O Hugh Grant tá cheio de rugas e tal, mas continua um charme só. Alguns homens envelhecem mal, ficam com cara de tia velha, e lamento dizer que o Hugh é um deles. Como lembrou o maridão, “O Hugh é um adulto com envelhecimento precoce”. Mas ele (o Hugh, não o maridão) é tão querido e britânico que a gente perdoa. E a Drew Barrymore é uma simpatia. Juntos eles formam um casal (com quinze anos de diferença) sem nenhuma química sexual, mas que irradia fofura. Se fofura fosse tão contagiosa quanto radiação nuclear, estaríamos perdidos. O Hugh faz uma “relíquia” (nos EUA, onde eles são obcecados por vitoriosos e perdedores, “a has-been” é mais exato), alguém que fez sucesso no passado e agora ninguém mais se lembra dele. Sei como é. Por exemplo, se eu parasse de escrever, em dois meses ninguém mais me reconheceria na rua.
E a Drew faz uma regadora de plantas. Precisa ser muito rico e excêntrico pra contratar alguém pra regar suas plantas, não? Embora a personagem da Drew pareça ser meio fora da casinha às vezes, me conectei com ela, espiritualmente falando. É que eu poderia regar as plantas do Hugh a qualquer momento, e assim ele descobriria meus dotes musicais. Sou uma exímia compositora de canções para cachorrinhos. Um dos hit parades do meu cão é: “É super, é super, é super fofinho... Tem sempre um cachorrinho aqui, no meu caminho!”. Mas não sou limitada. Componho também pros meus gatos. Peguei a melodia do McDonald’s (aquela do “Dois hamburgers, alface...”) pra criar uma obra-prima: “Dois gatinhos, selvagens, lindos, fofos, especiais / Bons caçadores de hamsters e gerbelins / São os gatinhos / Gatinhos! Gatinhos!”.
Ahn, fugi do assunto. O problema é que ocorre um fenômeno incrível lá pelo meio do filme: a personagem da Drew muda completamente de personalidade! Ela é insegura, tá compondo pela primeira vez, e de repente será capaz de lutar pela sua arte até o fim. Que arte, cara pálida? O sujeito desesperado pra descolar um sucesso em vinte anos, e a Drew quer peitar uma diva? Isso me deixou nervosa. Mas é comédia romântica, sabe, então é óbvio que tudo vai dar certo. E o Hugh também muda de personalidade no final. Aí até vai, porque esses troços sempre tentam passar a mensagem que o amor é transformador e que é possível mudar um homem. Na vida real é diferente, amiga, e você vai precisar lembrar o maridão de abaixar a tampa da privada todo santo dia.
Mas adorei o videoclip do início, porque eu amava essas canções bobinhas dos anos 80, tipo ABBA (certa vez um aluno me disse que, se eu levasse alguma música do ABBA pra classe, ele largaria o curso no ato. Pô, esse pessoal não teve infância?). E gostei da irmã da Drew, principalmente de como ela trata o marido. É assim que homem deve ser tratado: “Só faça o que te mandei. Não reclama. Você sabe que eu estou certa. Estou sempre certa. Agora FAÇA”. E gostei também das mensagens no fim: uma estrela se casa, sua cerimônia de casamento dura 9 horas, e seu casamento, três. Um sujeito causa comoção mundial ao afirmar que a banda dele foi maior que os Beatles, e depois se desculpa, inventando o que quis dizer por “maior” – que o grupo tem 5 membros, e os Beatles eram 4. Ou a mensagem final que o casalzinho só possui plantas de plástico no apê. Hmm... Isso me lembrou de uma comunidade no orkut, “Odeio flor de plástico” (como disse um amigo meu, às vezes falta assunto nos fóruns). Eu podia incluir um item: “Odeio flor de plástico e abajur de néon”. É que uma vez o maridão me deu um abajur de néon cafonérrimo, que devia estar em liquidação. Eu joguei na cabeça dele e disse que esse troço kitsch jamais entraria em casa. Então ele presenteou a mãe dele com um fantástico abajur de néon, porque mãe é mãe... e a mãe dele também recusou! Mas não jogou na cabeça dele.
Opa, me desviei da história de novo. Pra você ver os truques que a memória prega. Enfim, “Letra” mostra que não apenas é possível compor uma canção em cinco dias, como em uma só noite (e logo por quem nunca compôs nada de bom). Última reminiscência: sabe o maior sucesso dos Beatles, “Yesterday”? Tá certo que o Paul acordou com a melodia na cabeça. Mas a primeira letra que ele colocou foi “Ovos mexidos... Ó baby como amo suas pernas” (eggs e legs rimam no original). Aposto como ele teve que trabalhar um tiquinho antes de chegar à letra final. Mas ele não era um gênio em compor letras como a Drew e eu.
Um comentário:
HAHA, adorei o post, eu amo "Letra e Música", também não tenho tido a menor paciência pra comédias românticas e seus clichês sobre mulheres e o que as fazem felizes, mas Letra e Música é um dos meus filmes favoritos of all time. O clipe anos 80 do grupo PoP! é imapagável! Amo cantar a música, amo ver fazer a coreografia, enfim huahauah É sensacional! (Recomendo que coloquem a música Pop Goes My Heart nos seus ipods, mp3, e afins e ouçam no caminho do trabalho ou da faculdade, é garantir o bom humor pra começar o dia) A personagem da Drew é ótima, como quese todos os personagens que ela faz, e sim, a irmã dela também é o máximo, ri muito com ela. O filme tem várias referências da música e do mundo pop, e pra quem ama, não tem como resistir, eu adoro.
PS.: Também amo dançar Budda Delight, mas ainda não tentei me arriscar como compositora, depois desse seu depoimento Lolita, decidi que preciso começar.
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