ANÚNCIOS LOCAIS, E MACHISTAS

Uma leitora querida, a Nanda, me mandou um email ultracarinhoso dizendo que o meu blog a ajudou a mudar o jeito que vê as situações do dia a dia, e, como prova, anexou um anúncio que circula em sua cidade, Porto Alegre. Agradeço muito se outras leitoras também quiserem enviar anúncios que consideram discriminatórios. Só pediria que vocês explicassem o que parece tão machista/racista/homofóbico etc, só pra poupar o meu trabalho, hi hi (não escrevo hehe nem que a vaca tussa).

Este anúncio específico diz “A sua namorada já veio com as configurações definidas. As do seu GetMax é você quem escolhe”. Bom, tirando o fato que essa empresa de computadores veja sua clientela como exclusivamente masculina, o anúncio aponta que mulher não tem jeito não. Tudo que queremos fazer na vida é comprar e, pra piorar, usando o cartão de crédito do namorado! Porque, lógico, um ser tão fútil como uma mulher não trabalha, não recebe seu próprio salário, e vive parasitando o pobre amado, um sofredor. Isso, de acordo com a mensagem publicitária, já está pré-configurado em nós: nossa missão da vida é falir o nosso macho. Não entendo nada de alianças (de que cor elas são, em que dedo ficam etc – eu não uso aliança, acho uma tradição das mais estúpidas, dessas que indicam posse), mas o chorão do anúncio usa uma. Ele é noivo da gastona? Outro detalhe (e tenho certeza, sem ironia, que ele não foi pensado pelas mentes brilhantes que criaram o anúncio) é a direção da tesoura que o sujeito segura. Ela vai direto pra entre as pernas da namorada. Por algum motivo fálico, consciente ou subconsciente, é comum publicitário apontar coisas pontudas e/ou espumantes pro meio de pernas (ou bocas) femininas.
Este email da Nanda veio a calhar, porque há dias estou querendo compartilhar com vocês dois péssimos anúncios que vi em Fortaleza. Problema um: não tenho foto deles. Problema dois: não lembro nem o produto vendido. Um eu vi na janela de um ônibus. Na foto, havia um cara em tamanho enorme, fazendo não sei o quê (ahn, está vago, eu sei). Até aí, normal. O chocante é que os diretores de arte colocaram uma imagem pequena de uma mulher falando num orelhão – e o orelhão ficava bem colado ao pênis do cara grandão! E realmente não sei o que tava sendo vendido, mas tenho certeza que não era algum serviço de telefonia. Na hora, virei pro maridão e perguntei: “What the duck?!”. Ele também não soube explicar o anúncio e lamentou que não estivéssemos com a câmera digital no momento.
Outro exemplo de anúncio machista foi um outdoor. Já passei por ele mais de uma vez (acho que vi o troço na Eduardo Girão). É apenas um outdoor em branco com letras pretas e garrafais (como devem ser as letras de um outdoor) dizendo algo como “Estou pronta para recebê-lo”. O que me chamou a atenção é que o “estou pronta” vem no feminino, e o “recebê-lo”, no masculino. Ou seja, um estereótipo das relações de gênero em poucas palavras. Mulher serve, homem é servido. E um jeito de sexualizar um produto que não tem nada de sensual. Acho que a mensagem era da empresa que vende os outdoors querendo que um produto seja vendido naquele espaço. Mas quando a gente vê um outdoor, a gente pensa em um outdoor, masculino, não numa empresa ou numa central de outdoor, feminino. Enfim, não encontrei nenhuma explicação pra relação entre o “pronta” e “recebê-lo”. Quer dizer, nenhuma além do machismo vigente. Faltou apenas uma imagem de uma mulher de pernas abertas pra ilustrar a mensagem.