A agência de casamento (leia a primeira parte antes) durou dois anos e, durante o primeiro ano, pelo menos, tudo funcionou muito bem. Pela carta que enviei aos associados (ao lado; clique pra aumentar), posso ver que havia 40 inscritos em apenas dois meses. Na realidade, isso de agência casamenteira só funciona bem se tiver muita gente nova entrando todo mês. Se não, você fica com um cadastro parado, e as pessoas que ainda não conheceram a “alma gêmea” começam a reclamar. Tive uns 200 clientes, praticamente todos de classe média. Acho que “formei” uns três casais. Aliás, quem fez tudo foram eles, eu só apresentei. E eu digo “acho que formei” porque a vergonha do pessoal era enorme. Pra eles era um ato de extremo desespero procurar uma agência de casamento; logo, se houve casamento, eu não fui convidada (e, pra ser franca, não fazia nenhuma questão).
As agências já eram comuns nos EUA e na Europa e, com a internet, o negócio estourou. Hoje é super banal que americanos se conheçam através de dating services na internet. É apenas mais um meio de conhecer pessoas, e acho que o preconceito de “gente desesperada” não procede. Meus clientes, em sua maioria, eram absolutamente "normais", bonitos, sociáveis, gente boa. Posso contar nos dedos de uma mão os carentes que insistiam em me ligar a qualquer hora do dia e da noite. Quer dizer, não lembro de ninguém, putz. Havia um senhor simpático que tinha uma fábrica de papel. Lembro dele porque ele me trazia bloquinhos de anotações de presente (e esse era da turma dos ricos, não da classe média. Mas rico no Brasil é que nem o pessoal de direita: ninguém se assume!).
As agências já eram comuns nos EUA e na Europa e, com a internet, o negócio estourou. Hoje é super banal que americanos se conheçam através de dating services na internet. É apenas mais um meio de conhecer pessoas, e acho que o preconceito de “gente desesperada” não procede. Meus clientes, em sua maioria, eram absolutamente "normais", bonitos, sociáveis, gente boa. Posso contar nos dedos de uma mão os carentes que insistiam em me ligar a qualquer hora do dia e da noite. Quer dizer, não lembro de ninguém, putz. Havia um senhor simpático que tinha uma fábrica de papel. Lembro dele porque ele me trazia bloquinhos de anotações de presente (e esse era da turma dos ricos, não da classe média. Mas rico no Brasil é que nem o pessoal de direita: ninguém se assume!).
Claro, nem tudo era perfeito. Todas as agências de casamento tinham (imagino que tem até hoje) mais mulheres que homens em sua clientela. Não era tão desproporcional, coisa de 60% mulheres, 40% homens. O problema, lógico, é a idade. Pra mulher de 18 a 30 anos, não faltava gente pra apresentar. Homem de 20 topa conhecer mulher de 25. Homem de 30 topa conhecer mulher de 25, e, bom, homem de 40, 50 e 70 também (aí a moça é que não topa). Pruma mulher de 40 era muito mais difícil. E depois dos 50, então, era quase impossível. Eu ficava indignada com aquela situação, porque tinha várias clientes belas e independentes com mais de 50 anos, com muita vontade de começar um novo amor, e não havia homens que quisessem conhecê-las. E não tinha nada que eu pudesse fazer, fora discursos inflamados. Lembro que uma mulher pediu: “Então me apresenta mulher mesmo”, não pra fins afetivos ou sexuais, mas pra amizade. Foi o que fiz, e três delas passaram a se reunir pra jogar cartas, conversar e viajar. Uma ou duas vezes organizei um churrasco aqui em casa pros clientes, e foi muito bom. Vários vieram.
O lado ruim é que todos os estereótipos estúpidos da sociedade são repetidos na agência, como se ela fosse um microcosmo. Às vezes eu recebia um telefonema de um cara dizendo “Quero uma loira, alta, magra”, e eu tinha que me conter pra não responder “Peraí que vou ver se tenho uma na estante”. Já entre as mulheres, havia as que diziam “Se ele não tiver carro, nem me apresenta”, o que eu considerava um absurdo (e às vezes eu falava: "Tá, o sujeito tem carro agora. Mas e se o carro quebrar, você termina o relacionamento?"). Estranhamente, essa exigência do carro só vinha de mulheres mais velhas. As de vinte e poucos não faziam nenhuma questão, mas as senhoras tinham medo de homens aproveitadores, que só se interessassem pelo seu dinheiro. Já entre os senhores, não havia essa preocupação. Ou seja, aquela dicotomia ridícula: aparência e juventude são fundamentais pras mulheres; pros homens, uma boa posição econômica.
Com o tempo, eu fui me cansando de tudo isso. A procura pela agência diminuiu, a renda caiu, e percebi que estava na hora de voltar a trabalhar fora de casa. Vi um anúncio no jornal procurando um redator publicitário e mandei meu currículo. Não fui chamada, mas isso só aumentou minha vontade de voltar ao mercado de trabalho. Decidi, então, aproveitar a minha fluência no inglês e dar algumas aulas. Visitei várias escolas de idiomas, e fiquei espantada com uma que pagava R$ 2,16 a hora (respondi que, por esse valor, eu nem saía de casa). Inicialmente, eu pensava em continuar com a agência de casamento e só dar aulas de inglês à noite numa escola de idiomas, como um bico. Mas rapidamente descobri que, se eu quisesse ser boa professora, precisava estudar e correr atrás do prejuízo (minha única qualificação era que meu inglês era bom, mais nada). E foi isso que aconteceu. Pouco depois vi que o inglês tomava um tempão e dava mais dinheiro do que eu ganhava com a agência, e fechei a Hearts Club. Comuniquei os clientes, todos foram bem compreensivos. Até tentei vender o cadastro pra uma outra agência, pra ver se meus clientes poderiam continuar conhecendo pessoas, mas não deu certo. E pronto, fim. Quero dizer, meu contador fez besteira, não fechou a agência direito, e a Receita Federal me mandou uns avisos. Só dei baixa (definitivamente, espero) agora, doze anos depois.
A agência foi uma experiência interessante. Às vezes olho pra esses dois anos com um ar de desperdício (por que não cursei uma faculdade durante esse tempo?); às vezes sinto que foi uma fase mais calma e caseira pela qual precisava passar. Fiz um trabalho honesto e dedicado, o melhor que eu pude. E aprendi muitas coisas. A principal foi que não devemos impor os nossos gostos como se fossem valores absolutos. Lembro de uma vez em que uma senhora veio ao escri. Conversamos bastante e, por algum motivo, ela acabou não se inscrevendo. Eu pensei cá com meus botões: Ufa, ainda bem, porque ela é feia e eu nunca iria encontrar um cara que se interessasse por ela (naquela época eu era muito mais escrava dos padrões de beleza do que hoje). Aí, por coincidência, porque isso era raríssimo de acontecer, quando ela estava saindo, um senhor entrou na agência. Os dois se cruzaram e eu percebi as faíscas, sabe? Foi uma das maiores paqueras explícitas que já vi! E a primeira pergunta que o homem me fez, todo entusiasmado, quando ficou sozinho comigo: “Aquela galega tá na agência?”.
Foi bom enquanto durou.
O lado ruim é que todos os estereótipos estúpidos da sociedade são repetidos na agência, como se ela fosse um microcosmo. Às vezes eu recebia um telefonema de um cara dizendo “Quero uma loira, alta, magra”, e eu tinha que me conter pra não responder “Peraí que vou ver se tenho uma na estante”. Já entre as mulheres, havia as que diziam “Se ele não tiver carro, nem me apresenta”, o que eu considerava um absurdo (e às vezes eu falava: "Tá, o sujeito tem carro agora. Mas e se o carro quebrar, você termina o relacionamento?"). Estranhamente, essa exigência do carro só vinha de mulheres mais velhas. As de vinte e poucos não faziam nenhuma questão, mas as senhoras tinham medo de homens aproveitadores, que só se interessassem pelo seu dinheiro. Já entre os senhores, não havia essa preocupação. Ou seja, aquela dicotomia ridícula: aparência e juventude são fundamentais pras mulheres; pros homens, uma boa posição econômica.
Com o tempo, eu fui me cansando de tudo isso. A procura pela agência diminuiu, a renda caiu, e percebi que estava na hora de voltar a trabalhar fora de casa. Vi um anúncio no jornal procurando um redator publicitário e mandei meu currículo. Não fui chamada, mas isso só aumentou minha vontade de voltar ao mercado de trabalho. Decidi, então, aproveitar a minha fluência no inglês e dar algumas aulas. Visitei várias escolas de idiomas, e fiquei espantada com uma que pagava R$ 2,16 a hora (respondi que, por esse valor, eu nem saía de casa). Inicialmente, eu pensava em continuar com a agência de casamento e só dar aulas de inglês à noite numa escola de idiomas, como um bico. Mas rapidamente descobri que, se eu quisesse ser boa professora, precisava estudar e correr atrás do prejuízo (minha única qualificação era que meu inglês era bom, mais nada). E foi isso que aconteceu. Pouco depois vi que o inglês tomava um tempão e dava mais dinheiro do que eu ganhava com a agência, e fechei a Hearts Club. Comuniquei os clientes, todos foram bem compreensivos. Até tentei vender o cadastro pra uma outra agência, pra ver se meus clientes poderiam continuar conhecendo pessoas, mas não deu certo. E pronto, fim. Quero dizer, meu contador fez besteira, não fechou a agência direito, e a Receita Federal me mandou uns avisos. Só dei baixa (definitivamente, espero) agora, doze anos depois.
A agência foi uma experiência interessante. Às vezes olho pra esses dois anos com um ar de desperdício (por que não cursei uma faculdade durante esse tempo?); às vezes sinto que foi uma fase mais calma e caseira pela qual precisava passar. Fiz um trabalho honesto e dedicado, o melhor que eu pude. E aprendi muitas coisas. A principal foi que não devemos impor os nossos gostos como se fossem valores absolutos. Lembro de uma vez em que uma senhora veio ao escri. Conversamos bastante e, por algum motivo, ela acabou não se inscrevendo. Eu pensei cá com meus botões: Ufa, ainda bem, porque ela é feia e eu nunca iria encontrar um cara que se interessasse por ela (naquela época eu era muito mais escrava dos padrões de beleza do que hoje). Aí, por coincidência, porque isso era raríssimo de acontecer, quando ela estava saindo, um senhor entrou na agência. Os dois se cruzaram e eu percebi as faíscas, sabe? Foi uma das maiores paqueras explícitas que já vi! E a primeira pergunta que o homem me fez, todo entusiasmado, quando ficou sozinho comigo: “Aquela galega tá na agência?”.
Foi bom enquanto durou.
13 comentários:
Corta jaca profissional :D
Resultado disso é que Lola agora está em Fortaleza, professora universitária federal...
E vc nunca mais soube se esse casal que se esbarrou na porta da agencia se reviu e tal?
HEHEHEHE Lolinha de cupido não dá...
Aaaaaaaaaaaaah, que romantico vc dando uma de cupido! Eu sou pessima cupido. Respeito quem tem o dom. Bjs e volte logo.
gente, que demais esse final!!! ahahhaha
bom, sei que teve gente q não gostou de eu ter falado q agência é coisa de desesperado, mas, se isso melhora alguma coisa, gostaria de especificar q meu conceito de relacionamento inclui na categoria "desespero" qualquer tentativa de flerte com desconhecidos (barzinhos, baladas, etc). e sim, sei que é um conceito muito particular...
na MINHA visão, as pessoas deviam se abrir para companhias em geral, não para relacionamentos afetivos, exclusivamente (incluindo aqui namoro, casamento, sexo casual, etc). assim, uma hora ou outra vc vai encontrar alguem q combine com vc e te satisfaça. oq eu vejo por aí é gente numa procura incansável pelo happy end, seja esse end uma noite de sexo e nada mais, ou a cena da noiva saindo da igreja sob a chuva de arroz. ninguém tá preocupado em encontrar uma pessoa com os mesmos princípios, mesma linha de pensamento, enfim, uma boa companhia, pq isso dá muito trabalho. aí acabam ficando com alguém porque é bonitinho, simpático e tb queria algo sério. e aí essa onda de relacionamentos-relâmpago q agente vê por aí.
Oi Lola! =)
Que engraçado fazer isso, leio você há algum tempo já, mas é a primeira vez que comento. É engraçado pois me sinto sua conhecida, dá uma vontade de escrever: "Oi Lola querida, tudo bem?". Enfim.
Adoro seu blog, obrigada por escrevê-lo!! Eu não sabia realmente o que era feminismo até achar você! rs
Bom, agora o comentário sobre o post, ou melhor, sobre outro comentário, da L. Archilla. Concordo muito com o que ela disse, essa coisa de desespero pra casar, e também, desespero que algumas pessoas tem pra casar as outras! Cupido é uma gracinha, acho válido, mas tem gente que quer casar o mundo!
Comigo acontece bastante, as pessoas ficam incrédulas quando eu afirmo que "casamento? tô fora". Da última vez, um conhecido me desejou duas coisas: um ótimo emprego e um ótimo marido. Depois, completou: "Melhor, desejo um ótimo marido, que te sustente, ai você larga o emprego". haha,só rindo!
Eu respondi que preferia o ótimo emprego, e ele mandou: "Mas você seria orgulhosa ao ponto de não largar o emprego se ele te sustentasse??".
Hmm, há pessoas que largam, mas nem todas são obrigadas, né?
Beijos Lola! Espero comentar mais e mais daqui pra frente.
Lola,olha a materia interessantissima que achei:
http://www.istoe.com.br/reportagens/58820_A+IGREJA+ENFRENTA+SEUS+DEMONIOS+PARTE+1?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage
A igreja quer voltar com o costume dos exorcismos,como na era medieval,acho isso o cumulo.E vc,o que acha?
Olá, Lolíssima.
Que experiência maravilhosa!!
Num ficou uma curiosidade, pra saber algo sobre esse casal? Acho que o bom da vida é isso, ter opinião, opinião porque já passou por ela e nunca porque “está supondo”
É ter histórias pra contar. Valeu Lolinha.
Bom final de semana, bjs, aproveita pra conhecer um pouco mais da sua nova terra e fazer uns post.
Nessas de Lola casamenteira lembrei duma coisa. Já comentei contigo que conheci um namorado (hoje Ex-) através de um site de relacionamento? Enfim... é uma maneira bacana de encontrar alguém. As vezes dá certo, as vezes não dá, ou pode dar certo por um tempo como no meu caso. De qualquer forma vale a pena. É bem mais fácil do que sair por aí perguntando: você gosta de cinema? filme romântico ou de ação? você pratica esporte? e no final de semana? o que costuma fazer? etc etc.
Nesses sites de relacionamento tá tudo lá. O que você "diz que" é, e o que a outra pessoa "diz que" é. Eles cruzam os dados, assim como você fazia manualmente e te mostram os interessados e interessantes ehehhehe
Tô sentindo falta dos posts diários! A vida não deve estar fácil por aí, né?
Um abração!
Andrea
http://segredosdaborboletadomar.blogspot.com/
Lolinha to com a maior saudade de ler seu blog direito!
ando entrando sempre correndo e ai selecionando os posts que consigo ler!
esse aqui ja me fez morrer de vontade de ver o filme! eu adoro o ator e nao vi esse filme que vc diz que e o melhor dele!
mas claro, ainda bem, que nao vou precisar ver na globo! hehe... vou tentar uma locadora sueca e ai te digo o que achei tambem!
ah... locadora sueca e muito chata perto das nossas... elas sao grandes, mas a maior parte e para vender... alugar tem menos e e caro... o filme as vezes custa o dobro apenas do aluguel.
e Fortaleza? se bem que com a frequencia que vc vai ao cinema nao precisa de locadora ne? isso e problema para as maes!
beijos
Lola! acabei de ler a tua historia da agencia de casamento.AMEI, achei vc corajosa, moderna, ousada até para época....legal. Coincidencia ou não, eu estou inaugurando a minha agencia de namoro e casamento esta semana em CURITIBA-PR; chama-se "AGENCIA CUPIDO". Fone (41) 9959-0000 (Tipo a tua das antigas pra casar)
Gostaria de saber que ano vc saiu de Joinville e onde reside atualmente.Daqui pra frente vou acompanhar seu Blog.....um abraço da "Cupido"....
Anônimo, boa sorte com a agência Cupido! Certas cidades mais fechadas, como Curitiba e Joinville, parecem ideais para agência de casamento, né? Afinal, é mais difícil conhecer gente, fazer amizades, encontrar um grande amor, em lugares onde (aparentemente) há menos interação.
Eu saí de Joinville este ano! Uau, hoje faz exatamente dois meses. Estou morando agora em Fortaleza. Mantenha-nos informada sobre a Cupido, viu?
ah! vc nunca descobriu se 'aquela galega' e o tal cara deram certo? achei bem bacana a amizade que nasceu entre algumas das mulheres no grupo das caça-marido e acho muito válido sim buscar marido via uma agência de casamentos, oras a gente procura emprego via uma agência de empregos e faz amizade virtual em sala de bate-papo ou via blog. enfim, achei sua experiência supimpa! e o grande aprendizado que vc citou sobre não impormos nossos gostos ou algo assim. muito legal vc relatar essa parte do seu passado tão presente.
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