nível”. E como vivemos e respiramos racismo, os próprios negros (e pardos) começam a “acreditar” que a ascensão social não é para eles. Já presenciei seguranças negros perseguido negros que entram em um Shopping Center de “nível social” melhor, sem eles estarem fazendo nada, estarem bem vestido, agindo normalmente como qualquer outro frequentador do Shopping, mas por serem negros, mereciam uma vigilância mas próxima. Lembro dos seguranças falando pelo rádio “eles subiram, mandem mais dois para o piso superior”. Eu fiquei seguindo eles só para ver se via algum comportamento “suspeito”, algo que justificasse a “perseguição” alem do fato de serem negros. Mas os 3 “elementos”, como um dos seguranças citou nas transmissões pelo radio, nada faziam de mais. Os segui por quase 30 minutos. Eles tomaram um café, entraram em uma loja de eletrônicos e compraram algo (ou seja, consumidores do Shopping) e formam para a fila do cinema, e o tempo todo havia pelo menos dois seguranças na cola. Achei aquilo horrível. E a maioria dos seguranças eram negros. Ai vem um cara qualquer e diz “O Brasil não é um pais racista”. Pois somo tão racistas, que conseguimos “contaminar” os próprios negros com esse racismo.

Flávia_Cola disse...

pois é gente... o racismo se manifesta das mais variadas e absurdas formas, vejam o exemplo que vou dar: tenho um aplicativo no meu smartphone, pra jogar buraco, chama-se BuracOn, vc cria um nick, vai jogando on line com diversas pessoas e tal, não sei se alguém por aqui conhece... existe lá uma ferramenta de chat, pra vc dar boa noite aos colegas de jogo, dar dicas e tal. esses dias, comecei uma partida com outros três usuários e um deles tinha a pontuação -140 ou coisa parecida. pois bem, um dos usuários (são necessários 4 para uma partida de Buraco) fez um comentário do tipo "fulano deve ser preto pra ter -140 pontos". como ninguém se manifestou, a pessoa (pessoa?) repetiu o comentário. aí eu simplesmente digitei "racismo é crime inafiançável vc sabia?" e aí o fulano/a se voltou pra mim com toda a sua estupidez "a tia é tiziu" e outros comentários de baixo nível... ainda tentei racionalizar um pouco com ele, que não importava se eu era ou não negra, que na verdade eu era advogada, que racismo era crime, que era uma estupidez, que ele não podia agir assim, e o infeliz me xingando atrocidades! infelizmmente acabei de deixando contagiar pela idiotice e digitei alguns xingamentos antes de me retirar do jogo...

Roxy Carmichael disse...

se existe um lugar que é bastante injusto com as mulheres negras, mulatas, esse lugar é o salão de beleza. é impossível entrar num salão com cabelos crespos ou mesmo ondulados e não ouvir: "mas por que você não faz progressiva?" ou ainda mais imperativo: "você devia fazer progressiva!" outro dia lendo um texto da miriam goldenberg, ela citou uma frase da veja que me pareceu genial: "no brasil, as mulheres não ficam mais velhas, elas ficam mais loiras." nesse texto que era uma análise do corpo da brasileira, com destaque para o corpo da carioca, ela falou que à diferença da frança, as mulheres aqui não se preocupam tanto com estilo (roupas, acessórios) e sim com a forma do corpo, daí uma academia a cada esquina, um salão de beleza a cada esquina e o país como o maior consumidor de cirurgia plástica do mundo. e tudo isso para alcançar a delirante meta de transformar as belas mulheres brasileiras em cópias humilhadas das mulheres do hemisfério norte. é uma cópia humilhada porque é uma cópia frustrada que não concebe a releitura, a criatividade, a resignificação agregando elementos próprios, é humilhada porque estampa a frustração diante da impossibilidade de ser próximo ao original.

Cris disse...

Dia desses eu tava na fila da cantina na UFES, onde estudo, e naquele dia estava ocorrendo uma tal de "feira de cursos", que servia para apresentar os cursos da universidade ao público de fora, especialmente vestibulandos.

por isso mesmo, a fila estava enorme, demorada, havia muito mais gente que o normal ali. pois bem, logo na minha frente na fila estavam duas moças com uniforme de algum colégio que não conheço, conversando. e eu lá, quetinha. nem dava pra não escutar o papo delas. e logo percebi que uma das meninas era cabeleireira - taí uma profissão onde se começa desde muito cedo, pelo visto.

e eis que ouço o comentário: "blablabla eu tava lá alisando o cabelo da menina, devia ter uns 10 anos, e ela começou a chorar dizendo que não queria mais, que queria parar. sabe como são essas crianças, né? aí a gente tem q convencer, não pode deixar o trabalho pela metade, então eu fui lá, toda paciente, tipo 'poxa, mas você não quer ficar bonita igual à Barbie? tem que deixar a tia terminar...'"

cara. BONITA IGUAL À BARBIEEEE!!! que ódio q me deu daquela criatura, quase q eu dei um empurrão nela e a mandei SUMIR da universidade e só voltar quando passasse no vestibular. uuuurgh! imagina o trauma q ela criou na menina? essa necessidade de ser parecida com uma boneca q nem tem medidas humanamente possíveis!

Ramon Melo disse...

Ler esse relato dá ânsia de vômito.

E eu que achava que não existia ambiente mais preconceituoso que a faculdade de engenharia. Ledo engano.

Liana hc disse...

O que fazer quando diante de uma situação de preconceito?

Quem é racista geralmente acha que faz parte de um clubinho e que pode contar com a concordância ou pelo menos a conivência ou silêncio dos outros brancos ou qualquer outra pessoa percebida como "clara". Que nem homofóbico conversando com um hetero sobre uma pessoa gay, já vai achando que eese hetero também é homofóbico pelo simples fato de ser hetero. Como se uma coisa implicasse na outra. E na cabeça do preconceituoso muitas vezes implica.

Por isso acho importante abrir a boca e discordar na hora, não deixar passar em branco (sem trocadilho), mostrar que não faz parte do clubinho, deixar a pessoa desconcertada.

Se mais pessoas se manifestarem abertamente contra os preconceitos, quem é preconceituoso vai ficando inseguro de vomitar essas bobagens por aí, pois sabe que nem sempre vai ser bem recebido. Precisamos não fazer sala para este tipo de situação, quebrar esse paradigma.

Não precisa discordar com grosseria tampouco fazer discurso de militante, pois nem todo mundo está nesse clima.

Dificilmente aquela cabeleireira (ou quem quer que seja) mudaria de opinião, mas ela no mínimo se sentiria constrangida de falar isso de novo perto da cliente que ela achou que era confidente.

Feminazi Satânica disse...

É incrível como o racismo não se limita apenas à cor da pele, mas também ao cabelo. Sou filha de mãe paraense e pai mineiro, e apesar da minha família ser do norte, a maioria das mulheres da parte materna possuem cabelos crespos (ou "nhenga" como minha mãe gosta de chamar). Diz ela que os maiores medos quando estava grávida era que eu nascesse com albinismo ou que tivesse o "cabelo ruim". Ela conta que fazia até novena para eu não nascer com nenhum desses "males", e realmente não nasci. Não sei pq diabos, afinal, não é comum mulheres com cabelos lisos na família da minha mãe e nem na família do meu pai (minhas irmãs paternas, apesar de serem loiras e terem olhos claros, tb possuem cabelos encaracolados, e todas as minhas primas também).

Nasci com os cabelos lisos e bem castanhos, provavelmente fui a única da família que puxou isso de algum ascendente indígena. Minha mãe vibrava com isso, mas quando eu tinha 8 anos ela começou a fazer luzes em meus cabelos, afinal, ser loira é lindo. Aprendi a gostar de pintar o cabelo, e adotei esse hábito durante a minha adolescência inteira. Se quando eu era criança meu cabelo era tão liso quanto de uma índia, ele foi deteriorando MUITO. Em certa época ele não era nem liso, nem crespo, nem encaracolado, parecia uma fuinha de tanta química. Parei de pintar há alguns anos atrás e só agora que ele está voltando ao que era. Tive que passar por inúmeros cortes.

Todo cabelo é bonito em sua forma natural e sendo bem tratado. Pega uma negra que nunca tacou química, que nunca fez progressiva, que vai ter um cabelo lindo. Uma branca que nunca fez o mesmo, idem. Não sei de onde tiraram que cabelo loiro e chapado (na maioria das vezes com formol) é padrão de beleza.

Feminazi Satânica disse...

Quanto ao que a leitora presenciou, é muito grave. A cabelereira merecia uma denúncia! R$450,00 para hidratar o cabelo?! Isso é preço de progressiva master plus (daquelas que duram 189301930193 anos) nos salões de luxo da minha cidade! Muito racista essa profissional, e eu entendo que a leitora tenha ficado até sem reação. Na boa, essa cabelereira não merece nenhum cliente mais na vida.

Aichego disse...

Eu sou branca de cabelo enrolado. Bem enrolado. Que meu pai chamou de ruim minha infancia toda e me fez alisar muitas vezes. Nos salões de beleza, cortar o cabelo sempre foi um problema. Ninguem sabe cortar um cabelo enrolado. E olha que meu cabelo é "bom", embora enrolado. Os desastres que as cabalereiras prduziam eram culpa minha, que nao deixava alisar. Um dia descobri um cabelereiro que sabe cortar cabelo enrolado. E descobri que TODAS as minhas amigas cortam com ele pq ele é o único que sabe o que está fazendo e ainda por cima (pode?) ele ainda pergunta qual estilo queremos. Tipo: temos ate deireito de escolha, enquanto outros cabelereiros por aih dizem que cabelo enrolado so se corta assim e pronto.

Fefa Nagaishi disse...

é lamentável esse tipo de comportamento e aos que duvidam esse tipo de coisa é extremamente comum em salões de blz te oferecem mil coisas desnecessárias quandl alguém aparece querendo escurecer o cabelo ou se tem cabelo crespo/ondulado e recusam a progressiva parece que cometeu um crime. eles querem que todas tenham o cabelo com luzes e ultra lisos.uma vez uma cabeleira me perguntou pq eu não deixava mei cabelo loiro como tenho cabelos brancos porem a maioria continua castanho escuro pq seria mais fácil de cuidar hahahahahha para eu virar refem de salão e do seus preconceitos? ?? e sobre as luzes no cabelo de um bebe de 1 ano é um absurdo porem nossa sociedade acha lindo transformar criança em mini adulto

Amana disse...

Ei Cecília...
Que tristeza passar por isso. Imagino o quão atônita você deve ter ficado. Eu ficaria. E obrigada por compartilhar, pois só assim vamos vizualizando essas situações pequenas e silenciosas do nosso dia a dia, vemos como o racismo está presente aqui entre nós, a cada momento. Em todo lugar.

Sei que compartilhar essa história já foi super importante, refletir sobre o que aconteceu. Mas, quando você pergunta "o que fazer?", eu penso logo: reagir. Não ser conivente. Não silenciar e calar, por mais que queiramos ir embora rápido desses lugares.
Tendo sido uma situação tão explícita, acho que seria importante você sinalizar isso. Para mostrar que você vê isso como racismo, que isso não é certo, que isso inclusive é crime. Sim, você também, que a cabeleireira considera privilegiada, com cabelo "bom", acha que racismo é uma m*rda. E quem sabe, ouvindo isso de você, da cliente que foi dispensada, de outras pessoas, essa cabeleireira perceba que ela não tem o direito de tratar as pessoas assim. Inclusive por lei!

É difícil, mas o exercício diário de não nos silenciarmos é fundamental.

um beijo!

Edson disse...

Sou negro e homossexual e outro dia entrei num salão apenas pra cortar o cabelo e o chato do cabeleireiro já veio com a história de alisar, justificando que ficaria mais bonito e blablabla. Falei que gosto do meu cabelo do jeito que é e que se eu passasse alisante iria cair (meu cabelo é curto e estou um pouco calvo). Não voltei mais a este salão.
É praticamente lei, quando alguém entra com cabelo afro no salão de beleza, o cabeleireiro já começa a falar que é melhor alisar pq fica mais bonito e tal.
Padrão de beleza (acho que qualquer padrão, né) é mesmo uma merda!

Dayane disse...

Vitória

Teve uma época que meu cabelo ficou destroçado de tanta química tbm!Eu tbm fui cortando, cortando, cortando, até sair toda qímica dele. Engraçado que quando crianaça ele era liso, depois foi encrespando. E agora ele está ficando liso de nv, to ficando ateh triste, pois meu cabelo havia passado a ser minha marca registrada1 O que recebi de comentários dizendo que esse desenho Valente era sobre mim não tem preço =D!

Aichego, eu aprendi a cortar meu p´roprio cabelo =)

Anônimo disse...

Uma vez criei o maior climão com uma colega de trabalho.

Ela: "eu educo minha filha desde cedo para não se misturar (com negros)".
Eu: Como???
Ela: É... É a minha "opinião"...
Eu: Isso não é opinião. É ignorância mesmo...

Nunca mais trocamos mais que um bom dia ou boa tarde frios e formais.
Não sei se respondi da melhor forma, mas realmente não pude me conter.

DanielSan disse...

Bom,não sei quão certas estão as fontes oficiais (como a Fundação Getúlio Vargas), mas de acordo com elas a classe média já passa de 50% da população, logo não seria minoritária como a autora do relato diz.

DanielSan disse...

Observação: a não ser que ela se refere à classe média 'alta', mas não especificou.

sabrina disse...

pior é acreditar q alguem paga 150 reais pra fazer hidratação

Anônimo disse...

Eu tive uma colega de apartamento negra que dizia abertamente que não gostava de se relacionar com homens negros.
Mas fora isso acho que nunca presenciei o racismo de forma tão escancarada, eu não sou loira de olhos azuis, mas também não chego a ser negra. Fiz o Censo de 2010 em um bairro de classe média, Lola, e quase ninguém marcou a opção "branco". Muitos diziam que o país era uma mistura de raças e que não poderiam ser considerados como tal. Inclusive uma mulher quase não me deixou terminar a entrevista porque não queria marcar nenhuma das opções, afinal ela não era nem branca, nem preta, nem parda, nem indígena. Ela era morena e ponto, vai entender.

Lilly disse...

Caramba. Tô chocada. Sério mesmo.

Isso me lembra de um episódio que eu passei na infância. Eu, de cabelo bem crespo, e uma garotinha da minha sala, negra, mas com o cabelo liso. E ela costumava me dizer que não era negra justamente por causa do cabelo. Esse é o Brasil.

nina disse...

E isso de que só cabelo liso é bom ou bonito é algo tão enraizado na gente, que é difícil sair. Falo por mim, há alguns anos mesmo eu fazia alisamento, por ter essa ideia de que meu cabelo não era bonito, não era bom e etc. Agora tenho vergonha de ter pensado daquele jeito, mas tive que percorrer um caminho pra aceitar muita coisa - e não tenho a pele escura, apesar de não me considerar branca. Não sei o que me considero.

Hoje sei que não faria alisamento nunca mais. Não me submeteria de novo a todas essas torturas e procedimentos agressivos pra tentar me encaixar. Cortei meu cabelo bem curto, porque acho bonito. E passei a ouvir outro tipo de comentário idiota 'mas seu cabelo era tão bonito, por que vc cortou?' 'ficou tão masculino', 'homem não gosta e mulher de cabelo curto' e etc....

O mundo nunca está satisfeito.


Mas sobre o caso do post: é racismo, puro e gritante! E eu não sei o que faria também, é daquelas coisas que a gente fica tão em choque que acaba não dizendo nada.

Capaz que, se a Cecilia falasse algo, a mulher ainda diria que 'não, não é racismo (isso não existe!), é só minha opinião'.

E sem como provar, como ela denunciaria?

Sinto não ter uma resposta, mas acho que seria isso de nunca mais voltar lá, avisar às pessoas mais próximas - que não vão duvidar de você.

Sara disse...

Dei aulas de informática básica em uma unidade do Sine, em Fortaleza. Era uma maravilha, adorava. Uma vez fechei uma turma só com mulheres (o que aconteceu por acaso, já que as turmas eram preenchidas por ordem de chegada). O curso levava 30 dias úteis e geralmente todo mundo se dava tão bem que boa parte da turma começava uma amizade a partir dali. Nessa turma que era toda formada por mulheres havia uma aluna negra. Eu não lembro o nome dela (foram dezenas de turmas e centenas de alunos), mas o que eu lembro perfeitamente é que ela LITERALMENTE parava o trânsito em frente ao curso. Tinha a pele bem escura, alta, "pescoçuda", lindona e muito tímida. Não lembro se ela era maranhense ou se só os pais eram. Mas uma vez ela me disse que tinha poucos amigos pq não se dava bem com "o povo daqui". Um dia, no meio daquela turma super harmoniosa, que se dava super bem e tal, uma colega dela chegou pra mim e falou "Fulana faltou, posso ficar no lugar dela?" As alunas formavam duplas no PC e assim, ela deixaria essa colega dela, negra, sozinha. Eu perguntei pq e ela me disse, "Pq ela é preta... ah, num gosto não. Imediatamente a turma ficou em silêncio e eu tb. Eu simplesmente não sabia o que dizer e por um momento até pensei que tinha perdido um pedaço da frase. Essa aluna "non grata" por ela ainda não estava na sala, hein! Perguntei de novo, "Pq???". E ela respondeu, "Ah, professora... é de mim, sei lá! Num gosto não!" Eu fiquei calada, como toda a turma. Eu nem lembro direito o que aconteceu depois. Fiquei muito tempo calada e vi que meu chefe estava com o queixo caído olhando. Eu realmente não sei o que me assustou mais: Se foi a repulsa que ela sentia pela cor da pele da menina, se foi não saber se o silêncio da turma era aceitação ou choque, se foi a forma com que ela me falou, talvez achando que eu concordasse ou se foi minha falta de ação. Eu realmente não disse nada. Eu não consegui. Não comentei nada com ninguém durante semanas, pq me senti muito mal. Meu chefe e eu começamos a nos comunicar de forma silábica depois disso. Na época eu queria muito pedir ajuda de algum professor meu, mas fiquei com medo de que me criticassem por não ter feito nada. Encontrei essa aluna negra depois de uns meses. Ela soube que eu ia pedir demissão e se ofereceu pra faezr minhas unhas como despedida, já que ela era manicure. Achei isso tão lindo, tão sincero, tão meigo que imediatamente eu me senti um lixo. Como eu não falei nada? Como eu fiquei calada? Será que ela soube disso depois?
Eu só contei isso ao meu marido e essa história tem uns 4 anos.

Anônimo disse...

Agora me lembrei de um episódio triste, eu nem soube o que fazer, se é que tinha o que fazer.
Eu estava esperando um táxi que nunca vinha, tarde da noite, sozinha na rua.
Passou um rapaz negro e veio jogar conversa fora comigo pra passar o tempo, porque ele ia passar a noite na rua esperando a condução que havia perdido.
Além de educado, ele era discreto e não fez perguntas pessoais (nem meu nome). Só queria "conversa de elevador" para matar o tempo.
De repente dois faróis altos nos ofuscaram e, antes de eu entender qualquer coisa, policiais desceram de um camburão derrapante, já de arma em punho, para dar uma geral nele.
Fiquei atordoada: não olhei para ele durante a geral, para ele não se sentir mais humilhado, mas ficava na dúvida se não devia olhar ostensivamente para testemunhar qualquer irregularidade.
A geral foi demorada e os policiais falavam com dureza, como se tentassem irritá-lo. Ele manteve a maior serenidade, como se não fosse a primeira vez. Justo quando a geral acabou, passou um táxi e eu entrei.
Até hoje não sei se o garoto tomou geral porque estava comigo e acharam que ele só poderia estar tentando me assaltar, ou se ele ia tomar geral de qualquer jeito e a minha presença evitou coisa pior. Ou se roubaram alguma casa na vizinhança e a polícia foi atrás dos "suspeitos" de sempre.
Só não tenho NENHUMA dúvida de que ele tomou geral por ser negro e pobre.

Anônimo disse...

Ah, Lola, postaram um link aqui nos comentários com um texto de Stoya muito bom. Navegando por esse blog, tinha um texto chamado "Como ser amiga de outra mulher". Eu achei que era irônico, mas não, é sério.
Eu nunca li nenhum texto desse tipo aqui no blog e confesso que sou daquelas que diz "Eu sou mais amiga dos caras" e tem orgulho disso. Bom, seria legal ler algo sobre, parece que tenho muitos preconceitos ainda.

Comunista do BRcanal disse...

Desculpa Lola, mas você também não é branca. Você precisa se aceitar. Eu sou quase da mesma cor que você e me considero negro.

Sara disse...

Hoje acho q não me calaria diante de uma situação como essa.
Mas acho q muit@s de nós tem alguma história assim pra contar.
Lembro q quando estudava no primeiro grau ou primário da época, tinha uma amiga muito linda, chamada Roseli eu frequentava muito a casa dela que era próxima da minha, ela era mulata, um de seus pais eram brancos , mas não me lembro qual deles, e embora ela tivesse a pele bem escura e traços mais próximos da raça negra, cabelos bem crespos seus olhos eram incrivelmente verdes num tom belissimo.
Durante uma aula de geografia um professor perguntou a cada aluno da classe a qual raça pertenciamos, ao chegar a vez da Roseli responder a essa questão, ela visivelmente constrangida declarou que era branca.
Ninguem a questionou, nem mesmo o professor, ao contrário se instalou aquele silêncio constrangedor.

Luiz Prata disse...

Estarrecido com o relato.
O jeito é combater esse preconceito da maneira que puder.
E termos cada vez mais referências positivas como a poeta Elisa Lucinda (que já citei várias vezes ao comentar outros posts sobre o assunto), as cantoras Paula Lima e Negra Li, atrizes como Taís Araújo e Lucy Ramos e sites como Cabelo Crespo é Cabelo Bom http://www.cabelocrespoecabelobom.com.br/blog/

june_miller disse...

Não é por nada não Lola, mas percebi que tem muita gente covarde aqui E provavelmente sabe disso. Sabe que é errado que injusto, e não faz nada, não diz nada. Depois se sente mal porque não fez nada. Tenho tanta raiva deles quanto dos racistas, porque ele ajudam a propagar o preconceito com o silêncio, como esse passividade. Eles acham que as pessoas são como eles e pensam como eles. Já passei por algumas situações parecidas e sempre digo na cara o que penso. O racista nem reage, fica com cara de tacho porque sabe que fala merda.

Elaine Telles disse...

Moro perto de uma delegacia de policia e era comum os presos fugirem em massa, vez ou outra. Eu tinha 8 anos, e meu primo, que era tambem meu vizinho estava em frente a casa dele. Ele eh negro. A policia veio na nossa rua atras dos presidiarios foragidos e levaram meu primo, moleque de 16 anos, por achar que ele era presidiario. Havia outros caras na rua, mas soh ele foi como suspeito.

Brizza disse...

Gente, isso é comum. Eu já fui considerada "muito bonita para uma negra", já insistiram para progressiva em salão, pq os homens preferem cabelos lisos, já fui confundida com empregada só pq moro em um prédio à beira-mar e sou negra (negros não podem morar "bem"), enfim...

Quando eu fui confundida com empregada eu tb não tive reação e passei dias pensando que eu deveria respondê-lo. Me arrependo de não ter falado nada.

Aos 12 eu comecei a alisar os cabelos, que eram supercacheados e lindos. Acabei com eles e hoje tenho muita dificuldade de lidar. Tenho tentado deixar crescer natural, mas é bem difícil pq chega a um ponto que de tanta química ele não é mais nada: nem cacheado, nem liso, nem ondulado. Nada.

Eu entendo a falta de reação de Cecília. A gente fica meio em choque mesmo.

Juliana Abι disse...

Isso me lembra de um episodio no meu serviço:

Eu estava arrumando uns produtos na parede e estava mal-feito, dai uma moça, que era parda, disse que tava horrivel, coisa de negro, negrice, que tinha que arrumar. Eu fiquei com cara de ponto de interrogação e fiquei na minha. Com o tempo me surgiu que a moça estava sendo preconceituosa com as proprias origens

Juliana Abι disse...

E sobre o cabeleireiro sempre indicar alisamento, (nao to dizendo que nao rola um preconceito, uma padronização) mas eles indicam para ganhar dinheiro em cima, óbvio. Cabelo afro demanda trabalho (?) e consequentemente dinheiro. Eu tenho o cabelo liso e fino e o cara tava me falando para fazer trocentos tratamentos que ia ficar linda, é provavel que sim, mas para insistir tanto assim é pq ele tava interessado nao apenas na minha beleza, estava no bolso dele

Anônimo disse...

Offtopic: Oi Lola, vc já viu o texto de hoje do Ivan Martins (Os homens que odeiam as feministas)? Vale apena.
http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/ivan-martins/noticia/2012/09/os-homens-que-odeiam-feministas.html

Adoro o seu blog!
Bjs

Anônimo disse...

Uma das maiores falácias "o preconceito no Brasil é social e não racial". Já presenciei várias cenas de racismo estampado pra quem quisesse ver. O primeiro, quando tomei consciência desse racismo (que até então era algo distante para mim), foi quando uma amiga minha negra que estagiava na mesma empresa que eu não conseguiu pegar um "malote" no banco (fizeram mil exigências a ela). No mesmo dia sem saber de nada fui ao banco a pedido do nosso supervisor e peguei o malote. Cheguei lá e pedi o malote, não mostrei identidade, bastou minha palavra ou melhor cor. Quando cheguei na empresa meu supervisor contou o que houve. Fiquei chocada, indignada, envergonhada com aquilo. Foi quando o preconceito começou a saltar diante dos meus olhos (antes tarde do que nunca :( ), comecei a refletir e perceber certas sutilezas e outras nada sutis. Quando surgem situações parecidas faço questão de deixar claro que não concordo. Falo abertamente sobre o que penso antes mesmo de qualquer comentário, sei que intimido muita gente agindo assim.

Donload de livros disse...

aki na minha cidade as mulher do salão cobra mais caro das evangélica pq o cabelo nosso saun comprido e vai até o chão, mas como a gente gosta de trata direito pra ficar bonita pra ir no culto entaun tem q pagar mais que as outra q fica pintano de tudo qto é cor pra ír no forró fazer safadeza. Eu naun gosto disso pq acho que é discriminaçào contra as evangélica q tem os cabelo mais bonito e bem tratado da cidade.

Anônimo disse...

Lola, vc viu essa matéria?
http://ipaddicas.com/dicas/o-que-fazer-com-dispositivos-antigos-da-apple/

o autor recomendar dar o iphone velho para a esposa. a mulher se contenta com menos, com o que o homem não quer mais.

Anônimo disse...

sou mestiça e qtas vezes não ouço a frase: que bom q vc puxou mais pro ocidental pa é ruim se parecer com japonês,eles são feios.

e as pessoas que me falam isso afirmam que não são racistas
ahannnnn

*Mel* disse...

poxa, não consigo nem falar!
escutar comentários sobre racismo me dá um nojo! mas um nojo...

outro dia duas colegas de trabalho conversavam. uma, mulata, e a outra, parda. ambas com negros na família.
qual não é meu susto, ao ouvir uma dizendo que não fala, e não gosta do pai por ele ser negro. oi? deve ter mais coisa nisso. não pode ser! é seu pai! só por ser negro?
a outra, tem uma afilhada de 7 anos, e vez ou outra, leva a criança para fazer alisamento, pois insiste em dizer que ela não pode ter "cabelo ruim" que nem o pai. e a pobrezinha, já acredita e repete isso.
foi uma conversa das duas, que durou muito tempo. eu só escutei, e fui ficando cada vez com mais e mais nojo. não tinha percebido até então, o quão preconceituosas as pessoas podiam ser com suas origens.

já morei com uma angolana. ela tinha uma pele tão linda! e cabelo idem. ai descubro que ela tinha aplique. pq até mesmo por lá, o cabelo natural é considerado "ruim". ela me contou que as mulheres por lá cortam o cabelo beem curto, e fazem aplique. seja ele (aplique) liso ou enrolado.
não entendi a lógica.

será que não entendo, por ter cabelo liso demais?
tão liso, que não consigo fazer sequer uma trança! um mísero cacho! vou tentar quelauqetr penteado, e não dura 5 minutos! (sem exagero algum!) e depois enrolado que é ruim...

Anônimo disse...

a frase machista na matéria do site ipad dicas - "costumo dar à minha esposa o modelo anterior de meus dispositivos, ela adora, é suficientemente bom para sua exigência."

que legal, somos submissas e burras, vinde a nós todos os iphones velhos

http://ipaddicas.com/dicas/o-que-fazer-com-dispositivos-antigos-da-apple/

Camila disse...

Incrível o post, Lola!
Mas o pior é ver nos comentários a quantidade de pessoas que já passaram por situação semelhante.. Tenho também uma história; que você tire suas próprias conclusões dela.
Sou vestibulanda e faço cursinho numa cidade do interior de Minas Gerais. Tenho um professor de atualidades que dá aulas de vez em quando, para aqueles que não tem muito o hábito de ler jornal. Certa vez, ele deu aula sobre racismo.. E ele é negro. Então, falou a aula inteira sobre esse preconceito, sobre tudo que ele e amigos que também são negros já haviam passado. Foi uma aula pesada, meio "tapa na cara da sociedade", onde ele falou abertamente sobre racismo, fazendo piadas sem fim e tirando muito sarro.. E outros dois colegas negros que estavam na sala (sendo que uma era minha amiga, sentada do meu lado) gargalharam de tudo o que ele disse, talvez se identificando com as situações. Achei a aula absolutamente genial. Foi quase que uma terapia do riso, como no outro post. Então, no final da aula, na porta da escola, perguntei para um amigo que havia ido à aula daquele professor pela primeira vez se ele tinha gostado, e ele disse que não gostou nem um pouco, que tudo que ele havia dito era extremamente ofensivo e que as coisas não eram bem assim. Eu, incomodada, perguntei: "tá, mas se ao invés de um negro falando sobre racismo e fazendo piada disso, fosse um gay falando sobre homofobia e fazendo graça, você teria gostado?" Ao que ele riu e respondeu: "Ah, mas gay é engraçado".
Pra mim, ele foi preconceituoso duas vezes: primeiro quando disse que as coisas não eram bem assim, e que não se podia colocar a questão sob essa visão humorística.
Ele achar ofensivo agente entende, algumas pessoas não conseguem lidar com os tabus, preferem agir como se eles não existissem.
Mas ainda assim, não falar a respeito, na minha humilde opinião, só serve para oprimir e cegar ainda mais as pessoas. Porque o racismo existe, o preconceito existe, e qualquer um que achar que isso é mentira é um completo idiota (ou iludido). E porque não fazer piada disso? E porque não constranger a sociedade preconceituosa, com as pessoas se identificando com alguns atos, com situações em que nem elas mesmas tinham reparado que haviam feito?
E, em segundo, ele me soltou aquele comentário homofóbico. A namorada dele (minha melhor amiga) me deu uma olhada como quem se desculpa e o chamou para ir embora. Ela conhece minhas tendências.
Falar sobre preconceito é extremamente complexo, porque ninguém assume que já foi preconceituoso.. Talvez seja disso que as pessoas estejam precisando. De mais aulas de atualidades com professores negros/homossexuais/islâmicos/nordestinos/indígenas/feministas/gordos, falando sobre preconceito. Porque, na verdade, a questão não são as opiniões individuais. É o respeito que se tem pelo o próximo.

Elaine Telles disse...

Off-Topic http://exame.abril.com.br/negocios/gestao/noticias/ambev-deve-indenizar-vendedor-forcado-a-ver-filme-porno?goback=%2Egde_3424863_member_161313648 Olha o vale prostituta no meio empresarial, como forma de incentivo a bater metas.

Luiz Prata disse...

Lendo a resenha que o Ativismo de Sofá fez do desenho Valente (http://ativismodesofa.blogspot.com.br/2012/07/disney-pixar-valente-essa-princesa-aqui.html), lembrei-me que a Merida, protagonista do filme, também é um bom exemplo positivo de cabelos crespos.
No mais fico com as frases de Elisa Lucinda (não necessariamente ipsis letteris, mas a essência é essa):
"Cabelo 'ruim' por quê? Ele te fez alguma coisa, por acaso?"
"Cabelo ruim, na verdade, é aquele que salta fora (ou seja, cai) antes do tempo. Não foi esse o combinado. Nascemos juntos, temos que seguir juntos".

Anônimo disse...

June, tem muita gente covarde mesmo, e não é só pq 'é com o outro', mas pq, em geral, as pessoas, principalmente as mulheres, não são educadas a reagir, nem a um elogio!!!

Vc não viu os posts sobre cantadas/agressão que as mulheres levam na rua?!
Algumas reagem, mas a maioria deixa passar, passando raiva.
Hj msm eu ouvi um "Oi" t meloso na rua, e só conseguir falar baixinho um "vai tomar no cú" metros depois!
(e provavelmente pq li os posts recentes, senão nem pronunciava, só pensava).

Anônimo disse...

Tenho uma amiga de fé negra em Sampa que se casou com um espanhol branco. Eu sugeri que ela fosse ao cabelereiro uma semana antes do casamento pra arrumar o cabelo e assim teria certeza de que tudo daria certo no dia do casamento, aliás isso independe do tipo de cabelo. Ela foi e ficou satisfeita. MAS passou o dia do casamento num Spa em Moema se nao me engano, num local que oferece O Dia da Noiva. Tudo foi bem até que na hora de arrumar o cabelo dela, ninguém sabia o que fazer ou como fazer. Inventaram de colocar na cabeça dela um turbante. Minha amiga ficou bonita, mas poderia ter evitado isso se tivesse pensado duas vezes e ido ao local arrumar o cabelo uma semana antes pq nao é toda cabelereira que sabe lidar com cabelo afro e isso é compreensível. O inaceitável é o que a cabelereira citada no post falou para a freguesa branca. Ela poderia simplesmente dizer que nao faz cabelo afro, pois nem todo curso de cabelereira habilita a profissional em cabelo afro. Para isso requer uma profissional com qualificaçao para tal, é como nem todo dentista faz tratamento de canal, nem todo médico é cirurgiao, nem toda professora de inglês é também tradutora, nem toda cozinheira sabe fazer comida árabe, e por aí vai.

A cabelereira do post nao humilhou a moça negra, apenas deu uma desculpa da gente acreditar. O papelao foi a conversa com a cliente branca; isso sim foi de doer se é que aconteceu como lemos no Guest Post.

Anônimo disse...

Ah sim, no meu tempo de escola havia uma menina com muito muito cabelo e ela é branca de olhos verdes e o cabelo tb era armado e me lembro que era difícil uma cabelereira acertar no cabelo dela. Nem toda cabelereira sabe dar corte bacana em cabelo liso, escorrido como o meu. De tanto ler nesse blog sobre encrenca com cabelo, saí pesquisando e aprendi um bocado e nisso dei por meter a tesoura eu mesma vez ou outra. Tb aprendi que podemos usar somente o creme rinse/condicionador e dispensar o xampu e há três meses é o que venho fazendo. Tá dando certo.

jonas_cg disse...

Uau! Fiquei até de boca aberta lendo esse relato. Eu também não saberia o que fazer...mas (vou ser um pouco maldoso aqui) que bom que essa mulher quase não tem clientes, também, sendo uma racista nojenta, tomara que perca mais clientes ainda.

Jaqueline Oliveira disse...

Esse tipo de coisa acontece comigo também. Enfim, uma vez fui em um salão pra acompanhar minha prima que ia fazer as unhas. A cabeleleira estava comentando sobre o cabelo de uma cliente, dizendo que o cabelo dela estava mudando com o tempo...a menina tinha uns 9 ou 10 anos aproximadamente...o cabelo dela estava "mudando pra melhor" de acordo com a opinião dela.
- Nossa, seu cabelo esta ficando cada dia mais liso....seu cabelo era mais ondulado né...Que bom que seu cabelo esta mudando pra melhor, ruim se estivesse mudando pra pior (ou seja, mais cacheado a crespo)...

E o engraçado que quem tinha o cabelo crespo ali??? Eu!! Ou seja...eu como tenho cabelos crespos, sou a imagem do pior, rs...é essa a conclusão não é??

As vezes esses comentários corriqueiros escondem um preconceito e racismo muito grande.

Jaqueline Oliveira disse...

Também já fui vitima de preconceito com cabelo pela minha própria familia.

Dizendo que o que estraga no negro é o cabelo, e que eu deveria alisar, pois "sou bonita"...

- "Vc não é feia não..."

Parecendo um consolo...sabe...Tipo: "Vc é bonita, só precisa alisar o cabelo"

Já escutei da minha prima também que preferia ser uma obesa mórbida a ter cabelos crespos...Ela dizia que seria uma obesa mórbida feliz de cabelos lisos!

Na hora vc escuta essas coisas e fica realmente sem ação...o shock é tão grande que é difícil ter uma palavra pra quebrar essa maldição de querer ser "branco", "sofisticado" como diz a minha tia.

Flávia Simas disse...

Quando eu tinha uns sete anos de idade eu implorei pra minha mãe que desse um jeito no meu cabelo (que já era alisado mas estava com a raiz grande e perdendo a forma). A gente tinha acabado de mudar de uma região mais periférica para um bairro de classe média alta. Minha mãe resolveu então me levar a um salão próximo de casa. A cabelereira, além de não querer me atender, sugeriu que eu deveria raspar a cabeça e usar peruca. Super educadamente ela falou "olha, não tem jeito pra esse cabelo ruim aí não, a solução é você raspar tudinho e usar uma peruca lisinha". Minha mãe, estupefata, me retirou do salão e ficou abismada com aquilo.

Acontece que a história se repetiu. Por várias vezes, até a minha idade adulta. Já cansei de ver cabelereirxs se esquivando de arrumar meu cabelo e a lista de desculpas é extensa: não tem horário, não trabalhamos esse tipo de cabelo, não dá pra mexer nesse cabelo, a solução é um aplique e nós não trabalhamos, o preço está além das suas possibilidades, só hidrato se você for fazer química, senão você nem percebe a mudança.

Quando resolviam me atender, era por um preço 3x mais alto que o normal. E reclamavam. Tipo, muito.

Até que eu resolvi parar totalmente de ir a salões. Só para cortar e eu tento adiar ao máximo. Eu modelo os meus cachos de forma que eles passam vários dias modelados. Usando somente creme para pentear. Estou feliz com ele sem química, aboli o shampoo (sigo o método da Deva Curl e uso os produtos dela) e hoje em dia o meu cabelo está super saudável. Porém, eu tenho que carregar uma foto dos cachos modelados pra poder "provar" axs cabelereirsx que ele pode sim ficar bonito.

Da última vez que eu fui no salão, a cabelereira ficou encantada com o tanto que o meu cabelo tava "molinho" (e eu odeio esse termo pq a gente sabe muito bem que é discriminatório). Mas ainda assim duvidou da minha capacidade de modelar os cachos a contento. Eu pedi licença e peguei meu creme na bolsa e comecei a modelar (fitagem). Quando terminei, ela ficou extremamente surpresa e feliz com o resultado e correu e anotou meu telefone, dizendo que tinha uma sobrinha com o cabelo muito difícil que precisava aprender comigo a cuidar.

E é isso. Não me recordo de uma única vez em que não fui vítima de preconceito racial em salões. Só que agora que eu tenho como provar que eu consigo sim modelar meus cachos SEM química, essas pessoas se limitam a dizer que eu só consigo isso porque meu cabelo não é tão duro. Eu sempre respondo a mesma coisa: só é duro porque você compara com a textura do cabelo liso. Se você tirar essa polarização idiota da sua cabeça, você vai ver que é só um cabelo como outro qualquer.

Unknown disse...

Oi, Lola!

Já tem um tempo que frequento teu blog, mas nunca comentei nada. Sendo que, agora, ñ aguentei. Tô indignado!

Será que não tem como fazer uma denúncia? Alguém aí formado em direito e/ou familiarizado com as leis ñ pode dar uma luz nesse caso? Sério, fiquei com meu estômago embrulhado depois de ler isso.

P.S.: aproveitando a deixa...obrigado, Lola, por abrir meus olhos. Sou homem, hetero, branco e classe-média. E, antes de começar a ler teu blog, me achava um exemplo de tolerância. Só depois de começar a andar por aqui e que comecei a perceber o quão machista, homofóbico, racista e elitista eu sou. Ñ fiquei nada feliz ao me dar conta do quão desumano eu posso ser. Mas vc também está, mesmo sem saber, me ajudando a ser uma pessoa melhor. Ainda tem um longo caminho a percorrer, mas pelo menos já comecei minha jornada.

Sara M. disse...

Nojento o relato, as atitudes da cabelereira são repulsivas...
Eu acho tão lindo, esse cabelo afro mesmo, aqueles cachinhos minusculos, pretos, que vão até a raiz do cabelo, eles tem um brilho diferente, um volume legal.
Meu cabelo é cacheado, uns cachos grossos, que normalmente não vão até a raiz. Hoje eu me dou muito bem com ele, mas no começo da adolescência, aquela pressão de um padrão único de beleza pesou. Vejam só, sou branca, tenho olhos verdes, cabelos castanhos, tenho um rosto considerado bonito, e até uns 16 anos era magra(não magérrima, sempre tive uma barriguinha, mas eu era magra), mas não era o suficiente, eu tinha cachos(e estudava numa das escolas mais carss da cidade, cheia de garotas que se anularam para alcançar o padrão de beleza)!Tinha cabelos altos e não muito bem cuidados, minha mãe não me deixou, ainda bem, fazer uma progressiva na época(ainda que deixasse, ela não tinha dinheiro para pagar mesmo, eu estudava na tal escola caríssima com bolsa), e eu enchia meu cabelo de porcaria, passava uma pasta esquisita para abaixar aqueles fiozinhos que ficam acima do cabelo(acabava ficando emplastado, com cara de sujo), deixava preso quase o tempo todo, para que o volume estivesse baixo quando eu soltasse, e queria alisar.
Quando entrei na faculdade a primeira vez, estava desanimando da ideia de alisar, queria um processo menos agressivo e que não eliminasse o volume e os cachos do meu cabelo(reduzisse), me indicaram relaxamento e celagem, nesse meio tempo larguei publicidade e comecei direito, ainda pretendendo fazer uma celagem, mas ai eu já conhecia a Lola, meu novo ambiente de estudo deixou evidente que eu fazia sucesso do jeito que eu era, percebi que perseguir o tal ideal de beleza além de burrice, no caso do meu cabelo era racismo, desisti da tal celagem. Assumi meus cachos, parei de querer escondê-los, passei a procurar produtos que os evidenciassem, definidores de cachos, coisas assim, estou muito feliz com eles, obrigada. Larguei os salões de beleza, que sempre querem me alisar e não sabem cortar meu cabelo, tenho tudo que preciso em casa: tesoura e internet. Quem corta meu cabelo sou eu, e fica muito mais bonito do que em qualquer salão que eu frequentei.

ViniciusMendes disse...

Meu melhor amigo da faculdade é negro, e justamente por isso, acabei reparando em muito detalhe que não teria reparado normalmente.

Lembro de uma vez que tínhamos que fazer uma embalagem de produto de beleza (faculdade de design gráfico), meu amigo fez um xampu pra cabelos negros e o professor falou que aquilo não fazia sentido, já que negros não gostam de ser negros e não compram produtos específicos pras suas características físicas.

Eu fiquei estarrecido tanto pelo preconceito embutido no comentário, quanto pela ignorância da criatura, já que todas as grandes marcas atualmente tem linhas especificas de xampu pra cabelo afro no mercado.

Mas o melhor comentário foi de outro amigo nosso, em tom de sarcasmo: "É cara, quem você pensa que é pra saber o que um negro consumiria ou não?" :B

Anônimo disse...

Nem consegui terminar de ler o post todo, porque já saquei o espirito dele antes de vc dar sua replica,Lola( nao se sinta ofendida,adoro quase tudo o que vc escreve, mas o guest post me incomodou tanto que parei a leitura assim que terminou a estória da nossa amiga.

Minhas opiniões:

- Nao acho que " os piores racistas sao os negros " , mas sim, acredito que essa cabeleireira pode ter tanto medo de ser a próxima vitima do racismo,já pode ter sofrido tanto antes , já pode ter sido xingada antes tantas vezes de " feia" , de " suja" etc, que resolveu incorporar os conceitos racistas que já estão enraizados na sociedade pra se proteger de mais ataques.- mesmo que negando a sua cor,!!
Negar a sua individualidade para nao ser atacado deve ser muito mais comum do que a gente pensa,( isso e o que acho, pois sou medica e nao psicóloga)
Sabe aquela velha história da criança que sofre bullying dos colegas, que chora por isso, mas que quando o coleguinha dela( e nao ela) que e alvo de piadas e de risadas, bem que ela acha graça? Por que? Ora, pelo menos naquele momento ela desvia a atenção e pensa " agora o motivo de riso nao sou eu, e o outro, ufa!!!"""
Nem e por a criança ser ma, ela só nao quer ser objeto de riso e qualquer um prefere que se alguém tiver que ser motivo de chacota, que seja outra pessoa e nao vc,isso óbvio...( claro que o ideal e ninguem ser motivo de chacota, que todos sejam respeitados, mas imagina isso na cabeça de uma criança)
Entao, tento transpor isso para essa cabeleireira,eu apostaria que ela nao e uma pessoa má.mas sim uma pessoa que já sofreu muito com o preconceito, e que encontrou na negação da sua cor uma forma de se proteger,
Já li um livro bem interessante, de literatura infanto juvenil, que recomendo a vcs: Por uma semente de paz( Ganymedes José )há um capitulo em que ua das personagens e negra e diz que quer desistir de ser negra, que queria ser brancas de olhos azuis, cabelos loiros e lisos,Comovente esse capitulo e confesso que CHORO, sim eu choro quando releio, porque e narrado de maneira muito forte e muito tocante,
Entao, amiga, do guest post: nao julgue sua cabeleireira como má pessoa, ela possivelmente e mais uma vitima do preconceito que escolheu o caminho mais fácil: negar sua cor e sua origem, fingir que nao e negra, etc, pra nao levar mais porrada da vida do que já levou,
E no seu lugar, eu teria dito claramente a ela que nao volto mais no salão, pela falta de educação, pelo racismo, e ate tentaria dar um toque, sobre o rumo que ela escolheu pra própria vida...
Claro, que e horrível escutar " toques" de uma pessoa que nao te conhece bem e de quem vc nao pediu opinião, mas nesse caso, eu faria sim, tentaria ao menos dar uma sacudida nela, um chacoalhao, pra ver se ela acorda,....se ela nao quisesse entender seu conselho seu toque, ue nao faria diferença porque vc nao vai mais voltar lá certo? E pelo menos haveria a chance de plantar uma sementinha na cabeça dela,"

Segue...

Anônimo disse...

Continuação;

Eu arrumei uma cabeleireira ótima aqui na cidade, uma transexual,eu adoro ela.!!!
Também tenho cabelo Crespo, arma com facilidade,castanho.mas tenho olhos claros e pele branquinha,
Já alisei meu cabelo muitas vezes e ja pintei de loiro, agora depois de tantos anos usando loiro enjoei, e faz dois anos que quero deixar castanho, cor natural,
Quando fiz tinta da ultima vez, pintei de chocolate, um tom mais escuro que o meu,
Ainda escuto de amigas que eu deveria alisar e pintar de loiro, que fica" mais arrumado" mas sabe? Nem dou Bola,
Gosto dele cacheado ou ondulado, mas a franja lisa, pra dar um contraste,
Quando conheci minha cabeleireira atualmente pedi pra ela cortar repicado, pra ele ondular e cachear, e deixar uma franja falsa , e fazer progressiva só na franja,
Sabe o que ela fez? O corte exatamente do jeito que pedi, e disse que nao precisava fazer progressiva na franja, que meu cabelo era bonito da química ia estragar,que nao precisava gastar $$ com progressiva por tao pouco e meu ensinou a modelar a franja do jeito que gosto,no secador, me deu uma escova de presente ora eu fazer sozinha em casa,
Confesso que a minha franja secada e alisada em casa nao fica nem de longe bonita igual a do salão, mas no geral, consigo deixa lá ok,
Quer maior exemplo de profissionalismo e de cuidado com as clientes?
;)) beijos as duas, se puderem leiam o livro que recomendei, qdo chegar na parte que aborda o racismo vcs me dizem se gostaram;))) bjbjbj!!!

Sara M. disse...

Voltando ao assunto do texto, que é racismo, vejo em tantos ambientes, lembro de uma colega do ensino médio, me perguntando (com outras palavras, das quais não lembro) se eu não era racista, se não estranhava gente de pele mais escura(ela estranhava), eu tinha 14 anos, estava numa escola nova completamente diferente do meu universo, e estava tentando agradar, educadamente respondi que não, não estranhava, que nas minhas escolas anteriores(públicas) pessoas morenas ou negras eram maioria, assim como na minha família, pelo lado materno, inclusive minha mãe e minha irmã mais velha, e que portanto, pessoas de pele escura sempre tinham sido personagens do meu cotidiano próximo, em casa e na escola, no mesmo nível que eu, ou de certa forma, hierarquicamente superiores(mãe, professoras), então o fulano neguinho para mim nunca tinha sido o fulano neguinho, mas só o fulano, sua cor só era lembrada quando por qualquer motivo eu precisa-se descrevê-lo fisicamente. Hoje eu não tenho a menor ideia do que faria, mas sem dúvida ficaria fula, é diretamente ofensivo, ela ofendeu minha mãe e minha irmã, e eu fui super educada com a racista desgraçada. Me recordo também de quando minha mãe, parda/negra, foi olhar um apartamento para alugar, e o cara da imobiliária mostrou o apartamento para ela, mas no final indicou prédios que deveriam ser mais baratos.
E uma história meio chocante também, tenho uma colega de aula que a super mistura de raças, o avô materno dela era coreano, a avó materna era brasileira, não sei de qual etnia, mas não era negra, e o pai dela era negão(tantos "era"s porque todos os citados são falecidos), minha colega é negra, de traços finos (eu acho bem orientais, mas há quem discorde), e tem um cabelo super afro, que a mãe dela a fez alisar desde os 10 anos de idade!Há uns três anos ela largou a química e cortou o cabelo super curto, manteve assim, aparando, um ano, e depois deixou crescer, da última vez que a vi (devido greve das universidades federais, não a vejo desde junho) o cabelo dela estava começando a virar um black super legal, e eu perguntei se se ele crescesse mais ele caia (vocês entenderam, deixava de ser black), ela respondeu que achava que sim, tinha umas fotos de quando criança com o cabelo natural longo.Entenderam?Ela não lembrava de como era o cabelo dela! Ela mesma se chocou imediatamente quando disse isso, "Sara, você viu? Eu não sei como é meu cabelo! Tanto vivi de química que não conheço meu cabelo natural".E agora que minha colega está deixando o cabelo crescer, a mãe(que foi quem levou a filha aos de 10 anos para alisar os belos cachos) não a deixa em paz, querendo que ela se afunde em química novamente.

MonaLisa disse...

Minha cabeleireira é negra e no salão dela, ela é só pra cabelos afros. Ela não faz chapinha, nem escova e nem qualquer tipo de alisamento lá.

Ela atende mulheres de cabelos lisos, mas já deixa claro que não faz nada desse tipo. O salão dela vive cheio.

Sou filha de pai negro e mãe loira, então meu cabelo é liso e enrolado ao mesmo tempo, e com volume demais e eu sempre me matei na chapinha pelo volume dele. Até que conheci o salão dela, ela me indicou uns shampoos e com hidratação eu consegui fazer o cabelo cabelo ficar natural sem a chapinha.

Na época que começou a moda de escova definitiva, pra todo lugar que eu ia, eu olhava os cabelos e praticamente todas as mulheres tinham o mesmo cabelo, não tinha uma variação, era o mesmo padrão.

Sobre o post, se fosse comigo, eu teria falado um monte pra ela.

Samantha Steil. disse...

A vida as vezes se encarrega. Meu pai, racista assumido (e tem gente que acha bonito, pasmem!) casou com uma moça que tinha um filho bem pretinho, o Du. E digo pretinho não pra desmerecer, mas é que ele é pequeno, acho que negro não combina.

Aí, adivinha? O Du virou o xodó e chama meu pai de pai, que adora ele.

Seu José engoliu o racismo, as piadas ridículas e aprendeu, quem sabe um pouco, que a cor não define o caráter da pessoa.

Anônimo disse...

Desculpa Lola, mas eu não acreditei muito nessa história. A mulher estava fazendo hidratação, a mulher viu o carro da moça que chegou, a mulher viu o reflexo da agenda no espelho, a mulher viu foto do bebe de 1ano com luzes, a mulher viu a cabelereira desesperada por cliente negar r$450,00 ... Sei lá ... Não acreditei.

Anônimo disse...

eu li o post de hj e pensei em mil situações pra contar aqui. são tantas... inclusive gente dando a entender que eu não ficaria com um negro pra não "sujar" possíveis filhos. e depois eu que sou a esquisita por parar de falar com esse povo.

mais tarde, procurando kimonos no site da netshoes, vejo isto aqui: http://www.netshoes.com.br/produto/922-9411-014-02 aí resolvi mostrar pra vcs. não é a primeira vez que vejo um negro no site deles naturalmente, sem aquela de "produto específico" (como hidratante pra pele negra e tals). há uns meses, tentei procurar uma bolsa de academia e tinha uma negra com cabelo afro e bem estiloso. procurei hj pra postar aqui e não achei. ainda tem mais gente branca no site, mas os modelos são até bem variados se formos comparar com outras lojas. é pouco, mas é um início. e fiquei super feliz de ter visto essas fotos do kimono.

porque, né, negros compram que nem brancos (e todas as outras cores) compram. então por que quase nunca são representados?

taí uma ação que vejo como bem positiva. e olha o cabelo black super no estilo! =)

Dree disse...

Chocante e triste!
Sou negra e mesmo meu marido insiste em dizer que sou morena cor de jambo, quando conversamos sobre isso.
Quando mais jovem li esse livro : Racista,EU? De jeito nenhum. de Maurício Pestana, são uns quadrinhos muito bons, nele tem um, em que uma negra discute com uma branca , dizendo : "O que meu cabelo fez para você, pra chama-lo de RUIM?' Isso me marcou tanto que até hoje mais de dez anos depois ainda me lembro, nunca alisei, meus cabelos são cacheados e armados e já sofri muito,sofri, não sofro mais! Eu os amo!
Também de Mauricío Pestana são esses trechos:
"sabe-se que no Brasil muitos negros não se assumem, fato comprovado em pesquisa, quando perguntado qual a sua cor. Surgiram aqui mais de cem denominações, tais como: marrom bombom, cor de jambo, moreno, pardo, meio tom etc. "
Sobre as crianças negras: "Quando começa a se informar, as revistas e propagandas, enfim, quase toda a informação que lhe chega é de um mundo branco, um mundo na qual ela não se vê, ou melhor, quando se vê está inserida em alguma tragédia como a fome na África, caos no Haiti, violência nos morros cariocas ou drama como enchentes."

Queria dizer que no lugar da moça teria falado algo, mas provavelmente me calaria, e ficaria remoendo por muito tempo.
Quero mudar isso, talvez um dia possa ter uma voz mais ativa.
" O que me assusta não é o grito dos maus, é o silêncio dos bons"

bruna disse...

Olá Lola!
Nossa, tenho tantos relatos racistas pra contar que ficaria o dia todo escrevendo...
Tenho uma amiga desde a infância e sempre frequentei a casa dela. O pai dela não a deixava sair, fazer nada (ele era uma pessoal muito ruim, mesmo), então eu sempre ia lá.
Ele era muito racista, me pegava pra conversar e só falava mal de negros, falava que os piores eram os mulatos, que eram bandidos e daí pra pior!! Eu era muito nova, mas sentia raiva de ouvir isso, só que não falava nada é claro, tinha medo dele...

Hoje se escuto algum comentário preconceituoso, não importa quem seja, eu respondo mesmo!! Confesso que mta dessa coragem é graças ao seu blog, Lola! Muito obrigada por isso!!

Na final do paulista desse ano estava assistindo o jogo na casa da minha vó com um tio que é muito racista tbém!!! O árbitro era negro e é um hábito chamar qualquer um de ladrão, não importa quem seja, só que meu tio não se contentava e começou a xingá-lo de macaco, preto fedido e quando finalmente falou: não devia ter saído da senzala eu não deixei ele continuar e falei um monte! Minha prima, filha dele ficou morrendo de vergonha e pediu pra ele parar...

e por aí vai...enfim, mto triste!

Raissa Cruz disse...

Eu sou negra, faço alisamento no cabelo, e ontem foi um dos meus dias na cabeleleira, que por sinal era a primeira vez que ela estava cuidando do meu cabelo, bom quando terminou o alisamento ela disse: "Ah, agora sim essa raiz do seu cabelo (a lisa, depois do processo químico), aquela outra raiz (a natural)não é sua, e o que também me chamou atenção é que ela era negra, com luzes loiras. Então realmente introjetamos valores que contradiz e muito com o que somos, e estamos tão acostumados a ouvir isso que acaba sendo natural, diretamente eu nunca sofri de racismo, mas nas entrelinhas sinto que ele sempre esteve lá, mas talvez eu nunca percebi.

Patrícia R. Cavalcante disse...

Triste ver como episódios assim são corriqueiros, acho que todo mundo tem um pouco de preconceituoso dentro de si,seja com cor, religião,deficiencia, etc, existe muita hipocrisia na verdade. A busca pelo perfeito é tão ridículo que dói, e muitas vezes pessoas preconceituosas já convivem com isso desde a infância e realmente aprenderam o que é bonito e o que é feio em uma pessoa. Não me considero uma pessoa preconceituosa, convico com gente de todo tipo, mas tipo, quando vejo uma pessoa mal encarada já tenho medo de ela me fazer algum mal, mas e aí nada acontece e me sinto a pior pessoa do mundo, é triste.

Bruna B. disse...

"Não é por nada não Lola, mas percebi que tem muita gente covarde aqui E provavelmente sabe disso. Sabe que é errado que injusto, e não faz nada, não diz nada. Depois se sente mal porque não fez nada. Tenho tanta raiva deles quanto dos racistas, porque ele ajudam a propagar o preconceito com o silêncio, como esse passividade."


Assino embaixo! Omitir-se é tão nojento quanto praticar o preconceito.
Dos 5 namoros sérios que tive (de apresentar pros pais e tudo mais) 2 eram negros, e NUNCA me calei quando vi alguém sendo preconceituoso/babaca com eles. Comprei briga com meu avô, comprei briga com 'amigos', comprei briga com conhecidos, colegas, com uma pá de gente... mas nunca me calei diante da injustiça.
No lugar da moça do guest post, eu teria feito um escândalo e estaria, neste exato momento, fazendo campanha contra o salão, para que ninguém mais colocasse os pés naquela porcaria.
Chega de condescendência!

Nina disse...

Meu Deus, só me pergunto aonde vamos parar... qt tristeza com os iguais. Somos iguais, cacete, qd morrermos TODOS seremos engolidos pedacinho por pedacinho pelos bichos dos esgotos, bichos escrotos... todos vamos feder a podre. Nao importa se negros, brancos, amarelos. Alguns tem a alma podre desde já, nem precisam morrer pra feder... fedorentas e imundas com suas hipocrisias.. ai sabe de uma coisa? se perguntar pra cabeleireira se ela é racista, ela vai negar, claro... Que nojo de pessoas assim, e o pior é saber que tá cheio delas por aí.

O cabelo da moca que escreveu é quase do meu tamanho ;-)

Nina disse...

aaahhh queria complementar com uma coisa, moro na Alemanha, e aqui tem MUITOOOOO negro, sabe que NUNCA vi uma mulher negra de cabelo alisado?? isso só existe no Brasil, cara, é a maldita cultura do alisamento, acho HORRIVEL!

Carol NLG disse...

Sobre comerciais e racismo: eu moro na África. África saariana, mas pro sul do Saara, com muita presença negra. Adivinha a composição de 99% dos comerciais que vejo aqui, incluindo outdoors? Todos os atores são brancos europeus!

Anônimo disse...

"Hj msm eu ouvi um "Oi" t meloso na rua, e só conseguir falar baixinho um "vai tomar no cú" metros depois!
(e provavelmente pq li os posts recentes, senão nem pronunciava, só pensava)"

Entendo que deve ser desagradável ouvir baixarias do tipo "te chupo toda", "delícia", "gostosa" etc. na rua. Entendo que a insistência deve ser incômoda e não deveria acontecer. Mas, numa boa, "oi"? O cara te deu um "oi", vc ignorou e ele foi embora. Isso foi tão ofensivo? Ele te achou bonita, fez uma graça de modo não grosseiro, vc não deu bola, ele não insistiu. Achei exagero...

luaninha disse...

Sabe o que eu acho difícil de acreditar?
Que tem tanta gente duvidando da história. Vocês nunca foram a um desses salões de bairro, que acabou de abrir, né?

Só isso explica. Porque quem foi, obviamente conversou com quem estava trabalhando lá, obviamente ouviu histórias que não queria ouvir e tudo mais, e obviamente sabe que não seria difícil ver a agenda se ela não estivesse se esforçando pra esconder.

A mulher se sentiu à vontade pra falar com a cliente do guest post e falou o que pensava. Provavelmente, achou que ela pensava o mesmo e não deve ter se importado que ela visse que estava mentindo.

Vocês amam uma teoria da conspiração. Especialmente pra negar as coisas que acontecem todo dia: racismo, abuso, cultura de estupro.

Mas né, fosse uma reportagem da Globo, tava tudo certo.

Pili disse...

Claro que o assunto alarmante eh o racismo.

Mas tem algo a mais. Que eh a falta de competencia.
Digo sinceramente a todas que jah tenham passado por isso. Vcs se salvaram de confiar suas madeixas a quem nao sabe fazer o trabalho.

Profissionais ruins existem todas as areas. e normalmente quem nao se dedicou a aprender ou nao consegue fazer alguma tarefa dentro da sua propria profissao assume essa postura ridicula.

Eh como dizer:
eu sou jogador de futebol. Mas, se vc quiser alguem que bata escanteio, procura um especialista.

Natália Lott disse...

Estou chocada... Acho que como voce também não conseguiria reagir. Me veio uma única idéia à cabeça: já que ela ofereceu desconto, eu aceitaria. Se está rejeitando serviço, então que passe necessidade... Como castigo mesmo...
Triste realidade brasileira...

André disse...

Pelo que se lê nos comentários o racismo no Brasil não é tão sutil como se diz por aí. A menos que sutil seja qualquer coisa menos que um grupo encapuzado enforcando negros e queimando cruzes.

Lucas disse...

Acho que o mais triste nessa história toda é a própria cabeleireira, o típico exemplo do que o racismo faz com a mente da própria vítima.

É quase uma Síndrome de Estocolmo, igual às mulheres validadoras que reafirmam o machismo.

Essas pessoas estão tão inseridas no ideário racista/machista, que se apegam a ele para se validarem diante de seus "senhores".

A cabeleireira fez questão de mostrar à cliente, loira, que não era como "os outros", era sim uma deles, desejando se colocar no patamar daqueles que a colocam pra baixo.

Como muitas pessoas que ascendem financeiramente, principalmente de classe média, que passam a desprezar os menos favorecidos para se colocar entre "a elite".

Em alguns casos é uma elite econômica, mas pode ser racial, de gênero, etc.

Triste, muito triste.

luh disse...

a mulher dona do salão era muito burra!! primeiro oferece desconto a alguém que se propõe a pagar mais, mesmo estando em dificuldades financeiras.

depois nega-se a atender uma cliente que se dispõe a pagar 450 por uma hidratação só por causa da cor dela (qtas pessoas ela vai topar na vida que aceitam pagar 450 por uma hidratação?? aqui no RS nem em salões chiques de POA paga-se tão caro por um procedimento comum como este)

enfim, aposto que a dona do salão vai morrer de fome, pois mesmo encontrando-se em dificuldades e com praticamente nenhum cliente, deixa que seu racismo fale mais alto e dispensa 450 assim de mão beijada além de oferecer desconto a quem de início já sem propõe a pagar a mais.

O que vai ser bem-feito aliás. racismo é idiota assim como a dona deste salão.

Anônimo disse...

Há uns 10 atrás eu tinha uma amiga na escola,pelo menos ela dizia que era amiga.
Pele bem clara,cabelo liso e preto,muito bonito.
Amava(e ainda ama)dizer que é descendente de alemães,porém ela não tinha cara de alemão embora lembrasse um pouco. Pois era baixinha,de nariz achatado e meio pra frente. Suas feições eram de branco,judeu e negro. Até o seu sobrenome não era alemão.
Eu achava tudo isso muito estranho,mas nada dizia. Só que um belo dia,ela percebeu que eu notei que escondia algo e resolveu toda sem graça me contar o seguinte:
"Sabe que é? Eu não sou apenas descendente de alemão,mas também de negro e judeu. Mas não digo isso por aí porque tenho vergonha!"
Eu fiquei tão estarrecida em ouvir aquilo que não consegui falar nem um piu!
Quando fez 13 anos começou a pintar o cabelo de loiro oxigenado como a sua mãe. Segundo ela, queria ficar mais sexy e bonita. O cabelo ressecou,virou palha,ficou opaco,sem brilho,sem vida e fraco...um horror! Cortou curtinho de tão ruim que ficou e eu me perguntava o por que daquilo tudo.
Como se não bastasse tudo isso,a menina tinha inveja de mim e por causa resolveu me atacar,me xingar.
Seu alvo preferido era falar mal da minha inteligência(me chamava de burra)e do meu cabelo.
Sou mestiça,mulata e meu cabelo é cheio,volumoso e cacheado.
Como a garota sentia raiva de mim,passou a me chamar de samambaia em referencia ao meu volume capilar justamente na mesma época que o cabelo dela ficou horroroso com a tintura loira. Olha só que engraçado...
Sendo que muita gente elogia meu cabelo,sempre dizem que ele é lindo,que ama ele e tal.
Enfim,nem preciso dizer que essa amizade não durou muito,né?
E ainda sobre racismo e cabelos,tenho que dizer essa:
Moro no Rio de Janeiro,cidade onde boa parte do povo é negro,pardo,mulato e afins. Ou seja,meu cabelo é um tipo muito comum por aqui.
Porém de uns anos pra cá tenho notado que me destaco na multidão por conta dos meus cachinhos. Motivo: praticamente todas as mulheres andam nas ruas com os cabelos alisados e entupidos de química. Trágico,não?

Anônimo disse...

anon das 12:35 - "Pois era baixinha,de nariz achatado e meio pra frente. "

olha, nem todo alemão é altão de olhos claros. indo mais pro lado da saxônia, a maioria é mais pra baixinha de olhos cor de mel/castanhos claros, cabelo castanho e nariz e batatinha.

não invalida a besteira que a sua amiga falou.

Negra Belíssima disse...

Isso é apenas um pouco do que tem acontecido no mundo de hoje, falta de amor ao próimo e respeito.
E a única que sai perdendo é ela mesma
(a cabeleleira), é preciso que nós negras,morenas,mulatas, brancas, todas as raças se unem para combater o racismo de forma geral.
Abraço.
Aline Cristina
http://negrableissima.blogspot.com

Anônimo disse...

anon de 13 de setembro de 2012 10:36

Qnd necessito falar com alguém na rua, chamo a pessoa geralmente com um "oi", seguido de um "desculpa, vc pode me informar ....",
Oi, pra chamar a atenção e o desculpa porque eu estou atrapalhando aquela pessoa de alguma forma, msm que ela nem pense assim. E de uma forma neutra.
Um "oi" meloso, como o próprio adjetivo indica, está com sei lá qnts intenções, e se vc não acha uma grosseria, eu acho sim. Não fico abordando pessoas na rua pensando em levá-las pra cama e nem quero que o inverso ocorra. É pedir demais?!

Anônimo disse...

Dolorido ler um relato desses.
Traz presente uma ocasião em que a mãe do meu namorado, que tem ascendência libanesa, comentou sobre uma pessoa que "não tinha cheiro de preto" na minha frente, acho que esquecendo minha cor.
Fiquei tão indignada que na hora tudo o que consegui dizer foi: "eu cheiro mal? acho que não".
E o pior de tudo é que ela é uma boa pessoa e acredito que não tenha falado isso na intenção de me ofender e sim porque para ela é normal pensar assim.

Mila disse...

Esse episódio me lembrou quando fui entrevistar a Penélope, uma mestranda da UnB que promove uma monitoria para cabelos crespos. Ela me relatou situações muito interessantes sobre cabelo e racismo, e um dos principais motivos é o de gostar do seu cabelo como ele é realmente.
Ela me contou que nos salões somos "obrigadas" a aderir ao cabelo liso. Qualquer pessoa com um cabelo mais ondulado não sai de um salão de beleza sem ouvir o "quer fazer um alisamento/progressiva/whatever"?. Creio que os profissionais também não estão preparados a lidar com o cabelo crespo e suas particularidades. A valorizar o cabelo liso como sendo o único digno da beleza. Mas claro, essa é uma questão mais complexa, bem além de salões de beleza.

Marina disse...

Sempre tenho vontade de comentar em muitos dos seus posts, acho que chegou a hora.
Esse relato, lembra o que aconteceu comigo uns meses atrás. Eu ia esporadicamente com uma amiga fazer unha em um salão no Leblon, bairro classe AA do Rio de Janeiro (trabalho lá e quando não posso fazer sábado no meu bairro faço lá). A manicure da minha amiga estava voltando de um câncer que a tinha deixado um pouco afastava, ela estava com os cabelos nascendo ainda, bem ralinhos. Minha amiga saiu antes de mim e eu fiquei sozinha com as manicures, foi quando uma sugeriu que aquela que teve câncer colocasse a peruca, e esta disse que estava com muita dor de cabeça e a peruca apertava ela. A outra insistiu para ela colocar então um lenço porque daquele jeito ninguém iria querer fazer unha com ela que ela estava horrível careca. As outras para meu choque CONCORDARAM com aquilo e falaram que uma cliente já tinha inclusive reclamado disso. No meio dos insultos uma teve a coragem de falar que nem o marido dela ia querer mais ela daquele jeito. No fim já estavam rindo daquilo, a moça então foi e pegou uma peruca e saiu do local. Foi tudo nojento e chocante. A única coisa que fiz foi nunca mais ter voltado lá, mas sei que deveria ter dito pra dona o porque da minha decisão. Soube depois que ela saiu desse salão, mas não sei se foi por isso.
Como se já não bastasse o sofrimento da mulher ainda precisava ser humilhada? Que tipo de pessoa iria se recusar a fazer unha com alguém porque ela teve câncer ou porque ela é/está careca?

Unknown disse...

Acho que está explicado por que o salão estava vazio, e provavelmente vai continuar assim. A dona do salão, além de racista, insiste na oferta de serviços por que o(a) cliente não está interessado, uma insistência que eu odeio (já deixei de voltar a muitos estabelecimentos só por causa disso). Mas fiquei com um pouco de pena da mulher, por causa daquele provérbio árabe "a ignorância é vizinha da maldade". A cabeleireira, acredito que por ignorância (cegueira total ao preconceito e ao autopreconceito), chega a ser má. O ideal seria ela ter lidado com alguém que soubesse mostrar, com jeito (diplomacia, delicadeza, psicologia), a pessoa horrenda que ela é. Mas eu, no lugar da autora do post, também teria tido a mesma reação. Esse tipo de coisa acontece tão de surpresa que deixa a maioria das pessoas sem ação, só com a indignação íntima. Esse post me fez lembrar da reação às cotas raciais e sociais nas universidades públicas. Muita dessa reação é preconceito. Muitos, no fundo, no fundo, não estão preocupados com uma possível piora do nível do conhecimento produzido nas universidades. Estão é incomodados por ter que dividir as cadeiras com pessoas negras e de classes sociais mais baixas. Vêm com a história de que é o fim da meritocracia, como se a cor da pele ou o baixo nível da renda fossem garantias automáticas de aprovação nas seleções. Os favorecidos pelas cotas vão disputar entre si, e só os melhores entre eles vão conseguir entrar. Não é o fim da meritocracia, mas apenas sua segmentação. Outra razão por que estão tão incomodados com as cotas é o bolso: vai aumentar a quantidade de estudante da classe média nas universidades particulares. Vai ser um gasto a mais para muitas famílias. E muitos novos universitários vão deixar de ganhar, por causa disso, o carrinho novo por ter passado no vestibular (o dinheiro da mensalidade da escola, que muitas vezes ia para o pagamento do carro, agora vai ter que ser destinado ao pagamento da mensalidade da universidade). Mesma coisa é o bolsa família. Muita gente reclama, despeitado(a): "agora eles ou elas não querem mais trabalhar por qualquer coisa, não, preferem ganhar o bolsa família". Apesar das falhas desse programa de assistência, não dá pra negar que ele aumentou o leque de escolha dos mais pobres, que agora não precisam mais aceitar o subemprego ganhando menos do que um salário mínimo pra escapar da miséria absoluta. O fim da senzala, ou o processo que condizirá a esse fim, incomoda e continuará incomodando a muita gente.

Joanna disse...

"O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons." Martin Luther King

Anônimo disse...

Pra quem acha difícil isso ter acontecido, tenho uma história parecida:

Quando era mais nova, fiz teste para trabalhar em um loja executando serviços gerais durante um dia, mas a dona ainda estava aceitando currículos. Daí, chegou uma moça bem gorda procurando emprego e a dona lhe disse que não tinha mais vaga.

Quando a moça saiu da loja, a dona virou para mim e disse:

" Você acha que vou contratar uma boiolona gorda como aquela pra trabalhar aqui? Nem ia conseguir subir e descer a escada para fazer as coisas."

Fiquei horrorizada - e naquela época eu era o tipo que fazia piadas sobre pessoas gordas.

Me arrependi muito de não ter peog as minhas coisas na hora e saído daquele lugar repugnante.

B. de Campos disse...

Eu teria saído de lá no mesmo instante e dito pra cabeleireira o motivo de sair: "seu racismo".

Sonado Alaikor disse...

O problema é que a mistica do racismo, do machismo, do nazismo sempre impera que só existe enquanto violência física. Se eu não bato, então não estou praticando. Essa mistica é o motivo pelo qual muita gente não percebe que chamar a esposa de puta, ou não realizar um atendimento a um negro e até ser hostil a pessoas de outras regiões do país são também atos dessas praticas.

Sonado Alaikor disse...

Há sim! Esta ocorrendo uma abertura de debate sobre o racismo com as cotas. E esta sendo possível ver quão ignorante as pessoas são partindo disso. Geral não conhece a história da luta que gerou as cotas e sai dizendo suas verdades supremas _-_

Anônimo disse...

OLHA, NO CASO DOM RELATO DA LOLA, DA PESSOA DO GUEST POST E TANTOS QUANTOS BASTEM: NÃO SE CALEM! Fale pra pessoa que ela é racista e por quê. Se preciso for, dê uma aula de história e sociologia pra ela. MAS NUNCA AS DEIXEM SEM SABER. Elas vão se ofender, negar, querer te calar, mas aquilo ficará na mente delas. Isso as fará pelo menos pensar sobre. Peço mais uma vez: não se calem.

Anônimo disse...

A pessoa aceitou pagar R$450,00 numa hidratação num salão de bairro?
Cara! Eu sou muito pobre pra acreditar numa coisas dessas.
Outra coisa: a moça que escreveu o guest post ficou indignada a ponto de escrever um texto sobre isso, mas não ficou indignada o suficiente pra meter a boca na atendente do salão ao ver tudo o que ocorreu?

Viviane Menezes disse...

Olá!
É a primeira vez q comento aqui, mas queria dizer, Lola, q sou sua fã e acompanho seu blog quase diariamente :)
Essa semana ouvi um comentário racista de uma colega de trabalho que me deixou mto chocada. Estávamos falando da análise do STF sobre as obras de Monteiro Lobato, se eram ou não racistas. Por coincidência, ganhei no meu aniversário (há 15 dias) uma coleção de obras dele, e comentei q quem o chamava de racista tinha toda razão (parei a leitura na metade, de tão abismada q fiquei). Essa colega, loira de olhos azuis, disse n entender pq "as pessoas a chamavam de branca azeda e ela n podia chamar um negro de macaco". Gente, compreendo a reação da autora do guest post, pois eu tb fiquei sem ação! Graças a este blog, entendo a brutal diferença entre "apelidar" um branco e um negro, mas fiquei triste de n ter falado nada...
Qto aos salões de cabeleireiro, tenho tb mtas histórias p contar. Hj uso o cabelo alisado, acredito q por vontade de mudar o visual, mas tenho saudade de meus cachinhos...

Paloma Varón disse...

Nossa, este depoimento foi de embrulhar o estômago. Chocada...
Sou baiana, de Salvador, cidade com maior população negra do Brasil. Sempre estudei em escolas de elite. Sou morena (parda), descendente de índios e negros - e brancos também, mas tudo misturado. Sempre ouvi que o que me salvava era meu cabelo. Porque é liso, fino, escorrido. A minha morenice destoava da branquice das minhas colegas, eu não era considerada bonita, mas "pelo menos" eu tinha cabelo liso. É horrível, sabe, porque eu nunca tive apreço especial nenhum pelo meu cabelo, e este tipo de elogio às avessas só acabava mais e mais com a minha auto-estima. E isso porque nem negra eu sou. Mas, aos 5 anos, no jardim de infância, uma colega disse, na minha cara, que não ia brincar comigo porque eu era negra. O detalhe é que ela era (das poucas) morena também.
Eu fico imaginando que se eu que sou só morena, com cabelo liso até demais (do tipo que não conseguia prender ou colocar presilha, porque nada ficava no lugar) sofri tanto preconceito e tão pequena, imagine as crianças negras. Como mãe, eu tenho vontade de chorar ao ler isso, ao ver que 30 anos se passaram e estamos piores. Porque há 30 anos uma criança de cabelo crespo não sofria alisamentos ou luzes. Hoje em dia, além do preconceito, elas são adultizadas e erotizadas, elas são criadas para serem bonitas, vaidosas e subservientes ao macho-padrão. Isso em embrulha o estômago.
Parabéns pelo post.

Ela Fialho disse...

Isso me lembra um momento que tive com minha priminha de 9 anos. Somos brancas, ela é loira, e a mãe dela alisa o cabelo dela (o que eu acho um absurdo). Eu estava lendo uma revista em quadrinhos (Daytripper, do Fábio Moon e Gabriel Bá) e a minha prima estava ao lado, de olho. Apareceu então uma personagem, negra, com a pele bem escura e o cabelo num blackzinho. Minha prima falou de pronto: "AI, QUE MENINA FEEEEIA!". Questionei por quê. Ela disse que era o cabelo dela, o nariz dela (largo). Então abri outra página onde aparece outra moça "negra" (a pele um pouco mais clara e os traços caucasianos, além de cabelos loiros e ondulados, não crespos) (essa: http://3.bp.blogspot.com/-jpz-zyPQvDg/TaxyphinXPI/AAAAAAAACC0/MgE9fO-XT_I/s640/daytripper-wanna-come-with-us.jpg) e perguntei o que minha prima achava dessa moça; ela disse: "aaah, essa é bonita". Perguntei por quê. Ela respondeu que ela tinha cabelos loiros, um nariz delicado. Questionei o que fazia daquelas características mais bonitas do que as outras... Bom, foi aí que ela ficou confusa, presa no "por que é". Eu expliquei então que estão relacionadas à uma descendência de um povo diferente, e que muitas e muitas pessoas possuem esses traços, e que eu não acreditava que fossem mais feias ou bonitas do que os brancos por isso. Ela saiu bem confusa... Acho que fiz um bom trabalho, embora tenha ficado bem triste com opiniões racistas tão internalizadas em uma garotinha.

jessica disse...

Trabalhei uma época num coletivo popular num assentamento do MTST em Sumaré. Fazíamos um trabalho com as crianças, a "Ciranda".

Numa dessas vezes, debaixo daquele sol escaldante num terreno completamente descampado e rico apenas em areia seca, um dos meninos me chamou para debaixo de uma árvore. Disse "Sai do sol, tia. Vc não vai querer ficar preta que nem eu". Ele é uma criança, mas não significa que não seja um SUJEITO. Ele tem sonhos, aspirações - e infelizmente, a sociedade em que vivemos já o ensinou que uma delas deve ser não se reconhecer como gente.

O relato do salão impressiona. Mas deveria impressionar? Se olharmos em volta ou nos dermos ao trabalho de conversar com os negros com quem convivemos, o impressionante se mostrará banal. E não precisa ser amigo não. Ou será que a gente não reparou ainda na cor da faxineira, do porteiro, do lixeiro?

Longe de mim estar dizendo que essas tarefas são pequenas ou indignas! Estou dizendo que são INVISÍVEIS. É preciso começarmos a ENXERGAR essas pessoas. E LUTAR por elas.

Gabriel Nantes de Abreu disse...

Lola,


Você viu o caso que aconteceu na universidade Estadual do Pará? Uma professora de ciência da religião chamou um porteiro negro "De macaco vestido de palhaço" por não abrir a porta dos fundos pra ela. Está a maior polêmica por aqui!

Anônimo disse...

Gabriel, e ela ainda está rindo na foto ao lado do policial.
http://ujspara.blogspot.com/

Anônimo disse...

Whitening in Brazil - Embranquecimento no Brasil
http://www.youtube.com/watch?v=CMOnetIE0Vg&feature=related

Ila Fox disse...

Eu não teria deixado quieto, desmascarava a mulher ali mesmo na frente da cliente negra, pra ela passar vergonha mesmo. Nem que eu terminasse minha hidratação em casa!

"Para que o mal avance basta que os bons se calem."

Anônimo disse...

BBC - Racismo rrasileiro
http://www.youtube.com/watch?v=PJCfoaaoITQ&feature=related

Triste, mas é a verdade.

Fatima disse...

Assino uma página de humor no Facebook chamada 'os melhores do twitter' 

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=359046334177976&set=a.181812478568030.45072.180771212005490&type=1&theater

e esses dias eles publicaram um tuíte que perguntava:

"mainha pq o meu cabelo não voa?"

Fui ver os comentários e vi um alguns comentários com as palavras 'cabelo ruim', 'cabelo bombril'.E disse:

"Parabéns aos comentaristas que fizeram as alusões a 'cabelo ruim', 'bombril'; vocês mostraram o quanto são RACISTAS. E parabéns também a todos os demais envolvidos que não apontaram isso, vcs mostraram que acham o racismo 'natural' e 'tolerável'"

Bastou para que a patrulha em defesa do pseudo humor viesse dizer 'ah, vcs são muito chatos' Uma disse:

'Nada a ver com racismo. Sou branca e tenho o cabelo duro'

Expliquei que o conceito de cabelo bom e cabelo ruim era resquício do racismo, que tinha sido construído a partir da premissa de que toda característica de 'negros' era ruim (cabelo ruim, pele com mais melanina...) e que essas palavras, quando lidas com o contexto histórico eram racistas, assim como o 'xingamento' de 'macaco' era racista em razão do contexto histórico que sempre foi usado.

Aparentemente alguns entenderam e outros ousaram apontar o racismo dos comentários. Até que chegou um rapaz e disse que era só humor. Quando mostrei que esse tipo de humor validava o preconceito, ele mudou o discurso para 'vc tá discutindo com alguém que só tem 14 anos'; quando refutei dizendo que isso ñ era alvará para ser e continuar sendo racista, ele mudou o discurso novamente dizendo que falar que cabelo ruim ñ era racista. Daí colei um monte de links.

Tenho convicção que nenhum dos links convenceu o rapaz, já que ele não me pareceu aberto a uma reflexão íntima. Todavia, acho que foi válido, pq outros que acessarem a foto terão informações que talvez os levem a reflexão.

Fiquei em dúvida qto a esse comentário:

"Beatriz Ramos humor só ta valendo se for isento de qualquer tipo de discriminação à minorias, vamos assistir zorra total.
Ontem às 21:13 · Curtir

A primeira afirmação me pareceu válida, já a segunda me pareceu negar a primeira. Não estou certa disso. Enfim...

O racismo é uma doença GRAVE e o modo mais eficiente de acabar com ela é o politicamente correto, já que evitaremos que essas idéias sejam difundidas e impediremos que as crianças se tornem racistas

Ramon Melo disse...

Fátima, essa Beatriz Ramos estava sendo irônica. Repare que muita gente acha que é impossível o humor sem ofensa às minorias e que elas "batalharam muito" para terem o "direito" à discriminação.

Anônimo disse...

Isso na minha cidade(7Lagoas/MG) é comum. Os cabeleireiros cobram pela cor da pele e pelo cabelo, se for afro, eles não fazem e dizem não saber trabalhar com esse tipo de cabelo. Dei um curso de tranças, e uma aluna se recusou a aprender tranças afro. Ela tomou como trança afro, tranças que as "mulheres de cor escura e cabelo crespo usam" e as outras tranças que ela queria aprender seriam tranças para cabelos lisos e mulheres brancas, "tranças gregas" ela falou.

Drika disse...

Eu lembro uma vez em que eu estava em um bar bebendo meu coquetel esperando meu namorado vir me buscar.
Eu sou morena, pouco clara, tenho os olhos levemente puxados e minha mistura é uma loucura: Africano, Indio, Italiano e Japonês. Meu sangue Afro me deu belos cabelos cacheados que eu amo, mas no Japão é muito difícil cuidar de cabelos cacheados, eles não tem produtos certo, os tratamento não ficam os mesmos, os cortes ficam tortos e eu tinha acabado de me mudar e eu estava louca atrás de um cabeleireiro e nada.
Foi quando eu estava nesse bar e uma mulher negra, de cabelos longos, LIIINDOOOOSSS entrou, logo pensei "Ela conhece cabeleireiro" puxei assunto com ela e ela me disse que nasceu na Nigéria, elogiei os cabelos dela e perguntei se ela ia em cabeleireiros por lá, ela confirmou que tinha um perto de onde estávamos, especializados em cabelos cacheados e afros, e logo fiquei feliz, "finalmente" pensei. Foi quando eu perguntei do telefone, e ela disse "Te passo o telefone de lá só se você alisar o seu cabelo" eu respondi educadamente:"Ah, eu só queria uma hidratação, na verdade gosto dos meus cabelos cacheados" e acho que ela não gostou da minha resposta, ela ficou querendo discutir comigo porque ela queria meus cabelos lisos, e não me passaria o telefone do bendito cabeleireiro se eu não os alisasse" e ela ficou me enchendo até a hora do meu namorado chegar, eu já nem queria o telefone mais. Quando ele chegou, estava pegando as minhas coisas pra ir embora, mas ela segurou ele e tentou convence-lo que eu deveria alisar os meus cabelos. E ele perguntou algo que eu não havia perguntado antes,"Por que?" e adivinha o que ela respondeu??
"Porque a minha pele é negra, cabelos assim combinam comigo, a pele dela é bem mais clara que a minha, cabelo afro fica horrível nela, ou ela alisa o cabelo ou eu não falo mais com ela"(era a primeira vez que eu estava conversando com ela, rs)

Deixei os dois discutindo fui no banheiro, voltei, peguei as minhas coisas e puxei ele, e ele me contou que ela tinha passado o telefone dela pra ele, é mole??
Voltei com o papel joguei em cima da mesa e disse "Só pra você saber que ele não vai te ligar"

Fiquei pensando "Poxa, minha pele não é escura como a dela, mas por causa disso eu não posso ter meus belos cabelos cacheados?
E o que ela queria fazer? um protesto contra meus cabelos cacheados? e como não deu certo ela vai dar em cima do meu namorado?
Será que é porque ele é negro e eu não posso ficar com ele por causa da cor da nossa pele?

Bom, como ela disse que o cabeleireiro era ali perto, então eu fui procurar. e achei e meus cabelos dançavam ao vento depois da primeira hidratação, adorei. E a mulher era muito simpática, conversamos um monte, falamos mal sobre homem (a parte mais legal de estar em um salão, né?) ela me adorou e me deu um bom desconto. Continuei indo até que, encontro a nigeriana que queria mudar meu cabelo, ou a cor da minha pele. Nem olhei pra cara dela fiz minha hidratação, meu corte e fui embora.
No outro dia a mulher do salão me liga e pergunta o que eu fiz pra aquela mulher. Eu respondi "ela pediu p eu alisar o meu cabelo, e eu não quis" e sabe o que eu descobri?? A tal nigeriana queria pagar um dinheirão pra cabeleireira pra alisar o meu cabelo. ela queria pagar tipo 2000 dólares.

Eu não sei nem o que pensar.

Bom, está aqui meu comentário =D
Vale pelo post Lola =D

Lidy disse...

Acabei de ver um ator metido a humorista no programa do Jô Marcelo Médici e ele começou a contar piadas, derepente falou uma de negona e ficou quase uma hora falando que o cabelo era muito ruim comparando com bombril e o mais enojante a platéia toda rindo...fiquei pensando se uma negra ir ver a peça como deve sair de lá vai pra se divertir e sai querendo morrer com tanto bullying...e n sei como tbm os negros ficam calados diante disso e não o processam..acho que muito disso é que muitos negros e pardos aceitam isso como brincadeira mesmo magoando e traumatizando eles!

Lala disse...

Defender que as mulheres podem fazer o que querem com o corpo mas criticar quem gosta de mudar o cabelo. Tãããão coerente...
Fazer discurso sobre autoaceitação pra cacheadas que alisam é fácil, quero ver fazer isso com uma mulher de cabelo liso que faz cachos.

Unknown disse...


Excelente site