segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

O OSCAR 2019 E A VITÓRIA DA DIVERSIDADE

A equipe responsável por Green Book comemora

Boa tarde pra você que não tem que ler um ser acéfalo vindo comentar no seu bloguinho que o Oscar, aquele show de esquerdismo, "desprezou o talento para premiar cotistas".
Pois é, e você que pensava que o Oscar era uma cerimônia de divulgação de uma mega indústria cinematográfica! Bem-vindo à realidade!
Saudades do tempo em que reaças adoravam assistir ao Oscar e, quando ficavam entendiados, criavam memes de feministas (tipo eu) revoltadas com os vestidos e penteados das estrelas. Era mentira, óbvio, já que nunca gastei meio segundo do meu tempo falando da aparência das atrizes. Mas pelo menos os reaças tavam lá discutindo cinema. Agora tudo pra eles é financiado pelo Soros e demais "judeus globalistas". O planeta passando por uma onda nefasta do crescimento da extrema direita, e a gente aqui, "lacrando" no Oscar! 
Como festa, não foi uma cerimônia marcante. Não houve discursos que serão lembrados, na minha opinião. O melhor, o mais politizado, foi sem dúvida o do grande diretor Spike Lee que, na sua longa e brilhante carreira de 42 anos, nunca havia recebido um Oscar (competitivo, só honorário). Ele ganhou o de roteiro adaptado pelo que deve ser o melhor filme de 2018, Infiltrado na Klan. E a cereja do bolo foi receber o prêmio das mãos de um dos atores que ele alavancou, Samuel L. Jackson. 
Em seu discurso, Lee disse: "Diante do mundo inteiro, eu louvo nossos antepassados que ajudaram a construir este país, e também os que sofreram genocídios. [...] A eleição presidencial de 2020 está logo ali. Vamos todos nos mobilizar. Vamos todos estar do lado certo da história. Faça a escolha moral entre amor versus ódio. Faça a coisa certa!" 
Mais tarde, Lee ainda brincou com a imprensa: "Toda vez que alguém tá levando alguém de carro pra algum lugar, eu perco", referindo-se a Green Book (que veio a ganhar melhor filme) e Conduzindo Miss Daisy, um filme bem aguinha com açúcar de 1989. 
Spike Lee comemora muito.
Merecidamente!
Algumas semanas atrás, Lee afirmou que sua primeira indicação ao Oscar de diretor devia bastante ao movimento Oscar So White (Oscar tão branco) que, em 2015 e 2016, protestou pela ausência de indicados não brancos. Entre os 40 lugares para atores e atrizes (principais e coadjuvantes), nenhum foi para um negro, um hispânico, um indígena. Ao contrário do comentarista reaça problemático, levantar a questão da falta de representatividade não tem nada a ver com cotas. É preciso reconhecer o talento de todos, ué. Se há 40 nomes indicados em quatro categorias e todos são de pessoas brancas, parece que as cotas existem, sim -- para os brancos. 
Portanto, em 2017, graças à pressão do #OscarTãoBranco, houve mais indicados e vencedores que não fossem brancos. E agora em 2019 o recorde foi batido. Foram sete vencedores negros em seis categorias. Por exemplo, Ruth Carter foi a primeira negra a vencer na categoria melhor figurino (por seu trabalho espetacular em Pantera Negra). Hannah Beachler foi a primeira pessoa negra a ser indicada na categoria de design de produção. E ontem ela levou a estatueta por Pantera Negra
Além do mais, três dos quatro prêmios de atuação foram para personagens LGBT (Freddie Mercury de Bohemian Rhapsody, interpretado por Rami Malek; a rainha Anne de A Favorita, interpretada por Olivia Colman, e o pianista Don Shirley de Green Book, interpretado por Mahershala Ali). É ótimo ter mais histórias sobre gente que não seja hétero, até porque permite trazer personagens cheios de nuances e defeitos, distantes dos estereótipos. 
Alfonso Cuarón ganhou seu segundo Oscar de melhor diretor por Roma (e também fez história por ser o primeiro diretor a levar o Oscar de melhor fotografia). Ele agradeceu por reconhecerem "um filme protagonizado por uma mulher indígena. Como artistas, nosso trabalho é enxergar onde os outros não enxergam". Cada mexicano que ganha o Oscar de diretor (e foram cinco prêmios para diretores mexicanos nos últimos seis anos!) é um tapa na cara do presidente laranja que quer construir um muro. 
Também foi bacana o discurso de Rayka Zehtabchi e Melissa Berton, que ganharam melhor documentário pelo curta Absorvendo Tabu (Period. End of Sentence): "Não posso acreditar que um filme sobre menstruação ganhou um Oscar! [...] Um ponto (period) deveria encerrar uma frase e não a educação de uma menina". É um trocadilho com period, que tanto pode significar ponto quanto menstruação. Na Índia e em vários outros países pobres (Brasil incluso), ficar menstruada faz com que muitas meninas parem de ir à escola, pois não têm acesso a absorventes. 
Um momento que costuma ser chato, pelo menos pra mim, é a apresentação das cinco indicadas a melhor canção. Mas Lady Gaga e Bradley Cooper cantando "Shallow" (de Nasce uma Estrela) acabou sendo um dos pontos altos da noite. Ganhou merecidamente e Gaga fez um discurso comovente. 
Outro momento bonito foi o discurso totalmente improvisado de Olivia Colman, genuinamente emocionada e surpresa. A estrela de A Favorita torceu para que seus filhos estivessem vendo a premiação, já que ela ganhar um Oscar não ia acontecer novamente. Foi realmente um choque. A favorita era Glenn Close, indicada pela sétima vez. Fiquei triste por Close! 
A dama Helen Mirren manda
indireta à sinistra Damares
A entrega da estatueta de melhor filme surpreendeu um pouco, pois foi para Green Book. Talvez Roma tivesse um leve favoritismo. Apesar de Green Book ser um bom filme que condena o racismo, ele está longe de ter a mesma força de Infiltrado na Klan, ou mesmo de Pantera Negra. Mas, enfim, os prêmios foram bem distribuídos -- todos os oito indicados a melhor filme ganharam alguma coisa. Bohemian Rhapsody levou quatro estatuetas para casa; Pantera Negra, 3, Roma, 3 (incluindo uma inédita de melhor filme estrangeiro pro México), Green Book, 3, Infiltrados na Klan, 1, Nasce uma Estrela, 1, Vice, 1, A Favorita, 1. 
Vendo o pessoal me passar no bolão,
eu me senti  a maravilhosa Yalitza
Aparicio nesta cena
Quanto ao meu tradicional bolão do Oscar, foi bem emocionante também. No bolão pago, Geraldo saiu na frente, comigo na cola. Chegamos a empatar. Mas o que desequilibrou foi efeitos visuais para O Primeiro Homem (eu e Geraldo havíamos apostado em Vingadores). Claudemir, Júlio César e Joyce foram chegando perto e, no final, a vitória de Green Book deu a vitória do bolão para Claudemir, que acertou 16 das 20 categorias (Geraldo, Joyce e Júlio acertaram 15, e eu, 14). 
Claudemir, eu e Tatiana em
Floripa em 2013
Não tô chateada, já que Claudemir participa do meu bolão faz muitos anos (desde 2005!). Ele ganhou uma vez, em 2008, e agora vence de novo. Parabéns, Clau! Eu o conheci pessoalmente numa palestra na UFSC. Lembro quando ele morava em Pomerode e tinha que se deslocar até Blumenau para conseguir ver alguns dos indicados do Oscar. Valeu, Clau! Me manda a sua conta por email que eu deposito R$ 325. 
No bolão grátis, que reuniu 258 participantes, os vencedores foram Maria Barros, Bruna Miranda, e Lincoln, também com 16 acertos cada. Tomara que vocês entrem no bolão pago em 2020!
Bom, gente ótima, ano que vem tem mais! Mais uma vez agradeço ao Júlio César pela organização do bolão! Este ano ele não escapa: vou conhecê-lo em Maceió!
Venham pegar seu prêmio!

19 comentários:

Cão do Mato disse...

Está faltando diversidade na temática dos filmes também. Pode haver diretores e atores estrangeiros, mas o assunto de quase todos os filmes sempre remete ao universo da vida nos Estados Unidos. As histórias sempre se passam nos EUA e mesmo quando se passam encontros lugares do mundo, sempre mantêm uma relação com os americanos. A Sony comprou a Columbia Picture em 1989 (ou seja, há 30 anos). Quantos filmes ambientados na realidade japonesa a Columbia fez nesse tempo todo? Que eu saiba nenhum... ainda bem que a Netflix tá aí pra pelo menos tentar mudar essa situação.

Anônimo disse...

É claro e límpido que a premiação do Oscar privilegia as tais "minorias". É triste pois optam pelo politicamente correto ao invés da meritocracia. Seria como se os 100m rasos da Olimpíada fosse premiado - com o primeiro lugar- ao primeiro indígena que alcançasse os 90m primeiro. Independentemente se ele fosse o último colocado na prova. Isso é MUITO errado! Há claramente um "empurrão" das minorias para os prêmios. Desculpe, mas o Oscar não pode ser desse jeito. Nem o Oscar, nem Olimpíadas,nem qualquer competição. Meritocracia sempre! A competição tem que ser JUSTA e IGUAL. Coisa que os esquerdistas/cotistas/lacradores não entendem. Vc, Lola, se sentiria bem se uma negra ou indígena tomasse sua vaga na UFCE, com nota menor que a sua, e vc tivesse que vender bala no semáforo pra se sustentar, só pq vc é branca e ela não? A lacração de vcs só acaba quando dói na pele. Vcs nunca passaram por isso. Por isso não entendem.

Anônimo disse...

18:27, corroboro da opinião e provo o viés ideológico-politicamente correto do Oscar: https://veja.abril.com.br/entretenimento/trump-diz-que-sofreu-ataque-racista-de-spike-lee-durante-o-oscar/

Anônimo disse...

Quando se trata do Oscar, isso é até fora dos padrões deles. De todos os grandes eventos de premiação do cinema, o Oscar sempre foi o que teve menos diversidade. Vamos esperar que eles continuem assim.

Anônimo disse...

A onda politicamente correta mundial finalmente atingiu o Oscar! Até que enfim! As minorias menos favorecidas (seja em oportunidades, seja em patrocínio, seja em talento mesmo) merecem essa força dos opressores privilegiados. Força!

Felipe Roberto Martins disse...

O pouco que vi Lola adorei! Os Tempos são Outros!

titia disse...

Não acompanho o Oscar, acho um troço chato da porra, mas ouvi falar da polêmica com a atriz principal de Roma, e percebi que essa zona toda ao redor da moça reflete exatamente o que está por trás desse mimimi cancervador em relação à diversidade que está tomando (e que tome mesmo!) o Oscar: dor de cotovelo fudidassa!

Assim como os atores e atrizes mexicanos "brancos" filhinhos de papai que tiveram a faculdade paga e os primeiros papéis provavelmente comprados rasgaram o cu de raiva por uma atriz indígena sem muita experiência no cinema ter se mostrado melhor profissional que eles, a ponto de ganhar uma indicação na maior premiação da indústria logo no seu primeiro trabalho no cinema, os homens brancos dito héteros e que se acham ricos estão ficando putinhos por ninguém mais os considerarem seres especiais só por eles terem um pau e pouca melanina na pele.

Enfim: o povo que se achava grandes merdas por causa de coisas tão insignificantes quanto cor da pele, genitália, local de nascimento ou conta bancária tá tomando tapa após tapa de realidade na cara, e não tá gostando nem um pouco. E eu aqui só bebendo coquetéis de lágrimas cinematográficas e fazendo escalda-pés nas lágrimas dos machos frescos.

"Escutem aqui, vermes. Vocês não são especiais. Vocês não são um belo ou único floco de neve. Vocês são feitos da mesma matéria orgânica em decomposição como tudo no mundo." - Tyler Durden, Clube da Luta.

Lola Aronovich disse...

Chola mais, mimizento que se sente pessoalmente ofendido quando um negro, uma mulher, uma pessoa LGBT ganha algum prêmio! Afinal, se uma pessoa representante de uma minoria ganha, não pode ser pelo talento ou mérito dela, tem que ser porque alguém ajudou! Vcs são ridículos, reacinhas.
Um leitor comentou no Twitter algo que resume bem: o Sam Rockwell agora vai ter que vender bala no sinal porque o Mahershala Ali ganhou o Oscar de coadjuvante! É isso, ô infeliz?

Anônimo disse...

A Lola é mestiça, ela está longe de ser branca.

Rory disse...

Fiz 13 acertos, Lola. Cheguei quase, quase. Infelizmente não botei fé na Olivia pra melhor atriz, apostei na Glenn. Mas foi um oscar que, no geral, me deixou feliz.

Anônimo disse...

Oscar é coisa de burguês, (+_+)!

Tinúviel disse...

Lola, tenho lido muitas coisas negativas a respeito de Green Book, especialmente no sentido de ser passador de pano... poderia comentar a respeito disso?

Anônimo disse...

Lady Gaga rainha OSCARIZADA (finalmente foi feito justiça a "Til It Happens to You")

Com esse prêmio Gaga é agora semi-EGOTizada, só falta um Emmy e um Tony, pq (9) Grammy(s) e (agora) Oscar ela já possui

E falando nela, preciso comentar o quanto a Lady Gaga marcou essa cerimônia. Primeiro q ela foi a pessoa mais comentada durante todo o evento (mas isso já era esperado, visto q a ABC promovia sua presença incessantemente), ela foi o grande nome dessa edição sem dúvidas, até a Melhor Atriz (Olivia Colman) fez referência a ela em seu discurso

Mais: ela foi ovacionada de pé três vezes, duas delas só pela performance, sendo q uma ocorreu durante o retorno dela e do Bradley pra plateia nos comerciais, feito inédito. A terceira aclamação foi durante seu aceite de Melhor Canção Original q foi outro feito inédito, visto q ng jamais foi aplaudido de pé recebendo um Óscar nessa categoria.

Lady Gaga foi extremamente aclamada pela academia, foi inclusive a primeira pessoa na história a ser indicada a Melhor atuação principal e Melhor música num mesmo ano; é um sinal de q seu caminho na indústria do cinema e na premiação está pavimentado e q portanto ela terá longevidade como atriz

E não foi só no Oscar, foi na temporada de premiações inteira; ela foi simplesmente indicada a todas as awards possíveis pra ela (atuação e música) e ganhou ao menos um premio em TODOS eles (exceto no SAG), ela é a primeira artista musical indicada a todos os principais prêmios de atuação do cinema numa mesma temporada, a primeira mulher a ter sido indicada e vencido um BAFTA por melhor música, a primeira pessoa a vencer todos os Grammys do Pop Field e a primeira pessoa na história a ter ganho absolutamente todos os prêmios gerais da Great Award Season (Globo de Ouro, Critics Choice, BAFTA, Grammy e Oscar) num mesmo ano. Isso entre diversos outros feitos, como por exemplo, ter sido a primeira artista musical na história a ser bem sucedida tanto na musica quanto no cinema simultaneamente

Lady Gaga foi definitivamente consagrada como artista no domingo passado tendo ela apenas um pouco mais de 10 anos de carreira e eu estou muito feliz

Alan Alriga disse...

Mimimi, mimimi, mimimi, mimimi + mimimi + mimimi.
Pronto resumi todos os comentários já feitos e que ainda vão ser feitos dos racistas de plantão, só li maravilhas sobre os ganhadores.

Infelizmente não deu para assistir por falta de "luz", mas sei muito bem que não são produções medíocres que ganham prêmios, não importando quantas pessoas não brancas tenham no filme ou na produção, somente ganha quem se sobressai acima dos outros em cada categoria.

Aprendam a apreciar filmes de outros países e não somente filmes americanos, aprendam sobre outras culturas sem ser as corriqueiras culturas "asiática", (que só se resume ao Japão, China e Coréia do Sul) grega e européia, procurem outras culturas além dessas antes de virem falar merda aqui, mas caso tenham problemas mentais para aprender sobre outras culturas, sugiro a enfiar uma batedeira manual na bunda e pedalar até chegar no inferno, e ao chegar lá aproveitem e sentem na piroca do Hitler.

Paulo Cunha disse...

Caro anônimo das 11 horas e meia,
Lady Gaga abre a história da música para Horward Goodall:
https://www.youtube.com/watch?v=I0Y6NPahlDE&t=99s
Abraços!

Anônimo disse...

Sempre ótimo participar do Bolão, querida Lola!

Marcia.

Felipe Lobo disse...

Acho que não devemos dar tanta moral a esse tipo de evento. O Oscar é um evento que sequer é internacional, é somente de filmes estadunidenses. Não existe diversidade alguma. Já não basta o fato de não termos diversidade alguma nos cinemas e locadoras brasileiros, já que só vemos filmes americanos ou eventualmente britânicos (pois falam inglês).

Anônimo disse...

Ao comentário do anônimo 25 de fevereiro de 2019 18:27
Acho que você escreveu um comentário com uma fina ironia, quero crer, pois as tais minorias quase sempre tiveram que vender bala no sinal para se sustentar meu caro, AGORA, é que está doendo no branco
Ter que competir com mais gente, ter que obrigatoriamente ver os outros como humanos com iguais direitos é que está doendo.
Pessoas brancas, sobretudo homens, sempre conseguiram muita coisa, sendo apenas medíocres, então não jogue essa de indígena nadando 90 e blábláblá.

Sandra

Felipe Lobo disse...

De qualquer forma quase todos os diretores são 'homens e brancos'...