Ahn, e o que essa longa introdução tem a ver com “Leões”? É que “Leões” é sobre americanos metendo o bedelho no Afeganistão (e, por tabela, no Iraque). O filme não é muito bom (outro crítico o definiu como “Ibsen com helicópteros”), mas é instigante. Pelo menos traz uma certa discussão à tona (tudo que a Fox não quer). O problema é que várias cenas são cheias de falatório, entrecortadas com imagens de soldados em combate. Essas cenas de ação são um porre por mostrarem tudo que já conhecemos – o heroísmo e a honra das forças armadas, acentuado por aquela trilha sonora melequenta que tenta nos emocionar. Olha, sorry, mas se eu odeio guerras, não tenho como aplaudir exércitos. E um bom debate não faz um bom filme.
Há coisas atraentes em “Leões”, principalmente o elenco. O Tom Cruise faz o senador mais lindo e sexy da história do cinema. Eu até votaria nele, se ele não fosse um republicano asqueroso (refiro-me ao personagem, não ao Tom que, apesar de ser um louco da Cientologia, vota nos democratas). A Meryl Streep está ótima como sempre como a repórter que finalmente entende que ela faz parte do esquemão. Inclusive, recomendo este filme pra todas as faculdades de jornalismo, ainda mais se der pra pular todas as tramas paralelas que não sejam os diálogos entre a jornalista e o senador. E o Robert Redford prova que a vida não acaba aos 70. Ele não apenas dirige “Leões” como também interpreta um professor liberal. Como ator, ele hoje adota um visual meio embaraçado. Sério. Às vezes ele parece estar fora de foco. A gente continua admirando o cara porque ele fundou Sundance e é um ativista político. Também ajuda que ele tenha sido sex symbol de toda uma geração.
Mas “Leões” não se define. Assim como a gente fica sem saber o que o professor quer que seus alunos façam (lutem em guerras? Virem homens-bomba? Concorram ao Senado? Vão até a esquina comprar rosquinha pra ele?), o filme tenta atirar pra todos os lados. Todos os filmes de guerra daqui são muito light em criticar os ideais americanos, porque seu público-alvo é, dãã, o espectador americano. É um tal de “Não queremos ofender ninguém! Amamos nosso país! Viva o exército!”. E não adianta fingir ser pluralista, já que pra direita cristã Hollywood é um antro de perversão, todos os astros são gays liberais que vão arder no inferno, e qualquer filme que saia de lá falando do Iraque vai ser invariavelmente anti-americano.
P.S.: “Leões” faz várias referências ao império romano. Seria inteligente se isso revertesse a apatia americana, mas suspeito que uma boa parte do pessoal daqui ache que o império romano não acabou e que lá eles vestem togas.
P.S.2: O Michael Peña, que faz um aluno que se alista, precisa urgentemente fazer um filme em que ele NÃO esteja imobilizado correndo perigo em algum lugar escuro. Primeiro “As Torres Gêmeas”, agora o Afeganistão. Será que ele protagoniza “P2”, o thriller de uma vítima perseguida por um guarda noturno num estacionamento?
P.S.3: O Robert Redford já dirigiu coisas mais inspiradas, especialmente no que envolve ritmo e emoção. Tô falando de “Gente como a Gente”, até daquele filme com a Sonia Braga, “Rebelião em Milagro”, e de “Quiz Show”. De “Nada é para Sempre” e “Encantador de Cavalos” eu nunca fui grande fã. Mas me mato de chorar sempre que vejo “Gente”.
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