terça-feira, 22 de julho de 2014

GUEST POST: EXISTE MEIA RECUPERAÇÃO?

A A. me enviou este relato:

Lendo o terrível post da S., fiquei pensando na questão da recuperação, de como o trauma te altera, de como ecoa pela vida.
Minha família é pseudo-conservadora, do tipo que não sabe onde se situa, mas que atende a maioria dos requisitos. Catolicismo Romano brabo, respeito militar aos pais e autoridades, racismo, classismo, homofobia, o lote todo (mas só em casa, não na frente dos outros). E eu cresci internalizando tudo isso. Meus pais eram austeros e acreditavam na boa educação da cinta. 
Quando veio a puberdade, minhas amigas não suportaram a ideia de eu nunca ter beijado ninguém ainda aos 13. Fui a uma festinha junina escolar e beijei um rapaz, por pressão das tais. Todo mundo menos eu ficou feliz, mas encerrou a questão por um tempo.
No ano seguinte eu conheci um amigo de amigo de amiga, sabe. Ninguém conhecia muito bem, mas achava legal. Ele tinha 18 anos, era quieto como eu, conversávamos bem. Comecei a sair com ele sem ninguém saber (imagina o escândalo em casa). Saímos por um ano. E muita cagada que eu não tinha como processar na época aconteceu nesse ano.
Ele era um excelente manipulador. Agia como se fosse o cara mais sossegado na face da terra, vivia afirmando que isso de ciúme era bobeira, mas em certos momentos, me agarrava e dizia que era bom mesmo que eu era dele, me dizia pra usar certos tipos de roupa pra ele, que ele gostava de ver os outros caras me olhando na rua, sabendo que eles não podiam fazer nada. Ele sempre falava calmamente, nunca, jamais levantava a voz ou dizia algo ofensivo. Era tão diferente do que acontecia em casa que era intoxicante.
Nos primeiros meses ele era contido nas ficadas. Pedia licença pra tudo, perguntava se tava tudo bem, se eu gostaria que ele fizesse tal e tal. À certa altura ele começou a perguntar de sexo. Casualmente inseria sua namorada anterior no meio de conversas, de que ele tinha sido o primeiro dela.
Eu sempre insisti que não estava interessada nisso por enquanto, e ele sempre aceitou. Mais ou menos nesse tempo ele começou a agir diferente. Trancava a porta do quarto, apesar de irmos à sua casa apenas quando estava vazia. Ele começou a fazer coisas agressivas. Me morder, beliscar, sem pedir. Uma vez puxou meu cabelo e mordeu tanto meu pescoço e ombros que tive que cobri-los por um mês -- algumas mordidas ficaram quase pretas. 
Numa outra ocasião, ele pôs as duas mãos no meu pescoço e me asfixiou, pausadamente, por uns 20 minutos. Quando ele parava ele me acariciava, beijava, dizia que fazia isso com a ex e ela adorava.
Eu comecei a ficar ansiosa com ele. Não queria vê-lo, não queria ver minhas amigas, não queria estar em casa. Sentia que não tinha uma alma no mundo em que pudesse confiar.
Ele notou minha distância, começou a me mandar presentes via conhecidos, com declarações, também contidas, no início. Após uns dois meses de relativo silêncio, ele me mandou uma carta muito perturbadora. Ele dizia que estava morto de medo de ter me perdido, que não entendia o que havia acontecido, que meu comportamento era cruel, que ele estava se acabando, sem saber o que fazer.
Eu comecei a vê-lo de novo. Não ficamos por um tempo, apenas conversávamos. Quando começamos a ficar de novo, ele estava muito, muito violento. Não esperava eu entrar no quarto, me agarrava pela mandíbula, com um braço pra trás, e me pressionava contra a parede. Tirava minha blusa sem pedir, mordia meus seios dolorosamente, e meus lábios até abrirem cortes, cravava os dedos no meu estômago. Sempre calmo, sempre dizendo besteirinhas acolhedoras, sempre afirmando que era tudo aprovado pela ex.
Eu já estava um caco a essa altura. Não sabia como sair dessa, pensava na carta, pensava no massacre que seria contar aos meus pais. Eu queria sumir do mundo.
A internet ainda engatinhava na época, mas acabei fazendo um amigo em Portugal através de uma lista de discussão literária, e apesar de apenas discutir vagamente meus problemas com ele, ele me deu um gás pra decidir deixar o cara pra trás.
Fui à casa dele com a inabalável intenção de terminar, não importa o que ele dissesse. Agora preciso falar da questão da intuição e do medo, que tem sido abordada bastante aqui. Eu tinha uma sinfonia de alarmes disparando na cabeça enquanto ia à casa dele. Todo tipo de 6º, 7º, 8º sentido me dizia que era péssima ideia. Era algo bem abstrato. Eu malemá estava a par do conceito de estupro, não era isso que me passava pela cabeça, apenas pensamentos vazios, atordoados, de "algo ruim". 
Mas eu ignorei essas intuições. Eu realmente acreditava, honestamente, que toda aquela agressividade era só coisa dele, de homem, que ele fazia isso com a outra namorada, que eu apenas não estava pronta, que ele me respeitaria se eu não quisesse fazer nada (não que ele andasse perguntando, mas eu pensei, oras, eu também não andei negando).
Pedi pra conversar e nos sentamos civilizadamente. Eu lhe disse que não queria mais esse tipo de relacionamento, mas que poderíamos continuar amigos.
Ele acenou com a cabeça, levantou-se vagarosamente e trancou a porta. Eu gelei. Ele começou a me beijar e me despir. Eu o empurrava, pedia pra parar, ele ignorava, não dizia nada dessa vez. Eu comecei a tremer, meus olhos encheram de lágrimas, eu olhei pra janela, tinha um vizinho a um grito fácil de distância. Nesse momento senti algo duro cortando contra o meu pescoço, era o cinto dele. Eu tive uma fisgada de certeza que fosse morrer. Ele fez o mesmo esquema que havia feito com as mãos da outra vez, me asfixiando pausadamente. Eu estava petrificada.
Eu acho que tive um orgasmo involuntário. Um psiquiatra insistiu que, devido à asfixia intermitente, é bem mais provável que tenha sido simplesmente um leve desmaio, ou até despersonalização. Não sei mesmo. Eu tive desmaios desde então. No entanto, nunca mais tive a sensação de novo, pra comparar. 
E essa é uma das questões. Isso tudo ocorreu onze anos atrás. E eu sinto que, bem, não "superei", entende? Eu nunca mais consegui fazer sexo. Sequer consigo pensar sobre sexo sem virar o estômago.
Nunca contei à minha família, nem amigos. Nos anos seguintes fiquei com depressão, parei de comer, parei de ir à escola. Meus pais não sabiam, nem perguntavam, qual era o problema. Um dia me levaram à força ao hospital, e fui mandada ao psiquiatra, que diagnosticou depressão. Passei a tomar medicação, voltei a comer, a ir à escola, mas eu basicamente não "estava mais lá". Não sentia mais nada.
Não sei precisar quantos anos foram assim, chuto uns 4 ou 5. Eu basicamente fui quicando pela vida sem dar a mínima, daí gradualmente foi ficando menos pior, e menos pior, até que era só ruim, e daí tolerável.
Mas não passou um dia sequer nesses 11 anos em que eu não tenha pensando em morrer. 
Ainda sim, os últimos anos foram melhores. Em algum ponto comecei a sentir de novo, a conseguir me emocionar, a tentativamente imaginar um futuro.
Mas eu sinto que ainda não voltei, não completamente. Eu posso viver "corretamente". Eu consigo trabalhar, sair, me interessar por coisas. Mas no fundo me parece artificial, como se as outras pessoas fizessem tudo genuinamente, porque querem, e eu faço apenas porque... bem, por que não? Tenho horas pra preencher. Ainda sinto que tô quicando.
Eu tentei terapias alternativas à psicologia, um retiro religioso. Tentei uma outra medicação dois anos após ter descontinuado a primeira. Eu fico bem, no geral. Mas ainda é aquele bem "que seja".
E isso, bem, me assusta, e me irrita. Já foram 11 anos.
Faz dois anos que descobri o feminismo, que venho desprogramando toda a merda que aprendi. Eu sei que é um processo, eu sei que admitir certas coisas em você te faz sentir mal (com razão). Leio relatos de sobreviventes tão fortes, que arrumaram a vida, que estão bem agora. Não sei quantos anos levaram, mas acho que nem foram tantos.
Mas eu não consigo. Quando alguém me toca, é involuntário, eu odeio a sensação. Eu odeio ouvir sobre sexo. Estou ciente de que há sexo saudável, mas eu não tô falando de teoria. É imediato, instintivo.
Minha atual terapeuta diz que sim, é possível que esta fase nunca passe, que tem gente que fica a vida toda correndo de si e não ganha. Mas que, concomitantemente, há casos de gente saindo feliz de uma lama de 15, 20 anos. Que realmente, isso não tem padrão.
Faz sentido, eu acho. Fico pensando se não é questão de simplesmente admitir, talvez aceitar o fato de que alguma coisa quebrou de vez. E agora é assim. Sei lá, talvez o incômodo seja mais pelo o que acho que deveria estar sentindo?
Bom, é isso. Não sei bem se tem alguma questão aí que você possa dar uma luz. Mas é que meia recuperação não é algo que vejo muito por aí.

Meu comentário: Querida A., sinto muito pelo que você passou. Você obviamente não tem culpa de nada, mas espero que algumas meninas e mulheres captem algumas dicas baseadas no seu relato: 1) siga sua intuição. Se tem algum alarme interno apitando, respeite este aviso; 2) não caia nessa da pressão social. Só porque a "ex-namorada fazia" ou "todo mundo faz", não quer dizer que você tenha que fazer. Só faça qualquer coisa se você quiser; 3) quando for terminar um relacionamento com alguém que por algum motivo te amedronta, marque para fazer isso num lugar público, como numa praça ou parque (à luz do dia), ou lanchonete. Infelizmente, o que o ex de A. fez -- estuprar como vingança -- não é nada incomum (lembre-se: estupro está mais relacionado com poder, humilhação e dominação do que com sexo); e 4) denuncie sempre um estupro. 
Não sei se posso te ajudar em alguma coisa, A. Só vou te dizer o que você já sabe: as pessoas têm tempos e maneiras diferentes para curar as feridas e superar traumas. Não existe fórmula, não existe prazo certo. Eu acredito sim que você vai sair dessa. E eu também acredito em "meia recuperação". Você passou por essa experiência horrível quando tinha apenas 14 anos, uma menina. Você está passando por uma longa fase. O pior já passou. Você admite que os últimos anos foram melhores. 
Tenho certeza que os próximos serão ainda melhores, que você vai reencontrar seu equilíbrio, você vai "voltar". E não se pressione, porque quando chegar a hora, o momento, o parceiro em quem você pode confiar, a vontade de fazer sexo também virá. 
Você vai conseguir superar. Você faz terapia e tem total consciência de tudo que te aconteceu. Fico na maior torcida por você.

39 comentários:

Bela Campoi disse...

Relato perfeito do mal que o machismo, o patriarcado provoca: a gente "aprende" a ser conivente, a não falar não, a não reagir. Nesse ponto, a família tem um papel importante: eu aprendi a ter meu não respeitado, a falar não, a fugir de situações perigosas. Eu lia a pensava: porque ela não reagiu? Tem casais que gostam dessa situação sadomasoquista. O lance é dizer logo o que você não gosta, logo, de cara... E, Lola, suas dicas foram certeiras! Força pra autora do post, vc vai sair desta! Enfrente, assuma que houve um abuso, que vc dê a voltar por cima, porque há sempre tempo pra isso... Força! E não permita que isso se repita: existem muitos homens legais, não deixe que esse um, idiota, te sirva de régua!

Mirella disse...

A.,

a sua recuperação é sua, demore ela o tempo de demorar, aconteça da forma que acontecer. na verdade, não sei se nós nos curamos 100% de alguma coisa. sei que não me recuperei 100% de nenhuma das coisas que me aconteceram há 10 ou 14 anos. e acho que é porque elas sempre farão parte de mim. nada que tenha sido tão traumático como o que aconteceu com você, mas acho também que não existe uma fórmula. a mesma pessoa pode lutar para superar algo que fosse fácil para você. é o que faz a vivência humana tão complexa. na minha opinião leiga, há alguns aspectos que podem ajudar. talvez compartilhar sua história com alguém próximo te ajude. sentir compreensão e carinho de amigos pode te fazer um bem danado. talvez participar de algum coletivo feminista na sua região, ouvir outras mulheres para dividir suas histórias. dependendo de sua relação atual com sua família, conversar com eles pode ajudar, mas lembre-se: ajudar você. se eles ainda tiverem aquele ranço distante, se vocês não forem muito próximos, é provável que não ajude. digo isso tendo em mente que o conforto de sua família, por mais imperfeita que ela seja, pode te fazer bem.
sei como é se sentir quebrada por dentro, incapaz de sentir algo bom, nutritivo, bonito. mas também sei como é bom se surpreender vendo que, de onde menos espera, você deu e recebeu amor. pode ser com animais, pessoas, plantas - falando sério.
se você quiser ter esta responsabilidade, pode adotar um animal. você vai se surpreender como pode se identificar com isso, como pode se sentir bem cuidando de um gatinho ou cachorro.
se não quiser uma responsabilidade assim, que tal cultivar um jardim de ervas?
basicamente, estou falando de você encontrar algo para se dedicar e se identificar. algo simples, mas que pode ser poderoso. são maneiras de descobrir que você pode criar. seja fazendo dança, desenhando, escrevendo...
e sobre sexo, não gostar ser tocada: relaxa. não precisa fazer, não precisa gostar e nem precisa ser parte da sua vida. sexo só é bom com tesão e vontade, e nada disso vem acompanhado de "ser obrigada". não tem que falar nem ouvir se não quiser. a única coisa que precisa é respeitar seus limites, seu espaço, seu tempo. talvez você sinta desejo em fazer, talvez não. e tudo bem.
continue com ajuda psicológica, continue vivendo sua vida. tente encontrar um hobby, sem ansiedade, apenas pela diversão. espero que você fique cada dia melhor, e te desejo tudo de melhor.

haM disse...

A., : Acho que a única coisa que posso te dizer é: não se force a nada, nem mesmo a tentar se sentir bem.

O luto é sempre necessário, não só quando da morte de alguém querido, mas também quando do término de um relacionamento, a mudança de cidade e quando passamos por situações difíceis.

Pessoalmente, acredito que só melhoramos naturalmente, sem imposições. Quando passamos mto tempo nos forçando a ficar bem ou deixando as pessoas nos forçarem a ficar bem, só atrasamos o processo da verdadeira recuperação.

Cada um tem seu tempo, 5, 10, 20 anos, não importa e respeitar seu tempo interior é respeitar a si mesma.

Nunca deixa que lhe digam "vc já devia ter superado" nem deixe vc mesma ter esse pensamento.

Abraço apertado

Anônimo disse...

O camarada em questão parece um psicopata de filmes. Fazer isso é canalhice total. Infelizmente há pessoas assim no mundo.


Estamos num mundo com problemas, precisamos evitar que mais pessoas sofram dessa maneira.


O tratamento psicológico é vital para que ela se recupere.


Abraços,
Namorado Liberal

Anônimo disse...

A família pode prejudicar muito uma pessoa, pode limitar , traumatizar, agredir.


E quem decide não ter filhos é visto como ser de Marte, como um estranho egoísta.

Devemos evoluir muito no mundo.

Força, Lola.

Anônimo disse...

Pior que esse psicopata está solto e provavelmente fazendo coisas piores com outras mulheres.

Anônimo disse...

A, já me aconteceu algo traumático também, e na verdade eu nem lembrava, mas lendo alguns textos daqui, isso me voltou. Um tio avô meu me mostrava videos pornôs na empresa da familia e passou o meu pé no pênis dele na frente de toda a família, mas em baixo da mesa. Nada nem comparavel ao que te aconteceu, mas isso também me deu bastante trauma. Ele me mostrava essas coisas, e eu era apenas uma criança, ficava curiosa, mas não sabia exatamente o que aquilo significava. Desde muito tempo que também não queria viver, vivia com um incomodo que eu não sabia o que era, quando era pequena tinha uns medos inexplicáveis e acho que foi tudo por causa disso. Ha uns 2 anos fui à psiquiatra, tomei antidepressivos e fiquei exatamente como vc descreveu.... vivendo, apenas pq sim! mas nessa mesma época resolvi falar sobre o que aconteceu. Falei pra todo mundo, meu namorado, minha mãe, meu irmão, minha avó.... foi dificil, minha familia machista não lida bem com essas coisas.... A tradicional família mineira. Minha avó espalhou pra todo mundo pq odiava o irmão dela, minha mãe me perguntou se eu tinha provocado, meu namorado bizarro não falou nada.
Colocar isso pra fora me ajudou bastante, mesmo que ninguem tenha exatamente feito nada que ajudasse... só falar ja me mudou. Hoje parei de tomar antidepressivo, e pela primeira vez na vida me sinto bem! me sinto bem por ser eu, não sinto culpa mais... Além disso, como a mirella disse, adotei uma gatinha que deixa minha vida cada vez melhor... cuidar dela dá mais sentido a minha vida, por mais bobo que isso pareça... ela tá sempre comigo, me faz companhia, e pelo menos ela, nunca vai me julgar =P
Nem sei se meu texto fez muito sentido, respondi do trabalho pq seu texto me tocou, e espero sinceramente que vc melhore, e agradeço a lola e ao blog por ter me mostrado um problema que nem eu mesma sabia que existia! Beijos

Kittsu disse...

Precisamos perder o medo de magoar os outros... muitas vezes nos deixamos ser abusadas por medo de magoar os outro sem necessidade, como se precisássemos de um ótimo motivo pra dizermos um "Não". Temos que aprender a dizer não, e que a justificativa é a própria negativa. "Não". "Mas por que?". "porque não". E isso basta... Ou deveria bastar. E precisamos ensinar isso a nossas crianças.

Fernanda disse...

Tudo que o relato tem de triste, os comentarios aqui têm de lindos!

Sério, meninas. Que lindeza. Contar com vocês é sempre muito bom!

Para a moça do post, e também para outras: em Belo Horizonte tenho o contato de uma terapeuta fabulosa, habituada a lidar com esses casos extremos (mas não só, alias, cada um com sua medida de extremos, né?). Quem se interessar, so me pedir o contato. Mais de 30 pessoas a quem indiquei ja foram vê-la, e nunca houve uma resposta negativa ao seu trabalho. Ela e eu, juntas, salvamos minha vida.

Um beijo grande pra todo mundo desse blog lindo. (Menos pros mascus).

Fabi disse...

Aos 17 anos eu namorei um psicopata abusivo PHD em pilantragem. Eu estava em uma situação super vulnerável, saindo de casa para estudar na capital, mãe doente...(aliás, é incrível que eles escolhem a dedo né?). As coisas que ele fazia e me obrigava a fazer nem vou me dar ao trabalho de escrever, porque é uma história que me cansa e já não tenho muita paciência com ela. Então, enfim eu me dei conta que eu estava perdendo minha sanidade e que perderia minha vida se eu continuasse com ele, resolvi terminar. Foi difícil, ele não aceitava, ligava o tempo inteiro, me ameaçava, ameaçava minha família. Numa conversa definitiva ele tentou me estuprar, mas como estávamos no carro, na frente do meu prédio, meu porteiro desconfiou e foi perguntar se eu estava bem e ele recuou. A partir dali eu vivia aterrorizada, eu morava no 3° andar e sempre achava que ele iria conseguir escalar e entrar pela janela do apartamento. Uma vez, no meu pânico, alucinei que ele estava me observando enquanto eu dormia.
Olha, ele deixou muitas coisas ruins na minha vida, algumas que eu ainda tenho dificuldade em lidar. Mas ele era tão, mas tão canalha e desprezível que eu não podia dar o gostinho pra ele de continuar me aterrorizando. Assim, eu seria sempre dele - a vítima dele. Minha vingança foi ir ser feliz bem longe dele.

Anônimo disse...

Eu também tinha muito medo de magoar as pessoas, e muitas vezes eu aceitava ajudar ou fazer coisas mesmo sabendo que me colocaria em maus lençóis, eu sabia no momento de aceitar que eu não queria fazer aquilo que foi pedido - não falo apenas na conotação sexual, mas também de outros sentidos como favores por exemplo. Isso tudo só melhorou quando eu aprendi a dizer não, de verdade. E me poupou de muitas coisas que poderiam vir a acontecer comigo. Dizer não é libertador.

Anônimo disse...

Voluntariado e/ou ajudar instituições de animais abandonados poderia ser uma boa. ;)

Laura disse...

Acho que muitas de nós já passou por situações parecidas, só que não a este ponto. Esse negócio de ouvir o próprio medo eu comecei a pensar depois que li vários relatos aqui. Então acho que é sempre válido lembrar disso.
Em relação ao sexo, acho que antes d se envolver com outra pessoa (ou ao mesmo tempo) tente descobrir seu corpo sozinha. Tente se masturbar aos poucos para vc ir descobrindo o bom do sexo, aí já é um caminho para superar isso.
Sobre a porcentagem, acho que vc não pode ficar tentando fazer como se não tivesse existido. Vejo como uma marca que vc carrega, aí muda a forma como vc a encara, se lembra dos aprendizados com isso, se pensa em vingança, se se responsabiliza etc. Acho que o mais saudável é o aprendizado.

Anônimo disse...

força, irmã! você é mais que isso! você é uma sobrevivente, vencedora e vence mais a cada dia.


FORÇA!

Anônimo disse...

A., você não está sozinha. É muito comum que nós mulheres sejamos vítimas de relacionamentos abusivos, com maior ou menor intensidade... É incrível como essas pessoas são insensíveis, nos isolam e se aproveitam da nossa vulnerabilidade e confiança. Estou torcendo por vc, A.! Vc vai conseguir superar pq vc é muito maior que isso! Não deixe que esse babaca anule vc como pessoa pelo q ele fez. Muita força pra vc, A.

Arthur Aleks disse...

Também pensei nisso quando li o guest post. Lembro-me que, antes dos que chamo carinhosamente de "guest posts depressivos" da lola não julgava possível existir pessoas tão sádicas e cruéis no mundo, a não ser entre os esquizofrênicos e outros grupos que costumam ser rapidamente identificados e tratados. Antes da lola eu já sabia do machismo, mas não tinha idéia do quão insano era ele.

Anônimo disse...

A recuperação vai acontecer na hora em que você se conformar que o passado não pode ser mudado e deixar o que ocorreu para trás. Deixar de ser pretensiosa também ajuda. Pretensiosa no sentido de achar que poderia ter feito qualquer coisa de diferente do que como os fatos se desenrolaram; claro que não podia. Senão você teria feito, obviamente. E sobre o sexo, realmente não tem como você fazer isso de novo enquanto não aprender a ser desejável e confiante em si, para si, bancando de novo a responsabilidade de ter um homem estranho na cama.

O que quebrou, lá atrás, não foi a sua confiança em outras pessoas mas a confiança em si mesma, de saber e acreditar que pode se livrar de qualquer outra situação do começo, sem ignorar sua intuição, sem esperar ser enforcada, mordida e estapeada várias vezes para daí perceber que tem algo de ruim acontecendo. Por que você era tão "agredível" naquela época, o que aconteceu para você atrair esse tipo de pessoa? Pode ser um passo para você começar a refletir, a recuperar essa confiança e sarar essa ferida pra sempre. O que você falou sobre "desprogramação" é a pura verdade, porque é bem assim que funciona. Você se analisa, vê que condições permitiram que aquilo acontecesse (e não busque nada de fora, não ache que foi fulano, beltrano ou cicrano, olhe pra você bem de frente e veja por que naquela época você era tão atingível e como deixar de ser) e daí pra sair da lama vai ser um trabalho menos sofrido. Boa sorte.

Carol disse...

A, queria te contar que fui abusada na infância. Demorei 15 anos, mas hoje posso dizer que superei.
Foi muito difícil e houve uma época em que só pensava em me matar.
Comecei a melhorar quando consegui falar pras pessoas sobre o que aconteceu.
Sei que as pessoas não reagem da mesma forma, mas há esperança. Sempre há.
Passei muito tempo sem me interessar por homens. Mas hoje namoro um homem que me dá todo apoio e é muito gentil, que me aceita como sou. Não que precise mudar isso, mas pode acontecer também.

Aline disse...

Fernanda, eu queria o contato dessa terapeuta, se possível.

Erres Errantes disse...

Fiquei curiosa em saber como A finalmente se livrou desse namorado estuprador.

Anônimo disse...

Querida, tenho certeza de que essa má fase acabará de uma vez por todas! certeza!!!! Às vezes, tudo, ou quase tudo, parece muito nebuloso, mas a vida é longa, as ideias vão clareando e se ajeitando em nossa mente! Tô torcendo por você, viu! Vai dar tudo certo!!

Fernanda disse...

Aline, escreve pra mim no ferbuarque@hotmail.com e eu te passo tudo direitinho!

Beijão!

Marina disse...

Arthur Aleks, esquizofrênicos não são sádicos e cruéis. Esquizofrenia é um distúrbio psicológico e como tal deve ser tratado como um problema de saúde, não como um desvio de caráter.

Não compare psicopatas e sociopatas com esquizofrênicos, não tem nd a ver!

Anônimo disse...

Apatia, problemas sexuais e pensamentos suicidas, podem ser possíveis efeitos colaterais de antidepressivos, leia a bula. Se vc tiver interesse, leia o livro "Prozac Backlash" de Joseph Glenmullen. Ass: Sandro

Anônimo disse...

Fernanda, quero muito contato dessa terapeuta, como faço?

Lucas Pin disse...

Mais uma vez vemos que a maioria dos casos de estupro não são aqueles padrões do "beco escuro a noite", toda essa situação está cheia de machismo, na cabeça dele ele poderia estar pensando que insistir mais um pouco com você te faria ser convencida e que você queria só estava "fazendo doce" já pelo seu relato você não queria mas pela pressão machista de não falar apenas cedeu mesmo contra sua vontade. Leve o tempo que for preciso pra se recuperar mas saiba, não foi sua culpa!

donadio disse...

"esquizofrênicos não são sádicos e cruéis."

E por quê não? Alguns são, outros não. Não há nada que impeça um esquizofrênico de ser sádico e cruel.

(Um exemplo famoso você encontra no livro Sybil, sobre uma paciente que sofria de distúrbio de múltipla personalidade. A mãe da Sybil era esquizofrênica, e era também sádica e cruel.)

"Não compare psicopatas e sociopatas com esquizofrênicos, não tem nd a ver!"

São doenças diferentes, mas ambas são doenças. Sim, todos os psicopatas são perigosos, a maioria dos esquizofrênicos não é. Mas os que são, podem ser extremamente perigosos também.

Anônimo disse...

Passei por situação de abuso sexual aos 12 anos e quem me salvou da medicalização excessiva, da total falta de apoio da família e de um possível suicídio foi o Budismo. Foi com o Budismo que eu aprendi a tirar o "meu" que antecedia o "estuprador", não era "meu estuprador", era um estuprador e pronto. Também não foi o "meu" estupro, foi um estupro, e pronto. Quando aprendi a tirar o "meu", o "minha" das coisas e olhar de fora, a coisa em si perdeu um imenso valor. É como olhar um carro na rua; é o carro de alguém. Se você olha para o "seu" carro, não é mais um carro qualquer e um arranhãozinho já lhe gera dor, porque é "seu", e tudo que é seu faz parte de você - mesmo que seja um mero objeto.

Isso também vale para pessoas, sentimentos ruins e lembranças ruins do passado. Meu pai fez o que fez mas não como meu pai, alguma vez um homem que estupra a filha é pai de alguém? Evidente que não, tratava-se de um homem; tirei o "meu" antes do pai e pronto, vi esse homem e o que ele fez de uma forma desapaixonada. Também não foi a "minha mãe" quem não acreditou em mim, foi uma mulher, a mulher do meu pai, que deixou de me ver como filha no momento em que me enxergou como rival e decidiu de que lado ficaria. Vendo e trabalhando internamente dessa forma ficou mais fácil, para mim, separar o ocorrido e não deixar ele permanecer atuante no meu presente e determinando meu futuro, já era, eu não podia ficar congelada nesse momento por dez ou quinze anos, nada disso é ou foi meu em qualquer momento. E realmente não determinou. Aos 16 anos voltei a conhecer pessoas, aos 17 tive minha primeira relação sexual consensual com um rapaz fofo de quem sou amiga até hoje, foi super bom e nada traumático, namorei bastante, bastaaaaaaaaaaaaaaante mesmo rsrsrsrsrs, estou noiva há seis meses de um homem maravilhoso e vamos nos casar no começo do ano que vem. Tudo passa, porque a essência da vida é a impermanência, mas nosso arbítrio é sempre soberano: as coisas passam no momento em que deixamos que elas passem. Do contrário, ficam lá nas caixas do "meu", "minha", perturbando e criando peso extra que impedem a caminhada célere.

Saúde e felicidade para você.

donadio disse...

A., que bom que você se trata com profissionais. É a melhor solução. Não se deixe levar por conselhos amadores, nem por literatura de auto-ajuda.

E se disserem a você como você deveria reagir/ter reagido, lembre que quem passou pelo que você passou foi você, não o palpiteiro.

Anônimo disse...

A,
Entendo que, como resposta direta à sua pergunta, a *Mirella* e a *haM* foram *FENOMENAIS*.
Ótimo que sua terapeuta já não te pressiona e não tem como perspectiva aquele "você TEM de 'melhorar'/'mudar' ".
É uma m**** esse negócio de comparar-se, acontece.
Somos ensinadxs a isso, nossa cultura desvaloriza a individualidade, a singularidade - exceto, especialmente a mídia (e algumas pessoas, cujo discurso inútil de culpabilização individual demonstra forte insensibilidade e egocentrismo, e é fundamental reconhecer tal discurso para identificá-lo rapidamente e se afastar da pessoa), mas com objetivo contrário,
para enaltecer indivíduos adaptados a situação extrema determinada, socialmente desfavorável, como "exemplo", como se excepcionalidade fosse solução para questões estruturais. Discursos CONSERVADORES nojentos.
Importante ressaltar acompanhamento psicológico (que você já faz) e psiquiátrico (mesmo que apenas para "emergência") com profissionais em quem você CONFIE.
Tudo de melhor pra você - o SEU melhor, de mais ninguém.
Thata

Anônimo disse...

Marina (23/7, 8h50),

TODXS GANHAM por seu esclarecimento sobre questão tão elementar, a qual infelizmente, por preconceito e desconhecimento, pessoas ainda confundem.

Pelamor! Um pouco de conhecimento de causa antes de escrever bobagem não arranca pedaço!
Esquizofrenia (e outros) e psicopatia/ sociopatia são coisas completamente diversas!!!

Thata

Anônimo disse...

Donadio,

Primeiramente, permita-me expressar admiração aos seus comentários neste espaço fantástico que a querida Lola nos oferece.

Com relação à questão apontada:
Não há nada que impeça UMA PESSOA de ser sádica e cruel.
Independentemente de ter esquizofrenia, fibromialgia, HIV, artrite etc. A pessoa pode também não ter doença nenhuma E ser sádica e cruel.
Nossa cultura, como não suporta/ não se instrumentalizou para lidar com certos "fenômenos" sem imediata e desesperadamente atribui-lo a uma causa pontual - e que forneça a CERTEZA de excluir a nós mesmos e aos nossos próximos da categoria apontada - elegeu, por desconhecimento (e necessidade de explicação), rótulos psiquiátricos (fundamentais quando trabalhados por profissionais, isto é, não como rótulos) para ocupar tal lugar vazio de explicação, vazio que nos ameaça, nos amedronta, "precisamos" ter certeza de afastá-lo.

Passou da hora de, enquanto sociedade, encararmos esta questão. Embora todos os fatores - principalmente mídia e sua cadeia de produção - desfavoreçam o "desembaralhamento" desse meio de campo.

Thata

Fernanda disse...

Pessoal, quem se interessar pela terapeuta que mencionei, me escrevam no:

ferbuarque@hotmail.com

Eu passo todas as informações. Ela atende em Belo Horizonte. Para quem não estiver muito longe, honestamente acho que vale o deslocamento.

Anônimo disse...

"Nossa cultura, como não suporta/ não se instrumentalizou para lidar com certos "fenômenos" sem imediata e desesperadamente atribui-lo a uma causa pontual - e que forneça a CERTEZA de excluir a nós mesmos e aos nossos próximos da categoria apontada - elegeu, por desconhecimento (e necessidade de explicação), rótulos psiquiátricos (fundamentais quando trabalhados por profissionais, isto é, não como rótulos) para ocupar tal lugar vazio de explicação, vazio que nos ameaça, nos amedronta, "precisamos" ter certeza de afastá-lo."

Só verdades aqui.

Anônimo disse...

Complemento à resposta (23/7 13:32)
ao comentário (23/7 12:25) de Donadio

[rsrs não sei porque, no smart aparece como resposta, embaixo do comentário, em cinza, masss... no computador não, aparece tudo na sequência cronológica, independente de ser comentário ou resposta]

Todo PSICOPATA, sem exceção, é incapaz de sentir compaixão, empatia, de sentir um mínimo de dor diante do sofrimento alheio (seja esta outra pessoa próxima ou distante ou desconhecida).
Todo psicopata, por isso, causa danos a outros sem o MENOR constrangimento. Pode ser violência física ou não. Pode ocorrer em diferentes graus, de leve a gravíssimo. Estelionatários contumazes, por exemplo, arrasam a vida de pessoas (me refiro principalmente àquelas que investem todo o pouco dinheiro que podem, vivendo um cotidiano de privações, mormente para adquirir casa própria), e são capazes de, convincentemente, jurar que não cometeram crime.
(Retorci-me por dentro quando um convidado do Jornal da Cultura, esse ano, afirmou que tal tipo de criminoso - psicopata - deveria receber pena alternativa porque não ofereceria risco à sociedade!!!).

Mas nem todos os crimes bárbaros e cruéis são cometidos por psicopatas.

Thata

Anônimo disse...

Com 14 anos de idade eu estava na oitava série, brincava de carrinho com meus primos, sabia "tudo" sobre sexo e ao mesmo tempo jurava que meus pais tinham feito sexo somente três vezes, porque tenho dois irmãos. Nem era assunto proibido em casa, mas eu era bobinha assim rsssss. Adorava ficar jogando videogame e via os meninos mais como uma inconveniência do que como parceiros sexuais, aliás, eu não via ninguém como parceiro sexual e nem pensava nessas coisas porque não pertencia ao meu mundo.

Hoje em dia, com 14 anos já se pleiteia vida adulta mas eu, naquele tempo, era uma criança comprida.

Aí mudou um rapaz para a casa ao lado da minha família, um guri de 15 mas aparentando uns 12, ficamos amigos bem rapidinho e ganhei outro parceiro pro videogame. Um dia ele começou a me alisar e eu dei um tapa na mão dele, porque estava atrapalhando minha partida. Em outro dia, ele tentou me beijar e eu dei uma baita mordida na boca dele, que coisa chata! Nada disso me incomodava como "violação", eu não tinha consciência disso, só achava chato e metia um ponto final. No final a gente mesmo achava graça e dava risada. Mas o irmão mais velho dele, na época acho que ele tinha uns 20 viu uma dessas situações e pasmem, veio me chantagear.

Disse que se eu não fizesse tudo o que ele queria, ia contar para meus pais que eu ficava de amassinho com o irmão dele, eu nem sabia o que era amasso, pensava em coisa amassada mesmo, fiquei sem entender nada e ele dizendo que eu tinha que deixá-lo colocar a mão nas minhas partes íntimas. Saí correndo e contei tudo para minha mãe.

É incrível como a inocência que me salvou de um estuprador pedófilo. Eu não sentia culpa até porque eu mesma resolvia ali na hora com meu amigo, seja no tapa ou na mordida e ficava tudo legal. Aí vem esse irmão babaca querendo se aproveitar de mim, mesmo com toda a minha inocência sexual eu sabia, sabia com todas as forças que aquilo era errado.

Foi uma confusão. Meu pai e o pai dele se atracaram, o babaca aprendiz de estuprador ficava rindo em um canto e meu irmão mais velho (ainda assim, mais novo que o pedófilo) foi acabar com o sorriso dele. Deu polícia e tudo. E no fim das contas, me vi na frente de uma assistente social (eu não sei o título do cargo, seria o equivalente a alguém do Conselho Tutelar mas naquele tempo era diferente) explicando a história toda, que acabou não dando em nada. Eles se mudaram do bairro e só voltei a falar com o meu amigo quando ele me achou no Facebook. Dele eu nunca tive raiva. O irmão dele chegou a ser preso duas vezes, mas por outras coisas. Bom sujeito.

Sem a minha inocência e sem uma família me apoiando até debaixo d'água, minha história poderia ter seguido um rumo totalmente diverso. 14 anos de idade, o que me restaria contra um homem de vinte? Ia foder meu corpo e a minha cabeça, no mínimo. Ia ser mais uma na fila da psiquiatria pra pegar os remédios. 14 anos é muito pouco tempo de vida pra se cobrar atitudes de alguém, elas podem ou não acontecer, no meu caso aconteceu mas em tantos outros, não. A gente não deve nunca ficar cobrando a si mesmo das coisas, mas nesse caso é ainda pior não? 14 anos, poxa!!! Eu fiz o que deu, ela fez o que deu pra fazer. E passou, nada fica congelado pra sempre no tempo, isso só em gibi e filme de ficção científica porque o mundo mesmo não para de forma alguma para contemplar nossas alegrias e tristezas.

Se desse pra voltar no tempo, acho que não tem um aqui que não mudaria alguma coisa na sua história. Teria dito isso, feito aquilo, agido assim, não agido assado, mas dá? Não dá. Então essa cobrança por coisa que passou é uma estupidez que terapia nenhuma no mundo vai curar se a pessoa não começar a ver isso por si mesma. Ainda mais se você era uma criança e sem saber porcaria nenhuma da vida. Agora, a decisão de continuar sendo aquela criança frágil e indefendida, aí é de cada um. Tem um pouquinho de apego aí também. Mas cada um sabe o quanto de dor consegue suportar.

Raven Deschain disse...

Anon das 20 e 53, me desculpe. Mas não há nada errado com a autora. Ela não fez nada pra atrair esse tipo de pessoa. Isso é culpabilização da vítima. Quem esteve, e está errado sempre foi ele.

Isso que vc disse me lembrou do Dragão Vermelho, quando a moça cega se envolve com o psicopata, e se sente culpada, e o policial precisa dizer pra ela, que não havia nada de errado nem diferente nela, que nada do que ela fez poderia ter atraído aquele cara. Digo o mesmo pra autora, e peço pra vc refletir esse seu comentário.

Carolina S disse...

Esquizofrênico e bipolar dentre outros doentes mentais, tem mais chances de sofrer violência do que cometer. Cuidado ao rotular e piorar a vida de pessoas que já sofrem preconceito. Carol h

Anônimo disse...

"Anon das 20 e 53, me desculpe. Mas não há nada errado com a autora. Ela não fez nada pra atrair esse tipo de pessoa. Isso é culpabilização da vítima. Quem esteve, e está errado sempre foi ele.

Isso que vc disse me lembrou do Dragão Vermelho, quando a moça cega se envolve com o psicopata, e se sente culpada, e o policial precisa dizer pra ela, que não havia nada de errado nem diferente nela, que nada do que ela fez poderia ter atraído aquele cara. Digo o mesmo pra autora, e peço pra vc refletir esse seu comentário."

Culpa é pretensão. Sente-se culpado por não ter feito (passado) determinadas coisas, como se na época fosse possível ter agido de forma diferente. E não possibilidade estatística mas de fato, realizadora. A pessoa que se culpa no fundo imagina que naquela época ela poderia ter enxergado o futuro, visto que a situação não teria bom deslinde e, no passado, atuado de forma a ter outros resultados. Somos ensinados a sentir culpa e a alimentar culpa porque é uma forma de fazer com que a própria consciência da pessoa massacre, na falta de alguém massacrando. Não é à toa que as religiões usam a culpa com grande maestria há tantos milhares de anos.

Livrar-se de culpa e aceitar o passado sem querer modificá-lo não é só uma estratégia de libertação espiritual mas de todo um sistema que nos é incutido desde a mais tenra idade, ou antes disso, em nossos pais, avós, bisavós...

A culpa, em um sentido social ou jurídico pode ser imposta a alguém, mas o sentir-se culpado vem da pessoa e está em sua esfera de poder alimentar isso ou entender o processo, cortando-o.

Então quem se culpa por qualquer coisa, no sentido mais literal possível tem culpa mesmo. Em si. Se não tem, não adianta um terceiro falar que é porque a pessoa sabe que não é e aquilo não atinge internamente. E termina todo o processo.

Ninguém precisa culpar a vítima quando ela própria faz todo o trabalho sozinha.