quarta-feira, 29 de novembro de 2006

CRÍTICA: ROCKY BALBOA / Peso velhinho

Apesar de eu odiar boxe e não nutrir o mínimo afeto pelo Stallone, um monte de gente (duas pessoas) me avisou que eu não deveria perder “Rocky Balboa”. Então lá fui eu, e devo admitir que o filme não é ruim. Pelo menos não tem vilões e é docinho. Além do mais, a série toda tem UM forte apelo às mulheres: o lado fiel do Rocky. O peso velhinho não leva mais nada abaixo da cintura desde que a esposa morreu. Não trai a mulher amada nem depois de morta. “Ela morreu mas não morreu”, ele explica a uma pretendente, e mantém fotos da falecida no carro e no restaurante, como se fosse um memorial. Comuniquei ao maridão que a partir de hoje ele também andará com fotos minhas no carro (não precisa ser no pára brisa da frente, mas tem de ser em algum lugar de destaque, tipo o volante), pra afastar qualquer assanhadinha. Eu quis saber em que lugar da escola onde ele dá aula daria pra colocar umas fotos minhas pra todo mundo ver, e ele respondeu, “Ahn, no banheiro?”. Está se recuperando do gancho de direita que levou.

Suponho que o Rocky seja o oposto do Stalla, que deve ter o ego do tamanho de uma cratera do metrô paulista. O Rocky é simples, burro, pensa que Jamaica fica na Europa, mas é modesto. Muito diferente do Stalla, que acha que tem talento até pra comédias (está aberto à discussão quem se sai pior neste quesito, ele ou o Schwarzza). E sei que não dá pra desvencilhar o Stalla do que veio depois do Rocky, dos Rambos, Cobras e afins, grandes símbolos fascistóides dos anos 80 (na realidade, “Rocky IV” já se põe a serviço de sua majestade, já que seu maior rival é um soviético, ainda na guerra fria).

Claro que toda a série Rocky é conservadora, mas não é de extrema direita como o Rambo que volta ao Vietnã pra matar mais uns malditos vietcongues e finalmente ganhar a guerra pra América. Há diferenças. Porém, mesmo o aparentemente inofensivo Rocky dos anos 70 tem uma agenda política. O personagem apareceu no meio de uma recessão violenta, em que trabalhadores braçais brancos se ressentiam dos trabalhadores braçais negros que lhe tiravam os empregos. Eis que surge um herói humilde, religioso e monogâmico que, com muito esforço, passa a espancar negros, uns armários maiores que ele. É o início do conservadorismo que tomou os EUA após os rebeldes anos 60 e pavimentou a estrada pro Reagan. Não acredita? Ok, sabe quais foram os campeões de bilheteria em 76? “Todos os Homens do Presidente” e “Um Estranho no Ninho”, dois ótimos produtos liberais contra o sistema. Já em 77, quem estourou a boca do balão foi “Rocky” e o ultra-imperialista “Guerra nas Estrelas”. Alguma coisa tinha mudado. O cinemão vem apostando quase todas as suas fichas no público conservador desde então. Ou será que 35 anos atrás fariam uma propaganda tão descarada da iniciativa privada como “À Procura da Felicidade”?

Mas voltando ao peso velhinho, confesso que “Rocky Balboa” melhora muito depois que o garanhão italiano decide voltar a lutar. A seqüência de treinamento me deixou com um sorriso nos lábios já aos primeiros acordes da trilha sonora icônica (tan taran ran tan tan tan tan tan tan). Só fiquei com pena do cachorrinho que o Rocky salva da carrocinha. O au-au precisa correr não sei quantos quilômetros por dia embaixo de neve. Tá, era isso ou a morte certa, mas alguém deu essa opção ao pobre cão? Gostei também dos créditos finais, mostrando várias pessoas comemorando a chegada à escadaria do Museu de Arte da Filadélfia, onde se passa uma cena famosa. Americano é mesmo um bicho muito estranho.

Agora, cá pra nós, o que são aquelas estrias na parte superior dos braços do Stalla? E eu podia viver sem ouvir obviedades como “as coisas não acabam antes do final” e “lutadores lutam”. De qualquer modo, é difícil não gostar um tiquinho do filme, embora ele seja totalmente inverossímil. Eu, mais do que ninguém, adoraria acreditar que um veterano sessentão possa lutar de igual pra igual contra um campeão com metade da sua idade, mas, sinceramente, acho que isso não é possível nem num esporte como xadrez. Bom, prova viva de que a vida não acaba aos 60 é o Stalla dirigindo e escrevendo a todo vapor. Ano que vem chega “Rambo IV”. Verdade! Putz, por que o peso velhinho não segue o exemplo do Schwarzza e se elege governador de, sei lá, Nevada? Pode não ser uma maravilha pros EUA, mas seria um alívio pro cinema.


P.S.: É, sei que é sempre um choque lembrar que o Stalla sabe escrever. Ele ganhou o Oscar de roteiro pelo “Rocky” original. Quanto aos seus dotes de diretor, consta no seu currículo o comando da seqüência de “Os Embalos de Sábado à Noite”, em que ele transforma um esguio e gracioso John Travolta num brutamonte cheio de músculos. Imagina no que pode dar o Stalla dirigindo um musical, com coreografias a(ssa)ssinadas por seu irmão!

2 comentários:

Bruno disse...

"Eu, mais do que ninguém, adoraria acreditar que um veterano sessentão possa lutar de igual pra igual contra um campeão com metade da sua idade, mas, sinceramente, acho que isso não é possível nem num esporte como xadrez"
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Pode acreditar e possivel!!

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Paula disse...

Lola! Eu nunca gostei muito do Rocky e nem do Stallone, mas eu vi o musical aqui na Alemanha e é maravilhoso!!!!
Quem puder ver, veja :))