Leia mais sobre Ensaio sobre a Cegueira aqui, aqui e aqui.
É quase um teaser, porque dura um minuto e meio, e a gente so vê algumas carinhas conhecidas, como a do Gael Garcia Bernal e Danny Glover. O próprio Mark Ruffalo, que faz o marido da protagonista, aparece pouco. Mas olha o prestígio do Fernando Meirelles! Quando colocam “do mesmo diretor de Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel”, é porque o sujeito é importante. E quando antes mesmo do filme estrear (no segundo semestre aqui nos EUA) já falam em indicação ao Oscar pra Julianne Moore, é porque o negócio é sério mesmo. O trailer/teaser começa com uma música irônica, “É um bom dia pra cantar” - por coincidência, é também o mesmo dia em que seu esposo acorda cego. Não só isso. Parece que, sem explicação, 90% da população é atingida pela “doença branca”. Apavorante mesmo. Pessoalmente, adoro filmes sobre epidemias, e pra mim não precisa ter explicação ou solução. Lembro bem quando houve uma epidemia de conjuntivite em Joinville, acho que seis ou sete anos atrás. O maridão pegou, provavelmente de algum aluno (porque é fácil: imagina, o aluno tá com o vírus, toca no olho, toca na peça de xadrez, aí o maridão toca na peça, põe a mão no olho, e pronto). Tenho duas crônicas da época, que editei pra juntar:
Tá a maior epidemia de conjuntivite aqui em Joinville! Dããã, dirá você, agora que eu notei, depois de mais de 20 mil casos? Pois é, foi só ontem que me dei conta da gravidade da situação. O que aconteceu pra eu acordar pra esta terrível realidade? O maridão pegou! É verdade. No momento que eu escrevo esta crônica de imensa utilidade pública, ele se encontra deitado na cama, roncando, com uma gata preta em cima da barriga e um chumaço de algodão cheio de água boricada num dos olhos. Já avisei que, se ele me contagiar, eu entro com um pedido de divórcio no ato. Eu sou assim, solidária. Mas sério, só porque o maridão tá dodói isso significa que eu vou adoecer também? Quer dizer, a conjuntivite é tão contagiosa assim? Preciso de mais informação!
Pelo que entendi, o grande problema é não fazer aquilo que todos nós fazemos o tempo todo: colocar a mão no olho. Não é impressionante que um simples gesto seja tão difícil de evitar? Eu e o maridão já combinamos que nenhum dos dois vai aproximar nem um dedinho do olho. Só que eu ouvi um oftalmologista na TV falar que devemos evitar todo tipo de secreção. Ahn, TODO tipo de secreção? Não estou preocupada com o teor sexual da frase, já que esse tipo de secreção anda em falta aqui em casa mesmo (coitadinho, o maridão estirado na cama e eu tirando sarro da cara dele), mas eu tenho inúmeras dúvidas. Por exemplo, saliva é secreção, né? Não, não estou falando de beijos apaixonados entre eu e o maridão – se você visse a atual cara dele, entenderia que desejo não é um dos sentimentos mais prováveis. Não, o que eu quero dizer com saliva é assim: se o meu cachorrinho lamber a pálpebra do maridão e depois me lamber perto do olho, eu estou condenada ao surto de conjuntivite que Joinville espalhou pelo Brasil? O cãozinho pode pegar também?
Fui com o maridão ao supermercado no auge dos seus olhos vermelhos, mas o avisei antes: “Ó, amor, tem uma coisa que você não pode fazer de jeito nenhum na vida: coçar o olho. Tá, também tem outras coisinhas que as convenções sociais jamais permitiriam, como matar, roubar e tirar os óculos escuros”. Lá estávamos nós dois no super. O inconsequente agarra uma lata pra descobrir o preço, e não há etiqueta. O que ele fez? O natural: chama um atendente. Eu só olhava e me lembrava do filme Epidemia. Sabe aquela aventura bem legal com o Dustin Hoffman sobre um vírus fatal? Então. Câmera lenta. Close da mão do maridão na lata. Close do vírus microscópico passando da mão pra lata. Close do atendente pegando a lata. Close do carinha esf

Observei o pessoal no super e constatei que havia dois grupos de gente: o que estava de óculos escuros, tal qual o maridão, e o que estava com os olhos marejados, abertamente contagiados. Bom, tinha o meu grupo também, o Bloco dos que Escaparam Por Enquanto. Este meu bloco olhava pros outros dois grupos com extrema desconfiança, fugia das latas e caixas manuseadas pelos grupos rivais, e imaginava cenas de Epidemia.
Se uma epidemia de conjuntivite já assusta todo mundo, pensa numa de cegueira! Acho que nem a idéia de ser mordido e virar zumbi consegue causar tanto pânico. Por isso, voltando ao trailer, o clima de terror é tão evidente. Me contagiou totalmente. E a fala final, “A única coisa mais aterrorizante que a cegueira é ser a única que pode ver”, abre um monte de possibilidades filosóficas (e note que vou me identificar com o personagem da Julianne, que escapou da epidemia, como eu). O que pode ser melhor que um filme com clima de terror sobre epidemia feito
