quinta-feira, 3 de novembro de 2016

GUEST POST: DAS MUDANÇAS QUE PRECISAMOS VIVENCIAR QUANDO FICAMOS ONDE DEVEMOS FICAR

Pedi para que Ana Paula Rabelo, aluna doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFC, e integrante  do Grupo de Estudos Discurso, Identidade e Prática Social (GEDIP/UFC), escrevesse um texto explicando a excelente pesquisa que vem desenvolvendo.

Três anos já se passaram e esse é na verdade o segundo tema da minha pesquisa. Comecei com uma proposta que envolvia Comunicação Social, Sociologia e Linguística. Li muitas revistas de moda, visitei mais de setenta salões de beleza da cidade de Fortaleza, apresentei uns trabalhos, fiz uns artigos e vi que não estava muito feliz. Aliás, não estava nada feliz.
Mudei de tema. Mudei pra valer.
Comecei a pensar sobre como “Os processos de letramento social interferiam nas transformações de identidade de três gerações de mulheres que passaram pela educação formal”. Isso mesmo! Três gerações de mulheres que tivessem feito faculdade. Foi aí que encontrei o meu primeiro problema. Não é muito difícil encontrar grupos familiares de mulheres brancas em que a avó, a mãe e a neta tenham tido acesso ao ensino superior, mesmo considerando que a avó tenha apenas o normal... O difícil mesmo é você encontrar três gerações de mulheres indígenas ou ainda três gerações de mulheres negras. 
Participante do evento "Somos todos
parentes
" realizado pelo grupo de
mulheres indígenas na Univ Federal
 do Oeste do Pará no ano passado
O primeiro movimento foi o de excluir as mulheres indígenas do trabalho. Com muita tristeza, é claro! Depois de um ano de busca, não havia encontrado um único grupo familiar de mulheres indígenas... Nada! Nem um único grupo familiar incompleto (somente com mãe e filha). Decidi que essa pesquisa ficaria para um outro momento, mas que não estava fora da minha vida, apenas a deslocaria deste tempo histórico.
O segundo movimento foi o da mudança em relação às mulheres negras: elas iam ficar! Bati o pé e teimei. Não era possível que não conseguisse encontrá-las! Seis meses depois, encontrei um grupo familiar incompleto e depois outro que ainda não me atendeu... Mas tudo bem! Várias mulheres de diferentes idades se colocaram à disposição para uma conversa sobre o tema.
Foi quando suspeitei de mim: mulher branca, de classe média e acadêmica. Poderia não entender o lugar de fala daquelas que gentilmente colaboravam com a pesquisa. Cuidei de estudar outros pontos de vista. Me matriculei em disciplinas da Sociologia, voltei o olhar para o movimento social. Se é possível ser peneira, eu me peneirei o mais que pude, deixando que elas me perpassassem num ir e vir: escancarei minhas entranhas, deixei que entrassem.
Quanto mais eu ouvia as suas histórias, mais descobria o quanto a universidade tinha classe, raça e gênero. Pode não ser assim sempre, pode não ser assim em todo lugar... (e os dados dos últimos dez anos apontam para o crescimento da presença das mulheres nas universidades, bem como para o aumento de pessoas pardas e negras, inclusive em IES particulares). Mas os relatos me rasgaram, mostrando uma sociedade que se fecha para as desiguais. 
Nilma Lino Gomes, primeira mulher
negra a ser reitora de uma universidade
federal (a Unilab, em Redenção, CE)
E se fecha quando não permite que elas entendam os seus textos, se fecha quando não reconhece que essas mulheres fazem parte da academia (dentro da sala de aula ou fora dela), se fecha quando não permite que elas possam continuar cursando um sonho de mudança real de vida. Para as mulheres negras, a universidade é muito mais do que um certificado, porque muitas mulheres brancas não precisam disso para conseguirem empregos. Elas são favorecidas apenas por serem brancas. Para as mulheres negras, o diploma é um passaporte para um outro cenário.
Você deve me perguntar o porquê. Porque uma coisa é ganhar um salário sendo faxineira e a outra é ganhar um salário sendo professora. Não é que não haja dignidade em fazer faxina, mas há, simbolicamente, uma diferença no mundo, na forma de tratamento, nas relações de trabalho, nas relações pessoais.
Mirna Moreira, estudante de Medicina
na UERJ
Muitas dessas mulheres foram as únicas mulheres negras em suas famílias e em suas salas de aula. Elas passaram mais do que o tempo previsto cursando Pedagogia, História ou Psicologia, porque tinham que também trabalhar. Suas residências não ficavam perto da universidade e o tempo do deslocamento também precisa ser considerado como uma questão de desgaste emocional e físico.
Quando eu penso em tudo o que essas mulheres passaram, penso na necessidade de permanência de novas mulheres na universidade, como alunas e como professoras. Penso que nós (brancas, negras e indígenas) precisamos estar lá, permanecer lá! E é preciso que haja política pública educacional que garanta o acesso e a permanência de mulheres em universidades públicas, gratuitas e de qualidade!

38 comentários:

Anônimo disse...

E as mulheres PARDAS?

Se vc ver uma PARDA dirigindo um carrao, ela vira BRANCA.

Se vc ver uma PARDA faxineira, ela vira NEGRA.

Anônimo disse...

ótimo post, mas queria comentar um off:

Acabaram de cancelar pesquisas em torno do anticoncepcional masculino, por q os bunitos não aguentam os efeitos colaterais, cof cof cof

Sendo q até riscos de trombose as mulheres têm com os contraceptivos e nem por isso fazemos corpo mole

Omen é uma lástima mesmo, se nós somos os sexo frágil, o q dirá eles, são o sexo de açúcar, favor não os toquem

Marcia disse...

Vou deixar meu relato (sou branca), terminei meu doutorado agora. Entre as mulheres da minha família, não tenho mãe, avó ou tia com graduação. Minha mãe e minhas tias, não tem o ensino médio completo. Nossa família é de descendentes de imigrantes europeus e foram necessários 130 anos (com cessão gratuita de terras do governo brasileiro aos meus bisavôs - os títulos foram para os homens, é claro) para, mesmo sem ter barreira de raça, conseguíssemos ir à universidade. A barreira de classe (meus bisavôs eram pobres, seus filhos e meus pais, classe média baixa), também tem relação com essa demora da adesão, mas ainda fico espantada.

Olhando para os documentos da minha avó materna, descobri essa semana que ela nunca se inscreveu como eleitora. As mulheres podem votar no Brasil desde 1934, mas minha avó que faleceu em 1988 (com menos de 60 de idade), nunca votou na vida.

E se é assim para uma filha de agricultores italianos, quão grande será a falta de direitos das mulheres de outras raças, classes sociais menos favorecidas que a da minha avó?

O tamanho da nossa falta de cidadania, com todos às múltiplas opressões que atingem as mulheres de forma diferentes, nós apenas começamos a imaginar qual seja.

Anônimo disse...

Sorte da sua avó Márcia, qual é a vantagem de ser obrigada a votar? Se fosse realmente um direito, seria outra história.

Anônimo disse...


03 comentários ?

vou insistir ..... fecha logo esse blog

Anônimo disse...

E as mulheres PARDAS?

Se vc ver uma PARDA dirigindo um carrao, ela continua sendo PARDA.

Se vc ver uma PARDA faxineira, ela tb continua sendo PARDA.

Bjs no core

lola aronovich disse...

Anon das 17:09, obrigada pela preocupação. Mas se eu fechar o blog, o que vc vai fazer da vida?

Anônimo disse...


a) Lola sou sua fã e jamais feche este blog.

b) Sou negra e professora de História Lola eu sinto que a situação da mulher negra melhorou mas não é a ideal, a 30 anos atrás quase não havia negras nas universidades mas agora tem claro que estou preocupada com o avanço dos conservadores pois estes tendem a tentar convencer que racismo é coisa de esquerdopata

Anônimo disse...

Sara Winter expulsa de igreja:

http://www.thaciosiqueira.com/single-post/2016/10/24/Missa-Tridentina-em-Bras%C3%ADlia-No-m%C3%ADnimo-%C3%A9-algo-muito-estranho-mas-muito-mesmo

Anônimo disse...

E vcs, tem alguma coisa para fazer além monitorar a vida da Sara Winter ?

Alessandra disse...

Muito bom o texto. Entender nossos obstáculos, e encontrar apoio para superá-los é essencial. Como negra, pobre, periférica, sei muito bem a luta que travei pra concluir meu curso superior numa universidade pública, na década de 90, e encontrar lugar no mercado de trabalho. Lembro que numa de minhas inúmeras entrevistas para emprego, a jovem psicóloga que me entrevistava, após me deixar horas esperando, sem ao menos olhar meu currículo me perguntou quem pagava minha faculdade. Só consegui lugar numa empresa pública, através de um difícil concurso. E até hoje sigo tentando encontrar meu lugar. Não me vejo entre minhas colegas, não me reconheço entre meus pares. Tento seguir de cabeça erguida, mesmo quando dizem que ali não é o meu lugar. Alguns dias são mais difíceis que outros, mas deistir nunca será uma opção. Obrigada, Ana Paula! Obrigada, Lola!

Anônimo disse...

Kkkkkkk ótimo,lola!

Catarina a grande

Anônimo disse...

Entendo que a vida dos negros possa ser mais difícil em alguns aspectos. Mas esse ativismo histérico só faz a antipatia da sociedade aumentar. Começam a ser visto com vitimistas chorões.

Anônimo disse...

Fugindo do assunto.. Alguém já ouviu falar no "Trutis Bacon Bar" (página no facebook)? O dono do bar faz posts ofensivos contra feministas e vegetarianos. A maioria dos seguidores parece ser de extrema direita. Gostaria de saber se um processo seria cabível.

Anônimo disse...

A gnt ñ monitora ela, queridinho, ela que se expõe ao ridículo... Não é considerado "tomar conta da vida da pessoa" quando a pobrezinha faz de tudo para ser notada por alguém ! (Meio podre isso non ?)

Afinal, neh, veja só a notícia ! Ela foi expulsa de uma igreja ! Uma organização medieval que ela tanto elogia (bem, os "aliados políticos" dela não me deixam mentir, né Bolso ?) ! E isso é um feito pra qualquer "direitista que quer a morte de toda feminista" (ela é de direita e contra as feministas tudo. Só pesquisar pra ver...) ! Fica a incógnita: o que ela fez de tão absurdo que nem aquele povinho retrógrado aguentou ?!

Aliás, é justamente por isso que a gente está comentando sobre o caso... Senão a gente teria ignorado, como temos feito com inúmeros outros casos que a Inverno está envolvida. Por favor senhor, prove que não deixamos escapar uma notícia dela. Se não conseguir, pode ir assombrar outro blog e seja feliz, pois nós temos muitos outros tópicos melhores para debater - só entre pessoas evoluidas mentalmente, óbvio.

Anônimo disse...

Hahahaha oloco, Lola

gabs

Anônimo disse...

Lola, você morou um tempo nos EUA. Não ficou com vontade de permanecer por lá? Com todo um feminismo bem organizado e estruturado, bem diferente do brasileiro. Sem falar que a sociedade americana é muito mais liberal e progressista que a brasileira. Enfim, acho que estou sendo intrometido, rsrs, é que como leitor do blog tenho essa curiosidade a um tempo e decidi hoje lhe indagar.

Anônimo disse...

Rsrsrsrsrs, agora até vegetariano entrou no meio dos odiados pela extrema direita brasileira? Olha, processo pode dar, melhor consultar um advogado especializado para se informar o que se pode de fato fazer,

Anônimo disse...

Curtido

Anônimo disse...

Verdade, concordo, se você for um babaca.

Unknown disse...

Sorte? Viver a vida toda sem ser cidadã? Existir para ser, exclusivamente, dona de casa, trabalhadora rural e mãe, porque era isso que se esperava dela? Bem típico do machismo: os direitos não significam mais nada moralmente quando são, também das mulheres. E só para constar, para fazer o inventário dela foi preciso pagar todas as multas das eleições que ela não participou. nada muito elevado financeiramente, mas simbolicamente ela estava sendo condenada por não cumprir a lei.

Unknown disse...

Você pode ir embora, o que te impede? falta de vergonha na cara?

Unknown disse...

Conta uma novidade? trabalhadores organizados ao longo da história? SÃO apenas vítimas histéricas, chorando porque não queriam trabalhar 80 horas por semana. Assim nunca vao ter a simpatia dos patrões. As sufragistas feministas? Outras vítimas histéricas que queriam votar, mas que absurdo... Abolicionistas na época do império? Oradores histéricos radicais que apoiavam revoltas armadas de negros escravos, um ultraje! a escravidão nem era 'tão ruim assim', precisavam argumentar com jeitinho, senão a classe privilegiada escravocrata poderia se ofender...

Sinceramente, FODA-SE a antipatia dos racistas. Pessoas com vergonha na cara e caráter sabem reconhecer o valor de toda luta antidiscriminacao. Para de camuflar esse seu racismo nojento como opinião da sociedade, o único com 'antipatia' pela igualdade aqui é você.

Alessandra disse...

A vida das pessoas negras é mais difícil em todos os aspectos. Não somos vitimistas chorões porque nossa vida sempre foi e sempre será de luta e resistência.Só antas ignorantes acham que luta por igualdade é ativismo histérico. Na verdade é só medo de perderem suas escravas domésticas.

Anônimo disse...

Anônimo Alessandra disse...
A vida das pessoas negras é mais difícil em todos os aspectos. Não somos vitimistas chorões porque nossa vida sempre foi e sempre será de luta e resistência.Só antas ignorantes acham que luta por igualdade é ativismo histérico. Na verdade é só medo de perderem suas escravas domésticas.

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Não, não é. Só em alguns aspectos.

Passam sim a imagem de vitimistas chorões. Até para reclamar, precisa ter uma certa compostura.

No mais o que vc escreveu: " se não pensa igual a mim, vc é bobo, feio e chato" afff

Carlos Eduardo disse...



Sou homem, branco, hetero, de classe média alta.

E garanto que nunca participei de uma reunião onde se conspira contra negros, mulheres, homossexuais, pobres.

Não tem um pouco de paranóia nisso tudo ? Só uma reflexão.

Anônimo disse...

15:14 q omens como um todo são fracotes não é novidade nenhuma, sempre foram e sempre serão inferiores se comparado às mulheres

00:11, vc é bem desinformado a respeito dos EUA, hein querido, vc q pensa q lá é esse paraíso progressista todo, valha-me

Anônimo disse...

09:47 isso pq vc é irrelevante, até entre os seus

"Até para reclamar, precisa ter uma certa compostura", ual, falou a voz da razão, palmas, estendam o tapete vermelho, pq o sinhozinho não se contenta se não adulam sua grandiosa reflexão tão realística e ponderada, pq na primeira contestação já esperneia

Coitado, mas o q falar dessa gente q ama pagar de "moderada" e pseudo-coerente quando são assuntos relativos à direitos humanos e outras pautas progressistas, mas quando se trata de histeria direitista, batedores de panelas e outras sandices CÂNCERvadoras, aí toda verborragia será perdoada

natalia disse...

Falando, honestamente,não entendo por que muitas pessoas se sentem superiores a outras por uma questão de cor. Sim, a pessoa não se sente superior porque ela é melhor moralmente mas sim porque ela é BRANCA. É muita burrice.
Outra observação é que eu fiz três faculdades. Uma em faculdade pública, e as outras duas, em instituições privadas. Só me lembro de ter visto uma negra na última que fiz, que foi direito. Então temos sim, um sério problema de segregação racial. Não é só uma questão de pobreza, embora a pobreza consiga agravar, ainda mais, a situação.

Anônimo disse...

Carlos Eduardo

É esse o ponto. Se você precisasse conspirar, não seria preconceito. Preconceito e discriminação não se resumem a crimes proibidos por lei, eles também são formas de socialização que impõe limites de convivência e aversão. Cria padrões de normalidade, onde o excluído nunca é nomeado como excluído e, oficialmente, claro que todo mundo é igual, só que não existe 'não igual' que conviva com o grupo.

Compare: com quantas mulheres você trabalha? Quantas delas são brancas, negras, indígenas ou trans? Quantos negros? Quantas pessoas na sua família se casaram com pessoas negras?



Anônimo disse...

Lola, não feche o blog nunca!!! Tenho evitado comentar, não só aqui, mas em qualquer outro lugar na internet pq os comentarista em geral andam de embrulhar o estômago tanto quanto o Trump. As vezes, tipo hj, leio... Mas continuo amando as postagens... Acredito que seus leitores mais antigos andam fazendo o mesmo...

Anônimo disse...

Pois é, rsrs... Obg!

Anônimo disse...

Falou o centro do universo e a medida de todas as coisas. Vê se cresce e vai estudar, mimadinho.

Anônimo disse...

Vou discordar. Não haverá o fim de nenhuma forma de preconceito sem a empatia de TODA sociedade. Leis sao fundamentais mas não resolvem todo problema. No máximo escAmoteiam. Se for só para ficar discutindo as questões dentro do próprio movimento então eles não servem parA nada.

Anônimo disse...

"Carlos Eduardo4 de novembro de 2016 09:47


Sou homem, branco, hetero, de classe média alta.

E garanto que nunca participei de uma reunião onde se conspira contra negros, mulheres, homossexuais, pobres.

Não tem um pouco de paranóia nisso tudo ? Só uma reflexão.

Responder"

Então Carlos... também sou homem Branco hetero e também abastado.

E posso garantir,na minha cidade tem sim, algumas reuniões de homens onde discutimos (entre outras coisas) o que faremos para oprimir outras raças ou então nos divertirmos com as centenas de mulheres disponíveis (sem dono) .

Infelizmente é uma realidade, mas eu já não compactuo com isso.

Anônimo disse...

Eu garanto que já participou sim. E muitas vezes. Algumas em bares ou festas, muitas vezes no trabalho, e outras vezes com a família... Só não tinham exatamente este título na convocação, mas se vc reparar bem, era exatamente isso que faziam, vc e seus "quase iguais", conspira(va)m contra mulheres, contra homossexuais e contra negros. Só uma reflexão.

Anônimo disse...

Vc quer que eu acredite que existe um complô dos homens brancos e heteros para oprimir as minorias?

Faça-me o favor! Vc é mulher se passando por homem, né? Vc é a titia????

Anônimo disse...

Respondendo o primeiro comentário:

Mulher PARDA é coringa! Serve pra tudo! É massa de manobra dos dois lados da moeda, o branco e o preto. São apenas números nas estatísticas tendenciosas. Contente-se com isso querida. E tem negro achando que o oprimido é ele HAHAHAHAHA vai ser pardo pra ver o que é ser invisível na sociedade...