quarta-feira, 6 de março de 2019

UMA QUARTA-FEIRA DE CINZAS PARA MIJAR NO PRESIDENTE

E eis que, no primeiro Carnaval da Resistência, o presidente dos ignorantes não resistiu.
Bolso, assim como seus filhos, e assim como tantos homens brancos, é um macho egocêntrico, vaidoso, mimado, que nunca aprendeu a lidar com críticas e muito menos com rejeição. Ele ficou magoado em ver que o coro do carnaval 2019, independente da cidade, foi #EiBolsonaroVaiTomarnoC*. Que os foliões cantavam alegremente "Ai ai ai, Bolsonaro é o carai!" e "Doutor, eu não me engano, o Bolsonaro é miliciano". Que um montão de gente saiu fantasiada de laranja. Que teve um bloco em que um cara era um caixa automático e outros representavam 48 depósitos. Que bonecos seus foram vaiados. Brincadeiras típicas de uma festa politizada que justificam a alcunha de Carnaval da Resistência. 
Então o que Bolso fez para tentar desmerecer as críticas? Ontem à noite ele redigiu na sua conta oficial no Twitter, com 3.4 milhões de seguidores, as seguintes palavras: "Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro. Comentem e tirem suas conslusões" (sic). 
E colocou o vídeo de um rapaz sem calça que põe o dedo no ânus e depois recebe a urina de um outro rapaz no rosto e cabelo, o que parece que tem nome (nunca diga que Bolso jamais te ensinou alguma coisa): golden shower.
O que o #goldenshowerpresident (como Bolso passou a ser chamado no Twitter) fez também tem nome: 
é uma estratégia conhecida como "exemplar saliente", segundo um professor de Berkeley. É usar um caso isolado como representativo de todo um grupo social. Ou seja: um ato que não chamou a atenção sequer dos foliões daquele bloco foi usado pelo presidente do quinto maior país do mundo como típico do carnaval brasileiro. 
Quem pulou o carnaval na rua ou acompanhou os "melhores momentos" pelo Twitter (meu caso) viu que, num bloco, os foliões fizeram 20 minutos de silêncio até que um meninininho perdido encontrasse sua mãe. Em outro, o pessoal organizou uma vaquinha para presentear um catador de lixo, e todos se abraçaram, emocionados. Por exemplo,  o governador do Maranhão Flávio Dino (PCdoB) tuitou isso:
Já o deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ) postou este tuíte:
Lógico que Bolso e a maior parte dos bolsominions odeiam carnaval, já que odeiam povo, odeiam festa, odeiam manifestações culturais. Alegria, para eles, se resume a tentar zoar de petistas ao coro de "O Lula tá preso, babaca!". 
Pra eles é tudo baixaria. Uma festa pagã seria incompatível com uma nação cristã. 
Vocês devem se lembrar que, faz pouco tempo, no crime de Brumadinho, bolsobots pediram que o carnaval fosse cancelado e, em troca, o dinheiro fosse gasto lá. 
Só que o carnaval atrai muitos turistas, movimenta cerca de 7 bilhões de reais na economia brasileira, e gera 23 mil vagas de emprego. Não é pouca coisa. 
Os robôs de Bolso não repetiram o entusiasmo de sábado, quando a hashtag mandando o o presidente tomar no c* ficou o dia todo no topo, e os robôs lançaram a tag "Bolsonaro Tamo Junto", o que fez com que uma galera empática criasse a tag #EiBolsominionVaiTomarTb. 
Infelizmente desta vez ninguém escreveu "Tamos junto nesse golden shower presidente". Os acéfalos se limitaram a plagiar uma frase de efeito sobre Olavão (aquele que sonegou impostos nos EUA e agora está desesperado pedindo dinheiro aos seguidores), #BolsonaroTemRazão.
Mas tirando os bolsobots, que defendem qualquer barbaridade cometida pelo "Mijo! Mijo!" (ou seria "Micto! Micto!"?), muitos questionaram a sanidade de Bolso para exercer o cargo. Algumas pessoas sugeriram que o filho Carlos (Carluxo para os íntimos) usou a conta do pai para compartilhar seus xvídeos preferidos. E teve bolsominions que só encontraram uma explicação: o perfil de Jair foi hackeado!
Os correspondentes estrangeiros não sabiam o que fazer. Um noticiou o tuíte de Bolso, começando com "não estou inventando". 
Outro quis saber: "o que eu faço com essa informação?" Um terceiro, mais bem humorado, escreveu: "alguém tire o telefone do presidente, rápido!"
Mas não foi rápido demais. Bolso às 7:30 de hoje perguntou: "O que é golden shower?" Muitos brasileiros responderam.
Adorei esta resposta também:
Tanta coisa boa pra falar do nosso carnaval, e o que deu no New York Times foi o presidente de extrema-direita mijando na maior festa popular brasileira. 
Hoje quando cheguei perto do computador pela manhã a tag #ImpeachmentBolsonaro já estava em primeiro lugar. Pelo jeito o tuíte de Bolso fere a lei 1079, que lida com a postura incompatível com a dignidade, honra e decoro do cargo. 
O jurista Miguel Reale Jr, um dos responsáveis pelo pedido de impeachment contra Dilma, disse que a quebra de decoro de Bolso é passível de impeachment. 
E se a popularidade de Bolso
fosse medida hoje?
Ele salienta que divulgar o vídeo é ainda mais grave, segundo o Código Penal, que a prática de ato obsceno em lugar público. Outra violação realizada por Bolso foi contra o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), pois muitos que viram o vídeo pornô divulgado por Bolso em seu perfil eram menores de idade. 
É lógico que não é apenas decoro que falta a Bolso. Se fosse falta de decoro, o energúmeno não poderia nem ter concorrido às eleições. Falta também inteligência, competência, honestidade. E noção, né? É muita falta de noção!

terça-feira, 5 de março de 2019

CARNAVAL DA RESISTÊNCIA FAZ BOLSO SE REVIRAR NO TÚMULO

Indireta da Tuiuti ao parlamentar, hoje presidente, que votou contra a PEC das Domésticas (clique para ampliar)

Eu não vi o desfile das escolas de samba na TV porque -- já contei essa história antes diversas vezes -- não vejo mais desde que a Globo cortou, muitos anos atrás, o desfile da minha escola preferida, Mangueira, sobre deus, quero dizer, Chico Buarque. A Mangueira ganhou com aquele enredo e o desfile não passou na TV! Nunca mais liguei a televisão durante o carnaval.
Mas este vem sendo o carnaval da resistência. Em todo o Brasil, os foliões cantam marchinhas e gritam palavras de ordem contra o governo nefasto. A famigilia Bolso está indignada. Demorou mais de um ano na reeleição de Dilma para que ela fosse xingada na rua. Como, depois de apenas dois meses, o povo manda o capetão tomar no c*?
Ala da Mangueira sobre os quilombos
Hoje acordei tarte e, depois de fazer meu suco verde com aquela arma letal, o liquidificador (eu não tenho porte de liqui mas só uso em casa!), liguei o computador. E o que já estava nos primeiros lugares dos TT do Twitter? #TuiutiNotaZero. 
Nem precisei clicar pra saber que era uma hashtag criada por bolsominions e que, se eles não gostaram, é porque a Paraíso do Tuiuti deve ter feito um desfile incrível. 
Ano passado, quando ainda éramos mais ou menos felizes e não sabíamos, a Tuiuti revoltou um monte de reaças ao chamá-los de "manifestoches". Foi vice-campeã.
Agora em 2019, o enredo "O salvador da pátria" usou a história do Bode Ioiô, vereador em Fortaleza em 1920, para tratar da "peleja entre o bode da resistência e a coxinha ultraconservadora". Obviamente carros alegóricos como o da imagem que abre este post e este com um dos nossos dizeres ("ninguém solta a mão de ninguém") não agradaram os conservadores -- que já odeiam o carnaval mesmo. 
Mas parece que o mais lindo foi o desfile da Mangueira, que já ganhou o Estandarte de Ouro e é uma das favoritas ao título (que seria seu vigésimo). 
Além de homenagear Marielle Franco -- que receberá muitas homenagens na semana que vem, quando se completará um ano da sua execução --, o enredo "História pra ninar gente grande" criticou quem é geralmente pintado como herói no Brasil, caso de Pedro Álvares Cabral, Dom Pedro I, Princesa Isabel, e os bandeirantes. 
Foi isso que eu aprendi na minha "Escola sem Partido", pelo menos. Na época (anos 80), nenhuma palavra sobre Zumbi dos Palmares, Dandara ou Dragão do Mar. E ainda havia livro que tratava o golpe de 1964 como "revolução". 
E a Mangueira ainda teve mulheres empurrando os carros
Eu me emocionei vendo um vídeo com a comissão de frente. Sério, fiquei arrepiada. 
Agora, imagina o terror que é pra quem idolatra torturador ver um carro alegórico que já vem com as palavras "ditadura assassina". É pro Bolso se revirar no túmulo!
 
UPDATE: Vitória da Mangueira! Com muita justiça!

segunda-feira, 4 de março de 2019

EI, POLÍCIA, LARGUE OS BRAÇOS DA ESQUERDA

Segunda-feira de carnaval, e eu em casa, sem viajar, sem sair 
(por opção própria. Desistimos de viajar no carnaval. 
As praias ficam barulhentas demais, com montes de paredões de som competindo entre si para ver quem mais inferniza a natureza e a vida dos outros).
Estava com preguiça pra fazer um post. Mas hoje cedo vi um vídeo que me deixou bastante indignada. Era do Lula saindo do velório de Arthur, seu neto de 7 anos. 
Lula está chorando e responde com um aceno às pessoas que o saúdam e gritam seu nome. E o delegado ou policial ou agente ao lado dele pega no seu braço e o obriga a baixá-lo. 
Que tipo de democracia é essa que uma pessoa não pode acenar? E depois tem gente que nega que Lula seja um preso político...
Não sei se o diálogo que foi divulgado depois tem relação à cena que vimos. 
Mas estava pensando em escrever sobre como o Brasil inteiro está cantando "Ei Bolsonaro, vai tomar no c*", 
que se tornou hino do carnaval, ou "Doutor, eu não me engano, o Bolsonaro é miliciano", ou tantas "homenagens" que estão sendo feitas por pessoas de todo o país a um presidente que acabou de completar dois meses de governo e já é tão detestado (e isso só tende a piorar. É ladeira daqui pra frente). Ou como hashtags do tipo #EiBolsominionVaiTomarTambém dominam os TT no Twitter há horas.
Mas eis que vejo um outro vídeo. De um rapaz preso numa delegacia que tem o braço quebrado por um policial. Vejam o vídeo. É horrível. Dá pra ouvir o estalo do osso se quebrando. 
Este é o relato de Pham Dal Bello, companheira de Geovani Doratiotto, presidente do diretório municipal do PT em Atibaia, SP.

É esta a tal nova era que os fascistas comemoram? Em que policiais podem quebrar o braço de um rapaz imobilizado numa delegacia? 
E o ministro Sérgio Moro ainda quer passar lei que permita que policiais façam o que quiserem sem serem responsabilizados...
Isso é revoltante demais! Não é só porque um fascista foi eleito que o fascismo foi automaticamente instaurado no país. Ou a ditadura militar já foi decretada e não se deram o trabalho de avisar a população?
UPDATE hoje: Quatro PMs foram afastados até a conclusão da investigação, disse o ouvidor da polícia. Vamos acompanhar o caso!

domingo, 3 de março de 2019

DICAS DE UM GANHADOR (E PARTICIPANTE ETERNO) DO BOLÃO DO OSCAR

O Oscar foi domingo passado (alguém ainda se lembra?).
Todo ano eu convido o vencedor do bolão do Oscar pra tripudiar dos outros participantes e explicar como ganhou. Como este ano quem venceu foi o Claudemir, e ele é muito fino pra tripudiar de alguém, publico aqui o seu relato tão carinhoso:

Eu amo tradições e participar do seu bolão é um ritual anual que eu adoro. Lembro até hoje quando descobri que você organizava o bolão e tive que insistir para o meu pai pagar a minha participação. Eu tinha uns 14/15 anos na época e a memória mais remota que tenho é apostar na Abigail Breslin para melhor atriz coadjuvante por Pequena Miss Sunshine e logo depois perceber que ela teria zero chances de ganhar. 
Como você mesma diz, é muito melhor assistir ao Oscar participando do bolão e melhor ainda quando você está indo bem nas apostas. Desde a primeira vez, decidi que a partir daquele momento sempre assistiria à cerimônia competindo no seu bolão. 
Em 2008 tive meu momento de glória ganhando pela primeira vez, porém não recebi dinheiro nenhum já que naquela ocasião o bolão foi exclusivamente gratuito. [Nota da Lolinha: É que eu estava morando em Detroit e não quis fazer bolão pago naquele ano. Acho que o Júlio César ainda não se encarregava de organizar tudo]. 
Não vou negar, uma vez que se ganha o bolão você quer ganhar sempre! Nos últimos dez anos sempre tenho ficado em segundo ou terceiro lugar no ranking final e muitas vezes em primeiro lugar durante a primeira metade da cerimônia, mas depois outra pessoa sempre acabava levando. 
Cá estou eu finalmente ganhando e conseguindo pagar todos os meus boletos com o bolão. Como diria algum coach motivacional, "não é sobre ganhar, é sobre não desistir". Infelizmente esse ano a vida adulta não me permitiu assistir a festa até o final, acompanhei somente a primeira hora. Uma pena, pois a disputa no bolão foi bem acirrada. Fiz as minhas apostas com base em algumas intuições, por exemplo, efeitos visuais, que foi uma categoria decisiva, nos últimos anos foi para filmes fora do circuito dos blockbusters. 
Algumas apostas eram certas como "Shallow" para melhor canção e o Mahershala Ali para melhor ator coadjuvante. Fiquei em dúvida sobre Green Book para filme, mas julguei que Roma não levaria, pois já teria debaixo do braço a estatueta por filme estrangeiro e Green Book me pareceu uma escolha segura que a Academia poderia fazer. Estava fortemente torcendo para que a Glenn Close levasse, mas não foi dessa vez. Acredita que ainda não assisti Infiltrado na Klan!? Dos filmes que vi os meus favoritos são Roma e A Favorita
Claudemir e amigas posando comigo
na UFSC em 2013
Fiquei muito feliz em ter ganhado o bolão! Lembro até hoje quando descobri a sua coluna no A Notícia (depois de anos da minha família assinado o jornal!) e ir atrás de todos os jornais que minha mãe guardava para encontrar todos os seus textos. Até que um dia eu escrevi um e-mail para você pedindo que me enviasse todas as crônicas via e-mail. E você respondeu falando que não era necessário, pois estava tudo em um site. Passei o fim de semana devorando todo o material online. E sem sombra de dúvidas o auge foi conhecer você pessoalmente em 2013! Espero que em breve possamos nos encontrar novamente.