quarta-feira, 29 de novembro de 2006

CRÍTICA: TODO MUNDO EM PÂNICO 4 / Adolescente tagarela em pânico

Eu e o maridão fomos prestigiar “Todo Mundo em Pânico 4”, e a sala tava tão lotada que tivemos de nos sentar na primeiríssima fila, com o nariz grudado na tela. E mesmo assim não escapamos da terrível praga dos adolescentes narradores, os notórios comentaristas de filmes durante a sessão. Por exemplo, na tela tinha uma paródia até legalzinha de “Menina de Ouro”, algo como uma boxeadora mordendo a orelha de alguém. E o meu colega de poltrona: “Ela mordeu a orelha!”. Na tela, moça cega dá bengalada na mais valiosa parte da anatomia masculina, que obviamente não é o cérebro, e o guri do meu lado: “Ela bateu no saco dele!”. Galvão Bueno tem um concorrente à altura. Mas até que entendo o papo todo durante a comédia. Se deixar pra falar depois, é possível esquecer tudo. No carro, o maridão já disse pra mim: “Olha, é bom você escrever sua crítica assim que chegar em casa, porque o troço tá se esvaindo da nossa mente com uma rapidez estonteante”. Eu: “Se tivesse uma imagem do filme se esvaindo da mente, ela seria como? Uma fumacinha saindo?” Maridão: “Não, nada tão substancial como fumaça”.

Difícil imaginar um filme mais inútil pra se criticar que este. Quero dizer, a faixa etária pra esse tipo de coisa não lê crítica, e quem gosta dessas paródias vai vê-las de qualquer jeito. Mas vamos lá. Confesso que ri bastante no começo. As gracinhas com “Guerra dos Mundos” funcionam, e com “O Grito” também. Mas todas as referências à “A Vila” deveriam ser extirpadas. Elas matam a comédia. E os chistes com “Jogos Mortais” não causam nem cócegas. Aliás, quem diachos é Dr. Phil? Mas justiça seja feita: o Leslie Nielsen dá um excelente presidente americano. A seqüência do vídeo de “Fahrenheit 11/9” é muito divertida, e, como foi provado pelo Michael Moore, baseada em fatos reais. O presidente é informado dos ataques, mas decide ficar na escolinha ouvindo a historinha infantil pra saber o que acontece com o pato. Inclusive, tá no trailer. O que não consta do trailer, e ainda assim é hilário, é o presidente discursando nas Nações Unidas. Não a parte em que o Leslie fica nu, mas quando ele olha pra sigla e diz que é muito bom estar na “NU” (UN, em inglês).

E no início tem o Charlie Sheen, que eu nem sabia que tava vivo. Aceitei bem a piadinha do gato se agarrando ao seu pênis gigante e sendo defenestrado pela janela. Meu radar de protetora dos animais não bipou porque dá pra ver que não é um gato de verdade. Ou talvez porque eu tinha visto o trailer de “Garfield 2” cinco minutos antes, e, sabe, depois de ver qualquer fotograma de “Garfield 2”, minha paixão por gatos cai consideravelmente. Acabei de notar que “Garfield, o Filme” é pra pessoas mentalmente deficitárias que odeiam felinos.

Acho que o principal motivo pro relativo sucesso dessa baboseira, parte 4, é o casal de protagonistas. Não me pergunte o nome dos atores. Mas eles são meiguinhos, têm cara de bobos, como no maravilhoso “Apertem os Cintos: O Piloto Sumiu”. Isso ajuda. Se bem que o chiste mais fofinho não foi identificado pela galera jovem, que mal respirava em 92. Em mais uma referência à “Guerra dos Mundos”, o herói aceita se esconder junto com a filhinha no porão de um homem. E, pra justificar, diz ser um excelente conhecedor do caráter humano, ou seja, ele sempre sabe em quem confiar. Aí aparece o homem e é o Michael Madsen. O Michael é aquele da clássica cena de tortura onde ele corta a orelha de um policial em “Cães de Aluguel”, do Tarantino. Pelo menos me senti vingada por nunca ter ouvido falar desse tal de Dr. Phil. Éramos os bisavôs do cinema.

Nesta comédia acéfala tem sujeito brincando com a meleca que tira do nariz, puns de vários sons, mulher tomando banho de xixi, e sujeito serrando o próprio pé, mas foi só quando apareceram dois cowboys de mãos dadas que o carinha do meu lado clamou em alto e bom tom, pros amigos ouvirem, “Que nojo!”. Foi seu jeito de dizer “Eu sou espada!”. Aliás, sabia que ia acontecer: alçaram o “Brokeback Mountain” à categoria de filme de terror.

Bom, tenho quase certeza que escapei do “Scary Movie” 2 e 3 e que vi o primeiro. Se todos os cinemas da cidade não estiverem passando “Código” e “X-Men”, eu provavelmente não verei o 5. Agora, imagine que você é um filme brasileiro esperando ser lançado. Ninguém quer lançar você antes da Copa. E todos os cinemas do seu país passam arrasa-quarteirões americanos. Deve dar um desânimo, né?

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