segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

MULHER, ESSE SER IRRESPONSÁVEL QUE SÓ QUER ABORTAR

Quando começa a vida?, decidem os homens. Cardeal: No momento da concepção. Juiz: No nascimento. Adolescente: Quando vc pega sua carteira de motorista.

Espero que os homens que chamem mulheres que abortam de vagabundas e irresponsáveis saibam que 1) essas mulheres não fizeram o filho sozinhas, e 2) se fosse o homem quem ficasse grávido, o aborto seria legalizado. Sério. Não há a men
or dúvida disso, porque ninguém ousaria dizer a um homem que seu corpo não é dele. A questão inteirinha do aborto é uma questão sobre o controle do corpo da mulher. Convém pintar a mulher como um ser alterado, nada confiável, fraco das ideias, que precisa ser controlado. Os reaças que são contra a legalização do aborto acreditam que, sendo contra, não existem abortos. Eles somem, pluft, num passe de mágica! Acontece que eles seguem acontecendo, sempre em número maior que em países onde o aborto é legalizado. E abortos ilegais acabam matando a mulher. Mas esse é um efeito colateral que os pró-vida até gostam, né? Pena de morte pra mulher que aborta! Pois bem, ao não legalizar o aborto, vocês assinam essa sentença.
Mas o incrível é que a direita é quem mais fala em liberdade individual, em não permitir que o Estado interfira na vida das pessoas. Eles lutaram contra a obrigatoriedade de usar cinto de segurança, lembram? Porque, se a pessoa quisesse correr o risco de não usar cinto e morrer num acidente, problema dela, não do Estado. No caso do aborto, o discurso muda. Nesse caso a mulher não existe como indivíduo. Um embrião passa a ser muito mais importante que a mulher que o sustenta e carrega. Claro, até que esse embrião nasça. Porque então os reaças que chamam mulheres de vagabundas não querem mais nada com o bebê, e muito menos com a mulher, esse ser não-confiável, que precisa ser vigiado durante toda a sua gravidez. Depois de nascer, é cada um por si. E a direita detesta todos os impostos, inclusive aqueles que constroem creches e orfanatos.
Bom, o post sobre o planeta estar chegando aos 7 bilhões de pessoas não tinha nada a ver com o aborto, mas isso não impediu que um reacinha aparecesse pra dizer que a esquerda quer legalizar o aborto para reduzir a população mundial. O que não faz o menor sentido, pois, pra reduzir a população, é muito mais vantajoso manter o aborto ilegalizado – dessa forma, morrem mãe e embrião. A Laura deixou excelentes comentários:

“Me incomoda demais esse negócio de responsabilidade no discurso anti-aborto. Muita gente vem e fala que quem aborta é vagabunda. Dizem que é adolescente irresponsável ou mulher que saiu abrindo as pernas dando por aí. Aí você mostra a pesquisa do Ministério da Saúde que fala que a maioria das mulheres que abortam tem entre 20 e 29 anos e estão em relacionamento estável. Aí o discurso muda de figura. A pessoa vem com argumentos mais comedidos, para de falar de vagabunda e irresponsável, vem falar de mais campanhas de conscientização.
O que eles não entendem é que a mulher que aborta não quer seguir com a gravidez. Ela não quer estar grávida. Nem é questão de poder ou não sustentar a criança. É não querer estar grávida. É o corpo dela. Toda pessoa tem direito de ter autonomia sobre o seu próprio corpo. Tanto faz se é vagabunda, se é prostituta, se é irresponsável ou se é mãe de família. O corpo é dela. Então tem um ser dentro dela que não é mais do que um parasita. Porque esse ser não tem vida própria, sabe? Se tirar ele do corpo hospedeiro, ele morre. Logo a vida dele não é dele, é a vida dela. Por que defender um ser que não tem vida própria? Aí vem os argumentos, que o ser sente, tem mãozinha, coração formado etc. Tem. Mesmo assim, a mulher não quer ele dentro dela. O corpo que tá sofrendo mudanças é o dela. A vida que está em jogo é a dela, a dele não pode ser porque ele não tem vida própria!
Enfim, o que eu mais detesto no argumento antiaborto é isso, de umas mulheres terem direito de escolha assegurado, se foi estupro, se é anecefalia. O resultado do estupro e da anecefalia também tem vida. Também tem mãozinha e coração. Mas o que importa no caso é que a mulher foi uma mulher 'direita'. Seguiu as regras, não foi vadia, não saiu abrindo pernas pra qualquer um. Então ela merece dispor do próprio corpo. Já as outras não. Como se alguém tivesse esse direito, de decidir até que ponto os outros têm direito. De dominar o corpo do outro, forçar a manter uma gravidez indesejada. Na verdade, a vida do feto pouco importa, o que importa é que a mulher não faça determinadas coisas. Se fizer, vai ser punida com a gravidez pela sua 'irresponsabilidade'.
A maioria das mulheres que abortaram usam métodos anticoncepcionais. E engravidaram mesmo assim. A pesquisa chega a conclusão que elas não sabiam usar o anticoncepcional direito. Porque é mais simples explicar que é complicado demais pra mulher entender que tem que engolir uma pílula por dia do que admitir que os métodos anticoncepcionais não são assim tão infalíveis como pregam. Quem não conhece uma mulher que engravidou mesmo tomando a pílula? E aonde fica a tal falta de responsabilidade nessa história?
Uma em cada cinco mulheres de até 40 anos de idade já fez aborto. Assim, podemos concluir que 20% da população feminina é irresponsável.
Quem toma a pílula do dia seguinte é irresponsável também?”

216 comentários:

«Mais antigas   ‹Antigas   201 – 216 de 216
Adwilhans disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Adwilhans disse...

Só para evitar aparência de especulação, vou citar algumas fontes que contradizem a ideia de que o feto não sente dor nas primeiras semanas de gestação. Destaco desde logo que não sou cientista, portanto não sei avaliar qual fonte é mais segura.

http://www.abortionfacts.com/online_books/love_them_both/why_cant_we_love_them_both_14.asp#By 8 weeks? Show me!

http://www.nytimes.com/2008/02/10/magazine/10Fetal-t.html

Sabe, isso me lembrou outra coisa: quando minha filha nasceu, me disseram que o ideal era botar o brinco já no primeiro dia, pois a criança ainda não sentia dor ao furar a orelha. Bom, eu acompanhei o procedimento e garanto que ela BERROU pra caramba na hora H. Então, salvo melhor juízo, acho que ela sentiu dor sim...

Unknown disse...

Adwilhans, você leu as referências do link do wikipedia que você mesmo postou?

A referência que diz que o feto pode sentir dor nas primeiras semanas da gestação é de 1984!
Todas as outras referências se referem a estudos mais atuais, que dizem que a sensação de dor só é possível a partir do segundo ou terceiro trimestre da gestação!

O artigo de 1997 fala de 23 semanas http://www.parliament.uk/documents/post/pn094.pdf
O da BBC (2005) fala de 29 semanas http://news.bbc.co.uk/2/hi/health/4180592.stm
A Dra. Vivette Glover (2000) fala de 17 semanas, e não 10 como está no artigo da Wikipedia
http://news.bbc.co.uk/2/hi/health/900848.stm

Em nenhum artigo está escrito que o feto de 12 semanas luta pela vida!

Unknown disse...

O Dr. Annand, do artigo de 2008, fala de 20 semanas, especulando que talvez possa ser possível o feto de 17 semanas sentir alguma coisa.

O artigo do Dr. Willke (e sua esposa, imagino) se refere aos estudos dos anos 80 pra dizer que com 8 semanas o feto pode sentir dor. "We state categorically that no finding of modern fetology invalidates the remarkable conclusion drawn after a lifetime of research by the late Professor Arnold Gesell of Yale University. In The Embryology of Behavior: The Beginnings of the Human Mind (1945 (!!!), Harper Bros.)".
Ou seja, não importa pra eles o que os estudos atuais dizem, o que o cara descobriu na década de 40 tá certo e não se fala mais nisso (a menos que seja algum estudo de quase 30 anos atrás que comprove vagamente o que foi dito na década de 40!)

Raul Marx disse...

O mais incrível disso tudo é que uma grande maioria dos contra-aborto, é a favor da matança geral de criminosos. Contraditório.

Talvez se o aborto fosse legalizado uma grande maioria de garotos, sem estrutura familiar e que acabam tornando-se marginais não existissem!

Priscila disse...

Pelo jeito, a controvérsia sobre o momento em que o óvulo fecundado/embrião/feto se torna um ser humano é, sim, fundamental para decidir a questão da descriminalização.

Estou com a Eneida nesse ponto. Se o Estado pode e deve determinar por lei o momento do fim da vida, não vejo por que não pode e deve determinar o início.

É óbvio que isso é extremamente difícil, mas é vital estabelecer um critério pra decidir se determinado caso de aborto foi criminoso ou não. Sem um posicionamento laico e objetivo, tudo vai ficar sempre na questão da opinião, da formação religiosa etc., ou seja, o assunto vai continuar sendo tratado subjetivamente ad aeternum.

É claro que, uma vez estabelecido por lei m limite de x semanas pra que um embrião possa ser abortado, aparecerão diferentes grupos religiosos e/ou conservadores pra dizer que a vida humana começa em algum ponto antes do limite legal. O Estado sendo laico não tem nada a ver com isso: tem a ver unicamente com o limite que for previsto pela lei. Acima desse limite, o aborto seria um crime como outro qualquer e seria julgado de acordo com a lei.

Agora, se uma lei - qualquer uma - é justa ou injusta, é OUTRA história. Pode-se discutir, pode-se protestar, lutar por direitos etc., mas em princípio a gente tem que obedecer às leis, ué. Com a lei reguladora do aborto não seria diferente.

Fica pra discussão. :)

Clarissa Deggeroni. disse...

Resposta atrasada para a Laura:

"Mas dizer que um embrião é um parasita, o que do ponto de vista biológico é verdade, aí não pode."

Desculpa, mas do ponto de vista BIOLÓGICO um feto (saudável) NÃO é parasita. Pode citar biólogos ou médicos que contradigam isso e me contestar à vontade, mas cite fontes. Eu sou uma curiosa, estou aqui pra aprender.
O fato do feto não sobreviver fora do útero materno não qualifica ele como parasita. Um parasita causa diretamente algum tipo de dano ao organismo hospedeiro (relembrando, eu estou focando só da parte orgânica não estou falando da psicológica). Se fossemos comparar com as relações ecológicas, a que, por padrão, mais se encaixa é o inquilinismo. O feto seria uma espécie de inquilino do corpo da mãe. Olha que nem destaquei que a relação parasitária se dá entre espécies diferentes!

Você pode dizer que um feto é parasita à vontade. Não muda o fato de ser um termo, no mínimo, inadequado.

Sobre os outras colocações, como minhas vivências e filosofias são diferentes, só posso dizer que respeito.

Clarissa

bolt disse...

Laura,

quanta sensibilidade no seu comentário minha filha, você só pode estar de sacanagem pra escrever isso. Assita ao filme “O Grito Silencioso” e depois escreva se você ainda é a favor do aborto.

Cacau Gonçalves disse...

Se eu acho o aborto uma coisa bacana? Não... Acho que não dá pra achar isto uma coisa bacana: é uma intervenção cirúrgica, é a interrupção de uma vida em potencial. Acho que não há mulher que vá fazer um aborto feliz.

Mas é preciso compreender a diferença entre fazer algo por gosto e fazer algo por necessidade, seja lá em que nível.

Algumas questões para refletir:

* Mulher responsável toma pílula... Pílula pode causar câncer, sem falar em todos os transtornos hormonais que gera. Ela está sendo responsável com o seu próprio corpo?

Certa vez ouvi alguém dizendo que se quem tomasse pílula fosse o homem, já teriam descoberto algo que fizesse menos mal ao organismo. Concordo.

* Mulher responsável deve ligar as trompas... A vasectomia é uma intervenção muito mais simples, que não necessita de internação e, portanto, com muito menos risco para a saúde

Mas é mais fácil o homem exigir que a mulher ligue as trompas ou ainda o homem não estar nem aí para o que se tem que fazer (só não quer ter mais filhos) e só restar à mulher fazer a cirurgia.

* Mulher responsável não sai transando com qualquer um por aí... Existem homens que investem toda a sua energia em estar sempre transando por aí... e eles transam com quem? Na maior parte das vezes, com mulheres (essas que não devem ficar transando com qualquer um por aí)

* Se a maior parte das mulheres que fazem aborto possuem um relacionamento estável, podemos deduzir que

1) A maior parte das mulheres que NÃO possuem um relacionamento estável ou não sai transando com qualquer um por aí ou usa algum método anticoncepcional ou ainda exige que seu parceiro use camisinha (o que seria o ideal em função das DST)

2) A pílula não é 100% eficaz? É fato... Conheço dois bebês que nasceram de pílula. Mas devemos notar que, se a maior parte das mulheres que faz aborto são comprometidas, ou as pílulas funcionam melhor com as solteiras ou as solteiras exigem o uso de camisinha ou...

3) ...o que eu acredito ser o mais fácil de acontecer: em um relacionamento estável a mulher se sente mais tranquila e confiante no parceiro. Não exige a camisinha e muitas vezes sofre com os efeitos colaterais da pílula, com isso, acaba confiando que poderá administrar os dias férteis com o devido apoio e respeito do companheiro... o que, normalmente, não acontece.

Já ouvi muitas histórias de casais que, no período de descanso da pílula, o marido se recusa a usar camisinha, isso tb é uma realidade.

A verdade é que os homens, em geral, não aceitam nenhum tipo de desconforto: não querem usar camisinha, não querem fazer vasectomia... praticar tantra e obter o orgasmo sem ejacular, nenhuma chance, né? rs

Eles querem só o bem-bom... (com o devido respeito aos que respeitam as mulheres) E quando a mulher engravida, parece que ela fez algo sozinha e de forma totalmente inesperada. Algo "estranho", algo que nada tem a ver com seu companheiro.

Quando um casal não quer ter filhos e a mulher engravida, o homem pode sumir... E a mulher? Para onde quer que ela vá, ela vai carregar aquilo do qual está fugindo.

Enquanto a relação entre homens e mulheres não mudar, este tipo de problema continuará.

Anônimo disse...

Sou mulher, fui estuprada aos 17 anos e engravidei do monstro que fez isso comigo, porém sou contra o aborto até hoje e tive o bebê mesmo ele gerado através da violência.

Muitos neste momento devem estar me crucificando por tal decisão e opinião, não é mesmo? No entanto eu tenho uma visão de vida e de amor bem mais ampla e que considero a frente deste tempo físico, e que já se perdeu na maioria dos corações das pessoas. acredito que um crime não justifica outro, pelo fato daquele criança que estava dentro de mim não ter culpa alguma de nós seres humanos sermos tão monstruosos.

Esperei seu nascimento e uma família o adotou desde o primeiro dia, assim aliviei meu coração e fico feliz de saber que suportei toda dor para mantê-lo vivo dentro de mim, e que no final das contas ele hoje é feliz ao lado de uma bela família (que não conheço porque foi o acordo feito entre eu e a família).

Hoje estou com 58 anos e nunca me arrependi do que fiz, muito pelo contrário, percebo a superação que tive como ser humano e a elevação da minha condição no amor ao próximo. as vezes passo na rua por alguns homens e fico imaginando se aquele poderia ser a criança que gerei e que hoje leva uma vida normal. É muito fácil tirar uma vida, pois é natural do ser humano o egoísmo e a individualidade, mas quem consegue romper essa barreira não sabe o quão fantástico é dizer que você venceu a morte em vida, por que não foi fácil carregar por 8 meses e meio uma vida da qual eu rejeitava com todas as minhas forças, no entanto minha fé em Deus e crença na verdade de que aquela vida não era culpada de nada me fez refletir a cada segundo que o sentia mexer dentro de mim.

eu até consigo compreender as mulheres que não suportam esse fardo, porque não é nada agradável e simples manter uma vida indesejável dentro de você. sentimos nojo de nós mesmas e temos a vontade de matar aquela vida como sinônimo de vingança ao nosso real agressor, mas quando eu parei e percebi que aquele pequeno ser não era meu problema e sim a humanidade e o mundo que vivemos, exorcizei os pensamentos de destruição, morte e dor que me consumiam. Estou envelhecendo e vejo que a idade me trouxe ainda mais serenidade, nunca esqueci o que aquele homem me fez, mas hoje consigo viver sem remorsos por ter escolhido a vida do que a morte de um outro ser como sacrifício por minha dor.

Os jovens hoje em dia se relacionam sexualmente e geram uma criança, mas a primeira coisa que vem a cabeça é um aborto, porém se você perguntar a maioria deles o por que de tal decisão, muitos irão dizer que é para não perder a juventude ou ter responsabilidades, então quer dizer que uma vida é descartável? ou que um ser humano quando ainda está na barriga da mãe não vale nada? Quem mata outro ser humano é criminoso de qualquer forma, seja com um revolver ou com um aborto, mas como falei antes considero algumas exceções em casos extremos em que algumas mulheres não suportam carregar tal fardo, mas saiba que cada uma deve se responsabilizar por cada decisão tomada.

Deolinda Blathorsarn disse...

Concordo plenamente com tudo que foi dito acima...A mulher tem que readquirir o direito de ser dona de si e do próprio corpo...

Deolinda Blathorsarn disse...

Concordo plenamente com tudo que foi dito acima...A mulher tem que readquirir o direito de ser dona de si e do próprio corpo...

Anônimo disse...

64% das mulheres que fizeram aborto no Brasil são casadas, 81% já são mães http://migre.me/f3dwy


Só pra constar.

Andressa.

Katia disse...

Nao compreendo sua maneira de pensar.. Vc faz sexo com um homem sem sentir nada por ele? Voce chama algo que é formado da uniao consensual de duas pessoas de "parasita"? Suas palavras soam como algo desprovido de amor.. AMOR pela sua própria vida. Meu bem não quer filho? Tire o utero é até mais bonito. Fica dica.

MrDissidiaFan disse...

Acho que o cartaz que diz "77% dos líderes anti-aborto são homens, 100% nunca engravidarão" é cisnormativo.

Homens trans que não removeram útero e ovários engravidam, e são homens do mesmo jeito.

Anônimo disse...

Claro que tinha que ser um homem...

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