sexta-feira, 24 de julho de 2009

EU TE DESACATO, AUTORIDADE

E sobre isso de desacato à autoridade, acho o maior absurdo. Se não estivéssemos falando de um país democrático como os EUA, que nunca passou por um regime de exceção, eu diria que é bem isso, resquício da ditadura. Mas o princípio é parecido: pra que haja desacato à autoridade, é preciso que haja uma autoridade. Que não possa ser questionada, ou sequer criticada. Sou totalmente contra isso. Quero que essas hierarquias se explodam.
Uma amiga minha certa vez foi presa por desacato à autoridade também, assim como o professor universitário de Harvard. O que aconteceu? Ela foi pegar alguém que ela gosta muito no aeroporto de Floripa. O voo atrasou, a pessoa não deu notícias, e minha amiga meio que entrou em pânico. Ficou muito nervosa. Agora, vejamos: se você é policial e está perto de uma pessoa nervosa que não é uma marginal, nem está cometendo nenhum crime, o que você faz? Tenta acalmar a pessoa, tranquilizá-la, quiçá ajudá-la, ou a prende por desacato à autoridade? Sinceramente, acho que tem que ser um policial muito ruim (tanto aqui quanto nos EUA), que desconhece o valor do seu trabalho, pra simplesmente algemar o cidadão. Posso estar enganada, mas pra mim polícia é prestadora de serviço. E seu serviço não é apenas correr atrás de marginais e prendê-los. É, inclusive, impedir que um crime aconteça, com trabalhos preventivos, de conscientização, e também trazer paz às pessoas. Criar um ambiente seguro pra todo mundo. Todo mundo quer dizer até alguém que está nervoso e precisa de ajuda naquele momento. Quer dizer, imagino que um policial, como profissional que é, tenha recebido treinamento pra saber lidar com pessoas nervosas. Que benefício há em prender a pessoa nervosa? Nenhum. Alguém vai ter que levar essa pessoa à delegacia, será aberto um novo processo, que mais uma vez sobrecarregará o sistema judiciário. Acho que essa atitude de prender é só pra restaurar a ordem mesmo. Mas não a ordem do local - porque, tanto no caso do professor de Harvard, preso em sua casa, quanto no caso da minha amiga, presa no aeroporto, eles não estavam pondo em risco a vida de ninguém. “Restaurar a ordem”, nessa ocasião, parece ser colocar as pessoas nervosas no seu devido lugar, de subalternas. Isso é de um autoritarismo insano. Não é o tipo de polícia que eu quero, não.

20 comentários:

Maria Garcia disse...

Gostei muito desse blog! Vou continuar lendo. Até no post de HP (que igual a você, eu sou leiga quanto a esse assunto) me cativou. Beijos

Bruno S disse...

Acho que comentei algo do gênero no último post.

A figura do desacato acaba gerando espaço para a produção de arbitrariedades.

Lord Anderson disse...

Lola, se importa se eu estender um pouco o assunto?


Concordo com o repudio ao abuso de autoridade, e quanto a má formação de nossos policiais, mas não levou muita fé nesse papo de "exploda a autoridade".

Todo grupo social tem suas regras , suas dilimitações, suas normas, e suas "punições" p/ quem as desrespeita.

Temos de discutir que regras queremos, e que tipo de guardiões desejamos, mas ter ojeriza ao conceito de lei e ordem só pq é de "direita" , é "fascista", etc, me parece mais utopico do que pratico.

Só peço que não encare isso como uma critica direta ao que vc escreveu, é mais um comentario a respeito de varias opiniões que vejo na web.

Mari Biddle disse...

Lola, uma vez mandei uma cartinha para o Cantinho do Leitor do jornal O Popular desabafando sobre o tipo de policia que eu queria para o Estado de Goias. E la eu afirmava que a policia burra, violenta, mal paga e truculenta como a tal tropa de choque de nome ROTAM nao era digna de trabalhar para mim, cidada que pagava impostos etc e tals e bla...bem, quando os policias que leram a cartinha se tocaram de que eles eram pagos para proteger o cidadao (insira aqui a ironia) numa especie de trabalho & beneficios & remuneracao etc, eles nao gostaram nem um pouquinho. Na epoca a ROTAM matava insdicriminadamente bandidos, suspeitos e pessoas que simplesmente nao tinha nada a ver com o crime...a nao ser por serem pobres, assalariados vivendo na Grande Goiania em seus barracos 'doados' pelos mutiroes do governo Iris Rezende.

Agora e' dar um control C neste seu texto bao demais e enviar para aquele meu primo, sabe?

Bjim

Drixz disse...

Isso é realmente revoltante. Meu marido tentou fazer o cadastro para ter o seu passe estudantil (um direito dele, afinal, é doutorando e bolsista). Pois bem, ele foi quatro vezes ao mesmo lugar porque toda vez que apresentava a documentação a recepcionista achava uma coisa errada ou faltando. Detalhe: ele havia levado exatamento o que o site da empresa mandava. Depois da quarta vez (e dos R$ 16,00 gastos) ele perdeu a paciência e pediu para a mulher fazer uma lista com as pendências para ele voltar só mais uma vez e resolver o problea. A mulher não quis. Ele perguntou porque? Ela disse que ele já sabia o que faltava, mas ele a lembrou q já era a quarta vez que ela mesma dizia isso e no entanto ele precisou voltar. Eu não me lembro dos detalhes, mas a mulher foi tão esquiva que ele pediu "me de uma lista de pendências e assine". A mulher ficou indignada. Ele começou a insistir e sabe o que ela fez, carimbou com um carimbo sem a menor validade e mostrou para ele uma plaquinha dizendo "Desacato ao servidor público no ato do exercício é crime. Art..."
Quer dizer, o servidor pode desacatar o público, mas o público não pode sequer obrigar que o servidor cumpra suas funções de forma satisfatória.

Ana Luiza disse...

Concordo. Também acho que seja um autoritarismo sem sentido. Acho, sim, necessário que haja um respeito pelas autoridades policiais, porém isso se chama abuso de poder!!! Como sempre Dona Lola vc me surpreende positivamente com seus textos maravilhosos! :)

Adília disse...

Claro que para nosso próprio benefício a autoridade tem de ser respeitada, mas o que na prática se verifica é que, como você diz, as autoridades (sobretudo nos escalões mais baixos) muitas vezes exorbitam e não entendem bem qual é o seu papel. Aqui há muitos anos, ainda no tempo do fascismo, em Portugal,uma amiga da minha mãe foi presa quando estava a ser testemunha num tribunal,porque, reclamando do modo como estava a ser atendida disse: Sr. Dr. Juiz nunca na minha vida fui tratada com tão pouca urbanidade. Ora estes vestígios de autoritarismo são difíceis de erradicar.

Felps disse...

Oi, Lola

Eu, de vez em quando, leio seu blog, assim como lia a sua coluna. Isso, no entanto, não me permite nem me inibe de ter feito aquele texto e aquela piadinha. Era uma informação sobre o meu curso que eu ajudei a divulgar, que o curso tinha sido cancelado. Era relevante para as poucas pessoas que leem o meu blog, na maioria, alunos do curso. A piadinha é mesmo exagerada e até de mal gosto. Peço desculpas, inclusive, pelo mal gosto, de dizer que "não confio". Entendo quando tu falas do marido no texto, mas isso não me impede de expor a minha opinião de que não acho o lugar adequado (a coluna).

Anônimo disse...

Lola o governo americano esteve envolvido em todos os golpes militares latinos americanos, se é uma coisa que gringo entende é de torturar, submeter, impor...e a isso eles chamam "levar democracia" a países que não há tem.

A polícia aqui é excessiva, humanamente despreparada e tem pessoal com desajustes mentais e morais e descriminatoria tanto qt outro país. Precisa de restruturação urgente, tmabém o sistema de saúde, gente eu acho q em tudo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

E o q faz os EUA continuar sendo o 1* país do mundo? a lei, a aplicação da lei!P q vc acha q as corporaç~so de advogados são tão ricas?

Infelizmente o prof cometeu o delito de desacato. Copiando o Anderson (desculpa, nem te conheço, oi! tudo bem?): "Todo grupo social tem suas regras , suas dilimitações, suas normas, e suas "punições" p/ quem as desrespeita."

Não se preocupe pq esse prof seguramente vai levar isso à juízo e talvez ganhar o caso (o q é super provável se for comprovado racismo) e encher a burra de dinheiro. Ladrão que roupa ladrão tem cem anos de perdão!

L. Archilla disse...

não precisaria nem existir autoridade se cada um soubesse seu espaço e respeitasse o próximo.eu sei, eu sei, é utopia. já trabalhei como autoridade (func. pública), mas nunca usei essa lei a meu favor - apesar de achar q merecia, muitas vezes. tô falando do cara q te chama de preguiçosa na cara dura pq vc não quis quebrar uma regra pra favorecê-lo, por exemplo. acontece q, muitas vezes, os próprios munícipes eram desrespeitados e não tinham lei nenhuma para recorrer. sacanagem. então eu me pergunto pra quê, sabe? eles são obrigados a me respeitar, mas o contrário não é verdadeiro! de que adianta?

Mari Biddle disse...

Lola, como vc descreveu o que anda acontecendo nos EUA a partir da sua cronica sobre o filme Tiros em Columbine, aqui a uma satanização da minoria negra por parte dos meios de comunicação como programas de tv like COPS. Essa satanização explica o que mais me deixa angustiada aqui- o vizinho branco ver um cara negro tentando abrir uma porta e chamando a polícia. O vizinho (os) fazem uma conexão simples - negro + casa nos suburbs = ladrão. Dentre todas as explicações que o filme do Moore deu a anomia que a sociedade estadunidense tá vivendo eu, compartilho a parte da Cultura do Medo difundida pelo governo daqui além da satanização da comunidade negra feita por really shows inclusive.

No conceito weberiano em que o Estado detém o uso legítimo da força, não cabe aí apelar e constatar que a polícia pode torturar primeiro e perguntar depois, por exemplo. Isso não dá o direito, néah..

Mari Biddle disse...

Complementando - não sou anarquista ou coisa que o valha então também levando para o lado da Sociologia, se não tivessemos 'um conjunto de regras' para vivermos em sociedade whatever, viveríamos no estado de natureza descrito hobbesiano.Seria todos contra todos e aí já teriamos implodido a muito tempo. Só tô considerando isso aí acima porquê lembrei do Hobbes quando li o coments do Anderson.

Bjim

manu d`eça disse...

polícia... ultimamente a gente sabe mais de casos onde eles mais atrapalham do que ajudam.

e nesses casos de abuso de autoridade, ainda acho que rola aquela coisinha medonha conhecida como "síndrome do pequeno poder" ... que é quando uma criatura usa o seu "poderzinho" até o limite, quando nem sempre precisa fazer isso, ou até mesmo ultrapassa o limite e é algo que tem muito mais relação com o um problema de ego ou autoestima do que propriamente com a outra pessoa com quem está lindando.

adoro teu blog!!!!
biejos.

Bárbara Reis disse...

affcu... revoltante! Ò_ó

Mirella Machado disse...

esse assunto é difícil... causa muita polêmica... mas que policiais que consideram qualquer coisa como desacato a autoridade devem ter mania de perseguição ou alguma coisa do tipo, policia tem que ter paciência e é como você falou de certa forma eles estão nos servindo.
Tenho um tio que é PM eu já vi muita mulher estressada gritar com ele quando ele trabalhava em um hospital público e nem por isso ele considerava desacato a autoridade eu relamente acho que o policial dos EUA estava errado afinal que pessoa no mundo iria gostar de que um policial entrasse em sua casa e dissesse que vc estava roubando algo de lá, outro policial é errado é o que prendeu sua amiga só pq a moça tava nervosa não um bom motivo para dar voz de prisão. E o pior é que erro da polica não vai só até prender uma pessoa por desacato a autoridade vai também em matar famílias inteiras,esconder os cropos e fingir que nada aconteceu, ajudar traficantes de drigas... mas isso com certeza já é outro assunto.
PARABÉNS,seus textos são ótimos

Felps disse...

Hahaha. É verdade, faz tempo. Mas por isso eu escrevi, no meu comentário, que "lia" a coluna. Foi exagero, sim, da minha parte, sobre o lance do marido. Foi mais uma espécie de "deixa eu atacar essa mulher aí que cancelou o curso". Foi uma postura bem tosca, na verdade. Enfim, divulgo, sim, a tua versão. Nos comentários mesmo uma amiga já havia me repreendido. Imagino, aliás, que o marido e os leitores gostem do personagem "maridão". Eu não gosto! (só pra não dar o braço a torcer :P)

Dê uma olhada na próxima postagem.

Um beijo

Anônimo disse...

Oi Lola!! Acho que devemos questionar mais o que é a autoridade, e a interpretação nas leis, pois como você acho que os alguns policiais são abusivos, e baseado em que principio ou norma, a liberdade de pensamento deve ser considerada desacato? Se não somos uma ameaça ao próximo, ao policial, a sociedade, sai dessa, abre uma skol!
beijo

Luis Henrique disse...

Oi Lola,

Seria ótimo que a polícia fosse apenas 'prestadora de serviços'. Mas o papel fundamental da polícia foi sempre o de aplicar a força para manter a estrutura (e hierarquia) social intacta.

Unknown disse...

A 4 anos atras fui presa pelo tal de desacato. Minha amiga deu uma ré e arranhou o carro de um sujeito, mas como não vimos fomos embora. Era noite e a policia veio na BR e abordou a gente com muita violência, mesmo apesar de nos conhecerem desde crianças e saber que se tratava de pessoas de bem. Eu fiquei irritada e falei com ele que aquilo era forma de abordar bandido, o cara me prendeu por desacato. Resultado: tive que pagar um salário mínimo como pena. Sinceramente, me desculpe quem achar que estou errada, mas na polícia se peneirar, sobra muito pouca coisa que presta.

Anônimo disse...

GEnte onde se lê descriminatório deveria ser discriminatório, ok?Xau