sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

COMO LIDAR COM QUESTÕES MACHISTAS NA INFÂNCIA? new

 Sofia


Oi Lola, tudo bom? Sou uma novata no seu blog e agora leio diariamente, gosto muito dos seus posicionamentos, acho que o feminismo está se tornando o campo mais dialógico da esquerda.
Comecei a me interessar por questões feministas há pouco tempo, mais ou menos no meio da faculdade quando comecei a entrar no mercado de trabalho. Estudei design e hoje estudo cinema/edição e em ambas as áreas operei/opero muitos softwares e vejo que tem um preconceito muito grande sobre a capacidade e agilidade feminina para com o computadorzinho. É frustrante isso mas pelo menos em edição temos uma tradição mais feminina porque nos tempos da moviola as pessoas tinham que cortar e costurar/colar pedaços de película.
Mas enfim, são tantas questões que eu poderia levantar, né, mas o que eu queria falar mesmo é que eu tenho uma irmã de 9 anos (tenho 23) e uma dificuldade de fazê-la entender certas coisas nocivas na sociedade ou se ela é ainda muito jovem pra entender.
Como eu disse, só me dei conta da sociedade machista nesse processo de achar um emprego, na minha cabeça a escola era igualitária todos tinham a mesma aula, tinha meninas que tiravam boas notas assim como meninos que tiravam boas notas (na minha sala sempre era uma menina que encabeçava as melhores notas) mas claro que isso não tem nada a ver com "ninguém era machista no colégio", ou "a instituição mesmo não era machista". 
Há um tempo atrás vejo a minha irmã se queixando de um menino da outra turma que fica atrás dela (aliás, resolvi escrever esse e-mail por causa do post do dia 23). Ele escreve cartas, manda presentes, no recreio fica seguindo, na festa junina mandou um correio do amor... Todos acham muito bonitinho isso, mas a minha irmã é uma menina muuuito tímida, odeia exposição e ela acaba sendo sem querer a menina mais falada da escola. Ela já recusou muitos pedidos de namoro dele, um dia desses teve até xingamento por parte dele (ela nao quis me dizer qual foi...). Isso acabou por me reavivar um caso da minha infância que eu tinha esquecido até: tinha 8 anos e um menino também gostava muito de mim e eu sempre recusei, até que um dia o irmão mais velho (12 anos) dele ligou pra minha casa (não sei como eles arrumaram meu tel) e ele me ameaçou falando que se eu não aceitasse o pedido de namoro do irmão dele, ele me bateria. Prontamente chamei a minha mãe eles desligaram na cara dela. Acabei que não namorei e também não me bateram, mas isso me traumatizou na época, e resolvi contar pra ela. Falei que tinha casos de homens que não aceitam o não e que ela tinha que deixar isso claro pra ele e para as professoras que ela não gosta desse comportamento. Ela me disse que não, mas tenho quase certeza de que as profs não devem achar nada de nocivo nisso, que ele é romântico, sei lá, e que se a minha irmã não faz nada é porque pode estar até gostando de ser bajulada. Eu não sei como ela se sente (ela está incomodada mas não expressa muito bem os sentimentos, se está com raiva, triste) mas na época que isso me aconteceu me senti invadida porque ligaram pra minha casa e acharam que seria possível cercear a minha liberdade dentro da minha casa.
Essas coisas infantis são vistas com um olhar mais brando, claro, mas acho que isso deveria ser mais discutido nas escolas. Não sei se foi uma conversa muito precoce minha, não sei como fazer uma abordagem mais interessante pra ela... Pensei em poupá-la disso pra que ela ache que isso aconteça com pessoas, não só por ela ser mulher. Pensei em falar com as professoras no colégio, quando falei isso pra ela, ela até disse que ele já tinha parado a perseguição. A minha irmãzinha não deixa muito claro as coisas que acontecem com ela isso me preocupa ainda mais.
Ela está toda imersa nesse mundo de divas e modelos e quer ser uma, é muito linda, vive se olhando no espelho não tem muitos sonhos e não é muito criativa. Eu acho engraçado porque na minha época de criança queria ser presidente. Não sei, posso estar errada, pode ser o jeito da minha irmã que é diferente do meu, mas acho que estão reprimindo cada vez mais as meninas. Isso tem que ser debatido, as crianças são as pessoas que mais assistem TV, não podemos deixar que elas achem que a vida é como um comercial de desodorante ou de cerveja ou novela.
Enfim, o que faço pra levantar a auto-estima da minha irmã (sem ser da maneira diva) e qual seria a melhor forma de conversar com ela sobre questões feministas? É muito difícil pra mim fazê-la se interessar por esses assuntos, ela sempre se esquiva por não gostar de conversas mais sérias. Temo que ela sofra muito disso e não queira verbalizar.

Minha resposta:
Encontrei este lindo relato da Raphaella de Souza, da UERJ, do projeto Letras Pretas. Ela fala sobre como educar crianças negras numa sociedade racista.
Sociologia para crianças, da professora e doutora Tatiana Amendola https://www.cartacapital.com.br/educacao/mae-e-filha-mostram-que-e-possivel-e-necessario-discutir-temas-como-racismo-machismo-e-diversidade/?utm_campaign=novo_layout_newsletter_-_com_webinar_2008_usar_ate_3108&utm_medium=email&utm_source=RD+Station
Chimamanda

sexta-feira, 18 de abril de 2025

GOSTO DESSES CARTOONS

Cartoons incríveis que falam muito!

Este já tá parecendo datado praquelas de nós que não usam mais a rede do Musk (que não é mais Twitter).

sexta-feira, 11 de abril de 2025

ESTUPRO COMPARADO A FURTO POR FOME

Certo dia um desses caras insanos que comentam no meu blog deixou este comentário num post sobre estupro, sabe como é, tentando justificar... estupro. Olha a comparação:
"O homem tem tanto tesão que se ficar sem mulher por muito tempo ele acaba perdendo o controle e abusando de alguma. Felizmente, são a minoria. A maioria dos homens consegue se auto controlar. Mas vejam que são homens pobres, sofridos, que provavelmente as mulheres não queria saber deles e até os humilhavam. O tempo vai passando e o homem sem mulher vai enlouquecendo até entrar em desespero total e agarrar alguma mulher. Alguns podem ter até algum problema mental. Não estou defendendo esses caras, mas temos que ver a causa disso. Muitas vezes uma pessoa rouba porque está desesperada, passando fome. O mesmo pode ter acontecido com esses caras. Fome nós sentimos em algumas partes do dia, já a necessidade de fazer sexo é toda hora. Imagine então ficar privado disso por muito tempo"

segunda-feira, 3 de março de 2025

VITÓRIA INÉDITA E HISTÓRICA DO BRASIL NUM OSCAR SEM GRAÇA OU CORAGEM

Ontem teve uma cerimônia do Oscar bem sem graça. Quero dizer, tirando a hora em que Ainda Estou Aqui fez história e trouxe a primeira estatueta pro Brasil, na categoria de melhor filme internacional. Aí o país inteiro, no meio do carnaval, explodiu em felicidade. Foi maravilhoso. Um filme tão importante no momento em que os saudosos da ditadura cinicamente imploram por anistia pros seus criminosos. 

Mas tirando isso, foi uma cerimônia arrastada e covarde. Covarde porque, agora que um fascista laranja toma o poder do maior império pela segunda vez e ameaça acabar com o planeta inteiro, não ter discursos politizados, sequer piadas políticas, num evento assistido por um bilhão de pessoas, me parece um ato de covardia. 

Um dos poucos instantes de protesto neste Oscar foi quando No Other Land (Sem Chão), dirigido por palestinos e israelenses, ganhou o prêmio de melhor documentário. É um filme que retrata o genocídio israelense na Cisjordânia e que, por isso, sofreu para encontrar um distribuidor no mercado americano. No seu discurso de agradecimento, um dos diretores declarou: "A política externa deste país [EUA] está ajudando a bloquear o caminho da paz".

Diante da alienação geral da cerimônia, o discurso da vencedora de melhor atriz coadjuvante, Zoe Saldaña, também não deixou de ser político. Ela se disse "a criança orgulhosa de pais imigrantes", e destacou ser a primeira estadunidense com ascendência dominicana a ganhar um Oscar. 

Compare com o outro Oscar que Emilia Perez recebeu, para "El Mal" em canção original. Num filme que conta a história de uma mulher trans, interpretada por uma atriz trans no seu papel-título, os vencedores foram incapazes de emitir qualquer palavra de apoio à comunidade trans, selecionada para ser alvo da extrema-direita em todo o mundo.  

Eu achei o apresentador Conan O'Brien lamentável, um dos piores que já vi (embora a crítica dos EUA só tenha elogios a ele, o que me faz pensar se assistimos ao mesmo show), desde sua aparição inicial saindo do corpo da personagem interpretada por Demi Moore em A Substância. Ele só fez piadas horríveis; ninguém riu. Mas tenho que tirar o chapéu por ele ter falado pra Karla Sofia Gascon (muitos achavam que ela não iria comparecer depois do escândalo dos tuítes antigos): "Karla, se você for tuitar sobre o Oscar, meu nome é Jimmy Kimmel". Foi um cutucão bem-humorado que arejou o clima.

Não entendi por que o Oscar decidiu não mostrar números musicais para as indicadas a melhor canção (não estou reclamando), mas montou números musicais para canções que não tinham nada a ver com este ano. Por exemplo, por que a homenagem a 007? Soou como merchandising de Jeff Bezos pela Amazon ter comprado os direitos de toda a franquia James Bond. Podíamos ter ficado só com o tributo a Quincy Jones, não?

O que mais a registrar? Adrien Brody ganhou melhor ator por Brutalista e fez um discurso arrogante e quase tão longo quanto seu filme. Paul Tazewell ganhou a estatueta de melhor figurino por Wicked -- o primeiro homem negro a receber esse prêmio. E o meia-boca Anora ganhou tudo. Das seis indicações, ganhou cinco, incluindo melhor filme. Seu diretor, editor, produtor e roteirista Sean Baker apareceu no palco quatro vezes para agradecer. Alguém vai se lembrar de Anora ano que vem?

Mas o que realmente revoltou todo mundo foi a Mikey Madison, 25 anos, levar melhor atriz. A favorita era sem dúvida Demi Moore, 62 anos, por sua atuação corajosa em A Substância, e também por sua carreira de mais de cinco décadas. Nossa Fernanda Torres, 59 anos, também tinha chances, por estar espetacular em Ainda Estou Aqui e por toda sua campanha exaustiva e impecável. E pra quem eles dão o Oscar? 

Os fãs da Demi reclamaram: "Uau! A novinha Mikey tirou o prêmio da madura Demi. Deveriam fazer um filme sobre isso" e "Mikey ganhar da Demi é a própria trama de A Substância". É injusto mesmo, mas a vitória da Mikey deixa claro duas coisas: 1) o Oscar realmente detesta filmes de terror, e 2) o Oscar amou Anora, e se o filme ganhou tudo, lógico que iria ganhar melhor atriz.

Pra gente parece um repeteco de quando a Fernanda Montenegro perdeu pra Gwyneth Paltrow, em 1999. Aliás, pra ser sincera, acho até pior, porque, pra mim, Shakespeare Apaixonado é bem superior a Anora, e porque, quando ganhou, Gwyneth já tinha atuado em Seven, Emma, e mais uma penca de bons filmes, enquanto Mikey esteve em Pânico e Era uma Vez em Hollywood. Mas não deixa de ser um sinal: Mikey nasceu na mesma semana em que Gwyneth tirou o Oscar da Fernanda-mãe!

Quanto ao meu tradicional bolão do Oscar, só teve um participante no bolão pago que adivinhou melhor atriz pra Mikey (e ele também foi dos poucos que acertou que melhor animação iria pra Flow, não pra Robô Selvagem): o Pedro. Com 17 acertos em 19 categorias, ele, que é médico em MG, foi o grande vencedor do bolão pago, e vai receber R$ 475. Eu ia pedir pra ele mandar o pix pra eu poder transferir o dinheiro, mas aí notei que já tenho pix dele -- o desgramado ganhou o bolão sozinho no ano passado, também com 17 acertos! Pô, Pedro, você vai aparecer sempre aqui pra ganhar da gente?! 

No bolão grátis, também com 17 acertos, a vencedora foi a Mayara. Parabéns, Pedro e Mayara! (aqui as tabelas atualizadas, organizadas pelo Júlio César. Obrigada mais uma vez, Júlio!).

domingo, 2 de março de 2025

É HOJE O OSCAR!

E eu, apesar de acompanhar o Oscar e até promover bolão há décadas, estou ansiosa! Acho que a última vez que fiquei tão ansiosa foi em 2020, quando a Petra Costa foi indicada por seu lindo documentário Democracia em Vertigem.

Assim como cinco anos atrás, os "patriotas" (aqueles que idolatram Trump e dão golpes em democracias) torcem contra o Brasil. Odeiam a arte. Sabem que Bolso tentou estrangular o cinema brasileiro. E lamentam que ele não tenha conseguido. Não há um filme mais apropriado pra representar o país agora do que Ainda Estou Aqui. É um tapa na cara de todos os bolsonaristas e demais fascistas.

Nunca o Brasil esteve tão perto de ganhar uma estatueta como agora. São três indicações para o grande filme de Walter Salle: melhor filme, melhor atriz, e melhor filme internacional. É gigantesca a torcida por Fernanda Torres, que além de ser maravilhosa se dedicou de corpo e alma na divulgação do filme. Embora Demi Moore seja favorita (não de acordo com o New York Times), não canso de repetir: Nanda tem chances.

E mais chances ainda tem Ainda Estou Aqui de conquistar melhor filme internacional. Estou bem otimista. Lógico que, mesmo se perder, nosso filme já ganhou. Ele espalhou o cinema brasileiro pro mundo inteiro, relembrou um período hediondo da história que jamais pode ser esquecido, e é um hino à democracia num momento em que a gente tanto precisa. 

Vou comentando um pouquinho do Oscar (e principalmente do bolão) na caixa de comentários. E, se der tempo, no bluesky. Amanhã escrevo um post sobre esta noite que já é histórica.