sexta-feira, 1 de novembro de 2013

GUEST POST: MEU PAINHO MACHISTA E AUTORITÁRIO

A universitária C., de 20 anos, da Bahia, enviou este relato:

Sou a terceira filha que meus pais tiveram juntos, meu pai tem outros filhos de casamentos passados. Eu e minhas irmãs tivemos uma educação machista, onde saias curtas, saídas pra casa de colegas, discordar do meu pai, cortar o cabelo, entre outras coisas, eram proibidas. A minha mãe não partilhava destas ideias e tentava da maneira que podia nos proteger, mas não fazia muito, pois fora educada a nunca desobedecer seu marido.
Quando eu era criança não percebia o preconceito nessas questões impostas pelo meu pai. Pensava que ele estava com a razão e aceitava, mas fui crescendo e percebendo o machismo na fala dele, o jeito com que ele sempre tentava nos diminuir, a forma como ele queria que nós o tratássemos (como o rei da casa), e comecei a questionar. Fui repreendida e apanhei várias vezes. Ele entendia meus questionamentos como um confronto direto, porém, esta era uma forma que eu tinha de tentar entender todos estes desmandos ao meu redor.
Também apanhava por tentar defender a minha mãe. Infelizmente, ela nunca teve liberdade para fazer o que queria, e não reagia, o que me deixava indignada, e eu brigava com os dois. Minha irmã assumiu-se lésbica e, pela educação machista que recebi, afastei-me dela. Eu a amava muito e na minha adolescência comecei a estudar sozinha sobre as questões de gênero, e foi estudando que descobrir o feminismo. Um mundo de possibilidades se abriu na minha frente, descobri pessoas que pensavam como eu, e reconheci o machismo na educação que recebi.
Após várias brigas familiares, parei de brigar com painho, me calei diante de suas afirmativas errôneas, ingressei na universidade, estou cursando Ciências Sociais, e meus estudos me deram autonomia pra sair de casa. Sou feminista e minhas pesquisas são voltadas para as questões de gênero; participo de um coletivo LGBT e de coletivos de mulheres. Faz dois anos que saí de casa, paramos as brigas, minha mãe se separou e vive muito feliz. Hoje a nossa relação é boa, ajudo painho no que precisar, vou cuidar sempre dele, pois o amo muito. O que me dói é saber que esta lacuna que o preconceito causou entre nós dois jamais possibilitará que tenhamos uma relação de cumplicidade ou de amizade.
Sei que tem meninas por aí que estão passando pelo que passei, recebendo uma educação machista e autoritária, onde a desigualdade é provada dia a dia dentro de sua própria casa. Sei como são sufocadas e sofrem! O que tenho a dizer pra elas: força, meninas! Estudem, estudem e conquistem o mundo de vocês. 
O que tenho a dizer aos mascus que pretendem ofertar uma educação machista a suas filhas: queridos, quanto mais machismo houver na sua casa, mais feministas suas filhas serão. Elas se tornarão as feministas mais estudiosas e mais determinadas que vocês podem imaginar. Seu pior pesadelo.
Avante, movimento feminista! 

Minha resposta: Que as deusas te ouçam, C.!

17 comentários:

Fabiana disse...

Na minha casa minha mãe por incrível que pareça é machista. Para ela mulher nasceu para obedecer um homem,seu senhor,seu marido e divórcio jamais tem que aguentar tudo da criatura que se uniu na alegria e na tristeza, tem que levar ao pé da letra ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE. Meu pai era mais moderno e apoiava causas femininas me levava até para pescar com ele. Ele faleceu e ficou minha mãe a me colocar amarras. Quando sofri abuso sexual de três pestes ela silenciou, chegou a insinuar as vezes que ninguém vai querer uma desonrrada. Ainda estou muito reclusa por conta do que sofri,pedi demissão do emprego e só me expresso aqui porque só aqui me sinto apoiada, segura e longe de olhares, conceitos e preconceitos machistas. Como dizia Madre Tereza: uma gota do oceano. Sou uma gota entre o mar feminino, mas comigo esse mar é maior, mais vibrante.
FORA MACHISTAS!
FORA MULHERES MACHISTAS.
Lutamos, conquistamos direitos e queremos respeito.

Sthefany Feminista disse...

Meu pai era um machista nojento, tentou me dar uma educação machista e se ferrou. Sou feminista até o último fio de cabelo e sinto ódio de gente igual a ele. Se ele cair morto amanhã, não vou sentir nada além de alívio.
Torço para que os mascus tenham várias filhas mulheres, assim terá mais feminista no mundo. Pena que eles nunca terão filhas, porque nunca vão transar. Mulher nenhuma quer chegar perto de pessoas nojentas iguais a eles. Vão morrer virgens, tadinhos.

Fabiana disse...

Minha mãe é tão machista que entre algumas discussões nossas ela afirmou que jurava estar gràvida dum belo menino, o barrigão era enorme e já imagina o filho parrudo que viria, mas quando nasceu veio a decepção ou melhor decepções nasci trigêmea identica. Minhas irmãs não suportou as indiferenças e saiu de casa. Fiquei porque embora a dureza de minha mãe ela tem algumas qualidades. Além do abuso sexual veio também uma doença que tem me deprimido. Fui diagnóstica com Neuralgia do Trigêmio. Uma doença crônica, dolorosa e rara que causa a pior dor facial e craneana que alguém suporta sem desmaiar. Dores e choques na face e dentes me deicham dias de cama . A doença afeta a maioria mulheres 4 mulheres para 1 homem e o que a minha mãe falou quando soube? SE TIVESSE NASCIDO HOMEM NÃO TERIA ESSA DOENÇA. Sim meninas pasmem. Esse foi o apoio que tive de mi madre. Mas estou seguindo minha vida. Vou me recuperar e um dia a borboleta sairá do casulo. Voarei para longe dos meus algozes, sem amarras,sem medo, trauma ou dor. Farei isso porque sou mulher é da nossa natureza feminina se fortalecer nas quedas. E deixo um recado aqueles que quase me mataram: não mataram a mulher que há em mim, estou viva e um dia serei muito amada.

Sara disse...

Que bom escutar histórias boas como a sua C.
Adorei o exemplo q vc esta dando pra tantas garotas que leem esse blog, e tem problemas sérios em suas famílias, espero que elas tenham a mesma determinação q vc.

Unknown disse...

Não sei como ainda fico assustada com relatos assim.É o que tem de mais comum(ainda),infelizmente.Não sei se é certo,mas tenho nojo de homens assim.

Anônimo disse...

Prepare-se para ouvir, quem vier com "mimimi riram de pau pequeno" nessa caixa de comentários.

Anônimo disse...

Adorei o recado aos mascus no final :-)

EllenG disse...

É muito bom saber de pessoas que conseguiram quebrar a barreira que o machismo na família impõe, ver que o mundo é muito maior e mais diversificado do que aquele nosso mundinho, que podemos ser livres, que somos livres! Acho feminismo uma coisa linda, porque liberta as pessoas, mulheres principalmente, mas homens também, seu próprio pai deve ter sofrido muito com isso. Acho muito legal você participar desses movimentos, com certeza, você deve ter plantado a sementinha do feminismo em alguém. Parabéns!

Anônimo disse...

"...quanto mais machismo houver na sua casa, mais feministas suas filhas serão."
Será? Será assim mesmo? Eu penso que acreditar nisso é muita ingenuidade, e de certa forma, é menosprezar o esforço de quem luta contra essa situação e também o sofrimento de quem está sob esse tipo de opressão diariamente.
Em todo mundo, milhões de mulheres são subjugadas pelo machismo, muitas delas incapazes de sair desse jugo.
Acreditar que todas reagirão e se libertarão espontaneamente, mesmo com a imensa disparidade de situações e recursos, é um equívoco.
Que aquelas que já conseguiram possam auxiliar as que ainda se encontram "cativas".

Naty Furiosa disse...

Gostei muito do desabafo e agora estou acompanhando o blog de Lola com mais assiduidade. Sou obrigada a reconhecer que sou uma das poucas mulheres que não teve uma criação tão machista, de modo que, entrei em contato com o feminismo relativamente cedo. Gostei das ideias e em minhas análises vi que estavam certas e/ou algumas poderiam ser melhoradas. Eu tenho um projeto que ainda quero pôr em prática, pois sei que em meu bairro as pessoas não se preocupam de forma nenhuma com essa situação. Deus vai me ajudar e as meninas desse blog e as outras pela net também. Abraço. :]

Henri disse...

"...Vou me recuperar e um dia a borboleta sairá do casulo. Voarei para longe dos meus algozes, sem amarras,sem medo, trauma ou dor...", simplesmente belx, o sonho de todo oprimidx é livra-se da opressão.

Sonado Alaikor disse...

Fico feliz em ler relatos como o seu C.

Espero sinceramente que o tempo faça seu pai ao menos perceber estes erros. É difícil mas já vi acontecer algumas vezes. Não digo nem sobre ele mudar os posicionamentos dele, mas abrandar o bastante para que não seja tão doloroso.

Pessoas como você são exemplos sobre a importância de não aceitar a influencia nociva do meio em que vivemos, mesmo quando vem de quem amamos.

camis disse...

Me sensibilizei com o comentário da Fabiana...
Força, mulher!

Fernanda disse...

Fabiana,

Pula que a asa nasce!

Estamos com você! MEXEU COM UMA, MEXEU COM TODAS!

E por favor, livre-se RAPIDO da presença de sua mãe, peça ajuda à irmã que ja saiu de casa.

Abraço bem apertado!

Unknown disse...

Torço para que os mascus tenham várias filhas mulheres, assim terá mais feminista no mundo. Pena que eles nunca terão filhas, porque nunca vão transar. Mulher nenhuma quer chegar perto de pessoas nojentas iguais a eles. Vão morrer virgens, tadinhos.

as contradições das feministas... vc nasceu como hein? sua mãe n viu problema nenhum em transar com seu pai.

Lilian disse...

Hahahah, que ótimo. Adorei!

Elvis disse...

A C. se reaproximou ou tentou se reaproximar da irmã dela?
Ela não comentou no texto, fiquei curioso rs.