Imagino que muit@s de vocês vão se identificar com este relato da Maiacat, uma paulista de 21 que cursa Jornalismo. Parece que o título já diz tudo, mas tem mais. Acho que sobra até pra mim.
A vida toda pensei de um jeito e não me dei conta. Não me dei conta de que as idéias que me passavam sempre pela cabeça não condiziam com o que eu ouvia que era o certo. Quero dizer, percebia certos preconceitos, certas incongruências. Mas não me parecia que fazíamos parte “daquele grupo”. Aquele grupo conservador, extremamente medroso, da sociedade. Até que juntei as peças: minha mãe quis tirar o dinheiro da conta na época da eleição de Lula, meu pai faz discursos raivosos contra o PT, eu mesma não suportava a idéia de votar em alguém que não fosse do PSDB. Ao mesmo tempo, eu defendia ideias consideradas socialistas, sem perceber que isso não casava com os pressupostos desse setor da classe média! Como não vi tudo isso, não sei, talvez porque eu sempre fui acostumada a ouvir todos falarem desse jeito, parecia a única verdade possível.
Mas divago… a questão é que é um tabu enorme, por exemplo, defender o PT. Entre meus amigos, não há um que tolere a ideia. Todos, também, ficam na mesma ladainha: “vou votar no Serra pra Dilma não ganhar”. E eu já fiz parte dessa ladainha, em 2002. Porque o interesse aqui é unicamente se opor. Duvido que alguém tenha interesse pelo “programa” de governo do PSDB, ou mesmo saiba que isso existe. Quando falam de aborto, ficam na mesma onda da mídia (que está me irritando PROFUNDAMENTE) e ficam só apontando o fato de que Dilma, a terrorista, já foi a favor, agora diz que não é mais blablabla. Ai de mim se eu ousar discordar!
Agora entendo também meu enfado diante das “discussões políticas” nesse grupo todo, porque NÃO há espaço, não há diálogo. Se você vai contra essa onda, as pessoas te olham de um jeito que é como se de repente você estivesse de volta à Guerra Fria e fosse um comunista nos Estados Unidos. É como se de repente você se transformasse no que há de pior nesse mundo, porque imagine, você acha que negros, pobres, mulheres e gays merecem mais do que hoje em dia é “concedido”. Meu Deus! Quantas vezes não ouço essa ladainha de que “bandido bom é bandido morto”? Fiquei revoltada quando saiu a notícia de um motorista que atropelou dois caras que tinham roubado o laptop de uma mulher e o pessoal só comentou a mesma coisa: finalmente um herói na sociedade brasileira! finalmente há justiça! ele deveria ganhar uma medalha! E tudo isso acrescentado dessa singela lamentação: pena que os bandidos não morreram. Uma mulher até disse: se fosse eu, daria ré neles depois de atropelar, até ter certeza que tinham morrido!
Eis aí, meus caros, o discurso normal, raivoso, violento e conservador dessa parcela da sociedade. A sociedade TODA é violenta e conservadora. E não quero cair em maniqueísmos aqui. Sinceramente, acredito mesmo numa palavrinha chamada contexto, ou melhor, num conceito, o chamado contexto histórico. Para mim, há uma razão, há fatores que levam, por exemplo, uma grande parcela da população ainda votar no Maluf, da mesma forma que leva a votarem no Lula ou em qualquer outro político. A classe média não é “má”. A classe média é fruto de uma série de fatores que, realmente, não cabe a mim investigar agora, porque eu não sou historiadora nem estudei o assunto (ainda, pelo menos). E todo esse discurso dela foi construído ao longo do tempo, com diversos mecanismos, e ela é vítima e algoz, sujeito e objeto dessa história.
Acredito, mesmo, que nada pode mudar se ninguém perceber a origem, se não houver reflexão, questionamento. De que adianta odiar com todas as forças os tais “reaças” se isso só faz alimentar o processo que já vem caminhando há séculos? Não é por aí. Não é na oposição, nas críticas raivosas, no ódio ou na mera decisão de “vamos ignorá-los” que as coisas vão tomar outro rumo. De verdade, eu era da classe reacionária, mesmo tendo sempre pendido a defender aborto, casamento entre gays, justiça aos mais pobres etc, sem saber! Isso porque pensava essas coisas, mas tinha um medo desgraçado desse tal do PT, e de qualquer coisa que parecesse “fora do lugar”. Esse tipo de ideia contamina sua mente de tal forma, que você não consegue pensar “fora da caixa”. É preciso compreender isso, compreender que o maior problema não é a suposta natureza má, conservadora e egoísta das pessoas. É sim a alienação, a desinformação e o perverso sistema violento e repressor que hoje parece funcionar sozinho em nossa sociedade.
32 comentários:
Muito bom! Identifico-me totalmente com o texto.
Na classe média parece que é proibido mudar de idéia, e porque você votou algumas vezes no PSDB de 94 a 2002, deve ignorar toda a evidência positiva do governo do PT e seguir votando nestes tucanos idiotas.
E mesmo esta campanha tucana que ofende a inteligência não faz estas pessoas mudarem de idéia.
olha Lola,cheguei até o seu blog faz um ano e meio mais ou menos (leio sempre mas nunca comento) e vou te falar que ó a principal responsável por me fazer pensar "fora da caixa" foi vc. MUITO OBRIGADA! beijão
Belíssimo texto. Hoje, com a minha formação, consigo arriscar algumas razões para tudo isto. Mas não é uma ciência exata, e nossos questionamentos sempre nos ajudam a olhar mais fundo. :)
Esse motorista merecia um premio sim!!
Desde quando bandido se recupera no Brasil?? E se alguem roubasse meu computador eu nao sei o que iria fazer!!! Tem tanta coisa aqui: minhas monografias, fotos impublicaveis, filmes, musicas e arquivos pessoais!
Vcs defendem esse bandido é pq nao roubaram o PC de vcs!
Vcs são da laia do "Faça o que falo mas nao faça o que faço", não é?
Ai meus sais, Shiryu. Ninguém defende bandido, e ninguém quer que roubem laptop de ninguém. Mas nem todos nós defendemos a pena de morte para criminosos, capiche?
Sabia que vcs iriam se identificar, galera!
Otimo relato! Eu ando decepcionada com meus pais, que apesar de votarem PT desde jovens, hoje mudaram de ideia e dizem cada coisa cabeluda que mal os reconheço. Lolinha (e leitores), meu ultimo post tbm foi sobre a classe média, mas sobre como ela se comporta face à greve que esta acontecendo aqui na França. Para quem interessar. Beijo!
Excelente post!
E eu meio que me identifiquei muito, mas minha família é meio dividida nisso. Por exemplo, eu tive uma educação de igualdade e não-preconceito da minha mãe (que votou em Lula, mas nunca foi petista), mas ela sempre meio que ovelha negra nisso. Mas meus tios... bem, a maioria é Serra.
Eu tive uma educação pela família como um todo para ser tucana: li Veja a minha vida toda e ainda leio quando vou na casa do meu avô. Não sei de nenhum tio meu que goste em PT. Minha família nunca assistiu qualquer coisa que não seja Globo (SBT e Record não existem para eles. Quando a gente tinha canal pago, só eu e minha irmã aproveitávamos - o máximo que faziam era assistir o canal de filmes). Minha mãe votou em Lula a vida toda, mas minha tia votou em Collor porque ele era bonito.
Enfim eu tive uma educação da minha mãe e outra da família materna (o pai não entra nessa equação, porque ele mora em outra cidade e não faz parte da minha vida). Eu podia ter virado tucana e eu quase fui, mas não no contexto partidário, e sim em conceitos. Eu já chamei muito o Bolsa-Família de Bolsa-Esmola, já menosprezei os programas assistencialistas, os de igualdade racial... já fiz muito isso. E não competia com as idéias de educação e saúde pra todos que eu sempre tive. Era como a autora do post: tinha idéias que entravam em conflito.
Em resumo, me identifiquei muito!
http://www.emoticonscrap.com/bolinhadepapelserra.swf
miacabo de rir
As razões para a classe mérdia pensar como pensa já foi discutida por Marx há séculos: a questão material molda o homem. Não existe classe média revolucionária porque o sistema, como é, privilegia a classe média. Você viu a reação da sociedade com a ocupação da Unicamp pela polícia? E você vê a reação da mesma sociedade com a ocupação da polícia "pacificadora" nas favelas cariocas? Por que pode ocupar a favela e não pode ocupar a universidade se em ambos tem drogas? Porque um é ocupado pela classe média, o outro não! A classe média não (se) questiona porque ela é beneficiária da desigualdade, da opressão de alguns e pouco se importa para a desigualdade social.
Sou professor (de historia) e não acredito que meu discurso em sala vá mudar o que a classe média pensa porque ela é o que ela vive e não o que ela ouve. Não adianta mostrar foto de crianças famintas se ela não sabe o que é fome (e não estou falando da fome que se sente entre o almoço e o jantar). De qualquer forma, gostaria de ver o mundo com essa sua visão pueril. =D
Parabéns Maiacat pelo texto. Meu marido passou por uma situação que ilustra bem essa questão que vc levantou. Ontem à tarde, Dilma estava em Santos fazendo campanha. Ia ao Sindicato dos Petroleiros. Nesse meio tempo, Daniel saindo do trabalho e sabendo da presença de Dilma, começou a conversar sobre política com alguns colegas(coisa rara, uma vez que, dentro das empresas existe uma "censura branca" que impede os funcionários de tocarem no tema, principalmente para quem vai votar na Dilma como é o caso dele). Durante a conversa, só então ficaram sabendo que o Daniel votaria na Dilma. Nossa! Todos ficaram indignados! Um deles, perguntou se ele estava ficando louco, se ele teria mesmo coragem de "votar com aquele monte de favelado". Outro, disse que até hoje não sabe como Lula conseguiu governar esses oito anos sem saber inglês, ressaltando ainda que "ele teve tempo bastante para apender". Daniel disse que sofreu um verdadeiro bombardeio, ainda mais quando pegou umas bandeirinhas da Dilma já pensando na carreata da vitória(he,he).
Enfim,a "caixa" realmente é grande e às vezes tapada com "blackout".
Ah, só para ressaltar, o ramo que Daniel e seus colegas serristas trabalham, que é o de importação/exportação, foi um dos que mais se desenvolveu no governo Lula. Enquanto em 2002, o volume de exportações foi de US$ 60,4 bilhões, em 2009 foi de R$ 153 bilhões. E as importações, apesar de um ritmo menor de crescimento,também subiram, passaram de de 43% na média do governo FHC para 54,8% na média do governo Lula, o que configura um avanço de quase 12 pontos percentuais.Por que essa gente teima em negar isso?? É incrível!!
Lola, nunca comentei aqui, mas gostei muito desse texto. Sou uma ilha cercada de tucanos por todos os lados e reconheço todos esses discursos anti-PT. Mas de tudo o que a autora disse, gostei especialmente do questionamento dela a respeito do quanto é ou não "útil" o ódio aos reaças. Acredito que não é e penso também que entender porque, de certa forma, temos todos uma visão tão maniqueísta da política pode nos ajudar a estabelecer um diálogo que em muito pode nos ajudar.
Lola, três perguntinhas para você, mas só responde se quiser, claro. Não estou aqui -- nem é minha intenção ou direito -- para pautar seu blogue, eu sei, eu sei, eu sei. (E se não quiser responder, tudo bem também.)
1) Qual a sua opinião sobre a aprovação por unanimidade na Assembleia Legislativa do Ceará do projeto de lei que visa à "supervisão" dos meios de comunicação?
2) Você acha que alguém inteligente, que faz parte da classe média, escreve "classe mérdia"?
3) Você e alguns dos comentaristas se referem aos "outros" de "reaças". Seria o caso, então, de se poder referir às pessoas do jeito que bem se quiser aqui no seu blogue?
4) O que você achou da censura à entrevista do Marconi Perillo naquela TV de Goiás?
Desejo-lhe uma ótima tarde de descanso.
Gostei muito da inicitaiva do post, Lola. Eu também sou uma ovelha negra. quase tive uma síncope quando, há um ano e tanto, meu namorado disse cogitar votar em Serra. Ainda bem que retomou o juízo, kkkk. Mas agora sério, estes dias tive um baita quebra-pau com uma pessoa que amo por conta dos e-mails apócrifos e difamatórios que me mandava. Que difícil! Quanto ao meu reacionarismo, posso dizer que tive uma 'leve recaída' durante o escândalo do mensalão, quando eu só acompanhava a grande imprensa. Até hoje não entendi e não digeri aquilo muito bem, mas coisas de uma ordem de grandeza importante (bolsa-família, educação, relação com a sociedade, política internacional, etc) me trouxeram 'de volta'. Sobre os reaças... amá-los ou atropelá-los..? hehe. Acho que vale o caminho do entendimento, mas tem que ter bom senso, porque alguns deles espumam ódio e poderiam te prender em um porão escuro da ditadura. Recomendo tentar até onde valer a pena.
Um abraço,
Barbara
Graças que eu tenho pais de cabeça boa, eles sempre foram de esquerda, e me ensinaram a pensar, e não a decorar e reproduzir lorotas.
As pessoas que não pensam por si próprias, ou além do seu estado de conforto, me irritam profundamente, é verdade. Mas eu não fico destilando ódio por elas para deus e o mundo.
Até tento dialogar e trazer uma luzinha para alguns conhecidos, mas raramente adianta de alguma coisa... normalmente isso tem que vir da pessoa, depois de muito matutar com seus botões, como a autora do post.
E é bem difícil ir contra a maré, ser de esquerda numa família de direita, ser feminista em uma família machista, ser ecologista numa família consumidora, e o que não falta é exemplo...
"A classe média não (se) questiona porque ela é beneficiária da desigualdade, da opressão de alguns e pouco se importa para a desigualdade social."
Concordo com Sir Baarder. A classe média já é privilegiada. No nosso país ela já é privilegiada há muito tempo. Está em uma zona de conforto, e só sai dela quando essa zona é ameaçada para meter o pau nos pobres e outras minorias. Por exemplo, o governo Lula não foi ruim para a classe média, porém foi bom para as classes mais baixas. O simples fato da classe média estar vendo outras classes sociais ascenderem já basta para considerarem isso uma ameaça.
Adorei o texto, mas acho sim que muitos integrantes da classe média são mal intencionados. Tiveram todos os meios para se informarem, escolas boas, professores bons, acesso a livros, a internet, a discussões, e mesmo assim continuam com a mentalidade retrógada. Não vou falar que eles não pensam, eles pensam sim, só que debaixo do raciocínio que os privilegiam.
Adorei o guestpost Lola. Já tinha lido durante a semana no blog da Maiacat mas não tinha tido tempo de comentar.
No primeiro turno também escrevi sobre isso, sobre como sempre vivi nessa atmosfera classe média.
Já há algum tempo passei a pensar fora da caixinha. Ou melhor, sempre o fiz, mas já ha algum tempo também voto fora da caixinha. ;)
E, mais ainda, hoje também exponho isso cada vez mais. E por causa do tabu que a Maiacat diz, que é falar pra classe média que você vota no PT. todo dia ouço de amigos: mas você, advogada, mestre, doutoranda, professora, vai votar na Dilma! Nem dou conversa. Isso não vale meu latim...
Vi no foifeitopraisso um post fantástico sobre isso
http://foifeitopraisso.blogspot.com/2010/10/da-dificuldade-de-comunicacao.html
Beijos
O grande problema que configura a nossa classe média como única aqui no Brasil, e que pode merecer mais atenção, é a nossa fantástica mídia de grande circulação. Afinal, em qual outro país do mundo a mídia tem tanto poder de persuasão quanto no Brasil? O Paulo Henrique Amorim que o diga. A Maria Rita Kehl sentiu na pele isso.
A nossa grande mídia, principalmente na figura do quarteto fantástico - Veja, Estadão, Globo e Folha - é a fita que prende, que sela a caixa onde está guardada a nossa classe média.
E, por sinal, se ela é uma fita, ela veio de um rolo, um grande rolo de fita que tentou dar o golpe do "atentado fascista" pra alavancar a vitória no 2º turno, não foi?
"E se alguem roubasse meu computador eu nao sei o que iria fazer!!!"
Horrível!
Íamos todos sentir falta das suas gracinhas! ;*
Li esse post hoje cedo e achei que deveria pensar um pouco mais antes de fazer algum comentário. Legal ver que há muita gente aqui que passa pela situação "sou ovelha negra da família". Eu me sinto assim, sempre me senti. São eles e eu muitas vezes. Para sermos "nós" o assunto não pode nem chegar perto de política.
Eu me identifiquei em parte, porque eu não me vi mudando de lado, não aconteceu comigo o pensar igual a eles e depois me descobrir de esquerda. Eu sempre fui diferente, ponto. Desde pequena eu já tomava atitudes como amar viajar com a empregada, ter amigas de classe social inferior e coisas assim. Eu ouvia coisas do tipo "ela tem baixo estima", "ela precisa estar com gente que tem menos pra se sentir melhor". Quando comecei a ter namorados foi a mesma coisa. "Ah, ela é gordinha, então fica com quem a aceita", "ela é insegura". Depois disso, cheguei até a ouvir que a minha opinião política era influência do meu namorado. Logo eu que sempre tive personalidade forte, que sempre disse o que penso e que sempre enfrentei o que não concordava de frente!
Vou ser bem sincera, por muito tempo eu aceitei esses rótulos que queriam me dar. Então a minha mudança se deu aí: quando eu percebi que eu não era nada disso e que eles que têm um pensamento conservador e muito diferente do meu. Simples assim.
Ter tido um professor de história essencial no cursinho, ter morado fora e visto tudo por outro ângulo e depois ter feito faculdade de jornalismo, onde entrei em contato com artigos, livros e todo tipo de publicação me ajudaram muito, é claro.
Mais uma que se identificou... Às vezes me pergunto como numa época dessas ainda há tanto preconceito...
Muito bom o conetário do Sir Baarder tb! Juntando com textos que já lí aqui e no LLL sobre privilégios... Vc percebe pq que essa turma simplesmente não se dá conta de sua condição privilegiada e insiste naquele discurso de que se o pobre quiser, ele chega lá...
gente, olha isso que legal!!
http://www.youtube.com/watch?v=LA0JL7yVcSM
Excelente o texto!
Ando lendo muitos blogs ateus,sobre direitos humanos e sobre política e,em um deles,eu vi o comentário de um rapaz que dizia:
''Eu não pretendia votar na Dilma,mas vendo o que a grande mídia tem feito,essa oposição ferrenha e baixa a favor do PSDB,pensei,se todos estão contra ela e o PT,alguma coisa boa eles devem ter''.
UEHEUEHEUEHEUEHUEHE
Achei ótimo!
No primeiro turno,eu votei na Marina(pelos ideias políticos dela) e no segundo turno vou votar com toda certeza na Dilma.
Como eu já disse antes a um conhecido(que quer porque quer que eu vote no Serra)
: NÃO VOTO NO PSDB NEM FUDENDO!!!
:)
Bom, não sou de classe média, mas tenho muito contato com pessoas assim. Gente que reclama da corrupção no governo Lula, mas que dá 50 reais de "gorjeta" pro guarda, pra não ser multado no trânsito. Gente que reclama da "indústria da multa" e acha que os sem-terra deviam ser fuzilados, mas que não abre mão de uma falcatruazinha na hora de vencer uma licitação. Não sei direito como lidar com essa gente, às vezes ao conversar com alguém assim parece que não falamos a mesma língua.
Fora da classe média também existem "caixas", que podem ser até transparentes (para um pobre pode ser mais fácil de ver o que está fora, afinal nossa 'zona de conforto' não é tão confortável assim) mas que mesmo assim pode ser difícil alguém sair de uma. Conheço muita gente que ganha pouco e que viu sua situação melhorar no governo Lula, mas vota no Serra porque a Dilma é mulher, ou porque ela "parece lésbica", ou porque "o pastor disse..." (muitas vezes a caixa onde o pobre está chama-se igreja).
Lola, parabéns!
Cheguei até aqui pelo link de um post do twitter. A beleza da sua iniciativa, com esse texto, foi abrir a tampa da caixa para muitos. Até hoje, com os meus 51 anos, sinto tolhida a minha liberdade de expressão qdo assunto é progressista, petista ou libertário. Parabéns e continue, com os seus textos, ajudando seus leitores a sairem de suas caixas.
Tenho pensado muito ultimamente nesse lance da responsabilidade, sabem?
Sou também filha de classe média, por sorte minha família sempre foi de esquerda, mas fico pensando nisso de dizer que a classe média é fruto de um contexto histórico e etc meio que livra as pessoas da responsabilidade por suas próprias escolhas.
Sim, há história, e contexto, e etc. Mas vivemos numa sociedade supostamente livre, as pessoas podem optar por esse ou aquele caminho e são responsáveis por isso. Tem aí uma vontade que vai além do contexto.
Sou historiadora, e faço parte desse grupo que se esforça diariamente por reconhecer a agência de sujeitos históricos que foram explorados e violentados por regimes talvez muito mais cruéis do que a nossa sociedade do século XXI. Acho que faz sentido reconhecer também a nossa agência e de nossos contemporâneos.
Bom é saber que algumas pessoas, como a autora do texto, em algum momento, através de alguma experiência ou uma reflexão mais aprofundada, tem um "click" e começam a pensar de fora da caixinha, como ela mesma diz.
Parabéns pelo texto! Muito legal!
Agora, sobre minha família, a realidade é que não é nem um pouco politizada e vota sem pensar muito, por simpatia, por antipatia, por ouvir falar que fulano falou isso, enfim...
Dá um pouco de vergonha, mas tive que ouvir minha tia, mãe de dois professores universitários e ela mesma professora do ensino fundamental, mas aposentada, falar que não vota na Dilma porque ela é "sapatão" e que votou no Anastasia e no Aécio porque gosta de votar em homem bonito... E a gente espera que quem se envolve com educação seja um pouco mais consciente, mas nem sempre é o caso... Já falei algo assim com ela, mas ela nem aí e o pior é que ela ainda fala sorrindo, quase com orgulho, como se política fosse brincadeira e não assunto sério.
Desânimo que me dá nessas horas. Que moral tem pra reclamar depois, se tem condições de refletir, levar a sério, mas não leva?
Abçs Lola.
Oi, lolinha...
Acho que é um post bacana pq expõe o conflito de muitos jovens da classe média recente, pós governo Lula.
Eu lembro de uma pesquisa que dizia que os pais são os que menos influenciam a opinião dos filhos, e, olha, acho que é meio por aí. Minha historia é muito parecida com a da Paulecca, a diferença é que meus pais nunca foram assumidamente de direita, apenas conservadores. A postura de vida deles, oriundos de classes trabalhadoras, de tradição católica e etc, os leva a praticar atos de solidariedade, mas muito focados ainda na idéia de política assistencialista, eles não votam no Serra, mas optam por candidatos pouco conhecidos da mídia, que tem cara ou fachada de bonzinho, como Garotinho e Cristóvão Buarque. Aqui no meu estado a influencia coronelista e dos antigos movimentos integralistas pintaram um retrato negativo dos `comunistas`, por anos ouvi meus pais se referirem a Lula como agitar e grevista – hoje meu pai é um entusiasta do governo Lula, minha mãe, mesmo tendo trabalhado em pastorais na juventude e tido muitos amigos presos, torturados e assassinados pela ditadura, não admite os `vestígios` comunistas do Lula – e ela não associa isto a políticas, apenas acha que ele é baderneiro, mal educado, preguiçoso, acredita no JN e na Veja... Ela é muito ignorante politicamente, se posiciona com preconceito e se nega a discutir – eu bem que tento. Eu tive muita influência de uma tia petista, em 89, tinha onze anos e fiz boca de urna, participei de passeatas, ia a reuniões e ganhei minha primeira estrela do PT. Mas era iniciativa minha, eu pedia para ir. Acho que o fato de ter estudado em escola pública teve grande peso, o fato de vir de uma família classe média remediada, mas ter avós paternos comerciantes e analfabetos e uma avó materna professora, também. Eu sempre fui de esquerda e feminista pq cedo caiu a minha ficha, em função de circunstancias de vida, talvez, meus pais nunca se opuseram nem me proibiram de fazer nada, apenas discordavam. Hoje acho que ambos são mais sensíveis a questões das minorias em função de meu trabalho, minha mãe é contra a legalização do aborto, mas admite o fato de que ele é um problema de saúde publica. Enfim, acho que estamos avançando - a passos lentos, mas estamos - na transformação de corações e mentes. E a eleição de Dilma certamente irá contribuir com este processo. Beijo!
Sei MUITO bem o que é isso.
Minha família é toda PSDB/DEM, imaginem como fico tendo idéias totalmente contrárias a tudo que sempre aprendi como certo.
Infelizmente cheguei tarde pra comentar, mas queria agradecer os comentários e a vc, Lola, por ter publicado meu texto! E só uma correção muito atrasada: quando digo que votei no Serra em 2002, na verdade me refiro a 2006! Em 2002 eu ainda tinha 12 anos hahah. É que em 2002 eu já defendia também PSDB.
Enfim, obrigada mais uma vez, e adorei ver como tanta gente passa ou passou pelo mesmo que eu.
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