sábado, 26 de julho de 2014

GUEST POST: ÓDIO NÃO GERA AVANÇOS

A A. me enviou este relato:

Gostaria muito de contar a minha experiência e o que tenho aprendido com ela.
Bom, tenho 21 anos. Meus pais se divorciaram quando eu tinha 4 anos, a partir de então sempre morei com a minha mãe. Ela trabalhava o dia inteiro e eu passava a tarde em casa com a empregada. Eu tinha 6 anos quando a primeira empregada que trabalhou em casa me molestou sexualmente. Eu não lembro bem dos detalhes. Lembro só dessa cena, e acho que foi só isso que aconteceu: eu sentada no braço do sofá, e ela me tocando e perguntando se eu gostava daquilo. Não contei pra minha mãe, mas pouquíssimo tempo depois ela contratou outra empregada. Eu não lembro o que eu pensava sobre aquilo naquela época. 
Com dez anos, fui passar pouco mais de uma semana na casa da minha tia, que tinha acabado de ter um bebê. O marido dela, o C., era meu tio preferido. Eu o adorava, ele me tratava super bem e sempre prometia me dar presentes. 
Acontece que um dia minha tia foi dormir, e ficamos só nós dois na sala vendo TV. Eu, desde pequena gostava que fizessem carinho em mim que causasse arrepios, sabe quando passamos a mão assim de leve na pele e os pelinhos arrepiam? Então. Aí lembro do meu tio fazendo isso em mim naquela noite. 
Quando fomos dormir, ele dormiu no quarto comigo pois minha tia estava dormindo com o bebê na cama. Não sei dizer porquê, eu pedi pra ele deitar comigo no colchão. Ele ficou fazendo esse "carinho" em mim, e eu dormi. Acordei no meio da noite com a mão dele praticamente dentro da minha calcinha. Fiquei muito assustada e pedi pra ele voltar pra cama dele. 
Isso mexeu muito comigo, eu pensava muito naquilo, e lembro que pouco tempo depois ele foi preso por porte de drogas. Lembro que eu sentia muita vontade de contar pra minha mãe, mas morria de medo -- medo do que as pessoas iriam pensar, me sentia culpada por ter deixado isso acontecer, além de ter perdido a confiança nas pessoas em geral. Tinha medo também da proporção que aquilo poderia tomar na família. 
Com onze anos eu e minha mãe fomos visitar uma amiga dela. O D., marido dessa amiga, era uma pessoa muito comunicativa, divertida, e começou a conversar comigo. Não lembro a ordem dos fatos, só lembro de nós dois no quarto, sentados na cama, ele sussurrando alguma coisa no meu ouvido, dizia que era um jogo, e eu paralisada, sem entender o que estava acontecendo ali. Depois lembro da gente usando o computador pra fazer tabelas de batalha naval. Ele pegou minha mão devagar e colocou em seu pênis por cima da calça e ficou esfregando. Eu lembro que fiquei em choque, sem reação. Mas me deu um click e tirei a mão, peguei o mouse e falei alguma coisa relacionada às tabelas. 
Depois lembro dele me chamando pra irmos no térreo do condomínio de prédios porque ele queria me mostrar alguma coisa. Eu fui, desconfiada. Fomos conversando e ele foi me levando até um canto escondido. De repente ele me agarrou por trás, e foi nesse momento que eu saí do estado de transe. Com uma força que veio não sei de onde, me soltei dele e já estava quase correndo, quando ele disse: "Olhá só essa porta, o que será que tem nesse quartinho, vamo vê?" 
Eu disse não e subi correndo, e fiquei sentada no sofá esperando minha mãe pra ir embora. Me dei conta de que poderia ter acontecido algo muito pior se eu tivesse aceitado entrar no quartinho. Percebi que eu tinha sido vítima de um pedófilo, de uma tentativa de abuso. 
No caminho pra casa, no carro, contei pra minha mãe, que é assistente social, e lida com isso todos os dias. 
Eu disse: "Mãe, preciso te contar uma coisa. Sabe aquele negócio de abuso sexual? Então, acho que o D. fez isso comigo". A partir daqui eu não me lembro do que aconteceu, mas segundo minha mãe, ela parou o carro e começou a perguntar o que tinha acontecido. Eu não respondia e só gritava com raiva, chorando, pra ela não fazer nada, pra não falar com ele, pra não contar pra ninguém. 
Eu tinha medo. Eu sabia que D., meu tio e a empregada estavam errados, mas ainda assim me sentia culpada e tinha medo. 
Nessa mesma época, eu sofria bullying na escola. Um tempo depois eu até fui a uma psicóloga. Mas não cheguei a falar sobre os abusos. Resolvi que era melhor abafar aquilo. Esquecer. Fingir que não tinha acontecido, superar.
Depois de um tempo, contei pras minhas amigas tudo o que tinha acontecido, e quando contava, falava com maturidade, como se tivesse acontecido há muito tempo. Eu tentava mostrar que tinha superado aquilo, e eu realmente acreditava que tinha superado. 
Na adolescência eu dizia que já tinha superado, que nem tinha sido nada de mais, que tinha casos muito piores que o meu. Falava sobre sexo numa boa. 
Mas demorei pra transar pela primeira vez. Na minha quinta relação sexual, passei por uma situação estranha, e na sétima vez também. Ambas com caras diferentes. Hoje em dia, eu consigo enxergar que essas duas situações estranhas foram tentativas de estupro. Não aquele estupro que um cara aparece do nada, te leva pro mato e acaba com a sua vida. Não. Foram tentativas de forçar algo que eu não queria, e que por mais que eu dissesse não, eles insistiam. E o jeito que eu encontrei de sair da situação, foi me submetendo, foi aceitando, pra que algo pior não acontecesse ali.
Depois disso, comecei a me dar conta de que alguma coisa estava errada.
Meses depois, assisti ao filme As Vantagens de Ser Invisível e me identifiquei tremendamente. Chorei litros. Alguma coisa tinha vindo à tona em mim. 
Passados mais alguns meses, entrei em contato com o feminismo. Comecei a descobrir o que era. Vi que era totalmente o contrário do que eu pensava que fosse. Comecei a entender o que era patriarcado. E aquilo iluminou todas as minhas dúvidas, todos aqueles incômodos constantes. 
E o meu passado voltou com tudo. Voltou a me assombrar como se dissesse: "Você ainda tem pendências a resolver comigo, mocinha, agora não tem escapatória". Comecei a falar sobre o meu passado, e conforme eu contava eu percebia o quanto aquilo me afetou sim, o quanto eu não tinha superado o fato de ter sido abusada na infância. Percebi que muito da minha insegurança, da minha dificuldade em confiar nos homens, em olhar nos olhos, eram consequências desses abusos. 
Falar sobre isso, e descobrir que muitas pessoas (bem próximas até) também passaram por situações parecidas ou piores, me deu muita força. Percebi que podemos e devemos lutar contra o machismo que nos oprime todos os dias, e está tão enraizado na nossa cultura. 
Mas não vim aqui apenas contar a minha experiência. 
Li um texto que você postou de um estuprador pedindo perdão e dizendo que se arrepende muito do que fez. Admiro muito a sua coragem de postá-lo no blog,
Acredito na reabilitação do ser humano. Claro que o que ele fez foi horrível, causou danos na vida das vítimas, mas acho que ele também sofre com o que fez, ficou bem claro pelo que disse. E não tem punição pior que essa. Você saber que arruinou a vida de alguém. 
Depois de todos esses anos, eu me perdoei. Eu era só uma criança. E perdoei as pessoas que me fizeram o que fizeram, mesmo elas nunca tendo me pedido perdão. Eu consigo enxergá-los como seres humanos, não monstros. Consigo enxergar que eles podem até mesmo ter sido vítimas na infância, e que talvez eles se sintam mal pelo que fizeram.
Estuprador tem que ser preso? Claro! Pedófilo tem que ser preso? Claro! 
Mas não acho que ser preso hoje em dia leve ao arrependimento (talvez em alguns casos sim), pelo contrário. Só piora. Então, eles merecem a morte? Não. Não estamos mais na idade da pedra onde tudo se resolvia pela lei de talião, olho por olho, dente por dente. Nós evoluímos. 
E se uma pessoa que comete um crime, se arrepende do que fez, não deveríamos dar a ela uma chance? Se ela se arrepende, não quer dizer que ela consegue, assim como nós (e talvez até por nossa causa) enxergar que o que ela fez foi muito errado, foi horrível? Não quer dizer que ela quer se tornar alguém melhor? Então. Ela precisa de ajuda. 
As feministas não deveriam gerar mais ódio, propagar ódio pelo ódio. O feminismo tem que ir além, tem que ir na raiz do problema. Lutar por um mundo melhor é acreditar no ser humano, por mais que a humanidade nos dê motivo para desacreditar, para jogar tudo pro alto, chutar o balde. Mas não é assim que vamos acabar com o machismo. 
E ele não vai acabar tão cedo. 
É claro que se eu tivesse sido estuprada, a minha primeira reação seria querer matar meu estuprador, ou sei lá, se alguém fizesse algo do tipo a alguma pessoa próxima, também sentiria muita raiva e vontade de me vingar. Mas, será que isso resolveria a tormenta interior, a catástrofe psicológica e emocional? 
Temos que lutar com todas as nossas possibilidades para a conscientização das pessoas. É uma luta diária. Nos deparamos todos os dias com pensamentos que culpabilizam as vítimas de estupro ou abuso, ou que oprimem de uma maneira geral as mulheres, as lésbicas, os gays, os negros, os pobres. 
Cultivar e propagar esses sentimentos de ódio não nos torna pessoas melhores e nem torna o mundo um lugar melhor. Não gera nenhum avanço.

Meu comentário: Obrigada pelo relato, muito forte, bem escrito, cheio de reflexões. Você é super madura pra uma menina de 21 anos. Parabéns, querida!
Só que tem uma coisa: no final do texto, você diz: "É claro que se eu tivesse sido estuprada...". A., você FOI estuprada. Pelo menos segundo as leis brasileiras de 2009. Não é só penetração que é estupro.
Fico muito feliz que, apesar de tudo que você sofreu, você não queira o olho por olho pra quem te abusou. E fico feliz que você esteja bem agora. Você é linda! É uma guerreira, uma sobrevivente.
Concordo contigo sobre o feminismo não propagar ódio. Entendo o ódio como um sentimento legítimo (apesar de nada saudável) de uma vítima. 
Não sou eu que vou falar pra ela o que ela deve sentir, como ela irá superar o trauma. Mas o ódio como estratégia de um movimento, de uma ação coletiva, pra mim soa como um tremendo tiro no pé. Porque, como você disse, o ódio não resolve nada. Ódio mal permite análises.
Denúncia, julgamento, condenação e punição de estupradores -- sempre. Mas com a possibilidade real da reabilitação. Ódio para sempre, não. 

45 comentários:

Anônimo disse...

"A., você FOI estuprada."

A moça claramente está bem resolvida com os fantasmas do passado dela, pra que isso? Tecnicamente é verdade, mas e daí?
Ela sabe o que passou, não precisa que digam o que aconteceu ou não. Ela não quer o estigma do estupro, pois mesmo tendo sido violada, ela não quer se colocar na mesma situação da vítima clássica de penetração forçada e eu entendo esse sentimento.

Anônimo disse...

Relato poderoso mas fiquei com dúvida numa coisa. No início do texto fala em empregada doméstica, mas na verdade era para ser empregado doméstico, não é? Afinal, todas nós sabemos que mulheres não abusam sexualmente de crianças.

Renata disse...

Ok. Ela perdoou, ela quer dar segundas chances, ela não quer a morte de ninguém.. Ok.

Eu quero. Quero que morra. E quero que sofra muito antes de morrer.

"[...]mas acho que ele também sofre com o que fez, ficou bem claro pelo que disse. E não tem punição pior que essa."

Tem sim. Pode acreditar que tem.

"As feministas não deveriam[...]"
"O feminismo tem que[...]"

...

Anônimo disse...

anônimo das 18:07 deve ser algum troll, mulheres também abusam de crianças, ja vi casos assim mas não é muito comum.

Mally Pepper disse...

Lola, não me leve a mal, mas a meu ver esse papo de "ain, não vamos sentir ódio dos estupradores, vamos perdoar, coitadinhos, estão arrependidos, mimimi" só serve pra fazer com que a vítima se sinta mais culpada e péssima consigo mesma por não conseguir dar uma de Madre Tereza e perdoar o agressor.

Foi mal, mas essa moça ainda precisa amadurecer muito e pesquisar mais sobre o feminismo pra entender que esse movimento não prega ódio contra os homens simplesmente porque não é sobre homens, é sobre mulheres. Só faltou ela dizer que nós queremos dominar o mundo e exterminar os homens.

Ela tb precisa aprender a respeitar os sentimentos das outras vítimas de estupro. Ela conseguiu perdoar? Bom pra ela, mas outras vítimas não conseguem fazer a mesma coisa e isso não deveria ser cobrado delas.

Sem falar que é muita ingenuidade dela acreditar que os estupradores se arrependem do que fazem e ficam sofrendo por terem arruinado a vida de alguém. Grande parte nem chega perto disso, pois sequer acham que fizeram algo errado. Um ou outro pode até ser, mas não é o caso da maioria.

Mesmo que algum deles tenha sofrido um trauma no passado, isso não torna o estupro menos errado ou justificável. Pra mim, culpar traumas de infância é basicamente o mesmo que culpar a roupa da mulher: mera desculpa pra isentar o sujeito da responsabilidade pelo que fez. Não interessa o que ele sofreu ou deixou de sofrer. Isso não é problema meu ou de qualquer outra mulher. Frieza? Crueldade? Pode até ser, mas a vítima de estupro não tem culpa nenhuma pelo que aconteceu com o agressor no passado e não deveria ser penalizada por isso.

Agora, falar que prender estuprador não adianta, aí já é um tremendo insulto as outras vítimas. O que a senhorita sonhadora quer então? Que a gente se sente com ele, cante umas musiquinhas sobre amor ao próximo, dê um abraço e tudo fica bem? Sério mesmo? Jura? Oi? Então basta o cara se fingir de arrependido pra ser solto?

Ódio não resolve nada? Não. Mas nem sempre pode ser evitado e temos que respeitar o direito das vítimas de sentir ódio dos seus agressores. Não cabe a nós decidir como elas devem ou não sentir e não temos o direito de fazer com que se sintam péssimas consigo mesmas por odiarem seus agressores.

Cão do Mato disse...

Por que todos os que postam opiniões divergentes de forma anônima são sempre rotulados de mascu/mascutroll? Vocês não sabem convíver com críticas ou opiniões divergentes?

Cão do Mato disse...

Então você é a favor da pena de morte? Suponho que também seja a favor da redução da maioridade penal e de leis mais duras para crimes graves...

Cão do Mato disse...

Pois é... Mas parece que a dona do blog não se tocou que o recado do post foi pra ela... Continua sendo aquela pessoa que acha que alguém que põe fogo numa pessoa por causa de 30 reais é vítima da sociedade. Mas um cara que encoxa mulher no metrô é estuprador...

Anônimo disse...

mais uma feminista propagando a impunidade,que mal tem o cara matar,estuprar,incendiar outro ser humano,se ele diz que se arrependeu(como se isso pudesse ser provado),está tudo certo...

Anônimo disse...

Você é muito forte A, e eu boto fé de que você conseguirá seguir em frente e será cada dia mais livre desse passado horrível. Mudando um pouco de assunto, troll das 18:07 você pode ir ali virar gente e voltar depois? Se não conseguir nem precisa voltar, ok? Pula logo de cabeça num poço.

Anônimo disse...

uma vez eu senti que meu tio me olhou de um jeito diferente e não gostei,nunca contei nada pq ele nunca vem ver agente ele é do interior, mas graças a Deus nunca mais vi ele.
No meu caso foi só suspeita um dia e nunca mais o vi.

Anônimo disse...

Uma vez uma mulher pegou na minha parte íntima mas eu era bem criança e andava só de calcinha. Que nojo

Anônimo disse...

O pior é que agente fica com vergonha de contar.

Danilo disse...

"Mas não acho que ser preso hoje em dia leve ao arrependimento (talvez em alguns casos sim), pelo contrário. Só piora. Então, eles merecem a morte? Não. Não estamos mais na idade da pedra onde tudo se resolvia pela lei de talião, olho por olho, dente por dente. Nós evoluímos."


Resposta: Não é novidade nenhuma que a prisão é incapaz de despertar um senso humanista e bom senso nos presos.

A Lei do Talião não têm mais retorno, infelizmente. Mas as punições deveriam ser pesadas e rígidas. A punição deveria ter um grande nível de eficiência para os criminosos temerem e inibir os atos criminosos deles. O Poder Judiciário brasileiro é fraco e insuficiente, isso para não dizer que é um lixo completo.

A desestruturação social é absurda e se não implantar punições exemplares e pesadas, esta sociedade vai cair aos pedaços mais rápido do que imaginamos.

Anônimo disse...

POis eu tbm quero,quero que morra,quero ver morto,reabilitação? ce tá brincando né? Já está mais que provado que isto não existe.Desejo,muito,com todas as forças que o estuprador e pai biológico do meu filho morra com todos os detalhes possíveis de crueldade que possam envolver a morte lenta de um ser.E pode acreditar( e parar de acreditar na fada do dente) eles não sofrem nem um pouco pelo que fizeram,eles acreditaam que estão certos e farão novamente assim que puderem.Essa moça está vivendo uma doce ilusão,mas uma hora sua ficha vai cair, sorte de quem não tem esses domas que pregam perdão.Perdão é???? tá bom.Só o que me faltava,tanta história praa ser contada e vem a freira incruada,vai lá,perdoa e fica quieta então,porque isso ofende e ofende muito.

Renata disse...

Mallagueta Pepper, concordo. Seu comentário foi um ar fresco depois de ler esse post.

Ana disse...

“A feminist is anyone who recognizes the equality and full humanity of women and men.”
Pra mim essa frase da Gloria Steinem resume o que eu entendi do relato da Guest e que eu concordo 100%.

Anônimo disse...

A questão do ódio aos homens é bem complexa pra mim. Se eu defendo um mundo igual para homens e mulheres, pouco faz sentido eu ficar atacando homens sistematicamente, ou tentando convencer as mulheres novas que adentram ao movimento feminista de que a única alternativa é "virar lésbica política" e cultivar o ódio a todos os homens. Por isso também qe me oponho totalmente a esta deturpação e a esta visão estreita do mundo que alguns coletivos feministas pregam como religiosos fanáticos, de qe o homem é o Satã na Terra e todas as mulheres são Santas. As próprias mulheres que pregam (no sentido religioso da palavra) essas alucinações, são as mais mal intencionadas do movimento; por optarem a uma política moral obscurantista e inviável em todos os sentidos e evitarem assim a construírem um feminismo efetivamente popular que atendam as necessidades reais e concretas das mulheres.

Anônimo disse...

Muitas das opiniões divergentes da autora parecem ser causadas por um grande trauma, totalmente justificável, e à não compreensão de como seria possível perdoar uma pessoa que causa tanto mal.

Para mim esse foi um dos melhores textos daqui do blog. Evoluir, como a autora do post diz, para que possamos nos libertar do trauma. Ficar remoendo a dor e a mágoa não leva a nada, machuca mais e nos prende. Ótimo, é fácil falar, eu sei, mas é importante ler sobre PERDÃO em vez de tristeza e ódio PELO MENOS UMA VEZ.

Meus parabéns à autora do post que conseguiu deixar essa história para trás, e espero de coração que todxs que passaram e passam por histórias de violência consigam se recuperar também, ser livres de dor e ódio, que também nos machucam muito, e seguir em frente.

Meu comentário tá parecendo coisa de religioso hehe, mas na verdade é legal mesmo ver alguém com esse posicionamento diferente, contra o ódio.

Stella

Anônimo disse...

Ah, só mais uma coisa, não acho que a autora esteja falando para deixarmos impunes estupradores. O que ela diz é que não adianta ficarmos alimentando com um ódio que não leva a nada, e que se alguém se arrepende de ter violentado alguém, e que entendeu que fez algo errado, PODE ser perdoado. Perdão não pode ser forçado, mas pode acontecer se a vítima assim o quiser.

Stella

Anônimo disse...

Mallagueta, a vítima pode sentir ódio o quanto quiser, só não pode se articular um movimento de vítimas e não-vítimas baseado nesse ódio, porque vira discurso de ódio, bem simples.

Anônimo disse...

Relato comovente. Passei por algo parecido na infância, quando tinha por volta de 7 ou 8 anos de idade, não me lembro bem. Fui abusada por um motorista de transporte escolar, que minha mãe pagava na época. Todos os dias eu rezava para que a "tia" do transporte escolar não me deixasse sozinha com ele dentro do ônibus, quando saia para deixar as crianças dentro da escola. Às vezes ela saia do ônibus e ficava cerca de meia hora esperando os portões da escola abrir, juntamente com as crianças que iriam entrar, enquanto as outras (incluindo eu) ficavam dentro do ônibus sendo abusadas pelo motorista. Ele tinha preferência por meninas e não era raro olhar para o banco do lado e ver ele com a mão dentro da calcinha de alguma menina. Também tinha medo de contar para minha mãe, pelos mesmos motivos da moça do relato, pois quando era menor, levei um murro no olho na creche onde ficava e as cuidadoras disseram que meu olho roxo foi causado por uma picada de inseto. Minha mãe acreditou nelas, mas quando me levou ao pediatra, se surpreendeu quando ele disse que aquilo foi causado por um soco. Mesmo assim, eu nunca revelei quem me agrediu, por puro medo. O mesmo aconteceu com o abuso. Infelizmente nem todas as crianças são corajosas, afinal, você é só um ser pequeno em meio a gigantes. A solução que encontrei para fugir dos abusos foi dizer à minha mãe que já era grande o bastante para ir sozinha à escola. Depois disso, fiquei sabendo que ele vendeu a frota de ônibus e se mudou para o Nordeste. Reconheço que estes fatos afetaram meus relacionamentos interpessoais ao longo do meu desenvolvimento, visto que só fui dar meu primeiro beijo e perder minha virgindade, no ano passado, quando tinha 21 anos de idade, antes disso, nunca tive nada com ninguém. Porém, acima de tudo, não nutro ódio pela pessoa que me abusou, nem acredito que a solução do caso, em grande escala, seja alcançada através de humores tomados pelo ódio, tal como o autora do relato ressaltou.

Anônimo disse...

Bom, o ódio que senti depois de sofrer um estupro não me deixou ser estuprada outras vezes. Eu me protegi com o meu ódio,e sim, ele me ajudou muito e me ajuda ainda hoje só que em escala menor. Mas entendo que para a maioria das pessoas é complicado de entender. Lindo blog Lola!

Anônimo disse...

Complementando o que eu disse, afim de evitar equívocos, afirmo que não defendo que se perdoem agressores, nem que se privem do direito de sentir ódio pelo mesmo. O que defendo é que não sejam tomadas decisões (políticas) tendo como base sentimentos particulares. Isto é, não querer criar uma espécie de lei que legitime uma ação vingativa, como por exemplo o clássico exemplo da maioridade penal. Se usarmos como base o sentimento de revolta das pessoas que foram vítimas de crimes cometidos por menores, seremos levados a criar uma lei que atuará somente no efeito (prender menores infratores) da questão, e que não atuará na causa(proporcionar um espaço para que esse menor não entre nesse caminho do crime), ou seja, enquanto prendemos 10 de um lado, a escola do crime forma mais 20.
A mesma coisa com os agressores sexuais. Enquanto ficamos presos em usar nossa criatividade para decidir qual método punitivo é o melhor, fechamos os olhos para observar os pequenos detalhes que possibilitam que novos agressores sejam criados. Deveríamos nos perguntar: como se desenvolve uma mente de um agressor sexual ou pedófilo? Será que há algum meio de evitar que a criança de hoje se torne um agressor no futuro? Ora, se formos movidos por este espírito inquisitorial, não seremos muito diferentes daqueles que viveram na "Idade das Trevas".

Anônimo disse...

Mallagueta ♥

Anônimo disse...

Se ela perdoou, beleza.
Se ela acha que eles merecem uma segunda, terceira chance, beleza também.
Mas achei uma cagação de regra sem fim essa de "o feminismo tem que", "vcs tem que". Não, não tenho que perdoar, amar, sentir pena, abraçar, whatever meu estuprador não.
Tenho ódio sim e me sinto muito bem com ele obrigada.
Acho que ela deve estudar mais um pouquinho, e não caçar carteirinha "dazamigas".

Anônimo disse...

Ana, evocar Gloria Steinem em um post desse quase pega mal. Ela costumava advogar para que mulheres recuperassem memórias esquecidas de abusos sexuais, o que causou uma grande histeria de histórias falsas, terapias desnecessárias e prisões de babás nos Estados Unidos. Ela sempre foi uma grande apoiadora do "culto à vitimização" no qual se apoia o feminismo radical, o que não parece ser a intenção da autora do post.

Anônimo disse...

21:03

entendo o seu ponto
mas dizer que se tiver ódio da vítima os olhos se fecham para questões relevantes, é demais

já vi e participei de inúmeros debates entre meninas misândricas e as que entendem o ódio (entender é BEM diferente de apoiar)e todas, TODAS as que estavam ali se preocupavam sim com as questões mais profundas.

uma coisa n tem nada a ver com a outra

Anônimo disse...

Guest post: carteirada empoderadora.

M. disse...

Não to sabendo desses grupos de ódio n.

Anônimo disse...

Jane Doe disse:

Acho que ninguém tem o direito de dizer como uma vítima de algo tão medonho deve se sentir - sinta ela compaixão ou ódio mortal.

A questão porém não é pregar ódio aos homens, ou sair com tochas atrás dos estuprados. Mas eu não sei do que ajuda a combater a cultura do estupro ou que conforto pode trazer as vítimas justificar AINDA MAIS o crime mais justificável do mundo.
Será que é preciso dizer o óbvio ululante de o estupro é crime menos reportado e o menos punido?
Alguém realmente acredita que colocar o estuprador 5 min. no cantinho da disciplina vai fazer ele parar de estuprar ou de fato entender que o que ele fez é horrendo?

Na minha singela opinião, dizer que "coitadinho fez isso por x, y, z, temos que relevar, ele está arrependido" é estuprar a vítima pela segunda vez.

Não acredito que linchamento resolva o problema dessa sociedade misógina. Mas acredito menos ainda na condescendência para com algo tão brutal, cruel e devastador.

Anônimo disse...

As Rad ficam doida com a ideia de alguém dizendo que ódio não é positivo.

Anônimo disse...

Acho que quando ela diz que odio não gera avanços, ela quis dizer que enquanto a vitima sofre, leva uma vida rancorosa, e nunca é feliz por causa desse odio, o estuprador ta lá feliz da vida. Não to dizendo como a vitima deve se comportar, e tem que haver uma punição rigida a quem faz essas maldades, pois acho que so assim quem sofreu abuso pode ser feliz.

Anônimo disse...

Vou falar algo um pouco radical. MAs já ouvi histórias de adolescentes bêbadas que foram abusadas por lésbicas. Assim como a autora do relato, nem sempre os homens heteros são culpados de tudo

Cheio de Luz disse...

Mais uma vítima de violência sexual;elaborar tal trauma requer ajuda profissional(psiquiatra e psicoterapia),não se trata de se fazer um levante e empunhar bandeira contra os homens alimentando o ódio ou até mesmo gerar uma aversão ao sexo oposto, já vi mulheres que se tornaram lésbicas por mecanismo de defesa não por convicção sexual, fugindo de si mesma.A generalização é injusta e o autor da prática é um doente necessitando de ajuda e deve sim arcar com a punição prevista pela Lei.Também passei por experiência traumática; amigo de meu pai frequentando nossa casa, pegou minha mão de 9 anos de idade e enfiou no bolso a conduzindo até o pênis; falei com meu pai; pasme; ficou meio alterado comigo e disse para me afastar dele. Após anos a fio, aquela experiência adormeceu em meu inconsciente; não gerou sequelas relevantes,porém, ao fazer terapia aos 18 anos( o animal já se mudara para outra cidade e não mais nos visitava),para me conhecer melhor, o monstro veio a tona numa sessão onde chorei e gritei com meu pai(a terapeuta tem técnica para acessá-lo sem estar presente )desabafando que queria atitude de expulsá-lo de nossas vidas ;era o que precisava...vomitar o tal demoniozinho que estava escondido em meu SER...foi demais;passei a ter até mais segurança em lidar com minhas relações com o sexo oposto;perdoar é essencial(alivia o desconforto da alma) como também,associado ao perdão Te-ra-pi-a!!!!!!!!!!bjo

Mally Pepper disse...

Anonimo das 20:34, só me responda uma perguntinha bem pequenininha:

Quantos homens vc viu morrer, ser agredidos, estuprados, assediados, etc. por causa desse ódio?

Se vc conseguir me dar algum número, com certeza será muitíssimo menor do que o de mulheres mortas/agredidas/estupradas todos os dias. Não estou falando que o feminismo tem que odiar ou sair matando homens por aí. Se vc tentar enfiar essas palavras na minha boca, te mando tomar naquele lugar e encerro a discussão.

Acontece que estou de saco cheio dessas falsas simetrias, como homem odiar mulher fosse normal, mas o contrário não pode, é perigoso, não leva a nada, etc. Muitas decisões políticas atualmente são tomadas com base no ódio contra a mulher e agora vem gente encher o saco falando que ódio não leva a nada e outras frescuras?

Falem isso pra esses velhos caquéticos lá em Brasília que se acham no direito de decidir sobre nossos corpos em questões do aborto. Falem isso tb pra aqueles que querem negar as vítimas de estupro o direito de serem atendidas imediatamente nos hospitais. Essas sim são decisões políticas baseadas no ódio contra a mulher e olhem que estou falando somente do Brasil.

Agora povo vem apontar o dedinho na nossa cara falando que não podemos fazer nada com base no ódio, mas fecham os olhos pro que acontece com a gente todos os dias.

Anônimo disse...

tipo foda-se a vítima
ela TEM que perdoar pq se não perdoar, ela vai ser infeliz? hã???
isso é um segundo estupro mesmo

Anônimo disse...

Ódio é contraproducente. Mas é real e justificável. Algumas vítimas se sentem assim e esse é o modo delas de lidar com o trauma.

Anônimo disse...

Acompanhamento psicológico deve ajudar muito.

Anônimo disse...

Bem, a moça que defende que ódio é algo ruim... não creio que ela defenda que homem odiar mulher seja normal, não acho, malagueta, que não seja possível criticar o ódio das duas formas, mesmo compreendendo que as consequências, na maioria das vezes, seja pior para a mulher, mesmo algo assimétrico, possui uma medida de diferença, não é pq algo é assimetrico que altomaticamente se torna justificavel.

Anônimo disse...

Mallagueta, quantos judeus os neonazistas andam matando recentemente? Se tiver alguns, eu duvido que seja um número significativo, mas nem por isso ideologia neonazi deixa de ser discurso de ódio.
O masculinismo mata meia dúzia de mulheres ocasionalmente por conta de algum psicopata corajoso ou covarde o suficiente pra levar a cabo tais convicções. Deixou de ser discurso de ódio porque em um contexto global o índice de vítimas é quase nada? As próprias estratégias de arrebanho de indivíduos fragilizados e inseguros das feministas radicais é bem parecido com as dos masculinistas.

Ódio é ódio, na melhor das hipóteses deve ser individual, nunca coletivizado.

Anônimo disse...

Pessoalmente, para mim foi muito melhor perdoar do que odiar. Entendo perfeitamente quem quer odiar, mas eu preferi o outro caminho.

Vou falar da minha experiência;

Perdoar para mim foi a melhor coisa que aconteceu. Tudo que eu fazia era focado em ódio, em mostrar "como eu estou melhor agora" ou "ele acha que me abalou?" para o violentador em questão. Entrar na melhor faculdade foi pensando nisso, conseguir um bom emprego foi pensando nisso, comprar uma roupa bonita pensando nisso...

Quando eu dei por mim, o ódio era o que me prendia permanentemente àquele sujeito. Todas as minhas decisões eram tomadas e ele estava no centro de tudo. No final aquele sujeito havia roubado o meu futuro por eu me deixar basear em meu ódio.

Ao perdoá-lo, eu me desprendi dele. Meu ódio não me protegia, não me ajudava, apenas só me fazia lembrar eternamente daquela pessoa.

Atualmente, sou mais esclarecida; sei que se acontecer de novo, a culpa não será minha. Não tenho razões para usar o ódio como proteção.

Anônimo disse...

Agora povo vem apontar o dedinho na nossa cara falando que não podemos fazer nada com base no ódio, mas fecham os olhos pro que acontece com a gente todos os dias.


verdade,tanto é que nenhum homem foi preso ou linchado por matar ou estuprar uma mulher.
todos passam a mão na cabeça do bandido.

só no mundo de vcs mesmo.

Tinúviel disse...

Lola, se os abusos foram perpetrados anets de 2009, então é assim que eles devem ser tratados. Então não, A. NÃO foi estuprada, foi vítima de atentado violento ao pudor. E acredito que a maioria dos julgadores o classificariam na modalidade tentada, ainda.

Cuidado pra não colocar tudo no mesmo saco, se a lei veio só em 2009, por óbvio só se aplica a crimes cometidos a partir daí.

Anônimo disse...

"tipo foda-se a vítima
ela TEM que perdoar pq se não perdoar, ela vai ser infeliz? hã???"


Como fazem falta umas aulas de interpretação de texto! Ou pelo menos um pouco de honestidade intelectual!

Em que parte do texto está sendo dito que alguém TEM de fazer alguma coisa?

Todo o texto e o comentário da Lola no final são uma REFLEXÃO sobre alguém que CONSEGUIU superar um forte trauma, perdoando o agressor. Em nenhum lugar está dito que este é o único caminho.

Ja que textos """longos""" são difíceis de serem entendidos, vamos tentar por tópicos:

1. Sim, agressores tem de sofrer o devido processo legal e serem punidos e de preferência reabilitados.

2. Sim, agressores podem ser reabilitados.

3. Não, a vitima não é obrigada a perdoar, mas SE conseguir fazer isso PODERÁ aliviar e muito seu sofrimento. Então, talvez valha a pena TENTAR.

4. Perdoar é diferente de esquecer


E, para completar:

5. Uma mulher que transa com um homem não está "erotizando seu agressor" e muito menos "toda forma de sexo heterosexual é estupro".