Lembro de quando o banco Santander financiou parte de um prédio na UFSC em troca de exposição permanente. Houve muita reclamação. Aquilo foi denunciado como um início de privatização de um espaço público - uma universidade federal. Mais tarde, houve uma campanha para que gente do banco fosse impedida de ofertar cartões de débito dentro do campus. Afinal, o que um banco, interessado no lucro, teria a fazer num lugar de pesquisa e conhecimento?
A Maíra tem uma história parecida pra contar. Maíra tem 21 anos, é estudante de Letras da UFRGS, e faz parte do Conselho Universitário da universidade gaúcha. O que ela narra vem acontecendo em outras universidades públicas. É preciso tomar cuidado. Hoje, ao contrário de dez ou doze anos atrás (auge das privatizações do governo FHC), não se fala mais em cobrar mensalidades de alunos públicos, ou de entregar as universidades federais para instituições privadas. Mas a presença maciça de empresas particulares não seria também uma forma de privatização? Fique com o relato da Maíra.
Durante as últimas férias, foi colocada na pauta de uma reunião do Conselho (que é o órgão máximo das decisões na universidade) a votação para aprovação de um Parque Tecnológico. Segundo o projeto, o parque seria construído em uma área do campus que é de preservação ambiental. Além disso, o objetivo do parque é abrigar incubadoras para empresas privadas que pagarão salários baixos pela mão de obra qualificada dos estudantes da UFRGS e patentearão o resultado das pesquisas ali realisadas. Também serão isentos de alguns impostos. O movimento estudantil combativo, é claro, se posicionou contra isso.
Como seria natural nas férias, não houve número suficiente de conselheiros para haver a votação. Para o último conselho antes do início das aulas, porém, foi marcada uma nova votação. O Movimento Estudantil organizou uma vigília em frente à reitoria e impediu que a reunião do conselho acontecesse. Foi decidido então que haveria discussões com a comunidade universitária para que a grande massa dos estudantes entendesse o que era esse tal de Parque Tecnológico, pois a divulgação do projeto e o debate democrático não havia ocorrido.
Houve de fato a votação, pouco mais de quinze dias atrás. O Parque Tecnológico passou com poucos votos contrários. Isso já era esperado por nós, mas não é por isso que deixaremos de lutar.
Já faz muito tempo que os estudantes solicitam a ampliação do Restaurante Universitário (que serve refeições a R$ 1,30). No início do ano passado essa ampliação foi anunciada, mas está acontecendo a passos de tartaruga, enquanto que a área que abrigará o Parque Tecnológico já estava cercada mesmo antes da aprovação do projeto.
Mesmo antes do referido parque Tecnológico, já há muita privatização do conhecimento gerado na UFRGS. Muitas pesquisas são financiadas por empresas privadas como a Gerdau, que ficam com a patente e não produzem conhecimento para a comunidade. Um bom exemplo disso é uma pesquisa da faculdade de Farmácia da UFRGS que foi financiada, se não me engano, pela Avon. Essa pesquisa desenvolveu um protetor solar com fator 100, que servirá apenas para dar lucro para a empresa, sendo que o conhecimento desenvolvido na universidade deveria servir à comunidade. Por exemplo: o governo poderia financiar a produção do protetor solar e vender a custos baixos para profissionais carentes que se exponham muito ao sol na sua jornada de trabalho.
Isso tudo é indício de uma "privatização" das universidades públicas. Coloquei privatização entre aspas pois não significa algo como vender a UFRGS para a PUC, mas de privatizar espaços e pesquisas da universidade. Alguns espaços que eram para ser Centros de Vivência para estudantes na UFRGS hoje são lanchonetes, por exemplo. Acho que é hora dos estudantes tomarem consciência da situação e lutar ativamente por seus direitos.
Durante as últimas férias, foi colocada na pauta de uma reunião do Conselho (que é o órgão máximo das decisões na universidade) a votação para aprovação de um Parque Tecnológico. Segundo o projeto, o parque seria construído em uma área do campus que é de preservação ambiental. Além disso, o objetivo do parque é abrigar incubadoras para empresas privadas que pagarão salários baixos pela mão de obra qualificada dos estudantes da UFRGS e patentearão o resultado das pesquisas ali realisadas. Também serão isentos de alguns impostos. O movimento estudantil combativo, é claro, se posicionou contra isso.
Como seria natural nas férias, não houve número suficiente de conselheiros para haver a votação. Para o último conselho antes do início das aulas, porém, foi marcada uma nova votação. O Movimento Estudantil organizou uma vigília em frente à reitoria e impediu que a reunião do conselho acontecesse. Foi decidido então que haveria discussões com a comunidade universitária para que a grande massa dos estudantes entendesse o que era esse tal de Parque Tecnológico, pois a divulgação do projeto e o debate democrático não havia ocorrido.
Houve de fato a votação, pouco mais de quinze dias atrás. O Parque Tecnológico passou com poucos votos contrários. Isso já era esperado por nós, mas não é por isso que deixaremos de lutar.
Já faz muito tempo que os estudantes solicitam a ampliação do Restaurante Universitário (que serve refeições a R$ 1,30). No início do ano passado essa ampliação foi anunciada, mas está acontecendo a passos de tartaruga, enquanto que a área que abrigará o Parque Tecnológico já estava cercada mesmo antes da aprovação do projeto.
Mesmo antes do referido parque Tecnológico, já há muita privatização do conhecimento gerado na UFRGS. Muitas pesquisas são financiadas por empresas privadas como a Gerdau, que ficam com a patente e não produzem conhecimento para a comunidade. Um bom exemplo disso é uma pesquisa da faculdade de Farmácia da UFRGS que foi financiada, se não me engano, pela Avon. Essa pesquisa desenvolveu um protetor solar com fator 100, que servirá apenas para dar lucro para a empresa, sendo que o conhecimento desenvolvido na universidade deveria servir à comunidade. Por exemplo: o governo poderia financiar a produção do protetor solar e vender a custos baixos para profissionais carentes que se exponham muito ao sol na sua jornada de trabalho.
Isso tudo é indício de uma "privatização" das universidades públicas. Coloquei privatização entre aspas pois não significa algo como vender a UFRGS para a PUC, mas de privatizar espaços e pesquisas da universidade. Alguns espaços que eram para ser Centros de Vivência para estudantes na UFRGS hoje são lanchonetes, por exemplo. Acho que é hora dos estudantes tomarem consciência da situação e lutar ativamente por seus direitos.
23 comentários:
Sou estudante da UFRGS.
Fiquei surpresa de elr sobre este assunto aqui no teu blog, Lolinha, que eu acompanho há muito tempo.
Escrevi sobre o Parque Tecnológico no meu blog há um bom tempo, exatamente para esclarecer meus colegas que não sabiam sobre o que era nem para quê servia o parque.
Concordo com a posição da colega no teu post aí. Mas venho aqui para lembrar que a leva do parque para pauta de discussão com os estudantes quase ruíu este semestre, devido ao rompimento entre os movimentos de esquerda da universidade.
Isso, na minha opinião, foi o maior erro de todos. Pois decidiu a tomada do DCE da UFRGS pela direita - uma coisa inadmissível. Este DCE atual, que se chama DCE Livre, parte para o lado da defesa da privatização do conhecimento público, o que me deixa muito triste.
É muito importante lembrar aos estudantes das outras universidades que não deixem que o mesmo erro se repita em outros lugares, porque a coisa mais chata do mundo é ver um grupo de estudantes, apoiadores do sistema capitalista, dizendo que representam a opinião geral dos estudantes da universidade inteira.
Triste, Lola, muito triste.
Lola, privatização era com o FHC, como você mesma disse. A menina que escreveu o texto está confundindo as coisas. Isso que ela está presenciando é qualquer coisa menos privatização, afinal estamos em pleno governo do Lula, não é mesmo? De onde ela tirou essa ideia de privatização? Pelo jeito, ela precisa informar-se melhor.
É preciso esclarecer que, após longa luta do movimento estudantil, do ANDES-SN e FASUBRA, as universidades têm autonomia administrativa, as reitorias, mediante consulta aos Conselhos Universitários, podem adotar medidas desse tipo, sem NENHUMA INGERÊNCIA do Governo Federal.
Podia colocar meu ex-companheiro da CUT, Zé Maria, do PSTU, na Presidência, que o C.U. faria a mesma coisa.
Viu que o Lula está na lista das 100 pessoas que mais afetam o mundo da revista Time?
http://www.time.com/time/
http://www.time.com/time/specials/packages/article/0,28804,1984685_1984864_1984866,00.html
Oi Lola.
Acompanho seu blog, gosto bastante (e até me arrisco a comentar de vez em quando), ainda que eu tenha visões bastante divergentes das suas em diversos aspectos políticos.
Gostaria de te fazer um pedido. Eu entendo um pouco desse assunto de universidades, em especial do ponto de vista de economia pública, pois é um assunto que muito me interessa (especialmente por eu estar em processo de me tornar uma acadêmica - sou mestranda) e porque sou formada em uma unidade da USP que tem uma visão um pouco diferente das demais: a FEA. Dessa forma, gostaria de saber se você me daria espaço para um contraponto no seu próprio blog (eu até tenho um blog, mas está em standby por causa do mestrado). Seria interessante para contribuir com os leitores daqui, pois é outro ponto de vista, mas acho muito grande para escrever nos comentários.
Fica o pedido e, claro, ok se você não concordar.
Abs.
Garotacocacola, o que vc acrescentou é muito importante. A esquerda tem uma tendência a se fragmentar e, assim, permitir que a direita (muito mais unida) chegue ao poder.
João, é um TIPO de privatização. Outro dia conversei com um diretor do sindicato a que me filiei, a ADUFC (Associação de Docentes da UFC). E ele disse que o PSDB não tem mais coragem de usar o discurso privatizante de antes. Mas que é preciso ficar atento, porque mesmo que AS privatizações não aconteçam, TIPOS de privatizações podem ocorrer.
Gio, pois é, faltou mesmo falar isso no post: as universidades têm autonomia.
Vc viu que a ADUFC (e várias outras associações) acabou se separando da ANDES? (quer dizer, eu sou péssima em siglas, espero não estar confundindo tudo). Eu votei no plebiscito.
Carol, leio o seu blog de vez em quando, e sei que vc tem visões BEM divergentes das minhas. Mas pode escrever um guest post sim. Afinal, guest posts são justamente pra mostrar uma visão diferente da minha, ou pra falar de assuntos que eu desconheça (que são vários). Mande o texto pro meu email: lolaescreva@gmail.com
Lola, já há algum tempo o ANDES-SN (no masculino porque não é mais "associação nacional...", mas Sindicato nacional, embora tenha mantido a sigla histórica) tem tido conflitos de base, a direção nacional é ligada À CONLUTAS (PSTU e parte do PSOL), e há ADs ligadas à CUT e à CGTB que estão se desligando do ANDES-SN.
Lola, vai ter ex vizinhos teus (Higienópolis) cortando os pulsos:
Lula foi apontado como o Líder mais influente do mundo pela TIME...
http://www.time.com/time/specials/packages/article/0,28804,1984685_1984864_1984866,00.html
Oi Lola.
Obrigada pelo espaço.
Vou caprichar e te mando esse fim de semana.
Abs.
Isso existe muito.
Sou estudante da UFMT e sei bem do que se trata.
Mas apesar de ser contra esse tipo de privatização que na maioria das vezes nada contribui para o desenvolvimento academico, não acho que devamos colocar tudo no mesmo saco e proibir que qualquer empresa coloque os pés nas universidades federais, mesmo quando isso vai claramente beneficiar os estudantes.
Aqui em cuiabá, tem uma livraria ótima que vende todo o tipo de livro e oferece descontos para livros universitários, especialmente os do meu curso (direito). Ela tem uma filial em cada uma das universidades particulares daqui e eu não via problema algum em vê-los na minha universidade também: super ia facilitar a minha vida, e a de muitos outros estudantes. Mas aí, a galera do DCE disse que não. Pombas, porque não? Claro que ia ser bom pra empresa, mas não ia ser bom pra gente também?
Também queriam proibir os caixas eletrônicos. Eles existem em alguns blocos e os representantes do DCE queriam retirar também, porque são contra o capitalismo. Primeiro que eles podem ser contra o que quiserem, mas não podem decidir por todos nós, não em assuntos que pouco tem a ver com a competencia deles. E depois, que eles são contra tudo, né? Vira até motivo de piada.
Queriam também tirar o direito da polícia militar estar no campus, porque eles acham que o papel da PM dentro do campus hoje é o mesmo da época da ditadura. Acho que o sonho deles é que o país vire uma ditadura só pra ter motivos pra protestar. É que a maioria é homem e estuda no periodo diurno. As meninas sabem muito bem como é sair por aquele campus durante a noite. Eu quero a PM por lá sim.
Nossa, este parque tecnológico é um absurdo!!
Sou estudante da USP.
Basicamente, passamos pelos mesmos problemas, somando à isso também a palhaçada da UNIVESP (Universidade Virtual do Estado de São Paulo).
Lola, votastes a favor ou contra o desligamento da entidade?
Aqui na UFRN está tendo votação estes dias também, com mesários em todos os centros. Creio que ganhará a desfiliação. Os que defendem que se permaneça ligados é praticamente só a oposição da diretoria atual, um certo PSOL x PT; CONLUTAS x CUT... mesmo esta questão dos professores serve como exemplo do fato da esquerda não saber trabalhar junta mesmo.
Quando ao movimento estudantil, este é que realmente não se une. Fui do CA e do DCE daqui já, e no ano que saí candidata ao DCE as duas chapas concorrentes tinham grande afinidade política, pessoas filiadas ao mesmo partido inclusive (PT em geral), mil projetos em comum, mas,como sempre, por pequenas divergencias não podiam trabalhar juntas.
Só prejudica a unidade e o poder de mobilização que se têm enquanto grupo, é uma pena.
É triste a situação das universidades federais no Brasil.
Sou estudante da UnB e nós só tivemos uma semana de aula em 2010.
Funcionários e professores estão em greve porque o Ministério do Planejamento cortou um benefício que chegava a representar 26% do salário.
Trecho da notícia que saiu no site da UnB:
"Três mil duzentos e noventa e seis servidores da Universidade de Brasília estão órfãos. Eles pertencem à parcela mais castigada pela crise da URP. Seus salários estão entre os mais baixos do Poder Executivo. Um engenheiro da UnB, por exemplo, ganha R$ 1.747, segundo dados do último concurso realizado na universidade, em 2009. Se o mesmo engenheiro passar nas provas do Ministério do Planejamento, organizadas pelo Cespe e realizadas na semana passada, ganhará R$ 9.600, de acordo com o edital."
Lamentável.
Lola, não sei se é o caso da UFRGS, mas, por padrão, incubadoras tecnológicas são locais onde, como o próprio nome sugere, a Universidade "incuba" empresas de matiz tecnológico, montadas por estudantes e derivadas de seu trabalho na universidade.
Seria uma forma de facilitar a transição do aluno de mestrado e doutorado, após a conclusão do seu curso, para o mercado de trabalho, só que na perspectiva de empreendedor com alto valor agregado de conhecimento tecnológico, ampliando as possibilidades para além da atuação como professor universitário ou empregado de uma grande empresa que já desenvolva tecnologia.
Olá Lola, tenho 17 anos, este ano vou prestar vestibular, e realmente fiquei descontente com esse post, é realmente triste que empresas usem universidades para gerarem lucro.
Acompanho seu blog há um tempinho e concordo com (quase) tudo o que você escreve, agora fiz o que já queria há um tempo, criei um também e postei um texto sobre as novelas e a padronização do público, se tiver um tempo livre ficaria contente com sua leitura e opinião, pois admiro as suas ideias. Até mais!
Como diz o nosso presidente, menas pessoal. Não se pode achar que até as mais micros das empresas são enviadas do belzebu capitalista, com direito a chifres e cauda. As empresas que ocupam parques tecnológicos nas universidades mesmo: muitas são iniciativas de recém-graduados que precisam de apoio para iniciar um negócio onde aplicar seus conhecimentos, daí muitos parques serem chamados incubadoras de empresas. E qual o problema com as lanchonetes? Se estão ali é porque são necessárias. Devem ser gerenciadas por pessoas simples que só querem ter com o que se sustentar, e não por vilões como o Mr. Burns dos Simpsons.
Quanto às parcerias, se há desvantagem para as universidades que isso seja apurado.
Pois é... Fiz graduação e faço mestrado na Unicamp e vejo a mesma situação. Na verdade, a coisa na Unicamp já está muito mais consolidada e é triste ver a comunidade universitária (professores, funcionários, estudantes) como um todo se acostumando com a coisa...
Temos cartões com chip e catracas em quase todos os lugares; os cursos de exatas e biológicas (ainda bem que eu faço humanas) já têm laboratórios de empresas faz tempo (Lab Ajinomoto e Microsoft são alguns deles); chegaram até a instaurar o ABSURDO de pra colocar créditos no cartão (para comer no bandejão) ter que fazer DEPÓSITO EM CAIXA EM AGÊNCIA DA NOSSA CAIXA na conta da Universidade, porque aí claro que o banco ganha mais dinheiro (felizmente acabamos com isso organizando os estudantes em 2005); bancos privados têm agências lá dentro e divulgam seus produtos livremente; empresas são responsáveis por setores de algumas bibliotecas...
Enfim, é realmente desagradável. É muito triste ver como a ideologia do Estado mínimo (a Unicamp é estatal de SP e Sp tem PSDB no governo do estado há mais de 20 - VINTE! - anos) realmente sucateou a autonomia da Universidade pública em SP...
o problema principal aqui da UFRB,Cachoeira é falta de moradia e alimentação para os estudantes.
alguns estudantes estão acampados em barracas desde o inicio do semestre, porque não podem pagar os alugues exorbitantes do povo da cidade e nem tem
restaurante, a maioria faz lanches ou comem pão dia inteiro.
como é que sem alimentar-se alguem pode conseguir ter bons desempenhos intelectuais?
mas o movimento estudantil é fraquissimo, ninguem se mobiliza....
Patrick, o Parque Tecnológico aqui da UFRGS abriga incubadoras sim, mas esta é a menor parcela abrangida pelo projeto. O maior objetivo que se tem é trazer as grandes empresas para cá para que os estudantes trabalhem para elas. O projeto do Parque até mesmo acaba com os outros projetos de incubadoras que já existiam aqui e que sempre vão de vento em popa.
Perfeito, entendi. Então é um desvirtuamento mesmo.
Postar um comentário