SAI A IDEOLOGIA DE GÊNERO, ENTRA A IDEOLOGIA DO GÊNESIS

Mais um retrocesso na longa lista de atrasos da "ponte para o passado" do governo golpista.

Sem estardalhaço, sem alarde, como convém aos golpistas, o Ministério da Educação (MEC) alterou um documento que havia sido entregue à imprensa esta semana. A nova versão da Base Nacional Comum Curricular -- que serve como orientação do que escolas públicas e particulares no Brasil devem ensinar -- apareceu dois dias depois com a remoção de certas palavras. Adivinha quais? Logo as que citam alguns dos preconceitos que devem ser combatidos nas escolas.

Num trecho, o texto original dizia: "Selecionar argumentos que evidenciem as múltiplas dimensões da sexualidade humana (biológica, sociocultural, afetiva e ética) e a necessidade de respeitar, valorizar e acolher a diversidade de indivíduos, sem preconceitos baseados nas diferenças de sexo, de identidade de gênero e de orientação sexual". Ficou assim: "[...] sem preconceitos baseados nas diferenças de gênero". Talvez na próxima versão eles tirem isso também. 

A referência à orientação sexual foi suprimida em outros dois casos. 

Algumas horas antes do MEC divulgar o documento adulterado, Temer tinha se reunido com deputados fundamentalistas cristãos (o lado B da bancada BBB -- boi, bíblia e bala) que foram pedir-lhe a não legalização do aborto e das drogas, o fim da "ideologia de gênero nas cartilhas dos nossos filhos" e o "não uso do mesmo banheiro para ambos os sexos". O ofício entregue a Temer dizia que era absurda "a pedagogia que busca impor uma teoria com base sociológica que desconsidera a realidade biológica das crianças e adolescentes". Chega a ser irônico que uma bancada que é contra ensinar teoria da evolução e educação sexual nas escolas, que compreende que literalmente descendemos de Adão e Eva, defenda a biologia.

Um dos deputados, na saída do encontro com o presidente, declarou que Temer "está somando conosco, para juntos, defendermos, de fato, a família brasileira". O pastor Marco Feliciano declarou que, agora, "os pais poderão descansar, pois o Estado não vai interferir na educação de seus filhos". 

Antes, esses deputados evangélicos haviam tido pelo menos dois encontros (que não foram divulgados) com o sinistro da Educação, Mendonça Filho.

Não é preciso dizer que os fundamentalistas cristãos estão comemorando a remoção das palavras da Base Curricular.

O MBL (Movimento Brasil Livre) também celebrou. Num tuíte, parabenizou o presidente e escreveu "não é mais obrigatório que seja necessário o respeito à 'identidade de gênero' e 'orientação sexual'". Bacana: o movimento golpista concluiu que não é preciso mais respeitar pessoas trans e a gays, lésbicas, bissexuais, assexuais! No mesmo dia, o governo fazia campanha contra o bullying. Em outras palavras, o governo é contra o bullying nas escolas -- desde que os alvos de bullying sejam LGBT! 

(E, por falar em bullying e MBL, o vereador Fernando Holiday (DEM) jogou o número de whatsapp da vereadora Sâmia Bonfim (Psol) -- que ele pegou do grupo de vereadores -- nas suas redes sociais, exigindo que seus seguidores "a convencessem" a ser contra a "doutrinação nas escolas").

Porque até ontem era OBRIGATÓRIO
professores falaram de gênero...

Acho que ninguém se lembra, mas em maio do ano passado, poucos dias depois de Dilma ser derrubada e Temer tomar o poder, a psicóloga homofóbica Marisa Lobo encontrou o ministro da saúde Ricardo Barros no aeroporto. Ela aproveitou para dar um livro seu ao sinistro e para explicar como ser contra a ideologia de gênero era uma questão de saúde mental. O ministro, segundo ela, lhe respondeu: "Isso já acabou. O MEC agora é do DEM, somos conservadores". 

Diante da repercussão negativa do post, Marisa o retirou. Mas não é que eles tardam, mas não falham?

Como disse um leitor meu na ocasião: sai a ideologia de gênero, entra a ideologia do Gênesis.