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sexta-feira, 13 de março de 2009

CRÍTICA: QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO / Parte 2

Jamal não está tão interessado em ser um milionário.

Ideologicamente falando, Milionário é um tanto confuso. Ambíguo, até. Eu não entendi qual é a dele (veja a primeira parte da crítica aqui). Li um artigo escrito por um indiano, não lembro onde, desculpe, dizendo que o filme mostra que nessa favela de Mumbai só existem coisas ruins, e que isso não é verdade. Há toda uma comunidade de um milhão de pessoas morando nessa favela (real), e lá há pessoas que lutam pra melhorar a vida da população, ONGs etc. Mas, para o filme, a única escapatória possível vem de um programa de TV importado, o que seria uma ótica colonialista.
Eu concordo em parte com essa análise. Porém, o programa em questão não é tão positivo, certo? O seu apresentador/dono é corrupto e tem a polícia do seu lado para torturar quem se sai melhor. Além disso, Jamal não tá nem aí pra ganhar 20 milhões de rúpias. Sua prioridade não é o dinheiro. O que ele quer é aparecer no programa o máximo possível porque sabe que a moça que ama vê o negócio. No final não há nenhuma comemoração de riqueza. Numa das cenas do fim, na estação de trem, a gente nem sabe se Jamal tem ou não o dinheiro, porque não é isso que importa (eu falei que o filme é uma fábula). Milionário é ambíguo justamente por isso: ele divulga a ilusão que ficar rico depende da sorte, do destino (e, se depende disso, então qualquer um pode enriquecer. É só jogar na Megasena que um dia a sorte sorrirá pra você), mas tampouco acha que enriquecer seja essencial.
Entretanto, se ficamos no limbo sobre a ideologia do filme, quanto à personagem da menina por quem Jamal se apaixona, Latika, não resta dúvida. O jeito como a história a trata é bem repreensível. Latika é totalmente passiva. Perceba que praticamente não há cenas em que ela comece a correr sem que alguém (sempre alguém do sexo masculino) a mande correr. Ela não se mexe se um menino/homem não ordenar. Entendo que ela seja um objeto de desejo secundário, e que o foco da trama esteja em Jamal, não nela. Logo, o filme passa muito por cima dos aspectos terríveis da exploração sexual infantil. Apesar de não sabermos exatamente o que acontece com Latika, aprendemos que, até uma certa idade, ela está sendo preparada para ser leiloada como virgem. Mas o filme não critica essa exploração sexual, assim como não critica a violência policial. Só mostra, sem comentar. E Latika é tão passiva que ela mal tem falas. Assim, não dá pra compreender direito o que Jamal vê nela. Certo, ela é linda, mas esse é um bom motivo pra ele andar pela Índia atrás dela? (Aliás, ele fica perigosamente próximo do que podemos chamar de stalker - aqueles carinhas obcecados que perseguem uma pessoa).
Assim como não há discussão da violência, também não há discussão de racismo. Mas o apresentador do show do milhão é menos indiano, mais branco. Nem sei se quero entrar numa discussão racial, porque acho que isso decorre apenas da escolha dos atores (e deve ter sido difícil escalar esse elenco, já que foram necessários três intérpretes para representar cada uma das três crianças), mas pra mim é um ponto negativo que um vilão como Samil, o irmão malvado, seja mais escuro que Jamal. E que Latika “embranqueça” quando adulta. Ainda mais num contexto em que milhões de indianas usam cremes para embranquecer a pele na vida real.
Há várias semelhanças entre Milionário e Cidade de Deus, embora o tom de cada filme seja completamente diferente. Mas, claro, ambos mostram favelas, crianças crescendo pra se tornar marginais, e ambos são mais ou menos divididos por episódios. Várias historinhas dentro de uma grande história. Ah, e sabe o que mais Cidade e Milionário têm em comum? Ambos têm co-diretoras (Cidade, a Kátia Lund; Milionário, a Loveleen Tandan - foto). Mas pra mim o que mais aproxima os dois filmes é a recepção do público. Veja se as críticas que a classe média indiana fizeram a Milionário não são idênticas às que a nossa classe média fez à Cidade: o Brasil/a Índia não é só favela, e exibir essa miséria é ruim pro país, passa a impressão errada, o que o resto do mundo vai pensar? Pois é, não é apenas a miséria dos países pobres que é parecida... Mas, no geral, a Índia vibrou muito com os Oscars que recebeu, enquanto a gente saiu com as mãos abanando com Cidade. E olha que o nosso filme é muito superior.

quarta-feira, 11 de março de 2009

CRÍTICA: QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO / O conto de fadas que veio da Índia

E Hollywood descobriu Bollywood. Ou quase.

Admito que gostei menos de Quem Quer Ser um Milionário? agora, da segunda vez que o vi. Pode ser influência da turma do “não é tão bom”, que começou forte já antes das oito estatuetas conquistadas no Oscar. Eu ainda gosto bastante da fábula, e ainda a vejo como superior aos outro quatro indicados (nem eu me lembro mais quais são, e eu escrevi sobre eles: O Curioso Caso de Benjamin Button, O Leitor, Frost/Nixon e... e... Não faço ideia! Ah, Milk! Gostei pacas de Milk). Só não acho Milionário memorável.
Por outro lado, fico feliz que ele esteja batendo Watchmen nas bilheterias brasileiras. Convenhamos, a realidade de Milionário é muito mais próxima à nossa que a de um bando de super-heróis num universo alternativo (nada contra; quero ver Watchmen). Não sei se você é da época em que o Brasil era chamado de Belíndia (eu sou). O nosso país era (?) desigual a ponto de ter indicadores tão bons quanto os da Bélgica, e tão ruins quanto os da Índia. Ok. Antes de mais nada, vamos falar umas verdadezinhas sobre a Índia (sobre a Bélgica não sei nada, fora que concorre com a Suíça pro posto de melhor chocolate do planeta). A Índia é o segundo maior país em população, só perde pra China, e logo logo vai ultrapassá-la. Tem mais de um bilhão de pessoas. É muita, muita gente. Calcula-se que 300 milhões sejam classe média. Isso equivale à população inteira dos EUA! Então não dá pra pensar que a Índia seja um imenso favelão. Pelo contrário, o capitalismo global vê o país como um enorme mercado consumidor. Claro que também não é como a novela da Globo mostra. Inclusive, a Globo está apenas copiando Bollywood, que produz o dobro de filmes feitos por Hollywood. A gente aqui só pode invejar Bollywood, sinceramente. Já pensou se o Brasil também tivesse uma indústria cinematográfica que empregasse 6 milhões de pessoas e vendesse 3,5 bilhões de ingressos por ano? (de modo geral, cada indiano vai ao cinema três vezes por ano, sete vezes mais que a média brasileira). Eu vi pouquíssimas produções de Bollywood na vida, mas gostei delas. São todas alegres, pra cima, cheias de música e cores vibrantes. Não tem nada a ver com a realidade social da Índia - assim como os filmes de Hollywood não representam a realidade social de qualquer lugar.
Outra verdade é que Milionário não é uma produção de Bollywood. Foi feito por um inglês, Danny Boyle (que já fez um grande filme, Trainspotting; um ótimo, Cova Rasa, interessantes como Extermínio e até Por uma Vida Menos Ordinária, e completos desastres como A Praia. Sunshine eu vi ano passado, em dvd, e esqueci até a minha opinião), e ele expõe a pobreza indiana, o que Bollywood esconde. Além disso, só tem um número musical, no final, depois que a trama acabou. Penso que esse número é fundamental, porque faz a gente sair do cinema se sentindo bem. Milionário é um conto de fadas, uma fábula (como Benjamin Button, com a diferença que BB não tem vilões e crê na bondade das pessoas), não um documentário.
Miséria é miséria em qualquer canto, sem dúvida. A da Índia é bem parecida com a nossa. Tem meninos de rua, meninos roubando, enormes favelas, truculência policial, a vida que não vale nada, meninos que viram guias turísticos, meninos que pedem esmola, que catam lixo, que são explorados. Mas há a diferença da quantidade, e também da religião. Aqui, felizmente, não haveria um grupo religioso sendo brutalmente atacado por outro. Jamal, que é muçulmano, perde sua mãe num desses ataques horrendos (que nem são explicados). Também acho (espero?) que no Brasil, embora crianças sejam vendidas e alugadas para renderem esmolas, não se chegue à atrocidade de cegar as que cantam melhor (porque cantores cegos recebem o dobro de esmolas). Aqui mendigos não cantam.
Como toda fábula, Milionário é previsível. A gente sabe que tudo acabará bem. Quer dizer, “acabar bem” nesse contexto, quando um menino perde a mãe, é torturado, seu irmão vira capataz do crime organizado, sua paixão é constanstemente ameaçada, é estranho (mas tá próximo do Oliver Twist do Dickens). Nós sabemos, desde a múltipla escolha no início - que pergunta como Jamal sabe as perguntas, e as alternativas são “ele trapaceou” e está escrito” -, que o bem vencerá. Porque a gente sabe que Jamal não mente. As imagens confirmam tudo que ele diz, sem ironia alguma. Ele explica ao investigador da polícia como conhece cada resposta. Ele sabe qual o presidente que está na nota de 100 dólares porque um menino cego lhe disse, sabe qual ator participou de sei lá qual filme porque teve sua foto autografada. Ou seja, o destino está trabalhando a seu favor, sorteando perguntas que ele conhece a resposta. Milionário faz um elogio à vivência, mais que ao ensino tradicional (e essa é uma crítica à educação que vê os alunos como tábulas rasas, seres vazios que serão “preenchidos” com uma sabedoria acadêmica). Dificilmente na escola Jamal aprenderia quem tá numa nota de cem dólares. Mas também, pra que serve essa informação? Só pra ganhar game show mesmo.
E sua vivência é feliz e infeliz ao mesmo tempo. Ele preferiria não saber o que uma divindade carrega num dos braços. Mas é só na cena da morte da mãe que os meninos são vistos sofrendo (brevemente). No resto do filme eles passam pelas maiores adversidades com um sorriso no rosto.
Opa, leia a segunda parte da crítica aqui, porque esta já tá longa demais.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

QUER ENRIQUECER? PERGUNTE-ME COMO

O carinha à esquerda participou do bolão do Oscar da Lolinha e ganhou um milhão.

Participe você também e seja o próximo milionário. Ou, pelo menos, o próximo duzentaspilanário.