“Clã” fala da China em 859, quando a corrupta dinastia do suco de laranja Tang está chegando a seu fim graças a várias organizações que a combatem. Uma delas é a tal clã. Ou o tal clã, você que sabe, dessas adagas que dão piruetas no ar antes de atingir suas vítimas. Mas tudo isso é pretexto pra um romântico triângulo amoroso envolvendo uma dançarina e lutadora cega e dois policiais que a seguem pra tentar alcançar os líderes do clã. O problema é que o filme é longo, ou pelo menos parece longo, e isso de um enganar o outro e o outro enganar um acabou enganando esta espectadora aqui, que se cansou depois de um tempinho. Daí passei a me preocupar com questões mais ecológicas. Por exemplo, mataram muitos cavalos durante as filmagens? Não vi nenhum aviso em mandarim afirmando que os cavalinhos não foram machucados. E tem os esquilos também. E todas aquelas árvores cortadas, então? A seqüência mais deslumbrante passa-se numa floresta de bambu, mas há outra mais pro começo com um Jogo do Eco - que não tem nada a ver com o resto da trama, mas serve como deixa pra aparecem dezenas de belos tambores. E a gente sabe que tá vendo uma fantasia quando o carinha pergunta pra heroína se ela já ouviu falar do tal jogo, ela diz que sim, e de repente surgem todos aqueles tambores que devem ter levado uma década pra fazer. E francamente, por mais crédula que eu seja, só consigo aceitar que alguém que recebeu uma adagada no coração ande com grande desenvoltura se me falarem que trata-se de um guerreiro lendário e imortal. Isso tava claro em “Herói”, mas aqui... Aliás, parece que o diretor ouviu minha queixa sobre a falta de sangue em “Herói” e decidiu: “É sangue que você quer? Então toma!”. E jogou um pouquinho de tinta vermelha nas cenas finais.
E mesmo assim, se “Clã” é pra ser uma história de amor, não fiquei nada comovida. Talvez, como me xingou um leitor que certa vez odiou o que escrevi, eu seja uma crítica cinematograficamente frígida. Ou talvez eu estivesse ocupada demais pensando nos cavalinhos e em como as coisas mudam pouco ao longo dos séculos. Assim: a mulher não quer fazer sexo, o homem insiste, e pra engabelá-la insiste que o caso é sério. E os patrões daquela época não deviam nada aos de hoje, dando ordens como “Não tira a adaga das suas costas” e “Sabe aquele um que você ama? Mate-o” (com outras palavras, claro, e em mandarim).
Desnecessário dizer que os chineses seguem lindos. A Ziyi Zhang é bonitinha, mas o Takeshi Kaneshiro é um colírio. Se eu fosse adolescente, cobriria meu quarto com posters desse ator. Mas talvez o que eu tenha gostado menos sobre a personagem da Ziyi é que ela é quase estuprada vezes demais pro meu gosto. E o que gostei mais do Takeshi é seu manejo com arco e flecha. Quisera eu usar flechas igual ao nosso herói: quatro de uma vez, todas atingem o alvo ao mesmo tempo. Enquanto isso, de volta à realidade, descubro que o maridão não consegue acertar nem o vaso do banheiro.
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