quinta-feira, 12 de setembro de 2019

ENTRE DINOSSAUROS E BEATAS

Anteontem estive em Santana do Cariri, no sul do Ceará, na fronteira com Pernambuco, para ser homenageada por defender as mulheres.
Eu e Verônica
Não fui a única. Havia também duas vereadoras e dois deputados estaduais que receberam a homenagem na Câmara dos Vereadores. A ativista Ana Verônica Barbosa Isidorio, da Frente de Mulheres do Cariri, que vive em Crato, foi uma das agraciadas e fez o melhor discurso, o mais aplaudido.
Eu palestrando na Câmara. No centro, a presidente Luciene
A iniciativa partiu da jovem vereadora Luciene Soares (PDT), a segunda mulher na história do pequeno município de 18 mil habitantes a presidir a Câmara. Ela foi me procurar na UFC para fazer o convite (mas não me encontrou porque estou afastada este ano, fazendo o pós-doutorado). 
Outro homenageado foi um padre, que discursou sobre a história de Benigna, uma jovem assassinada em 1941 que está prestes a se tornar a primeira beata cearense. A cidade quer que Benigna seja canonizada para poder atrair o turismo religioso, que é fortíssimo em Juazeiro do Norte, que fica próxima. 
Alguns discursos lembraram que Benigna, que já é louvada por muitos como a "santa da castidade" (ela foi barbaramente assassinada à beira de um rio por um rapaz também adolescente por não aceitar ser estuprada), não foi a única menina de 13 anos a morrer dessa forma. E que, assim como muitas garotas que até hoje são mortas, ela estava trabalhando (buscando água para a família). 
De todo jeito, é importante falar de feminicídio. Até porque o Ceará foi o segundo Estado que mais matou mulheres em 2018. E a região do Cariri é uma das mais violentas.

Entre as pessoas presentes no público estava Dona Socorro, 76 anos, que há dois meses e meio viu sua filha ser assassinada pelo ex-parceiro em Santana. No depoimento, Dona Socorro, que agora cuida sozinha dos oito netos, disse: "Eu não sabia que uma pessoa tinha tanto sangue".  
Numa reforma recente do museu, este dinossauro (não eu, o outro atrás de mim) foi tirado do museu e colocado na praça
Eu com Mirelle
Além do turismo religioso, Santana do Cariri é conhecida pela paleontologia, pois a região tem uma das maiores concentrações de fósseis do planeta. Tive o privilégio de poder visitar o Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri (URCA) e de contar com as ótimas informações da guia Mirelle. Mirelle está no nono ano do ensino médio e é uma das dez bolsistas que atuam no museu, que foi fundado em 1985. O símbolo do museu é uma libélula, bicho que não parece ter mudado nada de 110 milhões de anos pra cá. 
Fiquei particularmente fascinada pelo Santanaraptor Placidus, espécie que leva este nome por causa do fundador do museu, Plácido Cidade Nuvens (nunca inventaram um nome melhor para um paleontólogo!). O fóssil, único no mundo, foi encontrado em Santana em 1996.  
Visitei também o Pontal de Santa Cruz, onde almoçamos muito bem. Lá do alto dá pra ver o Parque Nacional do Araripe, considerado o primeiro geo-sítio da América Latina. 
No meio da correria que é esta minha vida, foi muito bom conhecer a gente boa de Santana, além de ter as minhas ações reconhecidas.
No Pontal com Cristina, minha doce anfitriã, e Lindalva, vereadora de Tabuleiro do Norte no seu sexto mandato, que ano que vem quer ser prefeita

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabens Lolinha!!! Você merece todos os reconhecimentos!

Paulo Cunha disse...

E obrigado pela explicação de onde se faz ciência!

Anônimo disse...

Lola, é absolutamente necessário que se coloque em pauta a destruição de canais Incel/MGTOW no YouTube. TODOS são absolutamente misóginos e propagam o ódio contra as mulheres. Precisamos nos unir para denunciá-los.