terça-feira, 7 de janeiro de 2020

HISTÓRIA DE UM CASAMENTO E DO FRACASSO DA PATERNIDADE

Semana que vem saem as indicações ao Oscar 2020 e, a julgar pelo Globo de Ouro, 
A História de um Casamento (Marriage Story, veja trailer legendado) será lembrado em várias categorias, incluindo melhor filme, melhor ator (Adam Driver), roteiro e direção (ambos de Noah Baumbach, do sensível A Lula e a Baleia, que se inspirou no seu próprio divórcio com a ótima atriz Jennifer Jason Leigh para fazer História).
Eu gostei bastante. Não considero o filme uma obra-prima, como alguns vem dizendo, mas certamente vale a pena ser visto. Como ele se centra mais em Charlie, o ex-marido, que em alguns momentos parece ser mais prejudicado com o divórcio que Nicole (Scarlett Johansson), achei o filme um tiquinho machista. Os misóginos vão adorar usar História como um documentário de como os pais são privados do convívio com os filhos. Mas, claro, estamos falando de mascus, que não enxergam sutilezas. E o filme está cheio delas, e é isso que o faz tão rico. 
Esta é uma das melhores falas de História, na minha opinião. Vem logo depois de um quase monólogo em que Nicole, em close, responde perguntas sobre como é seu relacionamento com seu filho. Como a câmera fica fixada nela, não sabemos que ela está ensaiando para responder indagações numa corte, ou para uma assistente social. 
Nora Fanshaw, sua advogada, que é pintada como uma megera (interpretada por uma carismática Laura Dern, que também deve ser indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante), a interrompe num certo momento, e faz um excelente discurso feminista (minha tradução; vou deixar o discurso original em inglês abaixo): 
"As pessoas não aceitam mães que bebem vinho demais e gritam com seu filho e o chamam de babaca. Entendo. Eu também faço isso. Nós podemos aceitar um pai imperfeito. Vamos admitir, a ideia de um bom pai só foi inventada uns 30 anos atrás. Antes disso, esperava-se que os pais fossem silenciosos e ausentes e não confiáveis e egoístas, e todos podíamos dizer que queríamos que eles fossem diferentes. Mas num nível mais básico, nós os aceitamos. Nós os amamos por suas falhas, mas as pessoas absolutamente rejeitam essas mesmas falhas nas mães. Não aceitamos estruturalmente e não aceitamos espiritualmente. 
Porque a base da nossa qualquer coisa judaico-cristã é Maria, mãe de Jesus, e ela é perfeita. Ela é uma virgem que dá à luz, apoia seu filho sem piscar e segura seu corpo inerte quando ele se vai. E o pai não está lá. Ele nem fez sexo. Deus está no céu. Deus é o pai e Deus não apareceu. Então, você tem que ser perfeita, e Charlie [o ex-marido] pode ser um desastre e isso não importa. Você sempre será medida por um padrão diferente e mais alto. É uma droga, mas é como é".
Em inglês: "People don't accept mothers who drink too much wine and yell at their child and call him an asshole. I get it. I do it too. We can accept an imperfect dad. Let's face it, the idea of a good father was only invented like 30 years ago. Before that, fathers were expected to be silent and absent and unreliable and selfish, and can all say we want them to be different. 
But on some basic level, we accept them. We love them for their fallibilities, but people absolutely don't accept those same failings in mothers. We don't accept it structurally and we don't accept it spiritually. Because the basis of our Judeo-Christian whatever is Mary, Mother of Jesus, and she's perfect. She's a virgin who gives birth, unwaveringly supports her child and holds his dead body when he's gone. And the dad isn't there. He didn't even do the fucking. God is in heaven. God is the father and God didn't show up. So, you have to be perfect, and Charlie can be a fuck up and it doesn't matter. You will always be held to a different, higher standard. And it's fucked up, but that's the way it is".
Adorei a explicação religiosa para por que esperamos tão pouco da paternidade. 

17 comentários:

Anônimo disse...

A Scarlett está muito bem. Só não está melhor ainda porque o filme foco mais no personagem do Adam Driver, o que acaba deixando a Scarlett sem mais espaços para atuação. Do contrário, a interpretação de Scarlett poderia ter sido muito mais brilhante.

alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado disse...

"Como ele se centra mais em Charlie, o ex-marido, que em alguns momentos parece ser mais prejudicado com o divórcio que Nicole (Scarlett Johansson), achei o filme um tiquinho machista."

Lola, não leve a mal, mas o filme é machista só por isso? A obra não pode retratar uma realidade em que aquele divórcio específico tenha sido "pior" para o homem do que para a mulher? O fato de os mascus pegarem esse aspecto pra justificarem as teorias estapafúrdias deles é outra coisa, mas o filme não se torna machista só porque a mulher ferra com o cara (e não foi isso que o filme mostrou, de qualquer forma, nisso concordamos).

pp disse...

Ei Lolinha! Saudades dos posts de filmes. Eu trabalho com direito de família e achei o filme muito interessante. Sabe aquele advogado mais velho que o protagonista contrata inicialmente? Era sem dúvida o melhor de todos, pensava no melhor para as pessoas.

Só achei um pouco distorcido porque pelo menos no Brasil quem quer fazer da situação um circo normalmente são as partes, e não os advogados ou defensores publicos.

pp disse...

Concordo. Até porque as mulheres não são vítimas em todos os casos de divórcio. A realidade é muito mais completa do que essa generalização que parte do feminismo tem feito (não falo de vc lola).

Cão do Mato disse...

Mas nos divórcios em geral quem se ferra mais É o homem...

Anônimo disse...

É o mínimo, já que as mulheres durante o casamento são geralmente as que mais se ferram (traições, jornada tripla, ter de cuidar de marmanjo que age como criança etc).

qq disse...

e dizer que quem se ferra mais em geral é o homem nem é generalização...

Anônimo disse...

oi Lola sou sua admiradora vc viu caiu a a mascara do bolsonarista Marcos Mion que assediou uma mulher na academia a moca denunciou e esta sendo criticada

titia disse...

"Homem se ferra no divórcio" em geral se traduz como "O homem é obrigado a pagar pensão pro filho que ele mesmo fez e não tem permissão de deixar a vadia se lascar sozinha com o trombadinha, e isso é muito injusto!"

Raros são os casos de homens realmente prejudicados pelo divórcio. A maioria faz é mimimi mesmo de ter que dar o básico pro filho depois que a vagabunda da ex-mulher rejeitou seu precioso pênis. Só olhar a quantidade de crianças sem nome do pai na certidão, com a pensão atrasada, que o pai não visita a um mês, que as mães tem que meter na justiça pr apagar o plano de saúde atrasado. Homem, na maioria, só gosta do filho enquanto gosta da mulher. Na hora que a mulher vai embora a macharada esquece do filho também, finge que nem foi ele que fez e chora pra não pagar nem uma mísera pensão.

Homem que gosta mesmo do filho vai atrás, corre, luta na justiça, junta provas, pede guarda compartilhada e quando consegue, não joga pra avó cuidar.

Homem que só quer abandonar mulher e filho sem dor de cabeça nem na consciência fica na internet fazendo mimimi que homem só se ferra no divórcio.

Cão do Mato disse...

Não foi assédio. Foi cantada (se é que foi mesmo). E canalhice dela denunciar essa suposta cantada publicamente. Se queria mídia,conseguiu...

qq disse...

Olha o homem masculino paizão do patriarcado se ferrando de novo por causa dessas mulheres canalhas! Não dá pra não generalizar mesmo, o homem sempre é o prejudicado, mesmo quando ele não preza pela sua própria índole.

Anônimo disse...

Comentário perfeito, sei por experiência própria como filha de país divorciados! Sem falar que a mãe ainda fica com estigma de "mãe solteira", como um xingamento, enquanto o cara volta a ser "solteiro"!

Cão do Mato disse...

Sua experiência pessoal é válida. Mas o mundo não gira em torno do seu umbigo

Anônimo disse...

Lola este filme e completamente misógino e um decerviço.

Anônimo disse...

O filme não é misógino nem misandrico, acho que mostra com sutileza um homem intoxicado pelo próprio machismo, egoísta e prepotente, que se distanciou afetivamente durante o casamento e que percebeu o que perdeu apenas no final. É bem representado pelo relacionamento seco e embotado que ele têm com o filho durante o filme todo, tentando colocar as necessidades dele acima das do filho. É muito sutil para os machistas entenderem.

Anônimo disse...

Não é experiência ou opinião pessoal. São números. Vai estudar, cara!

Ana disse...

Falando em casamento, Lola, escreve aí sobre a duqueza Meghan e sua saída da realeza britânica. Awui, os tabloids só a atacam como a megera que tirou arrastado pela gravata o principe de seu castelo.