sexta-feira, 27 de abril de 2012

É POSSÍVEL VIRAR LÉSBICA?

Sei que este post vai gerar polêmica, que vou ganhar mais meia dúzia de haters por causa dele, e que ele estará cheio de equívocos proferidos por uma leiga. Mas venho querendo escrevê-lo faz tempo, e se nem no meu próprio bloguinho pessoal posso escrever o que eu quero, vou escrever onde?
Eu, como várias outras mulheres hétero, passei a maior parte da minha vida sem ter amizade com lésbicas. Tudo bem, talvez minha técnica de handball fosse lésbica, mas ela não era necessariamente minha amiga, e sua orientação sexual não tinha a menor importância pra mim. Nunca fui cantada por uma mulher, pelo menos não que eu tenha notado. Não sabia muito sobre lésbicas, e não pensava muito nelas.
Aí eu fui fazer mestrado na UFSC. E lá havia muitas lésbicas. Quer dizer, não que eu soubesse. Porque junte a minha total falta de gaydar a uma grande dose de ingenuidade e você entenderá porque eu pensava que duas moças que moravam no mesmo apê havia dez anos eram apenas colegas de quarto. Quando me aproximei mais deste casal e contei isso pra elas, nós rimos. E percebi que elas têm birrinhas parecidíssimas àquelas que eu tenho com o maridão (“Você não me ouve mais”, etc).
No doutorado conheci outra mulher que veio a ser uma das pessoas mais doces e gentis que conheci nos últimos tempos. Aliás, em toda a minha vida. Mesmo que ela esteja em Floripa e eu em Fortaleza e a gente não tenha mais tanto contato, vou amá-la pra sempre. Bom, ela, que agora tem mais de 50 anos, é lésbica. Mas nem sempre foi assim. Até os 30 e poucos anos, ela foi casada com um homem. Tem três filhos homens, todos adultos (e héteros), e se dá super bem com eles. Ela me contou que ainda sente tesão por homens, mas se identifica como lésbica. E ela só se apaixona por mulheres. Olhando pra trás, ela constata que sempre se interessou por mulheres.
Através dela, conheci suas amigas, a maior parte lésbicas. Elas são muito unidas, todas se conhecem. Admito que fiquei um pouco decepcionada ao ver que lésbicas, inclusive lésbicas feministas, também gastam tempo falando de esmalte. Mas todas foram simpáticas comigo. Enfim, isso não tem nada a ver com o tópico.
Mas, ao conhecer mais lésbicas, vi que não era nada incomum que mulheres “se descubram” lésbicas depois de uma certa idade. Uma ex-professora minha, lindíssima, que já tinha sido casada com homens, estava, depois da menopausa, “experimentando” se relacionar com mulheres. E gostando, pelo que ouvi falar.
Pois é, essa é a primeira parte polêmica: mulheres podem “virar” lésbicas, ou nossa orientação sexual já nasce definida? A maior parte das pessoas LGBT acha que não é uma opção, e se recorda da primeira vez que se sentiu atraíd@ por alguém do mesmo sexo, ainda bem criancinha (assim como eu me lembro de quando aquele jogador de futebol mexeu comigo). Se pensarmos que orientação sexual é uma opção, abrimos as portas para religiosos e psicólog@s homofóbicos que insistem que é tudo uma questão de caráter e que homossexuais podem ser “curados”, ou seja, podem virar héteros. Mas será que é igual pra todo mundo?
Por outro lado, me parece bem restritivo afirmar que uma mulher (ou um homem) hétero não pode buscar novas experiências com alguém do mesmo sexo. Eu não digo que a gente pode treinar nosso olhar, que a gente pode aprender a achar atraentes pessoas gordas ou mais velhas ou com algum defeito físico? Que a gente pode tentar se “descondicionar” do que a sociedade nos dita como normal e aceitável e padrão? Então por que não poderíamos fazer isso em relação a pessoas do mesmo sexo? Se podemos ampliar nossos horizontes pra, sei lá, gostar de paladares inéditos e diferentes, por que não poderíamos ampliar nosso desejo sexual?
Claro, falar é fácil. Fazer é que são elas. Neste momento da minha vida, eu sinto que teria que nascer de novo pra poder me sentir sexualmente atraída por mulheres. Mas vai saber o que pode acontecer no futuro... Afinal, já ouvi uma mulher que foi hétero a maior parte da vida perder o marido (geralmente nos casamos com homens um pouco mais velhos e, pra piorar, eles costumam morrer mais cedo que a gente) e, depois de amargar a solidão, testar outras pairagens. O argumento dela, que me pareceu bastante sólido, foi: “Estou com 55 anos. Tem muito homem que não quer nada com mulher mais velha. Já lésbicas não têm essa frescura. E então, eu devo desistir da minha sexualidade e ficar sem fazer sexo até morrer, ou posso tentar me relacionar com pessoas do mesmo sexo?
Este é o segundo ponto polêmico dessas minhas divagações, porque sugere que lésbicas são lésbicas por não conseguirem homem. E nada mais distante da realidade, óbvio. Primeiro que lésbicas não querem homem. Depois que, se quisessem, elas são lindas e inteligentes e provavelmente conquistariam qualquer cara que quisessem. 
Tenho certeza que a imensa maioria das lésbicas é lésbica desde que se conhece por gente e, se algum dia fez sexo com homem, foi só pra tentar se adequar ao que um mundo homofóbico e machista esperava dela. Fez e não gostou, ou fez e não achou aquilo tudo, ou fez e concluiu categoricamente que aquela não era sua praia, e tratou de se assumir lésbica. Mas estou pensando em mulheres que se consideram hétero a maior parte da vida, e resolvem experimentar. A gente ouve sempre falar que a sexualidade feminina é mais fluída, menos estanque, que a masculina. E o mundo permite um maior contato físico entre mulheres –- um contato físico necessário que pros homens só é permitido aos praticantes de esportes. Também ouvimos falar que não é de todo raro mulheres que se identificam como hétero terem, na adolescência, alguma experiência com outra mulher. Mas uma mulher se interessar por outra mulher, ou inclusive transar com outra mulher, não faz dela lésbica, sequer bissexual. Acho que ela tem que se identificar como tal, e essa identificação vai além de encontros furtivos. Talvez, como disse essa minha amiga querida, a atração pelo mesmo sexo inclua não só sexo, mas também amor e outras intimidades.
Bom, eu tenho muito mais dúvidas do que certezas, como já deu pra notar. Mas será que a descoberta da homossexualidade é igual pra toda mulher? E, voltando ao título, é possível virar lésbica?

210 comentários:

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Anônimo disse...

Sou Sonja McDonell, 23, Suíça. Quantos anos você tem e de onde? Ah, sim, meninas lésbicas, temos algumas células no nosso cérebro em uma idade jovem, que as garotas normais não têm. Essas células tornam-se ativas durante a puberdade precoce, principalmente com 9-10 anos. Eles nunca podem ser apagados e é importante mantê-los ativos.
Com amor
sonjamcdonell@yahoo.com

Anônimo disse...

Eu sou a Sonja McDonell, Aeromoça Swiss Airlines, 23 com 13 cidades no exterior com muitas fantasias em casos de emergência. O relatório do Dr. Kinsey diz que as meninas lésbicas têm algumas células em seus cérebros, as chamadas garotas normais não têm. Essas células são enviadas para dentro e dentro de nossas partes sensíveis do corpo na puberdade precoce. Eles nunca podem ser apagados. Isso é verdade. Mas deve começar nos nossos cérebros e não a primeira vez entre as pernas.
sonjamcdonell@yahoo.com

Unknown disse...

O texto é interessante, mas realmente abre margem pra umas coisas não tão legais. Tipo, eu acredito que ninguém e totalmente heterossexual, mas me deixa meio triste ver que só mulheres são vistas com a sexualidade mais fluída, quando os homens claramente tem muitos desejos homossexuais reprimidos. Além disso pode dar margem para se fetichizar ainda mais relacionamentos lésbicos, já que muitos homens héteros educados por pornografia vão pensar que suas mulheres devem experimentar ficar com outras mulheres, usando pretextos de "se descobrir" ou "se desconstruir", quando só querem satisfazer seus fetiches. Enfim, tirando esses homens da equação, eu espero mesmo que as mulheres se dêem chances de relações fora da heteronormatividade, pois ela está tão embrenhada em nossa existência que muitas mulheres vão morrer sem saber ou entender que tinham desejos/sentimentos por outras mulheres, e isso é lindo.

Meka 4.0 disse...

Por falar em academia sempre recebo cantadas de homens o que pra mim e a coisa mais natural do mundo e ate adoro pois eles nao escondem o q realmente querem.

Caroline Stephanie disse...

Tirou as palavras da minha boca! Sexualidade é muito complexa,aliás até hoje a ciência tenta achar uma resposta para tal questão. Amor realmente muda a nossa percepção sexual e afetiva. Aliás o amor nos surpreende,principalmente se for do mesmo sexo. Sejamos felizes não importa com quem seja. E a sociedade que se foda!!

Fernanda nunes disse...

Ninguém vira lésbica , a mulher já nasce lésbica. Nascer lésbica é como cor ( ou é preto ou é branco ) não adianta passar uma borracha que irá apagar , nem a cor e nem a sexualidade.

Anônimo disse...

Eu tendo achar que quase todas as mulheres tendem a ser lésbicas.
Com homem isso pouco acontece.
É só você ver a reação de um homem hetero beijando outro hetero que os dois já querem sair no murro.
Uma mulher com outra não é bem assim, elas já tendem a ficarem juntas a se despir uma na frente da outra, a conversar sobre tudo, e se ela gostar do beijo, certeza que ela irá se interessar mais tarde.
O que pouco acontecem com os homens, pelo menos aqueles que são héteros mesmo.

Anônimo disse...

Eu, uma lésbica, tenho que falar que, nascemos assim, só que algumas se descobrem mais tarde, não percebendo os sentimentos por mulheres.
existem lésbicas casadas com homens a vida inteira, com medo de se assumirem, também.

Anônimo disse...

Vale lembrar que também existe bissexualidade

Anônimo disse...

Oi Lola, muito legal esse blogue
Os relatos estão me ajudando a compreender o processo que classifico de transição. Após meus 52 anos descobrir que gosto de mulheres apesar de ter me relacionado com poucos homens. É um processo muito difícil e ainda me quetiono se sou lésbica ou se estou carente. Mas sempre pensei em mulheres e as desejava. Hoje com 54 anos estou sozinha talvez por não saber me aproximar de uma mulher, não conhecer esse contexto ou não ter coragem de me assumir. Uma coisa é fato a maior parte da minha vida vivi sozinha por opção ou talvez um refúgio dos homens uma vez que minha família é muito preconceituosa. Agora quero encontrar uma mulher e me assumir como mulher que gosto de outra mulher e quero conviver com uma mulher.

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