TOMEI POSSE E QUASE DEI AUTÓGRAFOS

Isso foi anteontem, mas ando tão, mas tão sem tempo que não deu nem pra escrever antes. Pois é, a posse foi quarta à tarde. Creio que 77 novos professores foram empossados, e eu fui uma delas, iêêê! Antes de ir pro auditório, todos nós fomos ouvir uma rápida palestra do pessoal do RH, e assinar uns papéis. Assim que me sentei, uma moça muito simpática me disse: “Você é a Lola, né? Sou sua fã! Reconheci você pela fotinho do seu blog”. Ah, que amor! O nome dela é Hilma, ela é da Paraíba, seu marido já é professor na UFC, e ela estava entrando na área de Engenharia. Depois fomos ao auditório. Conversei bastante com eles e também com o Michel, meu colega de concurso e agora de faculdade. Descobri que ele, como eu, passou por outras reencarnações antes de virar professor. No caso dele, ele até teve um restaurante self-service em Brasília. O Michel é tão velhinho quanto eu, e a gente contrastava bastante com o resto do pessoal, gente muito jovem mesmo. Li em algum lugar que um doutor brasileiro em universidade federal tem, em média, apenas 36 anos de idade. A turma lá não deixava a estatística mentir. O maridão e minha mãe chegaram pouco depois, e teve uma hora em que o maridão cochichou pra mim sobre um rapaz que foi chamado: “Esse aí enganou todo mundo”. O menino não parecia ter idade de prestar vestibular, quanto mais de ser professor!

A posse foi tranquila e bastante rápida. Eles vão chamando um por um, e a gente sobe ao palco, aperta a mão do reitor, ouve “Parabéns”, assina um documento, e recebe uma cópia do edital e do regimento (se é isso que se chama). Depois, o reitor fez um excelente discurso, em que falou sobre como é importante democratizar o acesso à universidade pública. Ele contou que, cinco anos atrás, com falta de verbas, não podia nem repor um professor que se aposentava. E que eles fizeram um projeto junto ao governo federal e abriram três novos campi, todos no interior do Ceará, um em Sobral, outro em Cariri, outro em Quixadá. E como isso era importante porque os jovens não precisavam deixar suas cidades e migrar para a capital para poder estudar numa instituição de qualidade. A maior parte dos professores empossados era mesmo praqueles campi. E como eles aumentaram o número de vagas por ano de 4400 para 6000. E como agora a UFC fazia parte do Enem. Enfim, ele frisou bem que somos servidores da educação, e que participamos dessa democratização do ensino superior. Ainda falta muito pra avançar, já que apenas 13% dos brasileiros entre 18 e 24 anos estão na faculdade e, desses, só um terço cursa universidade pública. Mas não há dúvida que o governo Lula tem feito um ótimo trabalho pra melhorar o quadro. Pra quem não acredita, sugiro perguntar a quem estudou em universidade pública durante os anos FHC. Ou, pior: quem se formou mestre ou doutor nos anos 90, e ficou esperando (sentado) um concurso.
Depois do discurso a cerimônia acabou e fomos embora (andando pra casa, claro: um luxo só!). Mas, como o aluno pra quem o maridão daria aula particular naquela noite cancelou (pois é, o maridão já tá com três alunos particulares, e não tem um mês que ele chegou), eu quis ir até uma padaria. A gente vai sempre à Romana, que fica no bairro de Fátima. Costumamos ir andando. Olhei no Google e vi que dá 2,2 km de onde moramos, só de ida, e mais 2,2 km de volta. Ok, não é perto, mas também não é loooonge. Só que o pessoal acha impressionante que a gente vá andando, e ainda considera um trajeto perigoso pra ser percorrido à noite. Ah, sei não... Detesto receber esses baldes de água fria. Muitos carinhas vão jogar xadrez na Romana, e a gente ainda aproveita pra comer. Não é barato, mas é bom. Resumindo, chegando lá depois da posse, não vi ninguém jogando. Em compensação, um rapaz lindo, de cabelos encaracolados pretos, olhava intensamente na nossa direção. E sabe quando você se vira pra trás pra ver se a pessoa tá olhando pra você mesmo, ou se tá olhando pra alguém atrás de você? Mas era definitivamente pra gente. Aliás, minto: pra mim! Ahn, eu adoria me gabar e dizer que acontece todo dia de um belo jovem me encarar sorrindo, mas acho que você não acreditaria. Aí ele pergunta: “Você é a Lola, né? Deixei um comentário no seu blog”. Ele, o Carlos, também havia sido empossado na mesma cerimônia. E é mais um da turma de Engenharia... Eu tinha achado o rosto familiar, mas sou péssima pra rostos (e nomes); pensei que de repente pudesse ser alguém do xadrez. Aí vem uma moça, linda também, ambos com idade pra serem meus tataranetos, e passa a conversar com a gente. O casal havia ido à Romana comemorar a posse com os pais (que eu não olhei direito, mas não duvido que são mais jovens que nós). Não lembro direito o que conversamos; sei que o maridão os convidou pra participar do bolão do Oscar. Acho que perdi a concentração uma hora olhando pro buffet.
Aí o que recebo ontem de manhã? Um email da Aline, essa garota fofa parceira do Carlos (o de cabelos encaracolados - vou ser respeituosa). Ela não só escreveu um post sobre o nosso encontro, como também mandou as fotos que havia tirado quando eu subi ao palco, durante a posse! (ainda bem, porque o maridão, mais uma vez, levou uma máquina sem pilha e não tirou foto alguma). Ah, é tão meigo ver essas pobres almas perdidas se comportando perto de mim como eu me comporto diante do Chico Buarque (eu pra ele: “Tudo o que sou hoje eu devo a você!”. Ele, no autógrafo: “Lola, eu te amo”)! Não, sério, é gostoso ter fãs, não vou negar. E não é por nada não, mas todos os meus fãs que conheci até hoje são lindos e inteligentes. Juro mesmo. Acho engraçado também que eles acreditem que eu esteja acostumada a ser reconhecida na rua e abordada por tietes todos os dias da minha vida. Como se eu tivesse que sair de casa usando óculos escuros e peruca pra disfarçar! Como se tivessem que formar um cordão de isolamento ao meu redor!
Mas tá vendo o que eu quero dizer sobre não ter medo de me expor? O que acontece mais, um belo rapaz de cabelos encaracolados me abrir um sorriso e começar um papo comigo, ou um troll jogar ovo podre em mim? A segunda opção nunca ocorreu. Quem não gosta de mim e me reconhece não vai vir falar comigo, simples assim. Não tenho mais por que responder à pergunta “Você que é a Lola?” com um “Depende...”.
Só posso encerrar dizendo “Obrigada, Brasil!”. E da próxima vez, nada de timidez: peça o meu autógrafo.