O Phillipe, que assina como Seeking Wisdom, deixou um excelente comentário no guest post sobre o rapaz que foi barrado numa festa de formatura por estar usando kilt. Pedi pra ele transformar o comentário num guest post, e ele escreveu este lindo texto.
Durante minha vida universitária aprendi sobre a teoria de reprodução de classes de Bourdieu e impressionei-me com alguns fatos. Na França o sistema educacional é diferente do daqui, todos cursam a mesma escola nos distritos, não há o aphartheid escolar brasileiro. Ainda assim, o sociólogo observou que as classes sociais tendem a se manter ao longo das gerações e há vários mecanismos, dentro e fora da escola, que explicam isso. Grosso modo, o filho do médico tornava-se médico e o filho do pedreiro tomava pra si o oficio braçal.
Fora do ambiente educacional formal temos família e sociedade. As famílias não possuem o mesmo capital cultural, não vivem em ruas semelhantes, não têm acesso aos mesmos serviços (muitos serviços básicos inexistem para as classes mais baixas), não possuem os mesmos ciclos de amizade e muito menos a mesma influência política. Dentro das escolas os mecanismos são mais sutis. Os professores não dão atenção igual a todos os alunos, mas os "escolhidos" não são frutos do acaso, e quase sempre essa escolha não é consciente. Os grupos de colegas também não se formam randomicamente, os temas a serem discutidos, os personagens das histórias e assim vai -- nada disso é por acaso. A seleção sociológica é cruel e tem como ferramenta nossos preconceitos, dos mais evidentes aos mais escondidos. Todo esse maquinário articulado vai moldando cópias de si mesmo freneticamente, mesmo quando estamos dormindo.
Minha família é da classe trabalhadora, meu pai metalúrgico e minha mãe dona de casa. Sou o segundo dos três filhos do casal, todos na mesma faixa de idade -– uma escada. Meus pais completaram o segundo grau e casaram cedo. O início do matrimônio (fim dos anos 80) parece ter sido bem complicado, meu pai começara na montadora em outra cidade, moravam de aluguel, mudamos algumas vezes. Contudo, a perspectiva era ótima. Na época a indústria estava crescendo e a vida foi melhorando rápido. Até que meu pai perdeu o emprego e minha mãe tornou-se a chefe de família.
Desde que me entendo por gente, minha mãe contribuía para a renda da família fazendo mini-pizzas congeladas em casa. Meu pai perdeu o emprego quando eu estava na quinta série, e a renda principal da casa passou a ser a dela. Acho importante enfatizar aqui no blog que as mães nas classes mais baixas são as principais administradoras de recursos. O pai detém a autoridade e cuida dos gastos primários: aluguel, água e luz. Mas a mãe responsabiliza-se pela comida, limpeza, saúde, vestuário e mesmo o pouco lazer e brinquedos. Minha mãe viveu um casamento extremamente opressor de maneira parcialmente inconsciente. Tinha uma jornada dupla dentro de casa e não tinha vida social -– uma vida para o lar. Meu ambiente familiar também tinha uma dose relativamente alta de violência. Fosse uma novela da Globo seria fácil prever o final, só que eu não fui um ponto na reta de Bourdieu.
Minha história escolar está recheada de dicas que explicam os porquês de eu ter me tornado uma exceção sociológica. Deve haver alguma dose de dom natural, mas isso sozinho não é suficiente. Começa dentro da família. Meus irmãos são inteligentes, mas eu levava todo o crédito, e a gente sabe que o incentivo influencia bastante no rendimento. Meu pai é moreno, minha mãe branca. Nasci da cor que a sociedade gosta -– todo o privilégio branco eu tenho. Cursei minhas três primeiras séries na escola pública do bairro e ganhei olhar especial da diretora, que ficou impressionada com o meu nível de leitura aos seis anos (entrei um ano adiantado).
Também recebi tratamento especial de uma professora na terceira série que procurou meus pais e os aconselhou a me retirar daquele colégio. Cursei os dois anos seguintes em uma escola subsidiada pela indústria com bolsa parcial, até a demissão de meu pai. Nesse ponto ele fez algo importante. Buscou uma escola pública de boa qualidade, encontrou um colégio estadual administrado por freiras, imensamente difícil de conseguir vagas (ainda mais para alunos externos da comunidade). Minha vaga custou seis garrafas de vinho para a Irmã diretora.
Esse colégio tinha um sistema meritocrático -– alunos melhores eram colocados em turmas melhores, havia oito delas. O vinho me conseguiu apenas a quinta turma, mas em alguns meses algumas professoras solicitaram minha mudança (que só acontecia no fim de cada ano). As turmas melhores não tinham a cara da escola. Como vocês devem imaginar, o número de alunos negros decrescia e a renda familiar aumentava. À medida que essas pequenas interferências aconteciam eu ia deixando de pertencer ao bairro pobre da periferia, ia perdendo contato com os amigos de lama, guerra de mamonas, polícia e ladrão, e começava a invadir um território hostil.
A classe média apresenta um código de conduta moral à parte que possui o objetivo de manter seu status privilegiado. Meu segundo grau foi numa escola técnica federal e é um dos ambientes apropriados por essa classe. Eu não tinha dinheiro para os livros que, felizmente, conseguia emprestado -– edições desatualizadas que não cheiravam a novo e não tinham os mesmos exercícios. Os de inglês eram os mais caros (até cinco vezes mais, e super finos), e lembro da arbitrariedade de não permitirem livros usados porque os exercícios estariam feitos.
Aí vem a integração com a turma: a vergonha pelo tênis furado, calça surrada, a falta de familiaridade com os assuntos, as modas, as festas, os cursos de línguas, artes marciais, os bailes de quinze anos, os videogames de última geração, computadores, os passeios na cidade, as viagens no exterior, a formatura e até as excursões. Muitas vezes a falta de dinheiro era proibitiva, em outras o isolamento geográfico (morava na periferia de uma cidade vizinha a BH). Às vezes era tudo isso mais a vontade de enfiar a cabeça debaixo da terra para sempre. Acho que a primeira vez que senti a pressão de não pertencer foi quando não consegui ir às excursões da escola a Ouro Preto.
Imagino que meninas devem sofrer um extra com a exigência de maquiagens e apetrechos cada vez mais cedo. A falta de compatibilidade, ainda mais nessa fase da vida, detona a autoestima e te torna vulnerável ao bullying. Tornei-me apático, introspectivo e tímido. Dava alguma atenção aos estudos, mas matei muitas aulas por não querer estar naquele ambiente desconfortável. Foi um mundo diferente com várias oportunidades e vários preconceitos, mas, felizmente, passou.
Fui premiado com a aprovação no vestibular em duas universidades federais e acessei um dos ambientes mais privilegiados e férteis do país. Não havia cotas, mas havia um bônus na nota para quem tivesse cursado escola pública. O código de conduta era o mesmo, com o acréscimo de a vida universitária exigir maior interação em calouradas, boates, e festas. Quanto mais prestigiado o curso, mais caro ingressar na vida social dele. As relações humanas com a classe média precisam passar pelo crivo da aceitabilidade social. Já tinha criado aversão às convenções sociais mais formais, não tinha condições nem vontade de pagar comissões de formatura e fui à festa da minha por pedidos de amigos, mas não me senti confortável.
Durante toda minha graduação tive alguma atividade remunerada para me sustentar. Conheci e me apaixonei pela ciência e recuperei minha voz e opinião. Das políticas de inclusão da minha universidade, a mais relevante (além do bandejão) foi a moradia universitária, que, óbvio, possui uma demanda infinitamente maior que a oferta de vagas. Na moradia encontrei um universo: alunxs de vários cursos, cidades e opiniões. Fiz muitos amigos lá e elxs me fizeram quebrar muitos preconceitos sociais que eu tinha acumulado.
Peço desculpas por esse relato longo, mas percebo sua importância. Estamos vivenciando a expansão do ensino superior, e histórias parecidas com a minha devem aumentar. A conquista de direitos pelas classes mais baixas fomenta uma onda conservadora no país, e os preconceitos e estereótipos das minorias não vão ajudar a convivência desses novos alunos. As políticas de inclusão na universidade servem para criar a convivência dentro de um espaço tradicionalmente ocupado pela classe média. Minha expectativa sincera é que o confronto de classes resulte na quebra de preconceitos e desses padrões absurdos de conduta que excluem e limitam as relações humanas em prol de ideais egoístas.
Durante minha vida universitária aprendi sobre a teoria de reprodução de classes de Bourdieu e impressionei-me com alguns fatos. Na França o sistema educacional é diferente do daqui, todos cursam a mesma escola nos distritos, não há o aphartheid escolar brasileiro. Ainda assim, o sociólogo observou que as classes sociais tendem a se manter ao longo das gerações e há vários mecanismos, dentro e fora da escola, que explicam isso. Grosso modo, o filho do médico tornava-se médico e o filho do pedreiro tomava pra si o oficio braçal.
Fora do ambiente educacional formal temos família e sociedade. As famílias não possuem o mesmo capital cultural, não vivem em ruas semelhantes, não têm acesso aos mesmos serviços (muitos serviços básicos inexistem para as classes mais baixas), não possuem os mesmos ciclos de amizade e muito menos a mesma influência política. Dentro das escolas os mecanismos são mais sutis. Os professores não dão atenção igual a todos os alunos, mas os "escolhidos" não são frutos do acaso, e quase sempre essa escolha não é consciente. Os grupos de colegas também não se formam randomicamente, os temas a serem discutidos, os personagens das histórias e assim vai -- nada disso é por acaso. A seleção sociológica é cruel e tem como ferramenta nossos preconceitos, dos mais evidentes aos mais escondidos. Todo esse maquinário articulado vai moldando cópias de si mesmo freneticamente, mesmo quando estamos dormindo.
Minha família é da classe trabalhadora, meu pai metalúrgico e minha mãe dona de casa. Sou o segundo dos três filhos do casal, todos na mesma faixa de idade -– uma escada. Meus pais completaram o segundo grau e casaram cedo. O início do matrimônio (fim dos anos 80) parece ter sido bem complicado, meu pai começara na montadora em outra cidade, moravam de aluguel, mudamos algumas vezes. Contudo, a perspectiva era ótima. Na época a indústria estava crescendo e a vida foi melhorando rápido. Até que meu pai perdeu o emprego e minha mãe tornou-se a chefe de família.
Desde que me entendo por gente, minha mãe contribuía para a renda da família fazendo mini-pizzas congeladas em casa. Meu pai perdeu o emprego quando eu estava na quinta série, e a renda principal da casa passou a ser a dela. Acho importante enfatizar aqui no blog que as mães nas classes mais baixas são as principais administradoras de recursos. O pai detém a autoridade e cuida dos gastos primários: aluguel, água e luz. Mas a mãe responsabiliza-se pela comida, limpeza, saúde, vestuário e mesmo o pouco lazer e brinquedos. Minha mãe viveu um casamento extremamente opressor de maneira parcialmente inconsciente. Tinha uma jornada dupla dentro de casa e não tinha vida social -– uma vida para o lar. Meu ambiente familiar também tinha uma dose relativamente alta de violência. Fosse uma novela da Globo seria fácil prever o final, só que eu não fui um ponto na reta de Bourdieu.
Minha história escolar está recheada de dicas que explicam os porquês de eu ter me tornado uma exceção sociológica. Deve haver alguma dose de dom natural, mas isso sozinho não é suficiente. Começa dentro da família. Meus irmãos são inteligentes, mas eu levava todo o crédito, e a gente sabe que o incentivo influencia bastante no rendimento. Meu pai é moreno, minha mãe branca. Nasci da cor que a sociedade gosta -– todo o privilégio branco eu tenho. Cursei minhas três primeiras séries na escola pública do bairro e ganhei olhar especial da diretora, que ficou impressionada com o meu nível de leitura aos seis anos (entrei um ano adiantado).
Também recebi tratamento especial de uma professora na terceira série que procurou meus pais e os aconselhou a me retirar daquele colégio. Cursei os dois anos seguintes em uma escola subsidiada pela indústria com bolsa parcial, até a demissão de meu pai. Nesse ponto ele fez algo importante. Buscou uma escola pública de boa qualidade, encontrou um colégio estadual administrado por freiras, imensamente difícil de conseguir vagas (ainda mais para alunos externos da comunidade). Minha vaga custou seis garrafas de vinho para a Irmã diretora.
Esse colégio tinha um sistema meritocrático -– alunos melhores eram colocados em turmas melhores, havia oito delas. O vinho me conseguiu apenas a quinta turma, mas em alguns meses algumas professoras solicitaram minha mudança (que só acontecia no fim de cada ano). As turmas melhores não tinham a cara da escola. Como vocês devem imaginar, o número de alunos negros decrescia e a renda familiar aumentava. À medida que essas pequenas interferências aconteciam eu ia deixando de pertencer ao bairro pobre da periferia, ia perdendo contato com os amigos de lama, guerra de mamonas, polícia e ladrão, e começava a invadir um território hostil.
A classe média apresenta um código de conduta moral à parte que possui o objetivo de manter seu status privilegiado. Meu segundo grau foi numa escola técnica federal e é um dos ambientes apropriados por essa classe. Eu não tinha dinheiro para os livros que, felizmente, conseguia emprestado -– edições desatualizadas que não cheiravam a novo e não tinham os mesmos exercícios. Os de inglês eram os mais caros (até cinco vezes mais, e super finos), e lembro da arbitrariedade de não permitirem livros usados porque os exercícios estariam feitos.
Aí vem a integração com a turma: a vergonha pelo tênis furado, calça surrada, a falta de familiaridade com os assuntos, as modas, as festas, os cursos de línguas, artes marciais, os bailes de quinze anos, os videogames de última geração, computadores, os passeios na cidade, as viagens no exterior, a formatura e até as excursões. Muitas vezes a falta de dinheiro era proibitiva, em outras o isolamento geográfico (morava na periferia de uma cidade vizinha a BH). Às vezes era tudo isso mais a vontade de enfiar a cabeça debaixo da terra para sempre. Acho que a primeira vez que senti a pressão de não pertencer foi quando não consegui ir às excursões da escola a Ouro Preto.
Imagino que meninas devem sofrer um extra com a exigência de maquiagens e apetrechos cada vez mais cedo. A falta de compatibilidade, ainda mais nessa fase da vida, detona a autoestima e te torna vulnerável ao bullying. Tornei-me apático, introspectivo e tímido. Dava alguma atenção aos estudos, mas matei muitas aulas por não querer estar naquele ambiente desconfortável. Foi um mundo diferente com várias oportunidades e vários preconceitos, mas, felizmente, passou.
Fui premiado com a aprovação no vestibular em duas universidades federais e acessei um dos ambientes mais privilegiados e férteis do país. Não havia cotas, mas havia um bônus na nota para quem tivesse cursado escola pública. O código de conduta era o mesmo, com o acréscimo de a vida universitária exigir maior interação em calouradas, boates, e festas. Quanto mais prestigiado o curso, mais caro ingressar na vida social dele. As relações humanas com a classe média precisam passar pelo crivo da aceitabilidade social. Já tinha criado aversão às convenções sociais mais formais, não tinha condições nem vontade de pagar comissões de formatura e fui à festa da minha por pedidos de amigos, mas não me senti confortável.
Durante toda minha graduação tive alguma atividade remunerada para me sustentar. Conheci e me apaixonei pela ciência e recuperei minha voz e opinião. Das políticas de inclusão da minha universidade, a mais relevante (além do bandejão) foi a moradia universitária, que, óbvio, possui uma demanda infinitamente maior que a oferta de vagas. Na moradia encontrei um universo: alunxs de vários cursos, cidades e opiniões. Fiz muitos amigos lá e elxs me fizeram quebrar muitos preconceitos sociais que eu tinha acumulado.
Peço desculpas por esse relato longo, mas percebo sua importância. Estamos vivenciando a expansão do ensino superior, e histórias parecidas com a minha devem aumentar. A conquista de direitos pelas classes mais baixas fomenta uma onda conservadora no país, e os preconceitos e estereótipos das minorias não vão ajudar a convivência desses novos alunos. As políticas de inclusão na universidade servem para criar a convivência dentro de um espaço tradicionalmente ocupado pela classe média. Minha expectativa sincera é que o confronto de classes resulte na quebra de preconceitos e desses padrões absurdos de conduta que excluem e limitam as relações humanas em prol de ideais egoístas.
90 comentários:
vou dizer o que?
no fundo acho que estamos evoluindo e ler coisas assim me faz acreditar nisso cada vez mais...
texto otimo, claro, didatico.
maravlhoso...parabéns au autor do texto e obrigada Lola por postar textos assim!!!
Nossa, que texto cansativo. Na metade já tinha esquecido sobre o que ele estava falando.
Esse texto me tocou fundo. Sou mulher, branca e hoje em dia classe media alta. Mas quando era adolescente os meus pais eram professores ganhando uma miséria. Lembro q meu avo qd vivo nos comprava comida. Mas os meus pais fizeram questão de me colocar a mim e ao meu irmão no melhor colégio (de padres) acho q o salario deles nem dava. o uniforme era obrigatório só em dias de educação física mas como não tínhamos dinheiro eu e meu irmão íamos com uniforme todos os dias. Eu mal tinha dinheiro pra comprar lanche (na época anos 80 era legal comprar coxinha salgadinho não trazer a maca de casa)
Bom resumindo nem preciso falar q sofria bullying por ir sempre de uniforme. Além do mais usava óculos feios q eram os mais baratos q tinha e era gorda pq comida de pobre é cheio de carboidratos (bolacha, pão....) e tb engordava de tristeza.
Eu sofri tanto bullying q decidi nunca ter filhos. As crianças eram demais de horríveis e as q não sao sofrem bullying. Isso q eu aprendi na sociedade brasileira.
Lutei muito pra sair da classe media baixa. Mas as seqüelas ficaram.
E eu era branca gente.
Muito se fala em preconceito, mas a maioria das pessoas são IMPLICITAMENTE preconceituosas e querem contato / se relacionar com pessoas que não sofrem nenhum tipo de preconceito.
Ah outra coisa q eu me esquecia e já q o autor do post comentou sobre excursores festas proibitivas. Ele disse q matava classes. Eu tb apesar de ser excelente aluna (mais bullying ainda) todo inicio de ano eu faltava um mês de aula porque ficava muito doente de ir ao hospital. (Vômitos, diarréia...) o meu organismo me falava "chega! Não posso mais"
Contraditoriamente foi graças a esse colégio q consegui fazer boa universidade e economicamente dar a volta por cima.
Sei que muita gente por aqui conhece, mas pra quem não, existe um tumblr excelente para ilustrar isso,o Classe Média Sofre.
http://classemediasofre.tumblr.com/
Excelente reflexão. Sócio-análise, como diz o Bourdieu. Sem as autocomiserações que a gente vê nos guest-post, sóbrio e ao mesmo tempo radical. É isso aí.
parabéns phillipe pelas conquistas e pela lucidez! ainda mais nesses ultimos dias que estamos particularmente vulneráveis à hostilidade da classe privilegiada com a nova lei para empregados domésticos. especialmente esses dias em que vemos uma eficiência para resolver casos de violência contra a classe duplamente privilegiada (ja que é transnacional),vide caso do estupro na van na zona sul enquanto vitimas do mesmo crime e dos mesmos criminosos, porém pertencentes a classe social menos privilegiada não foram acolhidas pelas instancias da justiça no nosso país. vc ja era um dos meus comentaristas favoritos e agora conhecendo um pouco melhor a sua história, sou fã!
A última foto é de uma residência universitária européia (tem aquecedor e janela pra proteger do frio), a moradia no brasil não tem nada nada nada a ver. Inclusive, pelo menos na minha cidade, quem mora na moradia NÃO tem quarto individual.
Eu só tô falando pq aqui a luta da moradia é movida pela necessidade, tem muita gente que se não for aceito na moradia não tem condições de estudar em outra cidade, ninguém mora em um quarto bonitinho não.
Phillipe, eu entendo bem o que vc conta nesse post. Vim do subúrbio do Rio e, quando entrei na UFRJ (no longínquo ano de 2004, quando só a Uerj tinha cotas), digamos que 90% da minha turma era de gente da Zona Sul, com bastante grana, línguas estrangeiras, viagens ao exterior, roupas caras, gadgets de última geração e contatos na alta sociedade carioca. Não sou exatamente da classe trabalhadora, mas no Rio existe um abismo geográfico imenso pra quem não mora na Zona Sul ou Barra da Tijuca. O subúrbio parecia (parece) um mundo à parte, alienado da Cidade Maravilhosa (meus colegas nunca tinham ouvido falar no meu bairro, por exemplo). Por isso e pelos privilégios gigantescos que meus colegas tinham, não sei se concordo em chamar essas pessoas de "classe média". Pra mim, são ricos.
Eu sofria exatamente dessa apatia que vc descreveu, me sentia deslocada e até inferior a eles, já que eu nunca tinha feito intercâmbio, nunca tinha lido Nietzsche no original e nem era amiga de nenhum famoso ou empresário graúdo. Mas, com o tempo, fui vendo que não preciso de nada disso e que não sou pior ou menos capaz do que ninguém por não ter nascido com os mesmos privilégios. Não preciso desses selos de aprovação de classe média pra minha vida fazer sentido. Pena que a gente não entende isso aos 17 anos e gasta autoestima à toa.
Seeking Wisdom, espero o mesmo que você- um país menos classista! Mas temos que esperar a reação, que virá com violência. Eu vim de uma família mais privilegiada do que a sua, e mesmo assim era muito difícil manter o padrão de roupas e estilo de vida do colégio de classe média-alta onde estudei. Senti vergonha por não estar na última moda, senti vergonha por não ter festa de 15 anos, senti vergonha porque o carro do meu pai e também o da minha mãe eram simples. São incríveis os mecanismos sociais de constrangimento das classes populares ou até mesmo quem tem "um pouco menos" de dinheiro.
Sabe, pontos fora da rota são mais comuns do que se ventila.
Tenho uma amiga que nasceu com diversos problemas decorrentes de uma rubéola que a mãe teve durante a gravidez. Ela faz parte do que se pode chamar de classe média-alta, fez psicologia e aprendeu uma grande lição no curso, ao qual sou muito grata por ela ter me passado: "Minha dor não é maior do que a de ninguém".
Não podemos negar que existem diferenciações, mas também não podemos aceitar como naturais/reais/irrefutáveis os sistemas de classificação que as ciências criam para explicar o mundo.
Freyre, Bourdieu, Strauss fazem muito sentido quando se estuda sobre um determinado assunto, mas a vida não é assim clara e amarrada como um sistema.
(vale lembrar que até a criação do famigerado conceito de sistema tal como temos e usamos hj nas ciências humanas/sociais é bem recente)
Sim, posso estar falando do alto da experiência como mulher, branca e de casse média (apesar de refutar tudo isso). Mas falo também como um contra-ponto.
Durante toda a faculdade ouvi coisas do tipo "olha como fulaninha metida é e nem tem o pq, vc que deveria ser assim e não é".
Tentando fazer uma análise do problema proposto no seu post, acho que ele fala principalente do problema da educação, dos valores que estão sendo passados, do espírito cada vez mais empobrecido da manada.
(quando falo em valores não estou levantando a bandeira da moral e bons costumes cristã)
Suas exposição e espaços assim são importantes para que, mais do que o confontro, haja o diálogo.
Eu creio q passei por uma mudança até mais drástica que a sua Phillipe, pois vim do interior do Tocantins, de uma cidade q nem havia nos mapas, até bem pouco tempo atras.
Qdo minha mãe ficou viúva, foi recebida na casa de uma tia no interior de S.Paulo, até após a separação dessa tia, ela junto com minha mãe viúva com mais 5 crianças (eu ai inclusa), viemos morar na paradisíaca São Matheus na periferia de São Paulo, bem ao lado de uma favela.
Ali não havia ruas asfaltadas, a única escola era de madeira, (hje esse bairro é muito diferente, sem dúvida esta muito melhor).
Meus amigos eram qse todos da favela, ao lado da casa alugada onde morei nos fundos, e tb uns japoneses recém chegados ao Brasil, mal falavam portugues (nunca irei esquecer o choque cultural com essa família), eles tomavam banhos todos juntos e pelados em uma caixa d’agua q era aquecida por baixo, sempre me chamavam para partilhar desses banhos.
A mudança veio qdo do segundo casamento de minha mãe, viemos morar em um bairro bem tradicional, considerado de classe média.
Meu padrasto era um empresário e pode nos dar um padrão de vida q até então em nem sonhara.
Não foi nada fácil como vc disse a adaptação, eu era excluída de tudo, pois parecia um E.T. nesse novo meio, minhas roupas, meu modo de falar, meus costumes, eram rejeitados.
Na hora do recreio no novo colégio, me sentia tão envergonhada por não ter coleguinhas, q me tracava no banheiro, subia encima do vaso sanitário, para quem nem meus pés fossem vistos.
Mas depois de algum tempo consegui assimilar os novos costumes, aprendi a nova linguagem, e de excluída passei a líder de um grupo de amigas e amigos ,(alias bem rebelde).
Hoje ao ler seu relato, achei meio classe média sofre rrrssssss, mas ai me lembrei do drama q foi para me sentir incluída, e resolvi comentar.
Boa sorte a vc, o monstro não é tão grande assim, e vc ira superar tudo, tenho certeza, e achar o seu lugar nesse novo mundo.
Lutamos para q o mundo seja mais igualitário e q esse tipo de problema quem sabe algum dia nem exista mais, com a internet esse objetivo parece cada dia mais viável.
Realmente um lindo texto!
Olha, de verdade, eu não acho que essa inclusão deva ser feita na universidade e sim na ESCOLA. Se a pessoa, independente da sua classe social, estudar desde criança com pessoas de várias etnias, classes, costumes diferentes essa separação de pobreXclassemédiaXricos seria bem menor.
Eu entendo o ponto de vista de quem defende, mas adianta muito você só colocar pessoas diferentes para conviverem juntas depois de ter seu caráter e preconceitos já formados?? Tentar quebrar um preconceito quando adulto é bem mais complicado que quando criança.
Eu defendo a melhoria das escolas públicas e de espaços públicos (parques, praças, espaços culturais) que ainda são vistos como coisa de pobre e quem tem dinheiro não deve ou não precisa frequentar. Mas é justamente neles que ocorre (ou deveria) o contato com o diferente. Se esses lugares forem melhorados, pode ter certeza que a universidade já mudará junto por si só.
Ate excursoes o teu IF era assim?! Nossa.
O meu foi tudo pago,gastei nada ou pra estados mais distantes era coisa de 20,00
Deve ser pq tua epoca era pré lula,deve ser
Phillipe, seu relato é maravilhoso. Parabéns por ser esse guerreiro incansável! Você não driblou apenas a predição do Bourdieu, você dribla toda sorte de preconceito todos os dias e é um orgulho tê-lo conhecido e estar próxima de você, ainda que o tempo esteja sempre contra nós nessa lógica mercantilista, rs. Abraços.
Parabéns pela sua capacidade d elaboração e crítica, perceber-se muitos é tarefa necessária para a superação do individualismo que massacra a experiência coletiva.
Phillipe, seu relato é maravilhoso. Parabéns por ser esse guerreiro incansável! Você não driblou apenas a predição do Bourdieu, você dribla toda sorte de preconceito todos os dias e é um orgulho tê-lo conhecido e estar próxima de você, ainda que o tempo esteja sempre contra nós nessa lógica mercantilista, rs. Abraços.
Eu tbm vim " de baixo" como se diz, me mantive sozinha durante a graduação, nunca custeada por meus pais, o que sempre impressiona as pessoas. Concluir uma graduação nessas condições é ser muito guerreiro. O choque de classes é evidente e excludente. E nós acabamos recuando, para a felicidade da classe média. Mudemos o quadro!
Meio off, mas o sistema de ensino francês é bem excludente também, né...?
Texto bem escrito.
Olha que coisa tosca que eu li hoje no site Petisco (sobre a Casa da Barbie):
http://juliapetit.com.br/home/turne-europeia/comment-page-1/#comment-18192034
"as feministas me dão vergonha de ser mulher"
"Não vejo nada de mais ser bonita magra e usar salto! Um ótimo exemplo, magina ser gorda e andar mal arrumada?"
"Sabe, essa era do Tudo-Politicamente-Correto tá me dando no saco!"
...é, esse papinho "classe média sofre, só queremos ser felizes com os estereótipos" já deu, hein...
Só lamento pelos que realmente sofrem com a dura realidade.
Que texto incrível! Estou bastante admirada pela fluência e riqueaza das palavras.
Gostei muito da mensagem também. Parabéns por ter sido uma exceção nesse mundo tão imparcial.
Engraçado como são certas coincidências da vida...
sou universitária, estou na metade do curso de direito, e a universidade é particular, mas tenho bolsa pelo enem, e essa semana aconteceu algo que mexeu muito comigo.
na universidade, temos apenas um professor negro no meu bloco, e é um dos caras mais inteligentes que já tive o prazer de conhecer, aquele tenho orgulho de chamar de mestre, e como um curso de direito em desenvolvimento, assuntos polêmicos que tem acontecido são sempre mencionados, desta vez foi o Marcus Feliciano...
conversa vai, conversa vem, ele acabou falando um palavrão, o que vindo de uma pessoa tão comedida deixou a gente assustado no primeiro momento e depois o aplaudimos, mas parei pra observar minha sala e vi apenas dois alunos negros, pensei no restante das turmas e não há outros alunos negros no meu ano, e ainda tem gente que diz que o Brasil não sofre com o estereótipos e questão racial já foi resolvida, imaginem então as sociais...
Toda vez que leio textos assim, tenho a impressão de que ou sou alienada ou fiz a minha carreira estudantil com gente normal que não se preocupavam com as minhas posses. Igual ao autor eu era pobre e com sinceridade, nunca fui discriminada por causa disso. Talvez, também, porque nunca me importei com eventos, festas de formatura, etc. Uma das minhas faculdades foi na PUC/PR, paga com crédito educativo. Lá, segundo a minha amiga que lia colunas sociais, estavam grandes nomes da riqueza local. Pois nem lá me senti menos que eles e nem eles desprezavam ninguém. Talvez fossem outros tempos, não sei.
Sou filha de professora universitária, mas por minha mãe ser solteira - e que nunca contou com a colaboração financeira nem do meu pai e nem do pai do meu irmão - não tínhamos acesso a tudo, mas tinhamos acesso à educação na área privada. Bom, na escola de freiras em que estudei, eu me sentia super constrangida por não ter as mesmas peças de roupa e calçados ou até mesmo mochilas de marca.
Mesmo assim, consegui fazer um círculo de amizades em que tinha gente mais pobre e mais rica do que eu, e ninguém discriminava ninguém. Tinha algumas situações em que deveríamos pagar por passeios, e deixava claro para minhas colegas que não ir, por que não tinha $. No começo falava de uma maneira que até chocava a galera.
Na faculdade, pública de SP, uma das melhores do Brasil, eu desencanei de vez do estilo classe média de ser, rs, rs, rs. Nossa, como eu andava mulambenta, rs, rs, rs. E só pensava em estudar e me divertir quando podia (sempre que não envolvia $).
Entendo que esse processo pra quem vem de origem mais simples é complicado, por que não é só uma questão financeira, mas é também cultural, mas com o tempo, a gente vai se dando conta que tentar agradar quem só pensa em $ é inútil.
Nossa, parece que li o meu próprio relato...Negra, filha de mãe secretária do lar e pai motorista de ónibus, sempre fui discriminada onde estudei.Criancinha, me destaquei na escola e o meus pais sempre enfrentaram todas as dificuldades para me colacarem em boas escolas.Estudei em uma rede de colégios conveniados, no Instituto Federal do meu Estado e nos melhores colégios estaduais e é incrível como, na maioria desses lugares, grande parte dos alunos era negros e cuja as famílias possuiam uma renda muito maior que a minha.Por isso, fui discriminada, sofri bullying, entrei em depressão e no final da adolescência, até abandonei os estudos.Hoje estudo em uma universidade federal.As coisas melhoraram , mas continuo me achando diferente dos meus colegas de classe.
Diria q minha vida foi uns 90% igual a do autor e sofri com preconceito sim, mas só durante o ensino médio ( estudei em escola federal tb). Na faculdade, além de já não ligar para opinião alheia, conheci pessoas de mente mais aberta.
Coincidentemente hoje ouvi um relato de que um colégio particular da cidade mudou o logotipo. E aí as crianças que ainda usam o uniforme com o logotipo antigo são zoadas por isso, são chamadas de "pobre".
É dose.
Esse mecanismo é sutil e perverso.
Mas vai continuar existindo enquanto o dinheiro for o bem de maior valor na sociedade.
Lola, esse relato me lembrou muito sobre os fatos ocorridos durante todo meu período escolar.
Diferente do Phillipe, meus pais tinham condição, estudei sempre em escola particular, mas havia um problema, eu era negra!
Eu era a única negra na sala, então não entendia o porquê todos tinham amores de infância, mas ninguém gostava de mim, não entendia o porquê a irmã da minha amiga não falar comigo e me olhar com cara feia desde o primeiro dia que me viu e ela era apenas uma criança!
Com o tempo você percebe que não importa sua classe social, as pessoas preconceituosas sempre terão uma maneira de te deixarem para baixo.
Já escutei que era diferente eu ser "bem de vida" já que eu não era branquinha. E isso não acabou no fundamental, no Ensino Médio eu tive meu nome no site da escola por uma aluna da minha sala, pois descobrimos depois, que eu deveria parar de alisar o cabelo, detalhe, eu nunca alisei meu cabelo e nunca utilizei nenhuma química.
Chegou então a faculdade e lá as pessoas simplesmente não gostavam de mim, as que não eram da minha sala, me olhavam com cara feia, um rapaz da sala da minha amiga dizia que não me suportava, porque eu era muito metida, segundo suas palavras "aquela neguinha, só vive bem vestida, roupa de marca, ela acha que é quem".
Me desculpem, mas, tempos depois eu fui perceber que o problema não era se eu estava sempre muito bem arrumada, o problema era que uma neguinha fazia coisas que na mente deles, apenas alguma pessoa branca poderia fazer. Ahh, essas pessoas sempre me viram como negra, já as outras, que eu não era negra pois tinha cabelo bom, que era morena, como se isso fosse elogio.
Ahhh e quando comecei a namorar, os pais do meu namorado o questionaram, já que ele era branco de olhos claros, ele não preferia namorar uma pessoa clarinha.
Entretanto, isso passa, não o preconceito, mas, nós! Com o tempo nos tornamos mais confiantes, mais fortes e mais conscientes com o nosso papel perante a sociedade. Bj
"Lola, é verdade que voce tem um caso extraconjugal com o Terramel??"
Blanka, não é só pq o Terramel vive falando da Lola no facebook dele que os dois tenham um caso, né?
E eu acho tão engraçado a paranoia dele de achar que tudo que a Lola fala dos mascus é direcionado a ele.
kkkkkkkkkkkk
#morrendoderir
Acho ultrajante livros custarem caro. Para um debate sobre cotas em universidades numa aula, eu li que sobram vagas para cotistas em alguns cursos como medicina pelo alto custo do material (que no caso de medicina não são apenas livros caríssimos, mas outros materiais caros também).
Eu, ainda que de classe média, sempre estudei em escola pública e os livros que usávamos nas aulas era fornecido pelo governo (no final do ano tínhamos que devolver), exceto pelo livro de inglês, que tínhamos que comprar. Eu via que muitos alunos não tinham 20 e poucos reais pra comprar o livro novo e felizmente sempre tinha alguns alunos que vendiam no ano seguinte por preços bem mais amigos. Eu, inclusive, sempre vendia o meu bem barato, porque preferia vender por (o que pra mim era) quase nada (lembro de ter vendido uma vez por uns 7 reais) do que ter um livro ocupando espaço na minha casa.
Classe média é uma merda mesmo. Por isso que alguns ícones da esquerda brasileira como Dirceu, Lula, Delúbio, Paloci e outros são milionários.
Sou um CM f..dido que não anda de jatinho de empreiteiro ou usa bermuda que custa 600 reais, como a esquerda daqui faz.
O revanchismo com a CM é por que eles são os grandes formadores de opinião das sociedades democráticas ocidentais (capitalistas). Bom mesmo é país sem classe média, cheio de pobre e miserável, como Cuba e Coréia.
nossa quanto sofrimento,perder festas...
Ei Lola!! Olá pessoas!!
Gostaria de agradecer todo mundo que leu meu enorme relato! E estou pedindo licensa para entrar na discussão! \o/
Quando a Lola pediu para escrever esse texto achei muuuuito complexo porque é impossível falar desse tema sem falar muito de si mesmo. Consequência? Agora todo mundo sabe que pra casar comigo é só falar que vamos viver em Ouro Preto xD!
Eu poderia ter falado um monte sobre os eventos de discrminação social que podem acontecer, mas não é o objetivo. A bem dizer a verdade essa avaliação sobre a história escolar é mais uma análise de privilégios do que de sofrimentos pessoais. Então me limitei a alguns exemplos mais óbvios para levantar o tema. Passando rapidamente pelos primeiros comentários vi que alguns identificaram esses eventos em suas próprias histórias, legal.
E poxa, parece que tem muita gente achando que o post se refere a um vitimismo sobre o que vivi ao longo da minha história escolar. Gente, por favor né? Em momento algum disse que algum evento individual tenha sido massacrante ou que eu tivesse me sentido um ratinho caminhando entre felino. Contudo, se eu tivesse algum trauma pessoal dessa experiência seria legal - em um blog que discute violência, preconceito e inclusão cotidianamente - a postura desses comentários? Se algum preconceituoso do passado surgir na minha frente hoje vou mais é agradecer por ter me dado os maus exemplos xD. Mas enfim, esse exercício introspectivo é importante, recomendo todo mundo a sentar e pensar sobre sua história escolar. Fiz isso a primeira vez na aula de uma excelente professora socióloga - Maria Alice Nogueira.
Aliás, muitos relatos aqui na Lola, na minha humilde opinião, segue esse mecanismo: ele convida o leitor a fazer uma análise introspectiva a partir da experiência do outro para depois voltar-se a questões mais amplas e que atingem a todxs.
Então vou sugerir que desviemos um pouco dessa coisa interna e falemos do que importa para a sociedade - os mecanismos de exclusão da classe média. (cont)
Acho que a primeira questão importante que queria abordar se refere ao que diz a Mariana. Então Mariana, definir o que é a classe média pode ser bem difícil (pessoas de humanas de plantão, me saaalvem!!). Utilizei uma divisão velha que simplifica um pouco o quadro, mas permite uma primeira análise. Nessa classificação os ricos, ou burgueses, são os detentores da propriedade privada dos meios sociais de produção. Por que isso? Porque é essa propriedade privada que garante o poder da classe rica. Veja bem que a partir dessa análise ricos mesmo são muito poucos. A classe média seriam os trabalhadores liberais (médicos, juristas, dentistas, jornalistas...) que embora ganhem bem, não trabalham diretamente nos meios sociais de produção e nem detem a propriedade privada deles. A classe trabalhadora, por fim, está empregada pelos burgueses - são o grosso da mão de obra.
Independente das muitas limitações dessa abordagem para o panorama atual da sociedade, ela permite entender o porquê do comportamento dessa classe média. Quotando a brilhantíssima Marilena Chauí: "a classe média é burra". Ela acha que enriquecendo se tornará burguesa. Só que o dinheiro, em si, não é o que determina o poder da classe burguesa e sim a propriedade privada dos meios de produção. Então ela tem esse sonho de enricar e se tornar burguesa e o pesadelo, falaremos mais disso, de cair para a classe trabalhadora. É por isso que a classe média tem essa fixação na diferença, no status. E é nisso que se baseia boa parte do código de conduta da classe média.
Já volto para falar um pouco mais sobre!
Abraços, Phillipe
perto dos meus colegas de escola, eu era a pobretona. Isso porque meus pais nunca foram ricos mas fizeram questão de apertar os gastos e me colocar pra estudar a vida toda em escola de rico (não porque era escola de rico, mas porque o ensino era melhor).
Eu convivi a vida toda com gente que tinha muito mais dinheiro que eu (porque não são todos os pais que decidem abrir mão de almoçar em restaurante no fim de semana ou viajar pra praia no fim do ano pra pagar escola cara pro filho. a maioria mantém o luxo e paga a escola que der, se der).
Também tinha vergonha no carro do meu pai, que nunca era o carro do ano. Não pude ir a todas as excursões da escola e não fiz baile de formatura da oitava série, muito menos festa de 15 anos. Morri de vergonha por tudo isso.
Nunca fui "tirada" no colégio. Conheci pessoas maravilhosas e mantive amizade com alguns, e sempre fui admirada por ser a melhor aluna. embora seja difícil marcar de encontrar quando alguns amigos seus marcam um fim de semana em búzios e as férias em paris (sério). Mas que culpa eles tem de terem condições?
Hoje eu sinto vergonha de ter tido vergonha da condição financeira da minha família, quando eles sempre sentiram orgulho de mim e acreditaram que valia a pena o sacrifício.
Meu pai conta com orgulho o fato de ser um reles prestador de serviço e ter a filha aprovada no vestibular de cara, numa federal, quando a filha do chefe dele, que estudava comigo, tinha feito intercambio na europa e falava inglês, precisou ir pra particular.
Os responsáveis pelo meu sucesso são meus pais.
Parabéns pelo texto, foi uma ótima reflexão.
Fui bolsista do Enem e, apesar da minha faculdade não ser a mais prestigiada prestigiada, ainda assim considero que pode ser incluída num, digamos, TOP10.
Antes de entrar eu morria de medo de enfrentar esse tipo de situação que o Seeking Wisdom descreveu, mas por muita sorte peguei uma turma onde pelo menos meia dúzia de pessoas eram também bolsistas, e os colegas mais classe média-alta eram pessoas mais "cabeça firme".
Ops, escrevi bolsista do Enem? Quis dizer do Prouni hehe
Gisele.
Olá Lola!!!
Realmente o texto fala da realidade de diversas pessoas no país, só que como se trata daparte menos favorecida ou de 'realidade feia demais pra se mostrar', fica parecendo que vivemos uma utopia, um país sem preconceito onde todos se aceitam.
Vim de uma família de baixa renda também, meu pai era motorista de onibus e minha mãe dona de casa, aprendi que se esforçar e trabalhar para atingir seus objetivos era algo valorizado, mas acho que é só na classe baixa que existe esse valor.
Iniciei a faculdade agora e só estou fazendo porque trabalho, afinal a faculdade é particular, porém a maioria dos professores olham pra quem trabalha com certo desprezo como se fosse um alunx que vai viver pendurado nas matérias, afinal não tem tempo de estudar. O interessante é que minhas notas são as mais altas da turma.
A univercidade incentiva a iniciar estágios voluntários desde o primeiro período e procurando professores que pudessem me orientar, recebi diversos cortes educados, alguns antes mesmo de eu pleitear uma orientação quando eu chegava na parte do 'eu trabalho', na mesma hora falavam 'ihh como é que você vai fazer pra estagiar hein?' Às vezes dá um desanimo.
Mas continuarei com minha busca e minha luta porque tenho orgulho dela.
Muito bom o texto, me fez lembrar algumas situações que eu também já vivi.
Lola,vou pedir licença para falar de outro assunto: já faz algum tempo que eu estou pensando em te escrever sobre o "Porta dos fundos", vc conhece? É um canal de vídeos de humor no youtube que virou mania entre meus amigos. Posso dizer que tem mulheres no grupo e que pra mim a fórmula de humor foge muito do lugar comum. Eles lançam vídeos toda segunda e quinta, e hoje lançaram um que me parece bastante provocativo, sobre assédio no trabalho. Se vc tiver um tempinho e interesse, acho que vale a pena dar uma olhada, não só no de hoje (acho que chama Happy Hour), mas em alguns dos mais vistos.
o autor do texto estudou na UFOP?
Lindo post, Phillipe! A maior parte aqui adorou. Infelizmente, como eu não estava aqui (estava sem acessar a internet desde as 14 horas de quarta!), não deu pra liberar os comentários rapidamente. Ainda bem que minha mãe liberou alguns. Vamos torcer pra que a discussão continue hoje (sexta), porque é um post muito, muito bom!
Opa, anônimo das 19:47, o Terramel, vulgo lawlyet, vulgo Leonardo, vive falando de mim no FB? Eu não sei, porque não tenho Facebook, então não consigo nem entrar em páginas mascus por lá. Tadinho, o Terramel, assim como todos os mascus, é ridículo. Mas insinuação que eu esteja tendo um caso com um mascu é caso de processo. Primeiro porque sou casada, amo o maridão, e sou monogâmica e fiel a ele há mais de duas décadas, e segundo porque insinuar que alguma mulher possa estar se relacionando com um mascu (argh!) pode ser enquadrado como crime de calúnia e difamação!
eu (grupo hegemônico, classe média alta, branca, zona sul do rio, instruída) particularmente vejo nas minhas redes sociais (as offline, hehehe) não tanto uma discriminação em relação à renda e estética (se usa roupa de marca, se tem iphone, se mora em belford roxo ou no leblon, nada importa). o bicho pega em relação à discriminação em termos de instrução; como a gente viu, não é o caso do autor do post, que desenvolveu gosto pelos estudos, conseguiu abrir seu espaço em meio às adversidades. acho que só nisso ele tem essa "vantagem", porque na vida adulta, daqui pra frente, é essa educação que vai fazê-lo ascender socialmente (se pensarmos em hierarquias sociais, que de fato existem). meu marido é oriundo de uma classe muito pobre, situação familiar quase idêntica ao do autor do post, inclusive em relação ao gosto por estudos, e como casamos cedo por alguns anos eu fui a provedora principal, o salário dele só dava pra pagar uma conta aqui e outra ali. mas eu não me preocupava, sabia que era questão de tempo até as coisas ficarem mais igualitárias, e ele fez faculdade, arrumou um bom emprego e hoje temos renda parecida. mas fico me perguntando, HONESTAMENTE, se teríamos conseguido obter intimidade afetiva se nossos repertórios culturais, grande parte deles advindos de termos lido os mesmos autores, visto alguns filmes em comum, termos construído uma certa visão de vida em termos de educação formal, não existissem. tô me questionando e questionando meus preconceitos internos, que fique claro. ostaria de ler exemplos de pessoas que se relacionaram intimamente (namoro, ou amizades profundas) com pessoas muito díspares em termos de instrução. mas falo de intimidade mesmo, não de cordialidade ou tomar choppinho aqui e ali. todos os abismos são intransponíveis? ah, sim, queriam que não me lessem errado e achassem que tô fazendo julgamento de valor. tem muita gente burra com instrução e muita gente inteligente com os conhecimentos informais adquiridos na vida. mas tô falando dos "habitus" de classe(já que falamos de bourdieu), dos repertórios, dos significados compartilhados por um grupo, etc.
òtimo post!
Longe de ser classe média sofre (ao contrário, este post é o oposto disso).
Longe de ser qq bullying típicos de adolescentes.
Isto tem um termo específico, "distinção de classe", como muito bem o autor soube explicar através de Bourdieu!
Não se trata de discriminar porque o autor do post tem "um pouco menos" que os outros colegas, trata-se de distinção de classe, "a outra classe" demarcação dos que "vem de baixo" mesmo.
E isso, por mais que os liberais e ideários da meritocracia achem balela é evidente quando se observa a trajetória destas "exceções", como é o caso do autor. Mesmo que a pessoa que pertence a uma outra classe consiga ascender um pouco através da qualificação, mesmo estas exceções sofrem por diversos mecanismos de exclusão e violências simbólicas constantes no processo educativo!
Não basta estar no mesmo lugar para terem iguais oportunidades.
É o inglês e o outro idioma que a pessoa não tem, o hábito e lugar apropriado na casa para o ambiente de estudo, livros e ferramentas de estudos que nem todos têm. A chance de não trabalhar enquanto cursa a universidade que um tem outro não. Os códigos culturais (vestimenta, gostos artísticos, de comida, etc) que o sistema educacional (burguês em sua essência) demarca como sendo o erudito como o ideal. Aqui, as diferenças de classes se fazem notar por distintos signos e códigos, por vezes, sutis mais em sua totalidade bem demarcados, etc etc...
Isso tudo para dizer o quanto a classe social interfere em TODA nossa trajetória, e mesmo os que tem a oportunidade de ascender, a elite faz questão de nos lembrar e esfregar as suas distinções cotidianamente!
Afinal, na cabeça do rico e do ideário capitalista, para que ter dinheiro se não for para demarcar a posse desse? (em nossa sociedade é feio ter gosto/morar/parecer/se vestir/falar/ter hábitos de pobre).
Triste, muito triste.
E por fim, para dizer que, como pessoa de esquerda que sou, este post é a evidência que as distinções e violências simbólicas continuarão enquanto a diferença de classe existir!
bjos e parabéns
Muito bom o texto.
Phillipe, como assim "a classe média é burra"? Você endossa isso?
O que me parece é que a classe média há muitas décadas está construindo em jornais, revistas, livros, roteiros, programas de tv, etc etc, as maneiras de pensar o país. E algumas dessas maneiras são bastante complexas.
A professora Marilena, com todo o respeito, se deixa levar pela retórica na tentativa de responder aos ataques desvairados dos reacionários.
Mas não é assim que se vai conseguir refletir a respeito do problema.
Acho que teu post indica algo importante: a classe média se apropria dos espaços de reprodução de capital simbólico e tende, muitas vezes, a excluir forasteiros.
Trata-se portanto, de nossa parte, de minar os mecanismos de exclusão institucional e tornar a reprodução de capital cultural uma produção de democracia cultural.
Mas não é fácil. Pela história do kilt logo a gente percebe que ser classe média é querer símbolos de distinção. E lutar por ser reconhecido como distinto.
Bom pessoal, acho que é importante contextualizar alguns fatos. X anom das 13:05 fala algo interessante, mas é preciso ter cuidado com o que se chama de exceção sociológica por conta do período em que vivemos. O nível educacional global do país tem aumentado e, com a expansão do ensino superior do período Lula, temos cada vez mais histórias de pessoas que são os primeiros de suas famílias a cursar o nível superior. Mudou também o objetivo desse curso superior. A primeira fase da expansão, com o Prouni, teve um objetivo de qualificação da mão de obra mais do que acadêmico. No meu caso o salto foi grande, pois entrei numa universidade federal e agora estou me formando cientista em uma outra grande universidade.
Outro ponto que precisamos elaborar é esse da Tais B. sobre inclusão. Sabe Taís, não acho que a inclusão não deva ocorrer na escola, só que vivemos num apartheid escolar oras. Ricos e pobres não vão mais à mesma escola. Aliás essa é uma das heranças da época da ditadura militar no Brasil, que reduziu drásticamente o investimento estatal na escola de base. A época da ditadura é um marco para a educação. A classe média apoiou o golpe e a recompensa para ela foi o diploma nas universidades. Houve uma reforma universitária que segregou áreas do conhecimento e sistematizou o ensino. É bom enfatizar que não é o conhecimento que importava e sim o diploma, que garante o status, a diferença, que a classe média tanto ostenta. Essa entrevista da Marilena dá alguns dos detalhes:
http://www.redebrasilatual.com.br/temas/cidadania/2012/03/para-marilena-chaui-ditadura-militar-fez-com-que-universidades-nao-oferecam-formacao-humanista
as políticas públicas dos últimos 10 anos foram, no entanto, voltadas para a classe trabalhadora e esse é um dos grandes motores da onda conservadora que nos atinge hoje. (Estou horrorizado com a reação ao PEC das empregadas domésticas, fazem de tudo para manter o regime pseudo-escravocata)
Assim, o alvo dessa expansão do ensino superior (ou pelo menos os mais beneficiados) foi a classe trabalhadora e é por isso que a discussão sobre esses mecanismos discriminatórios para a manutenção de classes é importante.
(cont)
Aliás, é aí que está. Tais, vc fala que defende a valorização dos espaços públicos que "ainda são vistos" como coisa de pobre. Nossa, essa sua frase foi a naturalização de uma ideologia que perdura até hoje. Os espaços públicos já foram valorizados. Eles deixaram de ser valorizados com a adoção de ideologias neoliberais, não é um dado da natureza. Vários comentaristas também deixaram isso transparecer quando falam de sua sorte de estar numa escola particular pois o ensino nela é melhor - natural como o patriarcado.
Precisamos questionar essa atribuição de valores ao público e ao privado. Uma sociedade melhor só pode ser construída quando as pessoas reconhecem a importâncias dos espaços públicos e os valorizam - o contrário do que temos feito nos últimos 30-40 anos! As cidades estão cada vez mais privatizadas, segregadas, higienizadas. Como conviver em sociedade que não valoriza espaços de convivência saudável para todxs? Então apoio sim a estruturação dos espaços públicos sempre! Quanto mais a sociedade pensar nesses espaços (ao invés do próprio carro, da própria casa, do próprio umbigo) mais caminharemos em direção a uma sociedade empática.
Agora, voltando um pouco para a questão da inclusão, defendo-a abertamente na universidade. Quando dou aulas e vejo a distorção de cores na turma fico muito triste. É um retrato da desigualdade e violência que naturalizamos. Não sei se os preconceitos são mais difíceis de quebrar na fase adulta em relação à infância. Crianças agem como adultos, utilizam os mesmos mecanismos. Como o anonimo das 11:28 mencionou, elas podem ser cruéis, aprendem a utilizar o preconceito em suas várias formas para estabelecer as relações sociais. Acho que aquelas que desenvolvem uma empatia (isso deveria ser trabalhado em nossas crianças) começam a questionar isso, mas, convenhamos, a infância é um período onde a autonomia é bastante limitada. No meu caso mesmo, boa parte dos muitos preconceitos sociais que tinha só foram se quebrando ao longo da graduação. A convivência num espaço plural - a moradia universitária - foi fundamental para isso. Aliás, para isso e para aprender a valorizar o espaço público porque aprender a compartilhar as coisas numa sociedade com valores individualistas e neoliberais não é nada fácil. As cotas são um direito dos negros e indios e não devemos confundi-la com politica educacional. O objetivo das cotas não é passar a bola da educação para a universidade. Devemos melhorar o ensino básico, isso é política educacional. Para além, devemos diminuir a segregação e os mecanismos que mantém essa segregação. As cotas agem nesse âmbito. Discutamos!
Abraços, Phillipe
Pessoal, eu gostaria de expor um novo prisma nessa discussão. Peço simplesmente que abram seus corações e mentes para receber o que vou escrever. A opressão é um fato consumado. Aqui, neste planeta, neste momento da linha do tempo, há um sistema implantado cuja engrenagem funciona à base de opressão. Este relato do post é tocante pela sua sinceridade; entretanto, ele representa apenas uma das formas pela qual esta opressão se manifesta. A verdade é que mesmo o rico branco hetero tem, no fundo, um dente torto, uma unha encravada, um cadáver no jardim. E a opressão funciona assim mesmo: TODOS são excluídos, por motivos diversos. A ideia é não aliar, não reunir, não identificar; ao contrário: excluir, discriminar, apontar a diferença como o mal comum. E não se enganem: nunca faltarão razões de exclusão: quando sobe na vida, ganha uma barriga; quando se livra dos aparelhos dentários, tem a idade que começa a dar sinais... enfim, não há saída. Estou dizendo tudo isso porque acredito que tão importante quanto lutar para que esse sistema discriminatório caia, é ter antes a consciência do quão caduco e absurdo ele é. Consciência: “com-si-em-si-há”. Saber dentro de si. A relação de opressão implica em dois: o opressor E o oprimido. Um não vive sem o outro. Então eu realmente acredito que o trabalho sobre nós mesmos seja a grande porta para isso tudo. É sermos capazes de perceber toda a farsa do sistema e simplesmente não compactuar, de verdade, de coração. E isso implica em não se colocar no lugar do oprimido também. Isso implica em enxergar aquilo tudo e não se identificar nem com o algoz nem com a vítima. É estar no meio deles, sem ser um deles. Acho que este é o primeiro passo para que possamos mudar o contexto externo...
Fernanda, gostei da fala econocrdo super...
esse sistema é pessimo e de acordo com sociologos o sitema capitalista esta em sentido da destruição..em todos os sentidos da palavra,não temos outra opçãoque não encontrar uma nova forma de nos relacionar..
outra forma de economia, de politica, ou então estamos fadados ao fracasso...
so não entendi a parte do não se colocar como vitima, eu como mulher se não me colocar como vitima do machismo vou deixar ele crescer..eu so sónão posso deixar ele me parar, as injustiças tem que ser combustiveis e não amarras...
o que seria a classe media?
eu entendo todas as criticas mas não eh a classe media que de fato nos explora, e nos virarmos contra ela deixa os conglomerados financeiros bem felizes..quem nos deixa pobres não eh o dono do mercado eh o dono da coca cola...
nao que a classe media não explore o trabalhador..mas nem se compara as grandes empresas, e ao que o governo faz..a classe media tbm paga impostos e tbm segue oque o governo determina..quem nãofaz isso são as grandes empresas..tipo as do Eike..
nao estou desculpando a futilidade da classe media..que eh um fato...
nem seu desinteresse por politica que tbm eh um fato...
mas eles não deixam de ser alienados pelo sistema capitalista assim como o trabalhador
Philipe, tenho uma história parecida sim. Eu e minhas irmãs.
Fico feliz em conhecer essas histórias, saber que não somos tão exceção assim.
Somos o pensamento transformador. E crescente.
Lola, sério, na boa...ler o seu blog me relaxa pra caramba! =D
Adorei seu texto, Phillipe!
Me identifiquei bastante, sempre morei (até hoje, inclusive) na periferia de SP e meus pais passaram por muitas dificuldades quando meus dois irmãos e eu éramos crianças: assim que tentaram comprar a 1a casa própria (eu, que sou a "do meio", já tinha 11 pra 12 anos), meu pai ficou desempregado. Estavam no 1o ano das parcelas e tomaram esse rodo! Meu pai foi vender amendoim no farol e o salário de assistente da minha mãe pagava a água e a luz de casa - a gente só comia por causa da merenda da escola (arroz e frango ensopado às 9h30 da manhã) e porque minha mãe matriculou a gente numa escola próxima à casa de uma avó, que ficava com a gente (e alimentava a gente) antes e depois da aula. O bairro da escola era a Pompeia, então dá pra imaginar, né? Sofri bullying, apanhei algumas vezes, me deprimi, sem ter a estrutura financeira necessária pra ir a psicólogos, enfim...
Hoje, tudo isso superado, faço Letras na USP e vejo que nada disso mudou, só ficou meio velado. Mas como a minha PREGUIÇA desse tipo de gente (que discrimina) é enorme, eu cuido da minha vida e valorizo a companhia de pessoas inteligentes e livres dessas amarras capitalistas. Quando a gente é criança é que isso tudo é mais pesado, mesmo.
Beijos a todxs xs guerreirxs que passaram por situações semelhantes e que continuam na luta!
muito bem escrito, e muito verídico.
Realidade de 98% da população.
Achei o post, com uma pegada "classe media sofre".
Acho tosco uma pessoa se sentir inferior por ter menos dinheiro...
História parecida com a sua -- na mesma terra. Entrei em Direito na PUC do Coração Eucarístico em 1998. Meu primeiro "teste de integração" foi um lanche num fast food comum com a turma que se reuniu para fazer um trabalho. Acontece que, com dezoito anos, eu nunca havia comido fora de casa, salvo uns pasteizinhos com caldo de cana, desses tão comuns no centro de BH. Fiquei nervoso com a "iniciação" e com medo de descobrirem que aquele não era o meu mundo, sem falar na dó de gastar dez dos vinte reais que tinha no bolso, que àquela época deveriam me levar e trazer da faculdade por umas duas semanas.
@SeekingWisdom,
não li muito Bourdieu ou outros sociólogos, então posso não estar captando bem o que vc quis dizer com 'exceção sociológica'. Mas acho válido uma reflexão sobre as categorias classificatórias e sua correspondência à realidade.
No meu 1º ano (tb numa escola de freiras), a escola adotou um livro de um cara cuja proposta era 'sair do trilho', as professoras e a direção estavam encantadas e eu fiquei revoltada por ter que comprar e ler aquele livro, que era de um filho de um diplomata americano relatando que não seguiu os planos que queriam para ele.
Ele contaria como uma exceção?
Eu sou da segunda geração da minha família que vai à faculdade. Minha mãe veio da roça e arrastou os demais irmãos para cidade, mas nem todos chegaram sequer a completar o segundo grau. Meu pai veio da periferia da cidade e, graças a persistência da minha avó, todos irmãos fizeram o segundo grau e creio que só 2 não se graduaram.
Os dois fizeram o que não era o esperado.
No mais, temos vários exemplos aqui mostrando que as exceções são crescentes. (eba!)
O que eu quis dizer contando sobre minha amiga ("minha dor não é maior do que a de ninguém") vai bem na linha do que a Fernanda das 09:44 disse.
Sei que é importante reconhecer as diferenças e lutar pela aceitação delas (não que 'um pobre' tenha que continuar 'pobre', mas perceber o que de melhor pode ter dos dois lados e assimilar), por isso acho muito difícil valorar, colocar numa escada quem sofre mais, quem se prejudica mais, o que é mais danoso... afinal, apesar de estarmos falando de práticas de classe, é no indivíduo onde elas ecoam e cada qual é passível de uma reação diferente(uns podem se sentir motivados, outros não etc).
Acredito que no processo de mudança existam várias frentes.
Ha os idealizadores, os práticos,os radicais, os que buscam harmonizar etc...
A resposta aos radicais e opositores deve vir do bom senso. Não devemos perder de vista qual é a luta nem quem é nosso aliado, ainda que os pontos de vista não sejam iguais.
Estou adorando os relatos e vendo as diversidades de experiências.
Agradeço por iniciar essa discussão.
Será mesmo que haverá tolerância?
Na época de escola dos meus pais, as públicas é que eram boas, e nelas conviviam estudantes de diversas classes sociais, do favelado ao filho de empresário. Meus pais me contam que sempre houve a segregação, que os mais ricos se juntavam de um lado e os mais pobres do outro. Os mais ricos ostentavam, os mais pobres só olhavam. O que fazer para eliminar os preconceitos de classe, então?
E quanto à expansão do acesso à universidade, acho muito bom. A única ressalva que tenho é: o ensino público fundamental e médio não melhorará nunca?
A preguiça mental chegou e ficou...
Lola, vc viu o rafinha e o mercure? Achei Genial a resposta do Hotel!
"Outro ponto que precisamos elaborar é esse da Tais B. sobre inclusão. Sabe Taís, não acho que a inclusão não deva ocorrer na escola, só que vivemos num apartheid escolar oras. Ricos e pobres não vão mais à mesma escola. "
Justamente por isso que a escola fundamental e média pública deve ser melhorada assim todas as classes sociais passarão a frequenta-las. E, me perdoe se eu estiver sendo equivocada, mas pelo que você disse parece que rico/médio e pobre não estudam juntos simplesmente porque rico e médio não gostam de estar com os pobres, quando na verdade na tem a ver com a classe e sim a qualidade do ensino. Para quem é verdadeiramente rico não pesa tanto, mas escola pesa muito no salário da média, eu me sentia muito mal de ver meus pais se matando e chegando a ficar no vermelho para poder pagar escolas com bom ensino para mim e meu irmão. Se o ensino fosse ótimo pode ter certeza que boa parte (se não, todos)da classe média iria colocar seus filhos lá independente de quem estuda junto.
"Tais, vc fala que defende a valorização dos espaços públicos que "ainda são vistos" como coisa de pobre. Nossa, essa sua frase foi a naturalização de uma ideologia que perdura até hoje. Os espaços públicos já foram valorizados. Eles deixaram de ser valorizados com a adoção de ideologias neoliberais, não é um dado da natureza."
Não entendi se você critica o que eu disse ou concorda. E eu não disse valorizados no sentido de mal cuidados, disse que muitos ainda pensam que por você ter dinheiro não precisa ir neles e sim para um clube pago, fique claro que não concordo nem um pouco com esse pensamento.
"Vários comentaristas também deixaram isso transparecer quando falam de sua sorte de estar numa escola particular pois o ensino nela é melhor - natural como o patriarcado."
Mas eu entendi que eles agradeceram por estar em colégio particular não porque esse tipo de escola sempre é melhor, e sim porque tiveram a oportunidade de ter acesso à um ensino de qualidade. De novo, ninguém vai pagar 600 reais só para não estudar com quem não tem muito dinheiro, vai porque lá vai aprender mais e melhor. Nós temos a cultura de não valorizar o que é público porque já virou sinônimo de "sem qualidade" ou "largado pelo governo". Escolas públicas de muitos países são tão boas ou até melhores que suas particulares.
Melhorando o ensino público esse pensamento vai sendo destruído. Um ex-professor meu, idoso, comentou na sala que estudou a vida toda em escola pública e conseguiu passar na USP sem problemas e que cerca de 70% dos estudantes de lá eram de públicas também.
Phillipe, ótimo texto, ricas experiências, ricas elaborações! Tive a oportunidade de conhecer esse moço, justamente na moradia universitária. Meu vizinho da frente.
A moradia universitária é um desses ambientes nos quais a gente conhece pessoas de várias classes, de vários lugares, de vários cursos, de várias idades... E o diálogo se faz necessário. Na que nós moramos, ainda tínhamos os quartos individuais, os armários individuais na cozinha, a internet... então o "não-convívio" era possível. Mas pra que? Digo que morar lá foi um dos maiores aprendizados da minha vida universitária.
Concordo plenamente com você, é somente no confronto (e no convívio) entre diferentes que podemos quebrar preconceitos, e também estou esperançosa de que estejamos caminhando para isso.
Ah, que bom que você recuperou, pela ciência, sua voz e opinião. Não deixe de falar, de escrever, é um exercício válido e transformador! A gente se transforma ao expor nossas ideias. Repensamos, revivemos, e transformamos também o mundo ao redor.
Abraço, amigo! Parabéns pelo texto!
Deixa eu ver se eu entendi as cotas segundo as femis:
Negros de classe D e C devem ter as mesmas oportunidades de ensino que brancos de classe B.
OK,mas e os brancos de classe D e C devem ter oportunidades de qual classe ?
Boa noite gentes!
Então, vamos por partes.
Anom 09:06 talvez seja interessante eu postar a fala da Marilena para que não corramos o risco de descontextualizá-la demais. Aliás, esse debate sobre a ascensão conservadora em São Paulo é muito enriquecedor e exalta a importância de se debater o comportamento da classe média.
http://www.youtube.com/watch?v=KrN_Lee08ow&list=PLAFFC6A4A42971F04
Então, respondendo a você, talvez o termo burra soe pesado, mas eu sinceramente não consigo entender a lógica por trás dessa acumulação de recursos e adoção de práticas diferenciadas. Quer dizer, não é mentira que ela quer se tornar burguesa e não é mentira que isso não faz o menor sentido - não acontecerá. Se você tiver uma outra explicação para esse comportamento conservador e autoritário estou a ouvidos.
Agora, como bem notou a Idealista Chata, por que discutir a classe média quando é a classe burguesa quem oprime mais diretamente o trabalhador?
A resposta reside no poder da classe média. Ela detém o poder ideológico. Sua influência sobre a sociedade está voltada para o campo cultural. Isso porque, apesar de ser menos expressiva numéricamente ela tem poder sobre os meios de comunicação da sociedade. Essa é a voz dela. Então as mudanças culturais podem ser catalisadas ou freadas pela posição dessa parcela da sociedade. No momento, atravessamos uma fase onde ela se encontra conservadora, por vários motivos abordados nesse evento que postei o link.
Abraços, Phillipe
Thaís B, dê uma relida no meu comentário por favor, minha intenção não é contestar ou diminuir seu ponto e sim somar!
O ponto que fiz foi em relação a essa naturalização das diferenças na qualidade dos serviços públicos e privados. O que quis dizer é que isso não foi algo que o governo (quando falamos assim parece uma entidade sobrenatural) simplesmente decidiu e que acabaria com um passe de mágica. O sucateamento e redução dos espaços públicos é resultado de uma ideologia neoliberal muito presente em nossa sociedade a partir dos anos 80. Essa ideologia opera no sentido de mercantilização em todas as esferas da vida e através de um individualismo exagerado.
A ideologia neoliberal é restauradora. Certa forma ela está em oposição a uma ordem de bem estar social que se estabeleceu no pós guerra e que beneficiou bastante a classe trabalhadora.
Nossos inimiguinhos de cada dia com certeza se alinham bastante com essa ideologia que representa um retorno a um período confortável para as elites. Só lembrar que eles querem voltar para 1950.
Enfim, vamos discutindo
Abraços
Phillipe
Me identifiquei bastante com a história. Até me emocionei.
Muitas pessoas acham que podem usar minha história de vida como base pra falar "viiiu, pra que cotas?"
Eu sou mulher, negra, fui criada na periferia e estudei em escolas públicas. Não só consegui uma vaga no Colégio Militar de Curitiba como também fui aprovada no curso de Direito da UFPR (este último, já utilizando o recurso de cotas raciais, no qual fui classificada em 2° lugar).
Também senti muito forte o impacto da diferença social. Eu vivia em dois mundos completamente diferentes.
Desde a minha primeira conquista, aos 10 anos de idade, eu sabia que eu era EXCEÇÃO. E hoje eu luto pra que mais mulheres, negros, pobres e dependentes do ensino público possam contar uma história parecida com a minha.
Eu tenho orgulho de ser quem eu sou e chegar onde cheguei, mas não é o suficiente. Não descanso enquanto não ver todos os cidadãos tendo oportunidades de vencer na vida.
Brilhante o texto, me senti contemplada, afinal, temos muito em comum.
Parabéns!
Olá Anonimo 14:19,
então, por não ter uma formação sólida em humanas talvez eu não seja a pessoa mais indicada para explicar os detalhes da teoria de reprodução de classes de Bourdieu.
Não há informações para dizer que os casos que citou são ou não exceções. Exceção sociológica não é o cara de classe alta que vira para a mãe e diz que não será médico e sim poeta. Tampouco se restringe ao ambito educacional. Estamos falando de mecanismos de manutenção de castas sociais.
Talvez, já que estamos em um blog bastante feminista, a comparação mais fácil seja com a condição das mulheres na sociedade. Quer dizer, não é que a mulher nasceu para ser dona de casa, esposa e mãe dedicada. O sistema patriarcal criou uma série de mecanismos para garantir que a mulher permanecesse no seu lugar "natural". Muitas mulheres nem percebem que estão aprisionadas.
As classes sociais também são mantidas com mecanismos análogos. E olha, estou espantando em ver como as pessoas estão naturalizando a violência simbólica que existe na sociedade para manter essa estrutura. Sim, violência gente. Muita gente com um discurso "não ligue para o que os outros dizem, vc é maior do que isso" e se esquecendo de que é uma violência e do porquê de ela existir. Seria a mesma coisa de mascus dizendo que as mulheres ficam de mimimi por receberem cantadas de rua, mas q n deveriam ligar pra isso, que isso não as diminui.
Então assim, eu não disse em momento algum que o meu sofrimento foi demais e que eu deveria ter tido uma vida mais tranquila, só que isso não quer dizer que a violência que eu ou outrém sofreu deva ser aceita como natural, pois não é. Ela faz parte de um mecanismo para manter o status quo da sociedade.
Entendem melhor o ponto agora?
Abraços, Phillipe
SeekingWisdom
Ahhh me desculpe, achei que você pegou a minha frase "Eu defendo a melhoria das escolas públicas e de espaços públicos (parques, praças, espaços culturais) que ainda são vistos como coisa de pobre e quem tem dinheiro não deve ou não precisa frequentar. " achando que esse pensamento era o meu e não que é presente na sociedade. Realmente desculpa =D
Sempre estudei em colegos com muitos da classe media, sempre me enturmei, mas realmete amigos tive poucos não ia com a cara de alguns por ser meio metidos. Por outro lado nunca suportei o tipico pobre do Brasil: mal educado, fala alto na rua, toca pagote/arrocha/funk no volume alto, etc. Acho que sempre fui meio anti social rs.
Quando olho para trás, tenho orgulho da minha vida, da minha mãezinha catando moeda de manhã para completar o dinheiro do pão, de decidir se aquele dinheiro iria para o pão ou pagar a apostila, manhãs que fiquei com fome. Ainda vou dar tudo para minha mãe, mas isso é outra história. Passamos privações sem ninguém perceber, a vergonha era imensa, já cortaram água, luz, tudo. Houve um aniversário meu que não tínhamos nada para comer, sorte que ganhei um pote de sorvete de presente, hoje dou risada, não perto da mamãe, ainda dói nela.
Eu e meu irmão passamos em universidades públicas sem fazer cursinho, não tínhamos as melhores roupas, mas sempre fomos os melhores da turma. Não fico ressentida de não ter tido videogame, hoje eu amo ler, e o mais incrível é que essas parafernálias todas não me fazem falta hoje.
Sou forte, viciada em livros, e não tenho "mania de riqueza" que muita gente dura tem. Sabe, eu queria ter uma casa melhor, mas não entendo porque todo pobre quando fica rico já quer comprar mansão, piscina, essas coisas. Uma casa boa já basta. Quando adolescente eu tinha sonhos de riqueza, mas hoje acho tudo tão fútil! Me acostumei com a simplicidade, até porque luxo é uma necessidade de ostentação social, ninguém precisa de luxo pra viver. E sou mais feliz assim, desleixada, porém um ser pensante. Coisa que falta em nossa sociedade.
Se eu não fosse tão antissocial e chata, já teria dominado o mundo XD
o amigo estudou na UFOP?
ja tinha lido o coment original do phelipe e curti demais! gostei mto da fala da mariana (12:43) tb, pq passei pelo mesmo q ela na faculdade. é muito estranho vc - de uma hora para outra - ter q começar a conviver com um monte de gente rica, com um background diferente do seu... eu me sinto ignorante assim tb e fico me cobrando, como se eu tivesse que correr atras o tempo todo, para sanar um gap cultural, social, sei la.
aqui mesmo nos coments, é engraçado notar isso. algumas pessoas falando de bourdieu com naturalidade, enquanto outras provavelmente nunca ouviram falar nele. eu nao estudei esse cara na escola, eu nao tive pais 'cultos' que me apresentaram a ele, eu nao escolhi um curso universitario que me introduzisse a estes autores famosos. e de repente eu me vejo precisando desse conhecimento, acessando pelas beiradas, pescando aqui e ali. pq esse é o tipo de pessoa q eu quero ser, o tipo de conversa q eu quero ter. entendo totalmente quem é pobre e feliz com o pagode na laje, entendo q essa cultura é desvalorizada e é tao valida quanto qualquer outra, mas nao é isso q eu quero pra mim.
os reaças adoram dizer que a sociedade funciona melhor qd cada um sabe o seu lugar e é feliz dentro de suas limitaçoes (vide a falsa valorizaçao da cultura popular, q parece ter como objetivo mto mais acomodar as massas e exclui-las da dita alta cultura), mas eu nao quero viver limitada
estou espantando em ver como as pessoas estão naturalizando a violência simbólica que existe na sociedade para manter essa estrutura. Sim, violência gente. Muita gente com um discurso "não ligue para o que os outros dizem, vc é maior do que isso" e se esquecendo de que é uma violência e do porquê de ela existir.
pois é, eu penso a mesma coisa. nao é questao de se fazer de vitima e se julgar a criatura mais infeliz do mundo (alias, é mto comum as pessoas tentarem nos animar - como se alguem aqui estivesse pedindo pra ser animado - dizendo q quem sofre mesmo é o aleijado ou a criança morta de fome na africa zzzzzzzz), mas reconhecer que a sua experiencia foi diferente, foi excludente e q n precisava ser assim, foi assim por um motivo, q a manutençao das classes, do status, dos privilegios, etc.
Oi James! Não estudei na UFOP. Ouro Preto virou apenas minha frustação infantil, xD.
Me formei em Belo Horizonte, na UFMG, química o.O - yep, muito estranho!
Abraço! Phillipe
Me identifiquei bastante com o texto. Vivenciei um pouco da experiência do autor. Embora meu pai tivesse uma renda de classe média, ele era tão mulherengo e tão ausente de casa que a família vivia quase na pindaíba, embora ele farreasse bastante. Só pagava escola particular para mim e um outro irmão às custas de muito quebra-pau entre ele, de um lado, e minha mãe e meu irmão mais velho, do outro, a quem ele obrigou estudar durante anos no colégio militar do rio, de onde meu irmão não gostava (meu pai era militar da marinha), só porque lá não seria necessário pagar mensalidade. Mas enfim, embora eu estudasse em escola de classe média/média alta, eu não tinha o mesmo padrão de vida dos meus colegas. Quando as meninas e os meninos começaram a fazer 15 anos, era todo mundo pra Disney, além daquelas festas enormes, que pareciam ter demandado anos de economia dos pais (não fui a nenhuma, só via as fotos depois...). Além da diferença social, a homossexualidade potencializava ainda mais minha sensação de inadequação e de não pertencimento. Quando entrei na universidade não houve grandes melhoras na situação. Na verdade o abismo social aumentou, pois entrei no curso de direito da federal de sergipe (nessa época minha família já morava em aracaju há um bom tempo), e na minha turma havia muitos filhos de juízes, desembargadores, promotores e procuradores de justiça, e uma boa parte era dessas famílias que vêm ocupando altos cargos nas instituições ligadas à justiça há muitas e muitas gerações - ou seja, renda familiar altíssima. Na escola a turma era mais heterogênea e a renda per capta, menor). Eu me sentia um completo peixe fora d'água. Cresci com a autoestima bombardeada e me tornei uma pessoa tímida e arredia. Felizmente estou melhorando com o tempo. Mas até que nunca me senti alvo de preconceito social. Mas também pode me ter passado despercebido - eu era tão introspectivo... Sofri mais preconceito por causa da homossexualidade, isso na escola. Na universidade, nesse aspecto, houve uma boa melhoria. A classe média brasileira é mesmo muito preconceituosa e hipócrita. Com relação às cotas nas universidades, a desculpa é que o nível no ensino superior público vai cair, como se a preocupação maior realmente fosse essa. Acho que a maior razão do descontentamento foi a redução das vagas para a classe média, que assim vai ser obrigada a estudar mais em universidades particulares, algo que prolongará no tempo os gastos dessas famílias com a educação de seus filhos e filhas. Agora está acontecendo outra chiadeira com a aprovação da PEC das domésticas. Até parece que as patroas estão mesmo preocupadas com o desemprego em massa das empregadas. Elas estão achando ruim é porque ou vão ter que gastar mais para manter uma empregada, ou vão ter elas próprias que assumir o trabalho doméstico. Mais uma vez a preocupação maior é com o próprio bolso e com o próprio umbigo. Me lembrei de um texto da Danuza Leão reclamando que a classe C estava invadindo os aeroportos e os aviões. E daquele falatório relativamente recente sobre a construção de uma estação de metrô em Higienópolis, bairro chique de São Paulo. Mas como nós vamos suportar essa "classe diferenciada" misturada a nós? Não é preconceito, não, gente. É que seres de espécies diferentes não podem conviver. Assim como um negro, no auge do racismo nos EUA, não poderia casar com uma branca, ou vice-versa, por ser completamente inviável a união entre uma linda pomba e um macaco... Em novembro do ano passado J.R.Guzzo se saiu com argumento parecido naquele artigo asqueroso que a Veja publicou, no qual ele diz que do mesmo jeito que é razoável que a lei vede o casamento entre um homem e uma cabra, também o é que vede a união entre pessoas do mesmo sexo (pra ele também um casamento entre espécies diferentes. Hoje em dia gays are the nigers of the world...). Sei que estou misturando preconceito social com preconceito racial e de orientação sexual, mas é que somos assim mesmo, um poço de preconceitos diversos.
Ficou faltando um pedacinho pra terminar (não coube no outro comentário): É muito bom que haja espaços como o blog da Lola, onde esse assunto seja constantemente discutido. Assim como é preciso trocar constantemente o curativo de uma ferida pra que ela não infeccione durante o processo de regeração da pele, também é preciso que a ferida do preconceito seja frequentemente aberta e tratada, pra que nos livremos de vez dessa chaga social tão terrível.
@SeekingWisdom,
obrigada pelo penúltimo(?) comentário, foi bastante esclarecedor.
De certa forma, alguns comentários foram mais para questão do consumo que da violência.
clap clap clap
MAIS guest posts de gente que sabe escrever e sabe sobre o que está falando.
e MENOS guest posts de gente que se vitimiza e se acha o pobre coitado.
Comentei esse excelente post no Twitter, e atendendo (com atraso) à Lola, estou transcrevendo aqui, com mais elaboração que os 140 caracteres tuitianos permitem.
Antes de mais nada: Parabéns, Phillipe! Seu post realmente apontou uma questão concreta e real - que inclusive comprovamos com as várias manifestações por aqui descrevendo situações parecidas.
O que precisamos observar é que a crescente democratização do acesso da população menos favorecida ao ensino superior - seja através de ações afirmativas como as cotas, seja por políticas de inclusão como o ENEM ou o PROUNI - é um pé na porta da classe média brasileira.
É um fenômeno inédito no Brasil, mas ao indicar a teoria de reprodução de classes de Bourdieu, é bom lembrar que esse ensaio foi escrito em 1970, numa época em que a França igualmente passava por um momento de ampliação, diversificação e dispersão geográfica das Instituições de Ensino Superior (IES), consolidando uma democratização dos estudos de terceiro ciclo na França.
As situações discriminatórias apontadas no post (e em muitos comentários) também foram observadas nas escolas francesas após essa democratização nos anos 60, motivando esse ensaio por Bourdieu e Passeron, que vc resumiu nessa frase:
"Na França o sistema educacional é diferente do daqui, todos cursam a mesma escola nos distritos, não há o apartheid escolar brasileiro. Ainda assim, o sociólogo observou que as classes sociais tendem a se manter ao longo das gerações e há vários mecanismos, dentro e fora da escola, que explicam isso. Grosso modo, o filho do médico tornava-se médico e o filho do pedreiro tomava pra si o oficio braçal."
E para estudar esse fenômeno, foram criados os Observatórios da Vida Estudantil - OVE (Observatoires de La Vie Étudiante, pelo Ministério da Educação, devido à necessidade percebida de acompanhar as mudanças que decorreriam no meio educacional e universitário. Os OVE franceses contribuíram com muitos estudos sobre o então novo fenômeno - a teoria de Bourdieu e Passeron inclusa.
(cont.)
(cont.)
E aqui no Brasil algumas IES também criaram grupos de pesquisa parecidos recentemente: os OVE - Observatórios da Vida Estudantil, para estudar essa nova conjuntura derivada do acesso da população menos favorecida às IES brasileiras.
O pioneiro foi o OVE da UFBA, sob coordenação da profa. Sônia Sampaio. Aqui, seu projeto, e já derivaram ótimos estudos, por exemplo essa dissertação:
CARNEIRO, Ava. "CAMINHOS UNIVERSITÁRIOS: a permanência de estudantes de origem popular em cursos de alto prestígio". PDF disponível aqui.
Para quem se interessou pelo tema, indico dois artigos sobre essa teoria de Bourdieu:
Capital cultural, Classe e Gênero em Bourdieu, derivado da tese da profa. Gilda Olinto, da ECO-IBICT-UFRJ - que destrincha e relaciona essa teoria da reprodução social na escola com as questões de gênero elaboradas por Bourdieu - o que deve interessar muito aqui, à Lola e tod@s @s leitor@s;
e
A Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu: limites e contribuições, dos professores da FAE-UFMG Cláudio e Alice Nogueira, importante por apontar os limites dessa teoria bourdiana: essa reprodução social não é inexorável - e aqui temos uma prova: o
sucesso das cotas (e os comentários raivosos nessa reportagem diz muito sobre os do contra...).
Abraços!
E adorei a máxima do Grão da Noite:
"Assim como é preciso trocar constantemente o curativo de uma ferida pra que ela não infeccione durante o processo de regeneração da pele, também é preciso que a ferida do preconceito seja frequentemente aberta e tratada, pra que nos livremos de vez dessa chaga social tão terrível."
E aqui no blog da Lola podemos tratar dessas feridas, procurando sua cura. :)
Entro no blog da Lola pelo menos 3 vezes por semana (entraria mais, não fosse a falta de tempo) e procuro ler tudo. Esse foi, com certeza, o melhor e mais inspirador texto que encontrei por aqui nos últimos tempos. Parabéns ao moço Philipe, que além de ter compartilhado de forma linda sua luta, arranca o primeiro comentário de uma leitora antiga por aqui!
Sei que é um pouco estranho começar um comentário assim, mas antes de mais nada: sou branca, tenho 20 anos e comida gostosa na mesa todos os dias. Tive também alguns videogames e roupas bacanas na adolescência. Além de tudo, desde os meus 10, "meu papai" guardou dinheiro para que eu pudesse realizar um intercâmbio aos 16 e eu o fiz. Voltei depois de 1 ano, mais humilde e consequentemente mais lúcida - ainda bem, não?
Bem, não sou idiota, não pretendo comparar minha vida com a de ninguém e muito menos decorrer mais sobre a mesma - reconheço afinal que tipos como eu são realmente irritantes de tanto que aparecem (exceto pelo fato que de certa forma me diferencia, de que sou homossexual e bastante feminista). De qualquer modo: só quero, com muito respeito e bastante inspirada perante esse texto lindo, deixar meu ponto de vista e minha mensagem.
O que acontece: vejo que ter vivido fora da minha realidade por 1 ano não foi obra do acaso; foi uma necessidade minha. Eu que sempre questionei regras, fui viver num lugar onde todas as regras são seguidas, inclusive pela natureza. E não estou falando de destino e essas porcarias. 'Tou falando do humano que nos habita. Acredito que a gente sempre vai para onde estão os desafios. Quem não se abre para eles, torna-se prepotente. Estar no desconhecido nos faz entender o quão somos inteiros, nos faz refletir sobre o jeito de cada um ser. E isso se aplica a indivíduos de qualquer cultura ou classe social. No meu caso, o privilégio foi ter o coração aberto na hora certa para que entrasse o que me faltava (a simplicidade).
É inegável que a classe social seja fator determinante pra praticamente TODAS as escolhas na nossa vida. Aliás, "escolha" talvez nem caiba aqui. Falo de oportunidades e obrigações, mesmo. Mas não pretendo agora divagar sobre conceitos assim. Aliás, passo meus dias há algum tempo desaprendendo conceitos. Desfazendo-me das identidades todas. Por exemplo: sei que o que sou tem um nome: lésbica. Sei que esse nome é importante pra minha visibilidade. Mas sei também que ele acarreta outras pequenas birrinhas sociais que, sinceramente, por agora, deixa pra lá.
A questão é que sou muito feliz quando consigo ignorar tudo e me identificar, apenas, como uma pessoa. Onde vivo atualmente pouca gente sabe meu sobrenome completo, quase nunca me pediram um documento, não tenho contrato de porcaria nenhuma e fiz algumas coisas sem que, nunca, me pedissem qualquer comprovante da minha formação. Eu poderia ter me reinventado, percebe? Mas optei por, dessa vez, tentar me descobrir.
Vivo na mais deliciosa solidão e ainda sou, no fundo, essa mimada besta que não sabe nada de muito útil para a realidade do Brasil. Só sei que os pássaros entram na minha cozinha pra bicar as frutas, que a lua interfere e muito na maré, que a história dos quilombolas e o sincretismo religioso me surpreendem.
Sou uma branca forasteira numa terra de afroindígenas e meu olhar vai se descolando das coisas que já vi, registrando e observando tudo em silêncio. Ainda desejo e sinto que preciso entender mais a alma desse meu país, tanto quanto a alma da sociedade, para que, quando iniciar alguma coisa, seja lá o que for, ela pertença à comunidade e não seja só uma projeção do meu ego.
Este é o grande exercício: o desapego.
Valeu, pessoas!
Beijos.
Existem alguns acadêmicistas q comentam aqui, q fazem questão absoluta de demonstrarem sua suposta superioridade intelectual, e excluem vivencias transmitidas com candura e sem subterfúgios, querendo dar a impressão de q essas pessoas são desqualificadas intelectualmente.
Pois pra mim essas idéias e atitudes puramente especulativas, sem nenhum efeito imediato ou prático, de nada valem.
Esse relato é muito parecido com minha vida estudantil. A tensão social no ambiente escolar e acadêmico. Obrigada pelo seu relato, contribuiu muito para minha identidade.
Olá Lola e pessoal!
Não poderia deixar de voltar aqui depois dessa valiosíssima contribuição da Sibele para o post, bem como após essas manifestações de identidade.
Gostaria de contribuir também com algumas leituras que podem enriquecer futuros debates acerca do tema, que fique como referência.
Gostaria de enfatizar algo aqui. Não tenho certeza se isto está claro ou não no meu texto e comentários, mas, embora eu tenha me beneficiado desse sistema injusto, abomino a meritocracia como base educacional. Para mim, o acesso a educação e conhecimento devem ser universais, a partir da vontade do sujeito. Todos devem ter o direito de desejar mais conhecimento e o Estado deveria garantir acesso amplo à educação. Acho que a Lola concorda com essa visão.
Tem havido esforços de conservadores para institucionalizar ainda mais o sistema meritocrático nas bases educacionais. Vi essa notícia sobre uma proposta de emenda constitucional hoje. O autor, Edmar Arruda, é do PSC do Paraná - mesmo partido de Feliciano. Não sei qual o estado disso hoje.
O governo do Estado de São Paulo propôs um programa alternativo para as cotas baseado também em um sistema meritocrático excludente - o PIMESP.
Infelizmente, a escola se tornou uma ferramenta para a reprodução das injustiças sociais. É nosso dever enquanto cidadãos questionar o papel da escola. Enquanto educador (não é necessário ser professor para se considerar educador, na minha visão) me policio para evitar que meus preconceitos perpetuem as injustiças sociais - não é algo fácil. Bourdieu foi um contestador da meritocracia escolar. Um país democrático deve visionar o bem comum e não a valorização de elites, sejam elas financeiras ou intelectuais. Esse artigo traz uma boa análise dos problemas da meritocracia na educação.
Sobre gênero, recomendo a leitura desse excelente artigo do blog da Scientific American, infelizmente em inglês, que aborda como o ambiente tradicionalmente masculino das exatas afeta o desenvolvimento das mulheres que se infiltram nesse ambiente - ela chama de clima gelado. O importante é entender que essas manifestações de violência simbólica são mecanismos de manutenção de privilégios pelo grupo hegemônico.
Acho que já me extendi bastante, mas o debate continua aqui e lá fora!
Abraços a todxs!
Phillipe.
Sara,
nem sempre as pessoas que aqui comentam querem dar uma de "academicistas", só querendo mostrar sua "suposta superioridade intelectual", e muito menos excluindo "vivencias transmitidas com candura e sem subterfúgios", desqualificando essas vivências como menos valorosas intelectualmente.
Já pensou que essas pessoas apenas querem compartilhar o pouco que aprenderam (sim, sempre será pouco, por mais que qualquer um de nós aprendamos na vida) com tod@s aqui?
Pois o conhecimento é para isso: ser partilhado. Tanto o conhecimento formal (acadêmico?) como aquele informal (as vivências, sempre de valor!)
:)
Grande abraço!
ô, lola...que erro conceitual isso..de uma entidade homogênea que fala em uníssono e tem um objetivo comum, 'a (odiada) classe média';
e quem vê o outro sempre diz que 'o outro é a classe média, eu não..eu sou do bem, dos trabalhadores'. Ou então é aquela falácia do escocês, "ah, não, esse cara não é malvado, então ele não é verdadeiramente classe média".
Quem vê de fora percebe que os dois são.
Os dois são idênticos, com os mesmos medos, variações de preconceitos (não tentar conhecer o outro, mas demonizá-lo), errando conceitualmente de modo parecido nas mesmas coisas. É analisar o outro com a mesma ferocidade com que a gente se perdoa. São efeitos iguais em toda parte do mundo, de educação falha, não empática; não são efeitos uma maldade inerente. O outro erra, nós erramos. E tantas vezes de maneira simetricamente semelhante. São valores errados não por serem de classe média, mas por serem egoístas. Essa demonização da classe média só gera uma tendência a...que as pessoas parem de se denominar 'classe média'.
Vejo uma estrutura cultural egoísta, que só olha pra si...mas isso não se limita à classe média, é generalizado...pq é, exatamente, cultural. Que ensinemos uma outra cultura.
De mais a mais, em que difere um discurso pondéniano de ódio contra o feminismo ("feias, mal amadas, que precisam fazer sexo') de um discurso de ódio contra a classe média ('egoísta, preconceituosa, que quer levar vantagem etc etc)?
De presente, pra uma reflexão sobre o tema: http://www.e-reading-lib.org/bookreader.php/148582/The_Demon-Haunted_World_:_Science_as_a_candle_in_the_dark.pdf
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