segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

TÔ ME GUARDANDO PRA QUANDO

Esta bela imagem e as outras no post são da edição de 2017 de Otros Carnavales, projeto de cobertura colaborativa de carnavais na América Latina e no mundo pela Rede de Fotografia Coletiva 

Pela primeira vez em cem anos, o Brasil não tem carnaval! É uma pena, mas também no último século nunca passamos por uma pandemia tão séria (e que ainda está longe de acabar).

Publico uma crônica que o educador social e mestre em Sociologia (UFC) Marcos Levi Nunes escreveu e me mandou. Já amei o título (pra quem não entendeu).

Pela primeira vez no Brasil tivemos um carnaval cancelado. Já haviam tentado fazer isso outras duas vezes, nunca com sucesso. Numa delas, em 1912, o presidente achou por bem adiar as festividades por conta da morte de um ministro, o Barão do Rio Branco. Resultado? O povo comemorou duas vezes. O primeiro carnaval daquele ano foi na data tradicional, institucionalizada pela igreja Católica desde 325 d.C, mas houve ainda uma segunda comemoração, na data proposta para o adiamento. Em junho daquele ano teve repeteco do carnaval com direito à marchinha: “Com a morte do barão/ tivemos dois ‘carnavá’/ Ai, que bom,/ ai, que gostoso/ se morresse o marechá”. 

Pois sim, em 2020 a pandemia resolveu assolar o mundo. Atacou e conseguiu, pela primeira vez na história deste país continental, cancelar a festa do povo -- e agora estamos todos órfãos da música truando, dos sentidos alcoolizados, dos encontros cheios de glitter, das fantasias, do gingado até o chão, dos bloquinhos, dos agarros, das festas que iam costurando a cidade. Órfãos... Mesmo eu, que até meados da juventude não era lá um grande entusiasta dos dias que antecedem à quarta-feira de cinzas, tenho sentido um aperto no peito. Uma amiga acabou de me mandar uma mensagem dizendo “antes de sexta-feira chegar eu tava super de boas. Mas ontem eu fiquei bem pra baixo”. Não tem como passar impune de situação tão nefasta.

Na verdade acordei com uma mensagem dessa mesma amiga, declarando “em tempos pré-pandêmicos estaríamos nos esbarrando em algum bloco de carnaval de fortal city”. 

Meu coração, mesmo sendo de um folião novato, sentiu o peso. Na mesma hora lembrei do Luxo da Aldeia, da praça lotada, dos sorrisos, dos abraços, do copo na mão e do meu corpo completamente desajeitado dançando na base da embriaguez. Que saudade desgraçada! Em ano de governo fascista não dá pra ter pandemia, tudo junto é lascar demais nosso lombo, não há quem suporte! Acredite no que acreditar, no Deus monolítico, na ancestralidade dos Orixás, no Nietzsche, em Buda, nas estrelas, seja no que for: entre em contato aí com essa galera pra ver se a gente agiliza esse mundo pra poder ter carnaval ano que vem. Num precisa pedir muito não, é uma vacina e cadeia pra milico fascista, pouca coisa. O resto a gente desenrola com tambor, sorriso, cachaça e glitter.

Se cuidem, meus amores, fiquem em casa.

9 comentários:

Anônimo disse...

Eu particularmente não gosto de carnaval, não gosto do clima, da energia, da época (verão, calor, chuvaradas, que igualmente não aprecio). Mas me sinto um pouco triste pelo carnaval cancelado. É uma festa que gera empregos, renda, sustento e uma vida digna para milhares de famílias. Penso na situação difícil, no desamparo, que essas pessoas estão vivendo com o cancelamento do carnaval esse ano :(

avasconsil disse...

Não gosto de pular carnaval. Quando era muito criança minha mãe me fantasiava de índio, pierró ou alguma outra coisa. Tudo bem simples, só pra não passar em branco mesmo. E era pra ficar em casa. No máximo ir à casa da vizinha, onde tinha outras crianças. Até a adolescência eu assistia ao desfile de uma escola de samba ou outra. Depois perdi a paciência. Comecei a achar os desliles longos. 1h e 1/2 por escola é tempo demais. Passei a achar um programa chato. Enfim, carnaval não é minha praia. Nunca gostei de aglomeração. Agora com a covid, além do desconforto habitual, sinto medo. Meu medo maior é o de trazer essa doença pra dentro de casa e me ver responsável pela morte de alguém importante pra mim. Porém, acho que o carnaval e jogos que atraem multidões são válvulas de escape do estresse e do desequilíbrio coletivos. As pessoas vão e gritam, bebem, extravasam suas frustrações, suas raivas, suas pulsões de vida, morte e sexo, sua agressividade. O carnaval e o futebol ajudam a sociedade brasileira a ser menos violenta do que normalmente já é. Sem esses para-raios pode sobrar pra alguém, criança, mulher, na violência doméstica. Um animal de rua ou de casa mesmo. Um estranho num acidente de carro causado por uma raiva que não foi canalizada pra outro fim. Serve também pra a arrecadação tributária. Parece que o Rio vai deixar de arrecadar 5 bilhões de reais. É uma perda muito grande, pra muita gente. Eu perdi o feriado. Tão bom seria trabalhar só na quinta-feira... Tomara que não acabem com a Semana Santa. Não é possível.

Alan Alriga disse...

Por mais que eu não goste do carnaval,é uma pena pra quem só têm essa data pra poder festejar e se sentir livre, mas torcemos que ano que vêm seja diferente e que possamos ter um carnaval especial de 8 dias para comemorar a vacina.

Anônimo disse...

Concordo contigo totalmente. E nem tinha pensado nesse lado de válvulas de escape, canalizar violência, essas coisas

Anônimo disse...

Eu nunca gostei de carnaval, desde criança, não foi uma imposição, pois minha família gosta. Sempre preferi ficar na minha, tranquila, sossegada, mas não posso ser egoísta, muitas pessoas gostam e faz falta para elas. O texto lembra muito esta canção a atual situação do povo brasileiro, o genocida na despresidência, etc.https://youtu.be/RLxQ1UyHDD4

Alan Alriga disse...

Futebol ajuda o brasileiro a ser menos violento? Não sei de qual Brasil ebrasileiros você está falando, pois no Brasil onde têm um jumento falante na presidência, o que mais têm é torcida organizada causando brigas e mortes, onde eu moro nem posso falar que troço pro Corinthians por medo de ser assassinado por torcedores do Palmeiras.

avasconsil disse...

Pois é, é aquilo, ruim com, pior ainda sem.

Mihaelo disse...

Não é todo mundo que ficou sem carnaval! As festas clandestinas ocorrendo nas praias, bares, clubes, barcos e pasmem, até em escolas públicas!(No Rio de Janeiro) em todo o país, como se a pandemia já tivesse acabado. Provavelmente em março, devido a todas essas aglomerações, irá agravar-se ainda mais!!! Será a terceira onda da pandemia no país!

Anônimo disse...

Lola, comente sobre a Professora Universitária da Bahia que publicou que desejava a morte dos seus alunos ao voltar pra sala de aula.