quarta-feira, 29 de novembro de 2006

CRÍTICA: PIRATAS DO CARIBE 2 / Mapa do tesouro é morte certa pra alguns

Escapei de ver o primeiro “Piratas do Caribe” no cinema porque devia estar passando qualquer outra coisa em 2003. Mas desde que o trailer do segundo assolou a nação, pensei em me preparar. E aí assisti ao primeiro em DVD e nem achei tão ruim, até porque o controle remoto é meu pastor e nada me faltará. Só que dá pra entender “Piratas 2 – O Baú da Morte” sem ter visto o primeiro. E imagino que dê pra entender o terceiro sem ter visto o segundo. Inclusive, dá pra ter uma vida feliz e completa sem ver nenhum dos “Piratas”.

No entanto, devo declarar que nunca entendi esse troço que os críticos falavam de pirata gay. Encaro o capitão Jack do Johnny Depp como um sujeito esquisitão, cheio de tiques, não afeminado. De qualquer modo, fiquei chocada quando o Johnny foi indicado ao Oscar de melhor ator. Isso que é prestígio, levar nomeação por encarnar personagem de arrasa-quarteirão. O Johnny é impressionante por ser um astro muito conhecido sem jamais, antes de “Piratas”, ter comandando uma aventura de estourar bilheterias. Parece que ele recebeu 34 milhões de dólares pra encarnar o Jack no “Piratas” 2 e 3. Digamos que encontrou o mapa do tesouro.

E não há dúvida que o maior chafariz da franquia seja Jack. Basta verificar o número de vezes que o nome Jack Sparrow é repetido. Se isso não fosse equivalente a uma sentença de morte, eu iria novamente ao cinema só pra contar. Agora, você acredita que “Piratas” é baseado num parque temático? É tipo fazer um filme de uma montanha russa (ops, “Premonição 3” vai nessa direção), ou de um Trem-Fantasma (ops, todos os filmes de terror que enfocam casas mal-assombradas copiam isso). Pensando bem, nada de errado em adaptar teminha de parque de diversões pro cinema. Mas mesmo quem adora o Playcenter ou o Beto Carrero World deve admitir que duas horas e meia de Trem-Fantasma cansa.

Se eu tivesse ido na última sessão, teria dormido. Como era mais cedo, apenas cochilei. De vez em quando acordava, achava que tava vendo “Zorro”, e pensava: como que um filme-pipoca desses pode durar duas horas e meia? É meio torturante. Se bem que o garoto atrás de mim vibrava a cada efeito especial e gritava: “Yuhuuu!” e “Muito massa!” Como “PIC” foi feito pra ele, não pra mim, deve ser ótimo. E pra quem gosta de correria, pode ser um prato cheio. Montes de personagens correndo de um lado pro outro sem chegar a lugar nenhum.

Desta vez Jack tá com os dentes bem menos podres, porque a mocinha Keira Knightley (de “Orgulho e Preconceito”) corre o risco de beijá-lo. Gostei de toda a seqüência de “Jack no espeto”, d’ele soprando o fogo, e de um ou outro chiste verbal que ele faz (e que esqueci). Mas minha piada preferida é a que diz que fizeram os dois filmes juntos, o dois e o três – a ser lançado no ano que vem –, pra economizar dinheiro, porque assim conseguiram fazer os dois pela bagatela de... glupt, 500 milhões de dólares! Imagine se eles não tivessem economizado. Meio bilhão de verdinhas! Esse deve ser o PIB do Caribe. Tudo bem que eles mais do que se pagam (“Piratas 2” ultrapassou “Código da Vinci”, algo que eu duvidava que fosse acontecer), mas ainda assim é ridículo. E tudo bem que os efeitos especiais sejam perfeitos, maravilhosos, caros e tal, mas só eu que achei o bocão do polvo malfeito?

Sem falar que “PIC” é o tipo de filme em que o diretor (Gore Verbinski) só tem alguma importância, e relativa, porque foi capaz de se manter no leme, mas fundamental mesmo é o produtor. Jerry Bruckheimer é um ícone. Os piores e mais caros arrasa-quarteirões são sempre dele: “Top Gun”, “Pearl Harbor”, “Armageddon”. Antes da sessão passou o trailer de mais uma marca Bruckheimer, “Deja Vu”. Pelo menos o título é honesto.

Agora permita-me contar a cena final, depois dos créditos, pra salvar a saúde mental do projecionista. Tem uma cena no fim de tudo. Se você quiser vê-la, terá que agüentar nove minutos de créditos. Sim, nove intermináveis minutos. Quando a gente pensa que acabou, surgem os nomes da segunda unidade. Isso é pior que ser triturado pelos tentáculos de um polvo gigante. Na sessão em que fui, ninguém ficou. Só eu e o maridão, e por sacrifício a você. Daí aparecem cinco segundos de uma cena mostrando um cachorro com um osso na boca. Juro que é só. Pronto, salvei nove minutos da sua vida. Cheques para este site, por favor.

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