A história começa num país da África, Matobo, onde todo mundo fala Ku e onde um ditador sanguinário dizima a população. Não adianta correr pro Atlas pra procurar a tal nação, porque ela não existe. Nem a língua. Aliás, depois dessa tá provado que Hollywood desconhece que boa parte do planeta fala português - eles podiam dar o nome que quisessem à língua que inventaram, e a chamam de Ku?! (as legendas tentaram disfarçar colocando um h, mas não funcionou. As risadinhas eram freqüentes quando alguém dizia “eu domino Ku” ou algo assim). Bom, a Nicole faz uma matobense exilada que não só fala Ku, como é intérprete nas Nações Unidas. E é claro que a Nicole, com sua pele quase transparente e seu cabelo praticamente branco lhe cobrindo metade da face, é a escolha natural pra fazer uma africana. Pra variar, como em quase todos os filmes que Hollywood faz sobre a África, aqui os protagonistas também são brancos, o que já fala bastante sobre o suposto liberalismo da Academia. A idéia é mais ou menos assim: “Vamos mostrar que sabemos onde é a África e que nos preocupamos com ela. Mas como 90% do nosso público é branco, e o único negro que eles pagam pra ver é o Will Smith, vamos encher de astros brancos”. E nem dá pra criticar porque tem muito mais ator negro no cinema americano do que na TV brasileira, e lá eles representam 13% da população, e aqui uns 45%, mas não, não somos um país racista. Racistas são os argentinos.
Ahn, continuando, a Nicole ouve um diálogo em que um pessoal planeja o assassinato do ditador em plena ONU. Entra em cena o Sean Penn como homem amargurado e agente secreto que vai proteger a Nicole. Eu adoro o Sean, então não vou falar nada de como cada um dos cinco roteiristas do filme (eu disse cinco) deve ter adicionado uma subtrama, e como o próprio personagem do Sean deve ter sido uma dessas colaborações coletivas. Só posso dizer que quando um thriller político consegue ser complicado e previsível ao mesmo tempo é porque ele tem problemas.
Mas gostei de uma das subtramas, a que repete que “vingança é uma forma preguiçosa de dor”, e também da seqüência da explosão de um ônibus. Se bem que, pensando bem, essa cena não tem nada a ver com o resto do filme. E é sempre bom ver dois ótimos atores numa história adulta, dirigidos pelo Sydney Pollack, que já fez obras importantes como “A Noite dos Desesperados” e “Tootsie”. Mas, sinceramente, “A Intérprete” só entra pros anais do cinema por ser a primeira produção filmada dentro da ONU. E isso não é suficiente pra que alguém se lembre do filme na semana que vem.
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