quinta-feira, 1 de agosto de 2019

"AÍ EU JÁ ERA BOM"

Tive uma longa conversa com o maridão num dia chuvoso nas férias. Eu queria muito ver alguma foto de Silvio quando era criança. Nunca vi. A mais jovem que vi foi uma postada este ano numa página do FB por um desconhecido de quando Silvio tinha 15 anos. 
Como eu já disse varias vezes, Silvinho é a pessoa mais ética que já conheci. Mais sem preconceitos. É raro ele julgar alguém. Esta qualidade, juntamente com outras, como ser muito divertido e bonito, foi o que mais me atraiu nele, quase 29 anos atrás, quando nos conhecemos num torneio de xadrez.
Tenho curiosidade em saber como ele se tornou essa pessoa que é. Ele contou que era o filho caçula de três irmãos, e que sua mãe era vice-diretora numa escola pública, então ele não ia embora com os outros alunos, ia embora com ela. E às vezes ficava esperando numa biblioteca minúscula da escola em Osasco. Lá ele lia todas as obras infanto-juvenis que havia, fábulas, Monteiro Lobato, histórias de aventura, e nessas obras era muito claro quem eram as pessoas boas e quem eram as pessoas ruins, num maniqueísmo bastante típico das obras infanto-juvenis. E Silvio não tinha nenhuma dúvida que ele e sua família estavam entre as pessoas boas.
Religião não queria dizer nada pra ele. Ele era católico, fez a primeira comunhão, mas nunca acreditou em deus. Ele se lembra que tinha que ir às missas porque, pra fazer as excursões escolares (visitar o zoológico ou algum museu, por exemplo), precisava ir a no minimo quatro missas e coletar a assinatura do padre. Mas ele não entendia como alguém que diziam ser tão todo poderoso não fazia nada para tornar o mundo um pouquinho melhor. Pra ele, deus era uma ficção. 
As histórias de fantasmas que sua avó contava eram muito mais reais, mais próximas da realidade. Era muito mais crível uma gaveta que se abria sozinha do que um deus que ninguém via. Mas de vez em quando havia sessões espíritas em sua casa, por parte do tio. E essas eram muito mais interessantes que o catolicismo. O Silvio criança via o espiritismo como algo usado para fazer o mal -- algo mais útil que o catolicismo, que não era usado pra nada. Ele não tinha medo do inferno, e o céu parecia chato. O menos pior parecia ser o purgatório.
Grande parte da sua infância e adolescência foi durante a ditadura militar. Ele e sua família assinavam e liam vários jornais, mas havia tanta censura que ele mal sabia o que estava acontecendo. Sabia que quem mandava eram os militares, e que estavam numa ditadura. Mas ouviam falar das torturas através do que vinha de fora, como as músicas de protesto que um amigo trazia do Chile. 
Ele e amigos da faixa etária corriam soltos pela cidade. Eu perguntei se não era perigoso, por causa dos carros, mas ele disse que não havia tantos carros. Já criminalidade, havia um monte. Ele e a avó liam Notícias Populares e viam e ouviam programas policiais, que sempre falavam de latrocínios e assassinatos. (Isso é pra quem acha que durante a ditadura nós eramos um pais sereno).
Aos 13 anos, ele se envolveu com o xadrez. Poderia ter sido futebol, vôlei, basquete, mas foi com o xadrez. Ele via que no futebol de vez em quando havia brigas sangrentas entre torcidas. Vizinhos viravam fanáticos. No xadrez isso não existia. Ele canalizou suas energias no xadrez.
Silvio com 15 anos. A foto
mais antiga que tem dele
Perguntei a ele se, com 13 anos, se houvesse internet naquela época, ele não podia ter sido seduzido por algum site misógino que lhe explicasse que a culpa por ele não ter mulheres era das mulheres, não dele. Ele disse que, com 13 anos, temas sexuais e afetivos ainda estavam muito distantes dos seus interesses. Mas e depois, eu perguntei. Será que com 16, 18 anos, um site de ódio contra as mulheres não poderia fisgá-lo? "Aí eu já era bom", ele me respondeu.
Adorei conhecer esses detalhes da infância do meu amado. Agora só faltam as fotos.

15 comentários:

Anônimo disse...

Algumas mulheres odeiam generalizações quando se refere a elas no sentido de preferirem homens cafajestes. Concordo! Mas por que taxar e generalizar o cara que é rejeitado por mulheres de misógino? Todo cara nerd é misógino?

Entendam uma coisa, nem todo homem venera mulher e nem tem ódio por ser rejeitado como vocês pensam não gente! Seu digníssimo esposo é uma prova disso: preferiu o xadrez naquela fase da vida em que os hormônios nossos estão a mil!!

Agora, que tem um bocado de mulher que adora homem fora da curva, isso sim. A mulher não curte o bom moço, esse cara é bastante previsível. Este tipo não apresenta algo desafiador. Não estou dizendo que a mulher gosta de ser violentada, não, pelo amor de Deus! Apenas que a mulher é um ser humano como qualquer outro que segue seus instintos, apesar de negarem a todo momento. Um ótimo dia a todos e a todas!

Anônimo disse...

Monteiro Lobato é um fabricante de neo-nazis.

Anônimo disse...

Que linda a sensibilidade desse post querida Lola. Adorei. O Silvio realmente parece um cara e tanto :)
Me identifiquei muito com algumas coisas da infância que ele descreveu.

Anônimo disse...

Eu li Monteiro Lobato e não virei neo-nazi....

Anônimo disse...

Quanta besteira, Monteiro Lobato era racista mas isso era visto como normal na época dele, quem são vocês para julgarem, até onde sabemos se tivessem crescido naqueles tempos seriam tão racistas quanto. Um monte de gênios de diversas épocas da história foram muito racistas, como Richard Wagner ou Gregório de Matos, isso não muda o fato de suas obras serem excelentes.

Anônimo disse...

Sim, 11:36. Hitler era racista. Um anjo, ne?

Anônimo disse...

13:55, nada a ver, pois não há como separar o racismo de Hitler das coisas que ele fez, enquanto ninguém precisa ser racista para gostar de ler Monteiro Lobato.

Anônimo disse...

Apenas um detalhe que vc não se ligou, 14:04: Hitler era mascu!!!!!

Não dá pra dissociar o que ele era do que ele fez!!

Luise Mior disse...

Essa questão do racismo de Monteiro Lobato já tem até uma postagem aqui no blog. É possível separar me parece, e nem todas as pessoas que lêem Lobato são racistas como ele. Silvio realmente é um homem bem interessante Lola, desse sorte ;)

Anônimo disse...

Eu gosto de Monteiro Lobato.

Anônimo disse...

Bom mesmo era Nelson Rodrigues!

Anônimo disse...

Vocês: "Monteiro Lobato!"
Eu, um intelectual: "Julius Evola!"

Anônimo disse...

Gosto do Sítio do PicaPau Amarelo

Anônimo disse...

Fiquei emocionada com a depoimento da Lola sobre seu maridão dela.Ele parece ser uma rara exceção.

Quanto ao resto dos homens, são todos lixos e nem para reciclagem servem, e foi graças ao feminismo que comecei a perceber o quanto eles são asquerosos.

Anônimo disse...

Nem eu. Aliás, Monteiro Lobato me levou ao mundo dos livros...