quarta-feira, 29 de novembro de 2017

"SEM MEDO DE VIAJAR SOZINHA, MAS..."

Maiara Braga tem 24 anos, mora na Espanha e é professora. Aqui ela conta o que tem passado nos últimos dias:

No dia 17 de novembro de 2017 eu estava a caminho de Portugal pela terceira vez nesse ano. Prometi a mim mesma que ia visitar o país uma vez por mês até o ano acabar e estava intencionada a cumprir a minha meta. Já havia viajado duas vezes em dois meses da mesma maneira. O que poderia ser diferente?
Eis que nessa viagem em específico eu era a única passageira desde Paris até Santiago de Compostela. Partindo por Santander, daria umas cinco horas de chão sozinha. Viajo sozinha de avião, ônibus, trem, barco, desde os 12 anos de idade. Meus pais apoiaram desde cedo este meu lado aventureiro. Faço isso há doze anos e nunca tive medo, pelo menos, sempre confiei muito na minha boa sorte.
A viagem teria tudo para ser mais uma da minha coleção se não fosse o motorista me assediando com perguntas durante todo o trajeto, perguntando se eu tinha redes sociais, falando da sua vida, mandando fotos e sentado do meu lado num ônibus vazio (quem dirigia nessas horas era o suplente).
Poxa, eu estava aterrorizada. Era só eu, o motorista e o suplente durante a travessia de um país pro outro. A minha única solução era "fazer o jogo" e ser educada o máximo possível. Também liguei e mandei mensagens com minha localização em vários apps e para várias amigas. Além disso, tirei muitas fotos e peguei os nomes dos envolvidos e registrei a viagem por precaução.
Quando cheguei em Santiago de Compostela, entraram mais pessoas e eu me camuflei em meio a elas. Respirei aliviada e achei que isso seria apenas um fato isolado, até o dia 24 de novembro, em Porto, onde eu estava num bar iluminado com uma amiga comendo um salgado e bebendo uma cerveja. Sempre vamos a esse bar e ficamos no balcão pra facilitar o acesso, mas nesse dia um rapaz bem apessoado iniciou um brinde e sucessivamente um flerte.
Notei que ele fazia o meu tipo e aceitei o brinde e perguntei-lhe o seu nome. Não me respondeu. Perguntei-lhe outra vez e também de onde era. Não obtive resposta. Virei as costas decidida a deixar pra lá. Mas o sujeito me agarrou pelo pescoço, prendeu meus braços e pernas com o seu corpo e apertou forte o meu corpo contra o seu. Tudo isso se passou em questão de segundos, em meio a muitas pessoas e num lugar bastante iluminado.
Eu estava em choque, e minha amiga, notando minha expressão, me ajudou a sair dos braços dele e o xingamos. Enquanto isso, ele tentava me tocar e me apertar a todo custo. Seus amigos se aproximaram e diziam ser da mesma cidade que ele e que tudo não passava de uma brincadeira. Sim, BRINCADEIRA. O ato de surpreender e agarrar uma mulher por trás era uma mera brincadeira. Discutimos e logo percebemos que não valia a pena e fomos embora pra casa.
Cheguei em casa frustrada e bem insegura, com medo de desencadear uma crise de ansiedade, e no sábado, dia 25, decidimos não sair. Meu bilhete de volta estava marcado pro dia 26 e assim foi, peguei o ônibus com destino a Paris e nessa viagem tinha mais pessoas, achei que seria tranquila.
Ledo engano, o motorista dessa viagem também começou a me assediar. E o ônibus estava cheio. Perguntou-me se eu estava indo à Paris e eu disse que não, que meu destino era Santander, disse pensando que seria o fim da conversa, mas ele continuou. Disse que se eu quisesse podia ir à Paris de graça com ele, que não me cobraria o bilhete nem nada da viagem. Sorri amarelo e peguei o celular pra mandar mensagem para as minhas amigas avisando de uma possível situação constrangedora.
Perguntou-me se meu nome era Maiara Braga, confirmei. Ele: Você tem facebook? Eu disse que não tinha. Ele: Hum, eu sei que seu nome é Maiara Braga, o seu telefone e email, mas não te acho aqui no face... Você tem whatsapp? Eu disse que tinha, mas por questões de trabalho, e que não usava. Ele: Então como vamos nos encontrar em Paris um dia? Como você conversa com seus amigos? Eu: por twitter.
Nesse instante eu já havia enviado minha localização às minhas amigas e solicitado que me ligassem para conversarmos durante o meu trajeto. O motorista me viu digitando freneticamente e perguntou se eu o estava denunciando à agencia de viagens por assédio, se eu era uma dessas mulheres que não diferenciava assédio de cavalheirismo. Não respondi.
Meu telefone tocou e fiquei conversando com as minhas amigas. Aí chegamos em uma parada e o motorista me convidou para uma cerveja. Eu queria muito fazer xixi mas preferia fazer xixi nas calças a sair da vista dos outros passageiros, então não me movi e disse que estava bem e que ia dormir. Minhas amigas ligaram de novo e conversamos por umas duas horas até chegar na minha cidade e descer. Eu cheguei dessa viagem exausta e muito humilhada.
Não consigo conceber a ideia de que minha paixão por viajar esteja colocando em risco a minha integridade e em consequência disso, a minha vida.
Talvez o assédio a mim sempre tenha existido, mas depois de terminar um relacionamento abusivo e aprender a "detectar os sintomas", passei a prestar mais atenção nos detalhes e nas coisas ao meu redor. Tenho certeza de que se eu pensar nas minhas viagens passadas vou encontrar mais situações assim, mas prefiro nem alimentar essa ideia pra não desanimar mais.

26 comentários:

Julia disse...

Também já viajei sozinha mas a trabalho. Sozinha, sem conhecer ninguém na cidade. Andando de táxi para lá e pra cá para lugares que eu não fazia a mínima ideia do caminho. Parece mais assustador do que de fato foi. Mas não repetiria a dose a passeio. Só se me pagando mesmo.

Julia disse...

Bju, Lolinha!

Anônimo disse...

Que horror, eu ficaria apavorada e vc deu muito azar tbm, em todo lugar que ia tinha homem inconveniente.

Anônimo disse...

Tirando o cara que a agarrou;o resto foi só cantada.

titia disse...

A impressão que eu tenho às vezes é que mulher sozinha não está segura em lugar nenhum.

Sobre o motorista safado: se não fosse assédio ele não teria medo de ser denunciado. Eles SABEM que é assédio, apenas tentam fazer um gaslight na moça a cada vez que são desmascarados.

Anônimo disse...

A pessoa tentar puxar conversa ou flertar virou assedio?

Anônimo disse...

Sempre viajei sozinha e nunca sofri esse tipo de abordagem . Acho que vc não teve sorte, e que não deve se intimidar se tiver vontade de fazer outra viagem assim .

Eu sou uma pessoa que teve um stalker gringo me assediando na praça onde fazia caminhada em Campinas . Como tem um guest post meu anônimo contado esse relato aqui, prefiro não me identificar . O post eh de março de 2015 , procure que você vai gostar de ler.

O cara era casado, e so por isso já era motivo para eu não querer nada com ele . Aí começou e me seguir, stalkear, pois sabia onde eu fazia caminhada . Foi um porre. Me livrei dele dando um bom berro pra ele ficar longe de mim, pra toda a praça ouvir . Como ele era casado não queria se expor né. Sumiu .

Sei exatamente o que vc sentiu

Giulia disse...

Sempre viajei sozinha e SEMPRE acontece algo.
Dá última vez, estava na Croacia, numa cidadezinha beira-mar. Fui fazer um passeio de barco e o barqueiro me perguntou de que país eu era. Foi só eu falar que era brasileira para ele passar o percurso todo me assediando.não adiantou eu dizer que não tinha interesse, que estava só querendo passear.

perguntou na cara de pau se eu já tinha ficado com um croata. respondi rispidamente que não e ele continuou me perturbando, querendo saber em que hostel eu estava hospedada, querendo bater fotos comigo, fazer os mergulhos comigo. Foi ficando cada vez mais bizarro a ponto de eu ficar toda embrulhada na minha canga com medo/vergonha de ficar de biquini na frente daquele cara.

A sorte que duas moças alemãs perceberam o que eu passava e se juntaram a mim. Ele foi ficando mais sem graça e diminuindo as investidas. sororidade é tudo.

O resto da viagem que fiz, Eslovenia, Bosnia, Italia, quando me perguntavam de onde eu era, eu já respondia na lata que era italiana (minha mãe é italiana então até que colava). Impressionante como o número de assédios diminuiu muito, mas não zerou, já que eu ainda era uma mulher viajando completamente sozinha.

Cindy disse...

Será que um homem já se sentiu assim viajando sozinho? Ou melhor, em qualquer momento da vida.

É tão assustador estar sozinha em um lugar e chegar um homem perto da gente, passa todo tipo de coisa dentro da cabeça. Pode ser só um papo, uma cantada, qualquer coisa, mas gente. É uma sensação horrível, assustador de verdade. =/

Anônimo disse...

[Off-topic]

Meu mundo caiu quando descobri que em dispositivos móveis os comentários daqui do blog aparecem como no facebook, youtube, sites de notícias, etc. Em vez de comentários independentes em ordem cronológica, aparece a opção responder comentário e as tais respostas são mostradas logo abaixo.

Anônimo disse...

"Anônimo disse...
Tirando o cara que a agarrou;o resto foi só cantada."

Tirando o cara que a agarrou; o resto só não a tinha agarrado à força AINDA.


(se fosse só cantada, não ficavam insistindo depois de levar uma recusa)

Anônimo disse...

Quando eu tinha 17 anos, saindo do interior para fazer faculdade na capital, dormi em um ônibus e acordei com o homem ao meu lado colocando a mão embaixo da minha blusa. Na época não tive coragem de gritar, nem falar nada. Acordei, o cara tirou a mão. Era noite e muito escuro, não dormi mais nenhum segundo na viagem que durou a madrugada toda.
Essa história foi muito marcante pra mim, quase que um rompimento da ideia que eu tinha de que eu e meus irmãos homens tínhamos iguais direitos. Embora meus pais tenham se esforçado muito para que eu não sofresse tratamento diferenciado por seu mulher, a vida adulta fatalmente me mostrou o quão mais perigoso e injusto era o mundo para uma mulher.
Muito me perguntei do porquê de não ter gritado. Questionei as razões pelas quais o homem havia abusado de mim. Neguei ter sofrido violência. Perguntei se isso é comum acontecer com homens. Ouvi de muitas mulheres fatos idênticos. Virei feminista (menos mal).

Sofia disse...

Fui fazer um processo seletivo em outra cidade. Fui de ônibus. Foram feitas diversas paradas em várias cidades. Em dado momento só ficamos eu e uma moça dentro do veículo (a moça sentada nos primeiros bancos próximo a porta e eu atrás) e o motorista e trocador.

O trocador saiu do local onde estava e veio se sentar do meu lado do nada. Perguntou pra onde eu ia, e depois onde eu morava, quantos anos eu tinha, se era solteira, ficou tão incomodo pra mim aquela enxurrada de perguntas e pior cada pergunta que ele fazia ia se aproximando mais. Em dado momento me virei pra janela e parei de responder, foi estranho pois no começo parecia que iriamos só conversar normalmente mas como só ele me fazia perguntas, quando ele me fez a terceira pergunta me calei.

Depois de um tempo ele ficou com umas gracinhas do tipo "ficou tímida?" "da um sorriso pra mim da?". Fiz menção de me levantar e ai ele falou que não precisava sair dali que ele saia.

Nossa, foi muito chato, pior situação. Desci do ônibus com ele me mandando beijinho e me gritando pela janela, deu a impressão que eu tinha dado bola, ou que tinha algo com ele, e eu sou comprometida e nem tinha interesse.

Cara, isso é muito ruim mesmo.

Anônimo disse...

Parece que está acontecendo a difusão de um ideário das feministas dos anos 80, e aceito no Brasil de forma equivocada, interpretando as sociedades patriarcais como se o poder masculino é coisa tão intensa que parece que a mulher sequer tem autonomia pelo próprio desejo, isso leva que alguns gestos masculinos sejam colocados como abusivos, quando não o são.

Parece ser o caso, aliás aqui tá cheio de relatos assim.

titia disse...

12:23 é no aparelho móvel os comentários aparecem interligados, mas aqui no blog não. Se estiver respondendo a alguém você tem que colocar ou o nome ou o horário da pessoa que comentou pra saber.

14:03 ele provavelmente deu esse showzinho pra fazer parecer que você deu bola, assim se outra moça denunciasse o assédio o motorista, os outros passageiros e todo mundo que testemunhou a cena ia achar que ele estava apenas flertando. É um truquezinho sujo bem básico desse tipo de babaca pra fazer a mulher parecer a 'louca'.

08:54 quando a pessoa recusa conversar e você insiste, sim, virou assédio. Entenda, fofinho: quando alguém responde suas perguntas com monossílabos, não olha nos seus olhos, vira a cara e te deixa falando só, bota um fone nos ouvidos ou se concentra em algum material de leitura e te ignora, enfim, se a pessoa faz qualquer coisa que não reciprocar a tentativa de bater papo você cala a boca e sai de perto porque ela não quer conversar. Ou vocês machos agora são tão burros que deixaram de entender comunicação não verbal, algo que até macacos sabem fazer?

Estão vendo, macharada, é isso que acontece quando vocês aprendem a interagir com mulher assistindo filme pornô ao invés de conversando e convivendo com mulheres de carne e osso.

Anônimo disse...

Fazendo atividade física numa praça local, um cara de mais idade resolveu fazer caminhada junto, andando bem do lado, e fazendo muitas perguntas inconvenientes. Nos trechos mais vazios, fiquei assustada até. Por sorte, logo apareceu outra rapaz. Deve ter percebido meu incômodo e deu aquela olhada longa do outro, que se tocou e foi embora. Agradeci com um sorriso e continuei minha atividade física.

Anônimo disse...

"A impressão que eu tenho às vezes é que mulher sozinha não está segura em lugar nenhum".
Não é impressão, titia. Infelizmente é fato na maioria das vezes.

Anônimo disse...

Se a mulher der sinais claros que não está disponível pra conversa ou flerte é claro que sim.

Charlie

Anônimo disse...

Que caras nojentos! E ainda tem misógino que afirma que os assediadores só estavam ''puxando'' conversa, quando se inconveniente e insistente quando alguém simplesmente demonstra que não tem interesse, se torna assédio sim. Muitas mulheres não são mais diretas em cortar o assediador por medo, se estão sozinhas com um sujeito desses. Medo de ser xingada, ameaçada, agredida, espancada e até estrada por ódio do assediador inconformado pela rejeição.

Anônimo disse...

Bem melhor visualizar assim, né? Pelo computador a gente fica meio perdidas com certos comentários (não sabe pra quem foi a resposta).
Mas não sei se é um problema com o meu celular, ou com o sistema operacional (meu celular é Windows Phone) mas varias vezes que eu faço comentários pelo celular, eles acabam se perdendo... Aí algumas vezes leio pelo celular, mas se quero comentar, vou no computador..

Anônimo disse...

Cantadas se caracterizam pela insistência. Chato é, mas não é perigoso.

Anônimo disse...

Sempre viajei sozinha e hoje o faço mais do que nunca. Cuidados são necessários, em qualquer lugar aliás. Mas não se intimidem, não fiquem em casa se lamentando. É possível viajar e ser feliz sem carregar ninguém ao seu lado. Mas uma dica chata: não digam que sao brasileiras. Infelizmente é verdade: muitos se sentem animados a dar cantadas pela fama falsa que temos.

Anônimo disse...

Sim. Homens gays investem em homens jovens que perambulam sozinhos. Mas sem dúvida a proporção é bem menor do que o que sofrem as mulheres, por questões estatísticas.

Uma vez em Toronto um cara parou o carro do meu lado, que estava a pé, e ficou fazendo caretas, mostrando a língua e gestos sexuais. Ignorei e ele vazou.

Anônimo disse...

ASSÉDIOS se caracterizam pela insistência. É CHATO, e é PERIGOSO.
Vc nunca sabe como o assediador vai reagir diante de um "NÃO".

Cantada é outra coisa bem diferente.

Só a dificuldade de discernimento da enorme diferença das duas situações já
demonstra como a violência tá naturalizada.

Anônimo disse...

1. Não existe a tal 'cantada'. Essa violência dissimulada sempre foi agressão misógina, somente disfarçada com mais ou menos cinismo, como vemos pelos exemplos dos pieces-of-shit citados no post e pelos exemplos locais, fornecidos pelos pedaços-de-bosta brazilian que não conseguem conter sua frustração diante da rejeição feminina e postam comentários reveladores da atrofia tanto de sua pisqué quanto de certos pedacinhos de seus corpos.

2. Maneiras corretas de finalizar um assediador misógino pré-estuprador sentadinho ao seu lado → opção 1: cotovelada de baixo pra cima com toda força e impulso de todo seu corpo, bem na ponta do queixo - é concussão, balanga o cerebrinho do bicho; opção 2: cotovelada com toda força e com impulso de todo seu corpo na garganta do bicho - aí é encerramento mesmo, fratura de traqueia. Ambas as opções devem levar no máximo 1 segundo, do seu início ao seu fim, como toda ação de auto-defesa realista e ética deve ser.

PS: o item nº 1 também no início também é uma auto-defesa realista e ética - enxergar a realidade como ela, de verdade, sem ilusões, é seu primeiro ato de auto proteção. These are your first steps... May your force be with you.

Anônimo disse...

Lola, esse post me lembrou de uma situação pela qual eu e minha amiga passamos em nossa viagem a Sydney, na Austrália. Ficamos as duas em uma pequena casa num bairro tranquilo, embora próximo aos principais pontos turísticos, alugada pelo Airbnb. A cidade é simplesmente incrível e estávamos maravilhadas, dentre outras coisas, com a segurança, tranquilidade e qualidade do transporte público. Podíamos andar tranquilas a pé, mesmo durante a noite, e raramente utilizávamos táxi ou uber, pois os ônibus e trens eram rápidos e confortáveis. Um dia, no entanto, estávamos cansadas de andar e resolvemos pegar um uber. Entramos no carro, cumprimentamos o motorista e fornecemos o endereço da nossa casa, na qual ele deveria nos deixar. Em seguida, começamos a conversar em português no banco de trás. No meio da viagem, o motorista interveio e perguntou que língua estávamos falando e de onde éramos. Dissemos que falávamos português e éramos do Brasil. Até aí tudo bem. Ele então disse que era paquistanês e começou um monólogo estranho. Falou sobre valores morais, disse que os problemas de homens e mulheres eram diferentes, mas éramos todos humanos etc. Começou a perguntar se tínhamos família ali, se tínhamos irmãos e coisas pessoais. Começamos a dar respostas vagas e monossilábicas. Chegando à nossa rua, que estava escura, o motorista não finalizava o monólogo e disse que era para anotarmos o telefone dele porque fazia questão de nos levar para jantar, em razão de sermos todos humanos e sei lá mais o quê. Minha amiga, assustada, pegou o telefone e disse que iria registrar o número dele. Daí ele pediu para ela dar um toque no celular dele, do que se esquivou dizendo que o aparelho não estava funcionando para ligações na Austrália. Entramos correndo em casa e mudou o tom da viagem. Não mais nos sentíamos seguras as duas na pequena casa na rua parada, sabendo aquele homem de comportamento estranho aonde estávamos, tendo em vista que evidentemente nenhuma de nós telefonaria ou sairia para jantar com ele. A sensação foi de arrependimento de não termos ficado em um hotel, pelo dobro do preço, apenas para não sentir medo por existir sendo mulheres. Não sei se o motorista era realmente perigoso, mas não deveria estar agindo desta maneira no trabalho e deveria tb estar ciente do pânico que pode causar em duas mulheres com perguntas pessoais e que parecem sondar se estão sem a presença de familiares ou homens em país estrangeiro. Espero que, cada vez mais, sejam denunciados e reprimidos abusos, concretizados ou mesmo sugeridos. Somos livres e os homens terão de entender isso, a qualquer custo.