quinta-feira, 17 de junho de 2010

GUEST POST: QUAL RETORNO E PARA QUEM?

Que legal! Três guest posts sobre o mesmo assunto! Isso que é um bom debate! Então, no final de abril a Maíra publicou aqui um relato do que estava acontecendo na universidade em que estuda, a UFRGS, e a polêmica acerca de um parque tecnológico. No início de junho, a Carol defendeu a presença da iniciativa privada nas universidades públicas. E agora vem a Mari, do Mulher Alternativa (que já tinha deixado um outro guest post aqui), rebater o texto da Carol. Como o texto da Mari ficou enorme (o assunto rende), pedi para que ela cortasse um pouco. No blog dela você vai encontrar a versão integral. Esta realmente é uma discussão importante, já que o assunto da privatização das universidades públicas parece ter voltado à tona.

Algum tempo atrás, Lolinha publicou aqui em seu blog um texto de Maíra, que estuda Letras na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), criticando a forma de implantação e os objetivos do projeto original de um Parque Tecnológico em tal universidade. Em seguida publicou um outro guest post, da Carol, em resposta ao primeiro. E agora publica este meu texto respondendo a Carol (mas também comentando a Maíra) e propondo algumas novas reflexões sobre o assunto. Pra começar elogio a coragem a abertura da Lola para tantos pontos de vista. Isto sim é um bem. :)
Devo dizer, de início, que não foi nada fácil responder o texto da Carol. Não sei se é porque não compartilho deste tipo de pensamento (como ficará óbvio em seguida) mas em muitas passagens não pude entender a argumentação, como se faltasse dela um pedaço. Ao mesmo tempo, minhas críticas ao pensamento desta leitora da Lola e também blogueira não se limitavam a argumentos ou tipo de raciocínio e organização do texto, mas encontravam-se também no profundo nível conceitual do que são governo, sociedade, a quem servem, como funcionam, e daí pra mais. Faço mestrado em sociologia da educação (graduação em sociologia), na área de educação e desigualdade e estudo justamente a universidade e a carreira acadêmica. Estudo e pesquiso desde 2005 na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), uma universidade pública paulista.
Semana passada publiquei em meu blog, o MulherAlternAtivA.net, um texto intitulado “Em Defesa da Academia”. Neste texto, exponho com mais detalhes minha argumentação de que é uma grande falácia dizer que a academia e a universidade estão dissociadas do resto da sociedade e não produzem nada de útil e nem transformam a sociedade. Mais uma mentira que o senso comum reforça e que vira pó quando acionamos o senso crítico um pouquinho mais. Por isso, sugiro que quem queira entender esta parte do meu raciocínio leia o artigo. Aqui buscarei falar de outros aspectos do texto da Carol. Mais especificamente, sobre a tal “privatização sorrateira” da universidade.
Ao longo do texto da Carol fica muito claro que ela defende o utilitarismo não só para analisar questões que, para nós sociólogas, são muito mais complexas do que isto. Devo discordar logo de início, em gênero, número e grau que um ponto de vista pragmático ajuda a entender todo tipo de problema. Penso (porque é algo racional e não algo em que eu “acredito”, verbo que pressupõe crença e não razão e racionalização) que depende do problema e do ponto de vista pragmático. Há problemas para os quais pragmatismo ajuda demais (como fazer um orçamento pessoal, por exemplo) e há outros para os quais pragmatismo não ajuda em nada (por exemplo, este da privatização “sorrateira” da universidade, em que há uma complexa rede de forças sociais e lutas envolvidas).
Bom, a Carol diz em seu texto que “organizações evoluem conforme mudam os fatores que as cercam”. Acho importante tomar cuidado com este tipo de argumento. Evolução pressupõe “melhora”. Ao declarar que algo está “melhor” ou “pior” é necessário sempre imbuir este “algo” de um valor moral. Nada nem ninguém é melhor ou pior do que nada nem ninguém por si só, por natureza, por sua constituição física e biológica. É como entendemos, classificamos, julgamos que faz esta diferença. Tanto que as disputas sociais são praticamente todas, num geral, pautadas em classificações de uma forma ou de outra (quem achar uma exceção, por favor me avise; eu não achei ainda). Sendo assim, dizer que “organizações evoluem conforme mudam os fatores que as cercam” não pode ser verdade. O evolucionismo social está (ufa!) praticamente extinto da ciência séria e levada a sério. Mesmo os psicólogos evolucionistas que têm espaço na mídia não têm boa reputação no meio acadêmico. Ela dá exemplos de universidades na Itália e na Alemanha (que deve considerar lugares mais “evoluídos” que o Brasil) que cobrariam mensalidades. Porém, a maioria das universidades europeias cobram é uma taxa anual de manutenção do aluno pelo único motivo de que tais gastos não estão inclusos no imposto que se paga regularmente. O dinheiro desta taxa vai para a universidade pública. Isto é, por definição, diferente do que ocorre no Brasil quando a Carol (e outros alunos da FGV – que não é pública) paga tanto o imposto que deveria cobrir estes gastos quanto uma mensalidade que vai integralmente para a universidade. O dinheiro que entra para universidades particulares no Brasil, na esmagadora maioria dos casos, não contribui em nada com a produção intelectual e científica do país, dado que os centros de pesquisa, laboratórios e afins se concentram nas federais e estaduais (salvo raras exceções).
Mais adiante, ao dizer que os centros tecnológicos existem para fazer o conhecimento da universidade ir para a sociedade, penso que ela parte de dois pressupostos enganosos: o primeiro, ao qual me refiro no texto em meu blog, de que universidade e sociedade são coisas distintas. O segundo, de que o conhecimento produzido na universidade fica na universidade. Bem, os seres humanos que atuam na universidade (alunos, funcionários, professores) estão inseridos em redes de relacionamento, troca e convivência (já que fazem parte da sociedade). A curto, médio ou longo prazo o conhecimento da universidade alcança outras esferas sociais, seja através de um produto (como o tal protetor solar que a Maíra comentou), de uma publicação (científica ou não), de um professor formado... Mesmo sem o investimento privado! O interesse mercantil das empresas na universidade evidencia, inclusive, que as empresas são instituições que precisam da universidade (e não o contrário) para interferirem socialmente, ainda que isto signifique apenas lançar um novo produto no mercado para um público restrito que pode e quer comprá-lo.
A função dos centros tecnológicos é fomentar pesquisa aplicável em tecnologia. A Maíra (e eu) discorda da forma com que estes centros vêm sendo implantados, por considerar que o tipo de fomento proposto é mais prejudicial do que benéfico socialmente. O problema colocado pela Maíra e pelas pessoas que geralmente criticam este modelo de Parque ou Centro Tecnológico não é estudantes estagiarem, pesquisadores patentearem (ganhando com isso ou não) ou novas empresas serem criadas. O problema é o uso da estrutura física, administrativa e intelectual da universidade pública para gerar lucro para uma empresa privada que oferecerá benefícios não à toda sociedade mas só à fatia que opta por contribuir com este lucro ao comprar o produto. Existe toda uma estrutura que, no momento em que a empresa não propõe contrapartida alguma (como distribuir o tal protetor solar FPS100 para quem precise para tornar o ambiente de trabalho menos insalubre – cortadores de cana, para dar um exemplo), está sendo literalmente explorada em benefício unicamente desta fatia e desta empresa.
Volto ao que percebo enquanto socióloga da educação: todo retorno vai pra alguma comunidade. A questão é QUAL retorno (retorno do trabalho e da estrutura de QUEM?) e QUAL comunidade. O retorno que uma empresa privada obtém usando a estrutura da universidade pública vai não só para a empresa mas para o universitário envolvido no projeto, alguns pesquisadores e os consumidores do produto da empresa. Isto é fato. A Carol defende que isto deste jeito é bom. Nós (Maíra, eu e, talvez a Lola) defendemos que isto se chama exploração e não é bom, por defendermos também um projeto de sociedade onde a universidade pública enquanto instituição pública deva servir aos interesses de mais gente do que poucos indivíduos da pesquisa e uma fatia que tope contribuir com o lucro da empresa. Defendemos que aqueles que não quiserem ou não puderem comprar protetor solar FPS 100 da Avon tenham acesso à mesma proteção sem dar lucro para esta empresa (usando o fatídico exemplo de novo pra ilustrar).
Pergunto: por que a universidade pública tem que “dar” algo para a empresa e para “o resto da sociedade” enquanto a empresa só tem que “dar” algo para quem pode pagar não só suas despesas como também seu lucro (que não vai pra programas sociais, benefícios, etc, mas para a conta bancária de no máximo uma dezena de pessoas?). Ao mesmo tempo penso ser difícil as empresas “controlarem” a pauta de pesquisa no sentido estrito deste termo, já que as empresas não têm o poder de obrigar ninguém a fazer nada. É preciso que a pesquisadora ou o pesquisador concorde em trabalhar na pesquisa para que ela aconteça, certo? O que eu entendo como problema é uma situação extrema onde somente as pesquisas financiadas por empresas (ou os laboratórios ou faculdades) tenham dinheiro. Se a pesquisa depender de empresas, uma pesquisa que interesse a vários grupos sociais mas não interesse a empresas que fazem este tipo de investimento não pode existir. Ou seja, o interesse da empresa (lucro, ou não se chamaria empresa) se sobrepõe ao de vários grupos sociais. De novo. É disto que discordo.
Por fim, devolver “alguma coisa” pra maioria dos grupos sociais (já que a universidade faz parte da sociedade, né?) não significa devolver alguma coisa boa. Tanto remédios quanto protetores solares podem beneficiar exclusivamente alguns poucos grupos sociais. Depende mesmo do uso que fazemos destes “avanços”. E se os “avanços” pertencem às empresas, adivinhem vocês quem ele vai beneficiar? O consumidor? E este consumidor é a tiazinha da limpeza que a Carol menciona?

44 comentários:

Unknown disse...

Adorei Mari o seu texto e concordo plenamente com o seu ponto de vista. Eu fico chocada é com a linha de raciocínio da classe mérdia e os seus filhos. Será que essa gente não entende que uma sociedade só progride quando todos os elementos desta estão inseridos neste processo?Temas como violência, desesmprego, acesso as universidades e muito mais estão basicamente ligados ao fato da divisão de um bem comum. Eu que estou vivendo há alguns meses na Noruega consigo perceber a diferença de mentalidade em relação ao bem comum que é distribuído para todos, como saúde, educação e moradia. Tudo isso é fruto não do lucro de empresas privadas, mas sim dos royalties do petróleo que foi descoberto em 67 e se reverteu em lucros para todos.
Tá na hora de acordar pessoal!!!!

João disse...

Que bom seria, Marcia, se os lucros do petróleo em nosso país também fossem usados em benefício de todos, que não ficassem nas mãos do governo para que ele os distribua a seu bel-prazer, olhando principalmente para aqueles que lhe podem dar mais votos... Que bom seria se tivéssemos nós um governo do nível desse que vocês têm aí na Noruega...

Aliás, não sei por que alguns demonizam as empresas privadas se elas contribuem com tantos impostos justamente para o governo fazer suas ações; ademais, são elas que proporcionam empregos (e não o governo, como ele costuma alardear; ele é apenas UM dos criadores de empregos).

Gabriela disse...

Adorei o texto, Mari. Você tocou justamente nos pontos mais complexos do problema, e explicou muito bem. Tenho a mesma opinião que você - talvez, já que eu não seria contra a existência desses centros tecnológicos se eles funcionassem de forma diferente (a tal contrapartida que você fala no texto).

E muito bom o insight da obrigação da faculdade pública devolver algo à população x empresa não precisa disso.

Umrae disse...

Lola, acho que o link para o texto "Em Defesa da Academia" está quebrado.
Eu queria ler na íntegra para poder comentar, porque não entendi algumas coisas...

João, pois é...Só que aqui ninguém quer contribuir com nada, vide o monte de gente revoltada achando absurdo que o faturamente do petróleo do pré-sal não fique exclusivamente no Estado do Rio de Janeiro e tenha que beneficiar o resto dos Estados. Como se todos não tivessem dividido a conta das pesquisas e da infraestrutura necessária para viabilizar o projeto...

Parece-me que o grande problema não é exatamente a presença das empresas privadas na universidade pública, mas sim a forma como isso está ocorrendo. Acho que seria possível encontrar uma maneira de fazer uma parceria que realmente beneficiasse a todos, mas o problema é fazer com que alguns abram mão de certos interesses. Eu ainda tenho que pesquisar sobre o assunto para ter uma opinião mais consistente, já que, sendo duas vezes aluna de faculdade particular, nunca senti de perto o impacto do que ocorre.

Alexandre Martins disse...

TANTOS impostos?

Yeah, right.

Unknown disse...

João,
O objetivo no meu comentário não é demonizar a empresa privada, mas que no Brasil é uma realidade que elas mandam e desmandam em prol de uma menoria...putz...é uma REALIDEDE!!!!Aqui na Noruega o papel do estado é bem firme para regular o trânsito das empresas privadas. Elas são necessárias como todo elemento da sociedade é necessário, mas nem por isso tem o poder absoluto e mandam e desmandam no país.

Gisela Lacerda disse...

Meu comentário não é sobre o texto da Maira, com o qual até concordo.

Umrae, eu sou carioca e não acredito que falte dinheiro em caixa para Olimpíadas e Copa do Mundo, e não gosto quando o vejo o Sergio Cabral chorando na tv e puxando o saco do Lula. Vai se ferrar; aliás já se ferrou. E meu voto nem vai pra Dilma. A não ser que eu entre no programa "Bolsa família e minha casa minha vida." Estou pagando impostos demais por conta de um assunto pessoal.

Mas você como paulista deve saber que o nosso estado sustenta _ e muito _ o bem-estar, especialmente de paulistas, gaúchos, brasilienses e mineiros que também vem para cá e lotam as empresas, dificultando o mercado de trabalho carioca. Assim como franceses, italianos, etc que vem pra cá, ganham e caem fora. Bonito isso. E a gente paga o pato com preços altíssimos.

O contráio não acontece com vocês há tempos desde que retiraram o nosso poder como capital da república. Desde então, fomos saqueados e depois criticados pelo resto do Brasil como se tivéssemos a obrigação eterna de servir a todos como cidade turística "que abraça com carinho". Como o carioca é simpático, né? Atenção baianos e sua servilidade exagerada?!

Tenho 35 anos e foi só o que vi de estrangeiros e do resto do Brasil. Vai chegar uma hora que simplesmente todo mundo vai ter que concordar com a gente. Senão fica impossível viver na miséria e sorrir ao mesmo tempo. A cidade que acolhe vai virar "cidade que engole o resto".

Fora que foi feita uma pesquisa dizendo que 50% dos pedintes e menores abandonados vem de outros estados como Espírito Santo (outro prejudicado na questão dos royalties), Minas, Sampa, Bahia.

É muito fácil ter medo do Rio, mas ao mesmo tempo querer ser bem tratado aqui e passear no bondinho.

A questão dos royalties não passa por isso, de prejudica os outros estados. O Rio está se defendendo contra o que considera um abuso por parte de pessoas sacanas e folgadas.

Inté tout le monde!

Gisela Lacerda disse...

Aliás, concordo com o João. E por favor não venham me rotular de direita. Quem quiser que veja o resultado do teste: centro-esquerda-liberal! ;-)))) Estou morrrrrrrendo d medo que a Dilma aganhe, apesar do que eu quis votar duas vezes no Lula, mas estava na França.

Disse que não votaria na Marina por ela ser evangélica e ficar presa nessas questões dos costumes e o aborto - que não enxerga como problema de saúde pública, porém... creio que é nela que eu vou. E Gabeira para o Rio. Voilà!

Umrae disse...

Gisela:
"nosso estado sustenta _ e muito _ o bem-estar, especialmente de paulistas, gaúchos, brasilienses e mineiros que também vem para cá e lotam as empresas"

Isso acontece aqui ainda sim, tanto na iniciativa privada quanto no setor público (é só ver quanta gente vem de outros Estados prestar aqui). E, se quer saber, eu acho natural que as pessoas busquem oportunidade de trabalho onde lhes convier. Eu acho justo, por exemplo, que se as empresas não encontrem gente qualificada para preencher as vagas entre os habitantes do próprio Estado, que os dos demais possam suprir as vagas. Se um monte de gente de fora daqui passa nos nossos concursos públicos com notas maiores e maior número de títulos, não é justo que eles possam trabalhar aqui? Eles não vão fazer um bom trabalho para nós?
A questão é: queremos realmente avançar enquanto país? Se quisermos, teremos que aceitar esse tipo de coisa.
O que é diferente de enviar remessas para o exterior, pois isso nada tem a ver coma idéia de beneficiar o país como um todo. Mas isso também já é uma outra história e outra discussão que não tem tanto assim a ver com este assunto.

É exigido mais do Rio de Janeiro, assim como de São Paulo e dos demais Estados ricos, porque eles, apesar de todos os problemas que têm, ainda são os com maior condição de contribuir.

Há muitos anos, quando começaram a pipocar incentivos fiscais em outros Estados que levavam as empresas daqui embora, justamente com os empregos, eu fiquei igualmente revoltada com os paulistas que achavam isso absurdo. Como é que a gente espera que o país melhore se não está disposto a nenhum sacrifício? E, além do mais, com o desenvolvimento dos outros estados, a gente tinha muito a ganhar a médio/longo prazo. Vimos que tínhamos mesmo, pelas possibilidades de negócio que isso trouxe.
Um exemplo particular sem valor estatístico, mas que ilustra minhas idéias: a empresa em que trabalho investiu muito nas filiais de outros Estados: pessoal, instalações, feiras e congressos, palestras, etc. Foi dinheiro que podia ser usado para contratar mais gente aqui, gerar empregos, melhorar a infraestrutura, etc, mas não nos beneficiamos com isso nessa época.
Então, na época da Lei Cidade Limpa, os negócios aqui praticamente estagnaram. Nessa hora vimos como foi bom o esforço para desenvolver nosso mercado nos outros Estados, porque por mais de seis meses foi a renda das filiais que nos sustentou, até que conseguíssemos descobrir e divulgar novos usos para os equipamentos e retomássemos as vendas. Da mesma forma, hoje, quando necessário, "socorremos" uma filial quando o ritmo das vendas cai.

Não tenho nenhum tipo de aspiração comunista, mas nada vem por milagre. Eu encaro essas coisas um pouco como investimento de longo prazo.

Eu sou assalariada, recebo meu salário com os impostos já descontados. Reconheço que o imposto é alto, mas não é a alíquota em si que acho injusta, é o mau uso. Se houvesse honestidade, transparência e boa gestão desses recursos, se eles realmente fossem usados para melhorar a situação do país, acho que não nos incomodaríamos tanto.

Talvez eu seja ingênua e idealista demais. Mas como o país nunca tentou de verdade, não vai saber.

Não sei em quem votar ainda... Estou um pouco frustrada com essas eleições.

Acredito que o bolsa-família é mal planejado, mal fiscalizado e mal executado de propósito. Poderia até dar certo, se fosse feito de outra maneira. Mas isso é outro assunto muito longo.

Alexandre Martins disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Clara Gurgel disse...

O que vem acontecendo hoje com relação a comercialização dos transgênicos no Brasil,é um ótimo exemplo de como a iniciativa privada pode interferir negativamente nos processos de pesquisa que deveriam ser idôneos.A CNTBio,que é a quem cabe o licenciamento dos organismos geneticamente modificados no Brasil,simplesmente "passa por cima,como se fosse um trator" ,dos pareceres da Anvisa e do IBAMA ,e aprovam deliberadamente produtos para comercialização sem pesquisas científicas sérias que possam eliminar eventuais riscos à saude e ao meio ambiente.Para vcs terem uma idéia,no Brasil,há 11 tipos de sementes transgênicas sendo comercializadas até o momento,enquanto que,na França,só existe um tipo,e assim mesmo com muita resistência.
A meu questionamento é justamente esse:Até que ponto se preservaria a isenção da universidade como polo de pesquisa,uma vez que ela atenderia a interesses privados?Prá mim,essa é a questão crucial e da qual não há como fugir.
Só prá completar,não sou(só) eu que acho que a CNTBio,seja tendensiosa.Uma própria pesquisadora que pertencia a CNTBio,pediu demissão há dois anos,onde em carta aberta,relatou a existência de "pré-aprovações" nos pedidos de comercialização de transgênicos na CNTBio.

Dáfni disse...

Olha, gostei bastante do texto da Mari, e queria também aqui colocar algumas coisas, sendo eu também professora de uma universidade federal e vivenciando o debate sobre o papel da universidade.

Como bem disse a Mari, é um grande engodo esta história de que a universidade pública quase não contribui com a sociedade. Acho que ela poderia contribuir mais, mas não desmereço o papel fundamental que a universidade pública tem em nossa sociedade. Ou devemos esquecer as milhões de pessoas formadas por ela? Ou devemos esquecer que nossos filhos têm aulas com ex-alunos dos cursos de Pedagogia e Licenciaturas das universidades públicas? Ou devemos esquecer os diversos avanços intelectuais e tecnológicos que são fruto da pesquisa que se faz nelas? (e quase só nelas?)

Além disso, a universidade pública tem sido cada vez mais importante na consolidação e reparo da educação dos brasileiros - consequência de décadas e décadas de desmonte e sucateamento dos ensinos fundamental e médio. Falo isso com propriedade, porque dou aulas de disciplinas para calouros, e cada vez mais notamos o estrago que foi feito na educação fundamental do brasileiro. E olha que estou no Rio Grande do Sul!

Este papo de retornar mais à sociedade, esquecendo do que a universidade pública já faz, me cheira a uma única coisa: privatização. E a ideia de privatização chega sorrateira, com mais e mais espaço para a indústria, para as empresas privadas, sem que se cobre delas uma postura e um compromisso sociais. Conheço vários casos de institutos dentro das universidades públicas que só estão preocupados com a relação estreita e promíscua entre a empresa e a estrutura, os recursos humanos e intelectuais da universidade pública. É só olhar para prédios grandiosos (que mais parecem shoppings) em meio à estrutura decadente das universidades públicas: ali NÃO tem dinheiro federal ou estadual. E a troco de quê?

A gente sabe a troco de quê. Um dia desses um amigo me disse que não entendia porque não se produzia tecnologia de ponta aqui no Brasil (ele estava falando de forma geral; a gente sabe que alguma coisa é produzida). E eu disse que era porque as empresas multinacionais, que dominam o país, não tem interesse em produzir tecnologia aqui, na filial. Eles produzem na matriz e nós, subdesenvolvidos, importamos.

Produzir tecnologia custa caro, dá trabalho. Tem que contratar pessoas especializadas, tem que construir laboratórios caros. Por isso que as empresas privadas estão entrando na universidade: para ter isso tudo sem ter que investir de fato! Não é claro isso pra todo mundo??? "Damos uma migalha para os cientistas da universidade pública e eles vão ficar contentes". Plano de gênio.

Beijos

Ághata disse...

Muito bom o texto.

E eu não sei qual o problema das pessoas, não sei como elas podem achar bom - de qualquer ângulo - empresas privadas terem direito até a interferirem em faculdade públicas.
Por que elas não inventam essas palhaçadas só nas faculdades particulares? Tá tão difícil dividir lucro assim?

PS: Acho muito engraçado as pessoas defenderem empresas privadas - pra mim é o cúmulo da burrice - defender os interesses daquelas que exploram recursos humanos e ambientais...
...aliás, é por causa delas que o nosso planeta tá cada vez mais poluído e destruído. Só pra constar - porque, segundo os veículos de mídia, a culpa é só das pessoas comuns e do seu consumismo.
Aliás, isso que me impressiona nesses meios de comunicação! Conseguir fazer as pessoas desvincularem as empresas da exploração de pessoas e consumismo de capitalismo...

Daniel disse...

Lola, só pra avisar que o post tá com um link errado. No trecho:
"Semana passada publiquei em meu blog, o MulherAlternAtivA.net,"
o link vai para o blog da que publicou o outro guest post.


Sobre o post, concordo com quem defende que não haja interferência das empresas.

Alexandre Martins disse...

"Mas você como paulista deve saber que o nosso estado sustenta _ e muito _ o bem-estar, especialmente de paulistas, gaúchos, brasilienses e mineiros que também vem para cá e lotam as empresas, dificultando o mercado de trabalho carioca. Assim como franceses, italianos, etc que vem pra cá, ganham e caem fora. Bonito isso. E a gente paga o pato com preços altíssimos.

O contráio não acontece com vocês há tempos desde que retiraram o nosso poder como capital da república. Desde então, fomos saqueados e depois criticados pelo resto do Brasil como se tivéssemos a obrigação eterna de servir a todos como cidade turística "que abraça com carinho". Como o carioca é simpático, né? Atenção baianos e sua servilidade exagerada?!"


Desculpa... mas eu não entendi O QUE estes dois parágrafos tem haver com o tópico.

E já que estes dois parágrafos foram proferidos... vamos lá vai:

Desculpe, mas o grandioso estado do rio de janeiro não banca luxo algum pro estado que mais contribui com o pib nacional (SIM, estou falando do estado de SÃO PAULO). Se quiser números mais preciso, procure. Não tive paciência pra fazer isso, mas tenho certeza que desde a última vez que chequei esse tipo de dado, a situação não mudou. Se "lotamos" as empresas, você deveria pensar na razão disso acontecer. Posso ser tão radical quanto você está sendo e dizer que não há mão de obra qualificada no rio de janeiro, por isso somos "obrigados" a mudar de estado pra atender esse tipo de necessidade. Não soa legal, né? Pois é. Você ser bairrista e dizer o inverso também não soa.

Saqueados? Do que? Você pode me mostrar números, por favor?

Desculpe, ninguém tem culpa que o lugar onde resolveram fazer o maior porto da América Latina NÃO FOI NO RIO DE JANEIRO. São Paulo se tornou a menina dos olhos do resto do brasil a partir daí. Você acha que o rio de janeiro tem muita gente de fora? Imagina então uma megalópole do tamanho de São Paulo, QUANTA gente de fora tem. E as pessoas de fora não são problema, são solução.

Quanto a parte da porcentagem de mendigos, nem vou comentar. Me deu mais nojo que os pontinhos verdes no creme de leite!

Ághata disse...

Meo deos, agora que fui ver o comentário da Gisela direito...

Ai, eu vou ali vomitar...

João disse...

Ágatha, você não tem educação suficiente para discordar sem ofender? Quem tem opinião diferente de você é burro e faz você ficar com vontade de vomitar? A educação manda lembranças.

Já que você se considera tão inteligente, poderia ensinar-nos quem é que mais contribui com impostos para o governo fazer a lambança que anda fazendo (como a compra de políticos no Maranhão, por exemplo)? E se as empresas são tão ruins, por que é que os municípios dão alvarás de funcionamento para elas? É porque elas oferecem empregos (se exploram o funcionário, isso é outro departamento, só que você não enxerga!) e pagam impostos aos municípios, aos Estados e ao Governo Federal!

Se você voltar a discordar de alguém, esforce-se por ser educada. Faz bem pra todos.

Alexandre Martins disse...
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Alexandre Martins disse...

Peraí perai...

Você tá falando sério que você acha que as empresas são a solução do problema da educação na universidade pública?

Nem quero entrar em mérito das empresas/cidades/impostos/empregos, pq sem precisar pensar muito a gente chega fácil nas respostas. Já ouviu falar em cartilha do FMI?

jux_freedom disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Montricot disse...

Caro João, vc parece ser da mesma escola da Madame Gisela.

A vomitadinha (como diria Katy...) da Ágatha não é por conta de opinião contrária não.
Ela respeita SIM opniões alheias, desde com fundamento coerentes e decentes.

Agora, ficar cool diante de um rosário completo de ciclês PRECONCEITUOSOS típicos da Classe-media-way-of-life???

Se isso for normal pra você, sorry, vou vomitar 2 vezes - pela opinião da Gisela e pela sua, em achar "legal" esculhambar nordestinos-e-cia.

Anônimo disse...

Sobre os links errados: gente, a pessoa que escreveu este Guest Post fui eu, a mesma que mantém o blog Mulher Alternativa. A menina que escreveu o primeiro post se chamava "Maíra"; eu me chamo "Marília". :) A menina que escreveu o segundo se chamava "Carol". Resolvido?

Umrae disse...

Ághata: isso que eu vou falar não justifica nada com relação à interferência nas universidades públicas nem tem a ver, na verdade, mas eu achei importante comentar:
"Por que elas não inventam essas palhaçadas só nas faculdades particulares? Tá tão difícil dividir lucro assim?"
O lado bom, a meu ver, é que elas estão cada vez mais fazendo projetos desse tipo nas particulares sim, que, aliás, não são palhaçada (ao menos não para nós), são excelentes para o desenvolvimento acadêmico e profissional do aluno. Pelo menos eu sei a diferença que fazem para mim os investimentos da Cisco, Oracle, SAP, etc, na minha faculdade, os projetos integrados, os cursos gratuitos que eles nos proporcionam, a chance de fazer gratuitamente as provas de certificação, etc.
Aliás, para mim, é com esse tipo de parceria (com as particulares) que elas contribuem mais para a sociedade, visto que elas melhoram a qualificação profissional, também, de vários alunos que tiveram menos oportunidades e que estudam com crédito estudantil (não é meu caso, mas é o da maioria dos meus colegas).
O pessoal precisa parar de achar que toda faculdade particular é curso sem vergonha e sem qualidade feito para vender diploma... No meio do bolo tem muita gente séria também, com credibilidade a manter...
Alguns tipos de parceria com as públicas, nessa linha, não seriam prejudiciais (oferecer os cursos para certificações e as provas gratuitamente em troca da visibilidade e exposição), mas essa questão da utilização das instalações para pesquisas financiadas realmente é complicada. Isso realmente é melhor que fique nas particulares. Aceitamos de bom grado.

Gisela Lacerda disse...

Montricot (chique seu nome?!), obrigada pelo "madame". Sou mademoiselle ainda... ;-)))

A minha escola é a da vida. E não sou hipócrita de caregar bandeirinhas para "fazer tipo" de "boa-samaritana". Acredito na assistência ao povo sim. E não sei onde você viu preconceito contra nordestinos no meu comentário. Se não entende ironia, leia mais de Shakespeare. Ele te explica, quem sabe, de dentro da cova.. Freud também vai abrir tua cabeça. Se não funcionar, aí não posso fazer nada. Procure nos textos do Agamenon ou a Madame Natasha, professora de piano e português - criações de Elio Gaspari, ele e Isolda (alterego de Gisela) a favor das cotas! Uau, como ela mistura!

Meu comentário é para alertar os nordestinos. Conheço muitos lugares no Brasil e também no mundo, venho de família misturada (judeus, portugueses, piauienses, alemães, suíços, franceses, judeus), e aprendi a respeitar todos, e justamente por essa razão, pude perceber o quanto o nordeste, especialmente os baianos são vítimas de um tal coronelismo. Vide Pelourinho e apolícia sentando o pau neles. E Recife, hein?!

O Rio é que é mau! Nossa!

Nós cariocas costumamos denunciar esse tipo de coisa pois queremos pessoas que confrontem "vaiem o Lula num Pan" (e não vale dizer que foi só elite!). E não um bando de massa de manobra votando num cara que faz campanha antes, burla tudo. Cansei. E olha que meu voto teria sido para ele ele se eu não estivesse fora do país.

Sou absolutamente a favor do Bolsa Família e que o povo se desenvolva e saia logo da miséria. E sou a favor da arte como cura. Você nunca me viu e não me conhece e não sabe o que é humor, pelo visto. Nem senso de humor, melhor até.

Além do mais, minha opinião foi em relação à questão dos royalties e a covardia que fazem com o Rio HÁ SÉCULOS. E vou continuar falando em alto e bom tom o que penso sobre isso, doa a quem doer.

Inté. e como dizia minha querida avó Bertha K: passem bem! Bonito traje o seu.

Gisela Lacerda disse...

Oi, Umbrae.

Com certeza, você tem toda razão quando fala que o povo é nômade.O homem se muda desde que o mundo é mundo, não é? Mudamos em busca de melhores oportunidades. Eu é que sei. Quem fica parado é poste e Lua em Touro. Como não sou o primeiro e não tenho essa configuração astrológica do segundo, enfim, preciso ser mutante. E o mutante na verdade é estático. Já dizia Anais Nïn: "A perfeição é estática e eu estou em pleno progresso".

Mas a minha queixa vem da maneira como isso é feito. E do que é exigido dos cidadãos cariocas e não enxergo isso como um problema só nosso, porque moramos numa cidade turística. Então, a partir do momento em que temos de oferecer bons serviços para o resto do mundo e do Brasil, precisamos ter, não apenas a tal qualificação, como o reconhecimento.

Também estou de acordo com relação a "carioca é concurseiro". Mas por que terminamos assim? Porque falta emprego. E não somos menos qualificados que paulistas, gaúchos e brasilienses. O que existe é patota e mau aproveitamento do Rio.

As multinacionais da Barra da Tijuca, por exemplo. A especulação imobiliária doentia _ nunca foi tão absurda! _ na cidade do Rio de Janeiro é por conta dessa migração. E o salário daqui? Como fica? Isso está em todas as matérias da Folha, do Globo, do Estadão: houve um boom, corre o risco de bolha no mercado imobiliário e no mercado "social, cotidiano", porque não poderemos atender a ninguém mais se continuar assim.

O Rio é uma cidade turística, por isso eu tenho essa opinião, entende? Não tem como isso ser analisado sem levar em conta nosso potencial turístico. Impossível fazer tal conta botando isso de lado.

Mas entendi perfeitamente a tua´lógica, as vantagens que aconteceram na empresa onde você trabalha. Legal isso. Ponto para eles.

;-) Abração

Gisela Lacerda disse...

A prova é que estou certa é que meu comentário afetou muita gente.... de... OUTROS ESTADOS! Voilà. Só assim a gente desmascara a hipocrisia reinante.

E coitado do João que muitas vezes foi injustiçado aqui, apesar do que a dona do blog sempre é muito educada com todos, pena que incita um comportamento meio "ovelha em rebahho" de alguns comentaristas. Pardon me, Lola! ;-) Poucos tem personalidade.

É isso que percebo! Mas se venho é porque gosto, crrrrarrro! A vida sem confronto e debate é chatééérrima.

Alexandre Martins disse...

Bla bla bla... whiskas sachê.

Giovanni Gouveia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Giovanni Gouveia disse...

Perfeito, Mari, bem no cerne.

Gisela, sua posição é parecida com a de (alguns) alemães em relação aos Turcos, o dos franceses contra os marroquinos, ou dos gringos contra todos nós cucarachas...

Xenofobia nunca levou ninguém a lugar algum que não fosse o obscurantismo.

Gisela Lacerda disse...

Giovanni, leia como quiser. E até essas pessoas devem ter suas razões.

Eu morei na França durante um ano e meio e meus melhores amigos eram canadenss (morei 6 meses em Montreal)e árabes muçulmanos (aliás, alguns muçulmanos não são árabes e vice-versa), passei 30 dias na Alemanha e vi turcos serem muito bem tratados e alemães integrados a eles. De repente, o pau come por lá. E eu não sei!

Namorei durante quase 2 anos um franco-argelino e não gosto da posição de "eterna vítima do cosmos". Não é frutífero para nenhum dos dois lados: tanto o visto como opressor e racista, tanto o "sofrido". Vi com meus próprios olhos o preconceito dos franceses (aliás, sempre comento sobre eles aqui) contra negros, todos (horrível), mas por outro lado vi muçulmanos usando de seu baixo rendimento profissional usando os "malvados franceses" como desculpa (o disco emperrou), presenciei milhares jogando em cassinos, torrando seu salário, enquanto reclamavam do governo. Assim é fácil.

Também vi abusados franceses esquerdistas-socialistas querendo ferrar, quebrar a economia porque não querem abrir mão de seus benefícios.

Então, só quem não vive não é preconceituoso. Bem-vindo ao mundo real. Vá dentro de você mesmo e verifique que você vai encontrar "algo de podre no reino da Dinamarca".

Além do mais, para finalizar, o meu comentário aqui foi sobre a ECONOMIA em terras cariocas relacionando à economia brasileira. E alguns espertamente levaram para outro terreno, o "dos costumes" (roubando a idéia de Lola) furtando-se em utilizar o contra-argumento financeiro.

Pesaria mais nas costas e na cuca, claro. ;-)

Gisela Lacerda disse...

Ops, errata: escrevi rápido e me confundi no "usando". Tô com pressa. Para bom entendedor, meia palavra basta. ;-) Inté

Umrae disse...

Gisela, quanto à questão dos concursos, você está certa. Só um detalhe: não é só carioca não, todo mundo tá virando concurseiro. Os cariocas vem para cá, os paulistas vão para Brasília e assim segue...
Para mim isso tem um pouco a ver com o fato de que não fomos treinados para saber trabalhar como autônomos ou PJs, ainda temos preconceito em relação a isso, como se não fosse emprego de verdade. Porque trabalho tem de monte, mas não com carteira assinada...
É complicado porque nós não fomos sequer educados para administrar um orçamento anual em vez de mensal. Quando você tem carteira assinada, estabilidade, você sabe a quantia certa que pode gastar por mês. Quando vêm IPTU, IPVA, tem o décimo terceiro para desafogar. Mas é muito mais difícil controlar tudo isso, prever o quanto tem que ser poupado, o quanto pode ser gasto, investido, etc, se você tem um faturamento tão variável. Então a gente procura a opção segura, o que a gente conhece.
Eu nunca quis trabalhar em setor público. Minha mãe acha o fim do mundo eu pensar assim. Cheguei a fingir que estava prestando alguns a sério só para ela me deixar em paz. É mais fácil que tentar explicar.
Nesso ponto pelo menos eu vejo um lado bom, porque as universidades e faculdades, ao menos, já estão tentando mudar essa idéia na cabeça dos alunos. Estão até dando mais ênfase para matérias como empreendedorismo.

Especulação imobiliária de monte está acontecendo aqui também, então entendo o quanto isso é frustrante (embora aqui tenha tantos fatores que contribuam para ela, que vão desde consequências da última crise até a superlotação da cidade, que não dá para colocar a culpa em um ou mesmo para encontrar o principal). Um dia talvez descubram que isso é um dos fatores que torna o trânsito tão insuportável e o trânsporte público tão entupido. Sujeito é obrigado a se mudar para alguma cidade do interior mais ou menos próxima, ou num bairro do outro lado da cidade, ou etc, porque o valor em qualquer lugar mais ou menos perto das regiões comerciais é inviável. E isso é só um dos menores entre os problemas que ela causa...

Mas não entendi o que você quis dizer com reconhecimento aos estados credores, em especial ao Rio de Janeiro(partindo-se do pressuposto de que não tem a ver com repasse de verba, que nunca vai acontecer). Você poderia, por favor, explicar melhor?


E, em tempo: eu acho isso de ser sede de jogos internacionais uma gelada, mas quando eu falo isso todo mundo acha que eu sou louca...

Gisela Lacerda disse...

Entendo perfeitamente. Umbrae, você deve ser vista como "aquela que joga água fria". Eu pareço bairrista, sei disso, mas não sou nadinha. Aliás, sou a primeira a brigar com o povo aqui; nós nos criticamos demais até! Mas é claro que comemorei quando foi anunciada a vitória do Rio. Conheço minha cidade. Sei que dependemos disso.

Olha, realmente é uma praga o concurso público, menina... Eu era uma pessoa e hoje sou outra. Você não imagina o quanto de gente me pressionando para fazer. Nem passa pela cabeça deles que fui convocada sem me inscrever outro dia. Apenas porque deixei um currículo para dar aulas. E acabei passando numa primeira prova.

Guardamos aquela essência estudantil, quando o pai sustentava, quando podíamos "pirar na Europa" e lá ficar sem grana (aquela intenção de sair da barra do pai; perdi minha mãe cedo e aí.. já viu, né?!), nos deslumbrarmos diante das maravilhas do primeiro-mundo, lutar pela causa alheia e esquecer de si (muitas vezes foi meu caso), entre outras coisas.

Não é que virei uma "capitalista sanguinária", mas é preciso se ater a vários fatores de ordem econômica-social quando se é quase sempre autônomo.

Umbrae, eu sou a exceção ou de repente a regra hoje em dia. Sou preparadíssima para "súbitos baques", perdas, etc. O impressionante é que começamos a fazer o que criticamos, porque o dinheiro não dá, entende? Quando percebemos, estamos sozinhos e precisamos nos tornar os mauricinhos, outrora criticados no passado.

O que eu critiquei de "roubar emprego" parece até o mesmo chororô do árabe na França. ;-) Veja só. A verdade é que tudo está uma lama só e é cada um por si (loi de Murici), mas mesmo assim, mantenho minha atitude (que pode ser considerada preconceituosa para alguns) em relação à questão turística e econômica no Rio. Acredito que a vivência é boa e nos permite desconfiar e abrir nas horas certas.

Gisela Lacerda disse...

Aliás, tenho duas amigas que nasceram no Rio e foram para Brasília com a mãe (funcionária da Embratur e doutora em Educação): todas se deram bem depois que saíram daqui.

E tem aquela idéia romântica do "Rio acolhedor" e se aproveitam de quem está ne 'm*rda". Adoram passar férias e explorar os outros na casa deles. É só o que vejo, gente, sinto muito. Aliás, ex-amigas. ;-0 De repente, todos aqui são a maravilha da maravilha. E estou erradíssima. Espero até. ;-))

Às vezes, enxergo a morte de meu pai como algo bom, sinceramente, porque se esvaiu "o point" porque percebi tanta coisa. Já era claro.. mas ficou muito mais visível o quanto éramos os 'recepcionistas, a casinha, o point turístico' de sempre. É nojento isso. Ninguém aqui é obrigado a servir e aplaudir. Por isso falei dos baianos, e dei conselhos a eles! Quando fui a Salvador, fiquei até triste com o que vi.

Gisela Lacerda disse...

Aliás, lembrando novamente o comentário do João: Ibsen Pinheiro sabe que não tem votos dos cariocas há tempos. Não me enfio em passeata, nunca o fiz até porque não perderei meu tempo no chororô. Quem estava na Av. Rio Branco era o povão show-business; todo mundo ali ia levar um sacolão pra casa. Também não creio no "jogo da vítima" do governador, mas isso não me faz ficar a favor do Sr. Pinheiro e cia.

Ághata disse...

João, se a boa educação manda lembranças por você - hahá - eu dispenso.

Umrae, vc me entendeu errado - aliás, eu tava tão estressada que não me deixei entender direito.

Eu não tenho nada contra elas inventarem projetos em universidades particulares (por isso perguntei pq elas não fazem isso SÓ em faculdades particulares e perguntei se era medo de dividir lucros), pelo contrário, acho que se elas querem fazer isso, que o façam por lá mesmo, sabe? Porque as particulares vão saber tirar vantagem desses projetos dela.
Aliás, não tenho nada contra faculdades particulares - em tempo, eu estudo em uma! - a minha raiva é porque as empresas fazem projetos em universidades públicas porque - entre outros motivos, claro - tem grande possibilidade de explorar mais os estudantes e o conhecimento da universidade, sem oferecer nada a altura.

Ághata disse...

Exatamente, Montricot.

O comentário a respeitos das pessoas completamente desprovidas de recurso e sem teto foi demais...

Umrae disse...

Ághata: ah, ok. Acho que o problema de compreensão foi por causa do termo "palhaçada", porque tinha dado a entender que nas particulares podia...
Mas realmente, quando é para uma particular, não é tirar vantagem a qualquer custo, porque os dois lados pagam os investimentos e ambos lucram.
É diferente de usar toda uma infraestrutura que já está pronta e foi construída com dinheiro público sem precisar investir...

Ághata disse...

Exatamente, Umrae.
Nas faculdades particulares, haverá equilíbrio, elas vão exigir algo em troca do conhecimento, da infraestrutura e tudo mais.

Maíra Teixeira disse...

Mari, acho que nem preciso falar que adorei o seu post. Com relação às empresas "mandarem" no que é pesquisado, o que vemos acontecer aqui na ufrgs é exatamente isso que vc falou: As pesquisas financiadas pelas empresas acontecem com infra-estrutura melhor e mais recursos em geral, que a empresa pode bancar. As pesquisas que o governo financia Têm menos recursos e por isso as vezes o pesquisador é obrigado pelas circunstancias a escolher fazer uma pesquisa para a empresa.
Isso tbm causa uma desigualdade grande entre os cursos da universidade. Por exemplo, o Instituto de Geociêcias da UFRGS tem uma boa infra estrutura e uma biblioteca ótima, enquanto que o Instituto de Letras tem uma infra estrutura precária e uma parte da biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (bastante precária). Isso ocorre porque a Geociências tem pesquisas bancadas por empresas enquanto que o IFCH e o instituto de letras não o tem.
Desculpe se eu fui redundante Mari. Obrigado

Carol disse...

Oi Mari e oi Lola

Eu pensei em um comentário para postar aqui. Mas acho que falei tudo no meu post e se eu fosse aprofundar teria que de novo tentar resumir em 4 linhas o que entendo por concepção de estado justo.

E sinceramente acho que fica muito grande. Mas acho que alguns pontos eu quero esclarescer.

Sobre ser pragmática: sim, eu sou. Na verdade encaro isso como uma filosofia de sociedade, possivelmente a melhor filosofia de sociedade. Bentham, Pareto - sim, o do gráfico - Jonh Rawls foram caras pragmáticos que escreveram boa parte das bases das teorias que sustentam políticas de estado.

Não consigo imaginar uma sociedade que funcione na teoria. Acho que a ciência precisa do empirismo (não necessariamente positivista, mas precisamos olhar a realidade).

Claro que regras são necessárias em qualquer acordo, seja de universidades com empresas, de candidatos com eleitores, de contratados com contratantes, enfim... Não acho que uma empresa usar recursos públicos sem dar nada em troca seja bom, não. Afinal, isso seria tirar dinheiro de todo mundo para dar só para alguns de forma IVOLUNTÁRIA, ou seja, com impostos.

Mas gosto de trocas voluntárias.

E sobre essas coisa de empresa estatal "boazinha" empresa privada "malvada", vide Venezuela: estatizaram tudo e estão com inflação de mais de 30% e crise de desabastecimento.

Só sei que não serei inocente de pensar que as pessoas agirão sem contar seus interesses pessoais. E por isso devem existir regras. Talvez a diferença entre o pragmático "de direita" e o teórico de esquerda é que nós (os pragmáticos) já partimos do princípio que os entes públicos (políticos, servidores, etc.) também podem colocar seus interesses pessoais em primeiro lugar (e não necessariamente interesses econômicos, mas também poder, vaidade, etc.) E talvez por isso apoiamos as tais das trocas voluntárias mais que as imposições "de cima".

Enfim, não sei nem se o texto ficou claro, mas é isso.

Não sou de "brigar" na internet, até porque sou uma pessoa pacífica que convive bem com gente que pensa muito diferente de mim.

Mas certas coisas simplesmente me entristecem. Excesso de idealismo, excesso de burocracia, excesso de intervenção, enfim, são coisas que me entristecem. Porque vão tirando parte das minhas liberdades devagarinho.

Sobre eu estar na GV, já que citaram isso no post: sim, estudo lá, me formei na USP e sinceramente estou achando a GV melhor (ok, comparando A com B ou mestrado com graduação, mas enfim...) e não pago. Aliás, aluno bom de mestrado, doutorado não paga. As bolsas podem vir da Capes ou da própria GV. E a faculdade é inteira "patrocinada". As salas foram pagas por empresas, os elevadores também e a primeira coisa que você vê entrando lá é a lista de parceiros. A feira de marketing foi patrocinada, os grupos de pesquisa são patrocinados...

E nada disso impede de ter gente lá pesquisando políticas públicas para comunidades indígenas, como faz uma conhecida minha.

Bj

Anônimo disse...

Oi leitoras...antes de qualquer coisa acho esse blog um "bem" para a humanidade...
Li os dois posts, concordei e discordei de várias coisas...mas acho que a parte que destaco abaixo deve ser refletida...

"Talvez a diferença entre o pragmático "de direita" e o teórico de esquerda é que nós (os pragmáticos) já partimos do princípio que os entes públicos (políticos, servidores, etc.) também podem colocar seus interesses pessoais em primeiro lugar (e não necessariamente interesses econômicos, mas também poder, vaidade, etc.)"

Gisela Lacerda disse...

Poxa, gostei desse comentário da Carol aí, principalmente da parte "levar em conta seus interesses pessoais". Essa aí eu conheço bem, porque morei com a "galera esquerda-anarquista" e ainda tinha francozido (french people) no meio para complicar minha vida. Eu era vista como "a indivualista". Para mim é: foco.com. Participo quando é viável e não um reizinho mandando. Sou grupal, mas quando vejo que o desejo do grupo é "me engrupir", tchau! Viro o Leão da Montanha num segundo.
Folgado se ferra comigo. Falei sobre isso porque política se faz todo dia!

Gisela Lacerda disse...

Aliás e sobre: acredito em equipe. Grupo tô fora, porque tem sempre quem se denomina líder; na verdade um "reizinho ditador" disfarçado de "amigão". E o pior équando vc paga aluguel de quarto para o "reizinho"; precisa assumir as mil máscaras e fingir que não vê as sacanagens.