quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

POR QUE NÃO PERMITIR A VENDA DE ÓRGÃOS, QUER SABER UM LIBERAL

Do sempre genial Cris Vector

Parece que a discussão começou com a provocação de um jornalista "liberal" (de direita, mas não bolsominion) no Twitter. Ele questionou por que pode-se doar um órgão, mas não vendê-lo.
Isso suscitou muita revolta nas redes sociais. E, como não podia faltar, chegou também o pessoal dizendo "vamos ter uma discussão saudável sobre o assunto". Algo parecido ao que aconteceu em julho, quando Bolsonaro e aliados apontaram as enormes vantagens do trabalho infantil
Um retrato perfeito da desigualdade
social no Brasil
É um perigo quando certas ideias tabu são vendidas como discussões filosóficas. No campo da literatura e do cinema, um tema frequente em várias distopias é como os ricos vivem mais, segregados dos pobres (que não alcançam nem 40 anos). Quando os órgãos dos ricos estragam, eles compram (ou roubam) dos pobres. Se depender dos liberais, este pesadelo chegará logo. Aliás, nem estamos tão longe: em São Paulo, a expectativa de vida no bairro mais rico é de 79 anos. No bairro mais pobre, 54. Isso em grande parte graças à falta de acesso à saúde. Imagine pra quem aumentaria a expectativa de vida e pra quem diminuiria caso órgãos pudessem ser comprados. 
No Twitter, o professor Tiago Fassoni lembrou que "os EUA permitem venda de sangue humano. E exportam mais sangue humano que milho" (sério! O sangue já equivale a mais de 2% do total exportado pelos EUA. Você acha que o sangue vendido é dos que doam sangue ou das pessoas desesperadas que vendem seu sangue pra pagar as contas?). E acrescentou:
"Sabem todos aqueles pesadelos de gente pobre vendendo os próprios rins para comprar comida, e não ganhando quase nada de dinheiro enquanto uma corporação fica com tudo?Eles JÁ EXISTEM.
Campanha para "doar" sangue
nos EUA: "Precisa de livros?
Sem problema! Doe plasma"
Tem gente que fica cronicamente doente porque o único sustento é vender sangue e o corpo não regenera rápido o suficiente para cobrir a perda de sangue. Tem gente nos EUA que vai toda semana vender sangue. No Brasil, você só pode doar sangue 4 vezes por ano.
E, por fim, ainda que você ache que tem mais é que vender sangue mesmo, isso é apenas uma falha de regulação e tal...
A qualidade do 'produto' fica horrível. É gente doente vendendo sangue. 
E com todos os incentivos para passar por cima de tudo quanto é protocolo de segurança.
Se você chegou até aqui, e pode, favor doar sangue. DE GRAÇA, VIU, GENTE". 
É verdade. Não sei se vocês lembram de uma matéria da revista Time do ano retrasado, que escandalizou muita gente. A capa mostrava uma mulher e o que ela diz: 
"Tenho mestrado, 16 anos de experiência, 2 trabalhos extras e doo sangue para pagar as contas. Sou uma professora nos Estados Unidos da América". Só que não é bom "doar" tanto. 70% das pessoas que vendem seu sangue têm complicações de saúde. A professora em questão faz 60 dólares vendendo seu sangue duas vezes por semana. 
Reproduzo aqui a thread do Oparábento, que se define como "um médico de esquerda e cansado" e é membro de Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares:
O processo de morte encefálica e de doação de órgãos é regido pela resolução n° 2173 de 23/11/2017.
A doação de órgãos em doadores falecidos cuja morte cerebral foi detectada é o fim de uma cadeia muito densa e intrincada que envolve muita gente e especialmente pessoas extremamente fragilizadas. Umas pelo luto, umas pela doença cujo transplante é a última opção.
A venda de órgãos não pode ser levada pelo debate do liberalismo econômico e sim pelo debate da saúde, determinantes sociais, biológicos e culturais da saúde.
Permitir que uma pessoa em fragilidade econômica possa se valer da venda de um órgão duplo (como rim) é, além de nefasto, submetê-la a um risco da própria saúde, imediato e futuro.
Imaginemos que ela se submeta, no desespero, a vender um rim e que:
1) ocorra uma complicação operatória e ela morra.
2) no futuro ela desenvolva doença renal e precise ela mesmo de um transplante.
3) na vigência de uma sepse o rim único entra em falência com piora do prog.
Uma pessoa em situação de fragilidade financeira não deve tomar decisões que possam prejudicá-la. É abjeta, nojenta, repulsiva a ideia de "sair com um dinheiro no bolso".
A doação assim se chama porque ela depende da vontade espontânea.
Dizemos no processo que ofertamos a oportunidade de doação, porque a própria doação traz efeito terapêutico à família do doador. É uma relação de ajuda mútua.
Saúde é um direito e não uma mercadoria.
Não é humanamente ético imprimir relação financeira a um processo que envolve sofrimento humano.
Sou defensor e militante do SUS e trabalho ativamente neste processo. As pessoas deveriam estudar antes de falar merda. Poderiam ir às verdadeiras raízes do empobrecimento, da superexploração de trabalhadorxs, à perda de direitos sociais adquiridos, ao avanço da saúde privada e complementar que enfraquece o SUS, etc. Esse "dinheiro no bolso" pode vir de outras fontes que não o sofrimento.
Defender venda de órgãos alegando "meu corpo, minhas regras" é só falácia liberal e intelectual por aplainar um debate muito mais profundo.

11 comentários:

Anônimo disse...

Ah, e última coisa: só comentei aqui pra mostrar a hipocrisia de vocês e também pra deixar claro que a Terceira posição quer que liberais e comunas se fodam. Lutem, miseráveis, lutem ;)

Alan Alriga disse...

Em alguns episódios dos Simpsons se fala sobre isso e como leis mais brandas podem aumentar o número de "doadores", e ao mesmo tempo baratear o preço dos órgãos devido a enorme quantidade de "produtos" a venda.

titia disse...

Com esse tipo de gente não tem que conversar não. É pra já chegar metendo uma bala no meio dos cornos, mijar no buraco e depois jogar o corpo na vala de esgoto. E quem vier me chamar de radical, feminazi ou que quer que seja por essa declaração pode ir tomar no cu.

Anônimo disse...

Não deve ser vendido e MUITO MENOS doado.

Anônimo disse...

"Com esse tipo de gente não tem que conversar não. É pra já chegar metendo uma bala no meio dos cornos...." Concordo.

Mas antes vamos retirar os órgãos.

Anônimo disse...

Argumenta-se que: Se liberar a venda de drogas, eliminaria "mercado negro" ou o trafico de drogas, com a liberação venda de órgão seria a mesma lógica.

O trafico internacional de órgãos existe, e o Irã, por exemplo, é o campeão de mundial venda de rins, e muito chegam ao Brasil somente para quem pode pagar pela mercadoria contrabandeada e o hospital particular para o implante.

Se é para liberar a venda das drogas, que se libere também a venda de órgãos.

Anônimo disse...

"Com esse tipo de gente não tem que conversar não. É pra já chegar metendo uma bala no meio dos cornos, mijar no buraco e depois jogar o corpo na vala de esgoto."

Muito bem titia. Sou homem, hétero e concordo contigo: Tem gente que só matando.

E ratifico suas palavras: "E quem vier me chamar de ........ou que quer que seja por essa declaração pode ir tomar no cu."

titia disse...

17:13 já que se preocupam taaaanto com a fila imensa para transplantes, nada mais justo que contribuam para diminuí-la.

18:00 concordemos nisso, então.

17:37 a diferença é que o tráfico de drogas faz muitas vítimas "colaterais". Todo dia gente que não é traficante, crianças, trabalhadores honestos morrem, são torturados e presos só por morar na favela. A legalização das drogas acabaria com todas essas mortes de inocentes, e os únicos prejudicados seriam os idiotas que iriam consumir. Legalizar a venda de órgãos não ajudaria a diminuir a fila do transplante-porque só quem pudesse pagar receberia novos órgãos-e não ajudaria as vítimas inocentes. Veja o que acontece nos EUA; seria ainda pior aqui.

Alan Alriga disse...

Na verdade não Titia, dá mesma forma que existe bebidas alcoólicas e cigarros ilegais mesmo existindo os legalizados, simplesmente por serem mais baratos, o mesmo iria acontecer com a maconha, sem falar que os traficantes também vendem outras drogas além da maconha, ou seja legalizar a maconha ou todas as drogas não irá acabar com o tráfico de drogas.
Sem falar que se realmente fosse para proteger os pobres e as pessoas negras, porque a "laceração" não sobe as favelas que têm traficantes pedindo para eles pararem com a violência, pararem de matar as ex-namoradas, pararem de contratar cantores de funk que fazem músicas com apologia a violência, estupro, assassinato contra mulheres, policiais, etc...
Mas pelo contrário a laceração defende tudo isso e vai além, leva drogas e funk que faz apologia a tudo o que eu citei para dentro de escolas e faculdades, outro dia eu vim um vídeo qué foi gravado dentro de uma faculdade, onde mostra os alunos dançando ao som de um funk que faz apologia ao estupro, e ao perguntar para uma feminista o que ela achava sobre aquilo ela simplesmente responde com cara de indignação "fazer o que, já que o povo gosta", ou seja o povo de esquerda não se importa com isso porque não dá para usar o povo como massa de manobra a favor da esquerda.

Ps.: Na verdade existe sim as feminazi, elas são feministas brancas que têm descendência alemã ou austríaca pura, são racistas, defendem a eugenia para todos que não sejam brancos puros, defendem o nazismo, fascismo e a Ku Klux Klan e todos os idéias dos mesmos, e o feminismo delas é somente para mulheres brancas puras.

Anônimo disse...

Tem uns liberais que são doentes. Esses dias vi uma corja debatendo sobre o direito de vender bebês. Chega a ser absurda a obsessão dessa galera com dinheiro.

Felipe Roberto Martins disse...

É assustador..., já era para eu ter comentado faz dias. É o fim... assim exterminam a humanidade de uma vez... isto não é neoliberalismo é outra coisa pior ainda :(...