terça-feira, 20 de janeiro de 2015

GUEST POST: MINHA IDENTIDADE AINDA VAI SE TRANSFORMAR

A maior parte das imagens do post veio do tumblr trans-selfies

Recebi este lindo email da J.:

Auto-retrato de Nan Goldin, 1999
O texto sobre selfie e auto-objetificação foi triggering pra mim, mexeu comigo mesmo. Eu adoro foto e na faculdade fiz matérias de história e crítica da fotografia. Para mim, uma câmera é muito mais do que um mero instrumento de captação do padrão de beleza, como parece ter se tornado nos dias de hoje. Fotografia é arte. Eu me encanto com o ramo fotografia marginal e vejo muita beleza na obra de fotógrafas como Nan Goldin e Diane Arbus.
Foto de Diane Arbus
Eu também fiz por algum tempo e adoro teatro, então tenho paixão por figurino e maquiagem. Não só aquele tipo de maquiagem que a gente faz para "afinar o nariz", "aumentar os lábios", mas principalmente maquiagem teatral e pintura facial. Embora use pouca maquiagem, gosto de maquiar as amigas quando a gente vai sair. Nas festas e viagens em família, eu sou a pessoa que fica com a máquina e tira várias fotos legais da galera, espontâneas, divertidas, ou numa pose super bonita que a pessoa não tinha nem percebido que estava.
Auto-retrato de Diane Arbus, 1968
Dito isso, eu tenho 22 anos e também sou uma garota dentro do padrão de beleza. Além de magra, sou branca, tenho cabelos "castanho-mel" cacheado exatamente dentro do padrão, olhos muito azuis e a boca grande, o que é "traço de preto", mas numa garota branca de olhos azuis é considerado muito bonito.
Teri, adolescente trans,
no tumblr trans-selfies
Eu tenho consciência que estou dentro do padrão de beleza e me beneficio dele. Outro dia eu entrei numa loja de departamentos quando voltava da faculdade, de jeans, all star sujinho e camiseta, com uma mochila enorme nas costas. Rodei a loja inteira, não encontrei o que eu queria e saí naturalmente. Os seguranças da entrada não fizeram o mínimo gesto de preocupação diante da minha presença, pelo contrário, foram simpáticos. Lola, você duvida que se fosse uma moça negra, eles não iam ficar cismados? Isso se repete sempre. Mesmo que eu entre numa loja de chinelo, roupas largadas, ninguém deixa de me atender e me tratar com educação. A gente sabe que não é assim com todo mundo, né?
Bem, eu não tiro muitas "selfies", até porque não sou de ficar postando muita coisa nas redes sociais. Mas não vou negar que eu tiro, sim. E posto, sim. Às vezes, antes de sair, eu bato foto de uma roupa ou maquiagem que ficou legal. Em algum dia que eu estou de bobeira, faço uma maquiagem básica e bato uma série de fotos na frente do espelho. Algumas poucas vão parar no perfil do Facebook e eu recebo curtidas, comentários, elogios de amigos e da família.
O problema, Lolinha, é que eu sou transexual. Eu não me identifico com o sexo feminino de forma nenhuma. Eu olho no espelho e detesto tudo o que vejo. Detesto o cabelo comprido, detesto a boca feminina. Detesto os peitos. Por isso, cada curtida, cada elogio que eu recebo é ao mesmo tempo um afago no ego e uma facada na autoestima. Eu tenho consciência que o que as pessoas veem é uma garota bonita, e isso não sou eu. Não é como eu me sinto. Quando um cara se interessa por mim, eu me sinto muito mal, porque tudo o que desperta o desejo dele, tudo em mim que o atrai, é aquilo que eu desprezo.
Caio Fernando Abreu (1948-1996)
Eu nunca tinha falado sobre isso com ninguém, até o ano passado. Sabe com quem eu "conversava" sobre o assunto, quem me entendia e apoiava? Caio Fernando Abreu. É, o escritor. Infelizmente eu não tive a oportunidade de conhecê-lo, mas eu sempre li coisa dele, e sempre pensava: "Taí, esse é um cara que me entende. Tem dois trechos dele, Lola, que diz assim:
"Fiz fantasias. No meu demente exercício para pisar no real, finjo que não fantasio. E fantasio, fantasio. Até o último momento. [...] Tão artificial, tão estudado. Detesto ouvir minha voz no gravador ou ver minha imagem em vídeo. Sôo falso para mim mesmo. A calma, o equilíbrio, as palavras ditas lentamente, como se escolhesse. Raramente um gesto, um tom mais espontâneo. Tão bom ator que ninguém percebe minha péssima atuação."
"A grande mentira que ele era, era verdade. Ou: a mentira nele nunca fora fraude, mas essência. Seu segredo mais fundo e mais raso, daí quem sabe a surpresa branca de quando ouvira um quase-amigo dizer que não passava de um personagem."
Justamente! É justamente isso que eu sinto. Ninguém nunca me definiu tão bem, Lolinha. A garota bonita que eu sou é nada além de um personagem, e eu passei a minha vida inteira me dedicando tanto ao papel que ninguém percebe, ninguém percebe. Embora eu seja uma pessoa sociável, tenha vários amigos, viaje e saia bastante, durante anos meus livros me entenderam mais do que qualquer pessoa de carne e osso. Ler Clarice Lispector dizendo "eu queria ser eu mesmo, por mais feio que isso fosse" sempre me trouxe ao mesmo tempo uma enorme paz e uma grande tristeza.
Ano passado, eu conheci amigos trans na internet, e amigos cis que apoiam de verdade a causa. A gente tem se ajudado, tem se dado muita força desde então. Isso me deu coragem para "me assumir" para alguns amigos próximos aqui na "vida real", e a reação de todos foi muito positiva. Com esses amigos da internet, eu uso um perfil fake para trocar mensagens, fotos, e tudo. Não é um perfil que eu finjo ser homem, mas é onde eu tenho uma liberdade maior (não por acaso, eu passo muito mais tempo nesse perfil do que no meu "verdadeiro" e nele sim, posto várias coisas). Esses amigos me chamam por um nome masculino que eles escolheram para mim e isso é maravilhoso. É totalmente o meu nome, agora. Minha identidade.
O fato é que, depois de ler o texto publicado no seu blog, eu fiquei pensado: por que eu AINDA faço isso comigo? Por que eu ainda tiro fotos vestida de mulher para colocar na internet? Por que eu ainda tenho essa necessidade de que as pessoas me considerem bonita, mesmo por uma aparência que eu detesto? Eu não consigo nem me sentir confortável com esse corpo, que me importa se as pessoas me admiram por ele, ou não?
Por que eu, justo eu, ainda me submeto a ser julgada pela minha "beleza"? Uma beleza que eu odeio, Lola. Um corpo que não é o meu, não sou eu. Um corpo que faz com que o sexo sempre seja algo tenso e complicado, pelos problemas psicológicos desencadeados por ser transexual. É horrível, Lola, mas às vezes eu me pego desejando ter um câncer de mama só para ser obrigada a remover os seios. Isso é tão fodido. Desculpa, eu não tenho outra palavra. Mas, cara, como alguém se sente tão mal consigo mesmo, a ponto de desejar ter uma doença dessas? E, ainda assim, eu tiro fotos e recebo cem curtidas. Isso é... destrutivo. É, é destrutivo.
Depois de ler o texto, eu acabei vendo um documentário sobre crianças trans e passei o dia inteiro mal, na fossa. Queria cortar o cabelo de qualquer jeito, queria esconder o peito, queria sumir no mundo. Aí eu fui para a academia e, no caminho, passou por mim uma mulher transexual. Linda, linda. E eu vi o jeito que as pessoas olhavam para ela: com espanto, até medo, desprezo, chacota. Lá na academia eu via os caras malhando, conversando entre si, trocando dicas sobre os exercícios. Eu olhava para aqueles corpos masculinos e pensava que aquilo era tudo o que eu queria ser.
Depois eu olhava para as garotas, com a mesma aparência que eu tenho agora, e me sentia tão distante! Como se eu fosse um ser de outro planeta. Como se eu nunca fosse conseguir me encaixar em lugar nenhum. Na volta para casa, eu fui segurando o choro. As vitrines das lojas me causavam sensações horríveis. As femininas, muito bonitas, claro, mas só de pensar que é o tipo de roupa que eu vou ter que vestir para sempre, que essa é a minha identidade, que eu sou mulher... Ah. E as masculinas? É tudo o que eu queria poder ser, entende? Eu vivo comprando para o meu irmão as camisas que gostaria de usar.
Cheguei em casa me sentindo um lixo. Felizmente, eu logo pude falar com esses amigos, o pessoal da internet. De um, eu tive todo o apoio, dicas de como me sentir melhor. E de uma amiga linda eu ouvi "Eu queria ter uma varinha de condão e poder te transformar no homem que eu vejo". Isso é incrível porque ela me enxerga mesmo como o homem que eu sou. Uma amiga de anos ouviu minha fossa e me deu todo apoio e carinho. Acabei a noite bem, feliz, conversando com essas pessoas especiais.
Agora a crise passou, sabe? Talvez eu corte mesmo o cabelo hoje. Vou me matricular na capoeira, também (eu sempre quis fazer algo do tipo; meus pais achavam "coisa de menino"). E vou dar um tempo nas "selfies", eu acho.

59 comentários:

Zrs disse...

Que lindo relato, apesar da dor.

Querido, que você encontre o caminho e a paz.

Também sou uma caminhante, buscando outros caminhos que não os previamente traçados para mim.

Anônimo disse...

olha, é excelente que você faça algum esporte mesmo, J. especialmente os de luta. dá pra criar massa muscular sem ficar naquele tédio de academia, dependendo de como se faz o aquecimento.


Lola, não seria melhor introduzir o post com "Recebi este lindo email do J."?

Anônimo disse...

totalmente off-topic: Lola, tenho uma sugestão de post/pauta, os 15 primeiros dias de governo do novo governo PT. Não estou sendo irônica (nem reaça,coxinha ou essas coisas q se usam pra insultar os outros). Eu mesma votei na Dilma, mas me sinto meio... lesada. Vc foi extremamente combativa nas eleições, e acho que seria legal um post seu sobre o que vc concorda e com o que vc discorda do novo mandato da Dilma. Eu estou particularmente incomodada com o corte de 7 bilhões do orçamento da educação (e o slogan é " pátria educadora", né?) e os sucessivos aumentos de impostos

Anônimo disse...

Tenso...

Anônimo disse...

Essa questão da inadequação corporal é o que quebra todo o discurso transfóbico das radicais. Corpo não é socialização, é biologia.

Anônimo disse...

Ué, quem disse que mulher TEM de ter cabelo comprido ou usar roupa assim ou assado?

E quem disse que inadequação corporal não pode ser aprendida?

Anônimo disse...

Em tempo: feministas radicais não são transfóbicas. Elas apenas não acreditam em "nascer no corpo errado", porque rejeitam a ideia de "cérebro de mulher/cérebro de homem". Mas as pessoas são livres pra desempenhar os papéis de gênero que quiserem.

Anônimo disse...

Fico feliz que vc pareça ter contato com ótimas pessoas (tanto online quanto na "vida real"). Vou ficar torcendo para q vc se dê vez melhor com o seu corpo, e que chegue o dia em que vc se reconheça nele. Mas, por hora, que bom que vc já tenha os seus refúgios :D

Anônimo disse...

Neste culto a juventude gosto de parecer mais velha. Acho bonito a aparencia mais madura e séria. Dizem que quando eu ficar mais velha vai ser o contrário, que vou querer parecer mais nova, mas isso só o tempo vai mostrar. Odeio modas e padrões porque muitos deles são de muito mau gosto. Simplesmente tem gente que não tem o dom do FODA-SE.

Anônimo disse...

Olá guest poster,
Você não precisa ter cabelo comprido, você não precisa se maquiar, você não precisa usar roupas femininas, você pode ser agressiva, gostar de lutar e ter músculos, você também não precisa gostar de penetração vaginal (que assumo que é o que você quis dizer com problemas no sexo), você não é obrigada a fazer nada que não queria na cama, você pode ser dominante na cama se assim gostar mais. Você não precisa falar de um jeito gentil e amável, fale tantos palavrões quanto quiser!

Nada disso te faz menos mulher. Se você decidir se tornar um homem trans, vá em frente, mas recomendo fortemente que você leia um pouco de crítica de gênero antes, que também leia relatos de mulheres que eram homens trans mas destransicionaram, veja se você se identifica com os motivos delas. Digo isso porque a partir de momento que você começar a tomar hormônios e, principalmente, fizer cirurgias, esse é um caminho muito difícil de voltar. Muitas mulheres se tornaram homens trans para escapar das amarras de gênero, mas saiba que mudar de gênero, ao invés de desconstruí-lo, você só estará se prendendo com outras amarras.

Não se identifica com as mulheres da academia, que geralmente só querem malhar a aprte inferior e morrem de medo de ganhar musculos no braço? Nem eu. Mas eu me identico e muito com as mulheres que lutam contra mim no Krav Maga, Muay Thai, e luta pesada com armadura medieval. Elas são fortes, tanto física como psicologicamente.

Você já leu sobre ser gender non-conforming? Ou sobre as butch lesbians?

Sobre os caras da academia, não esqueça que a maior parte dos caras são machistas, e você frequentemente vai se ver em rodas de homens falando sobre futebol e objetificando mulheres (digo isso pelo relato de ex-homens trans que já li).

Esteriótipos de gênero são ruins para todos.

Estou escrevendo um post tão longo porque me identifico completamente com tudo que vocẽ descreveu, já cogitei seriamente ser um homem trans, mas lendo relatos de quem já passou por essa experiência, e sobre mulheres gender non-conforming que escolheram não transicionar, decidi manter-me como sou. Sou a mulher que eu bem entender, com a personalidade e hobbies que eu quiser, e mando a merda quem vier me encher que não sou feminina! Não tenho a obrigação de ser.

By the way, eu cumpro todo a lista de itens que falei acima, com o adicional de fazer carreira nas Exatas e participar de comunidades de jogos, ambas atividades consideradas masculinas.

Talvez você se preocupe que não te acharão atraente sendo uma mulher "não-feminina". Os imbecis realmente não te acharão atraente por esse exato motivo, mas muitos homens e mulheres ainda te acharão interessante, tanto porque há pessoas de ambos os sexos que gostam de mulheres 'masculinas', como porque agir como você realmente quer, independente do julgamento alheio, é uma auto-confiança bastante atraente.

Talvez você se pergunte "Mas então porque odeio meu corpo?". Todas as mulheres aprendem a odiar seus corpos, todas passam a vida toda sendo julgadas por isso, e ouvindo o quão erradas são. Odiar seu corpo não é necessariamente um sinal de que você é trans. Isso afeta em especial mulheres que querem ser fisicamente fortes, já a representação de mulheres com esse tipo de corpo é raríssima.

Se você realmente achar que o seu melhor caminho é ser um homem trans, vá em frente. Mas peço que por favor se informe mais sobre crítica de gênero, pessoas gender non-conforming e relatos de mulheres que destransicionaram (ou até, de homens trans que decidiram não destransicionar), para você tomar essa decisão importante da maneira mais bem informada possível.

Anônimo disse...

é anon 13:45,aí está a maravilhosa Dilma que vcs tanto defenderam.

Priscila disse...

"Ao mudar de gênero, ao invés de desconstrui-lo, você só estará se prendendo com outras amarras."

Taí, excelente comentário.

Eu me lembrei daquele teste Cogiati para descobrir se a pessoa é trans. Os resultados tendiam para o masculino se a pessoa afirmava coisas como gostar de matemática (!!!!!!!!!!!!) ou ser ruim em interpretação de linguagem corporal. Fiquei ali só pensando... "Oi? Isso é feminismo?"

Anônimo disse...

Tenho visto muito esse racismo travestido de empatia. "boca de preto"????? Vc descreve toda uma suposta compreensao por pessoas q são tratadas da pior forma possivel pela sua aparencia, pra que? Apenas para demostrar sua superioridade, q seria o sonho de muitos, de pessoas negras em particular.

E na real qual o problema q vc passa?
Não pode ou nao quer usar roupas masculinas por temer perder seus privilegios?

Anônimo disse...

Lolinha, por favor, faça um post apoiando o movimento eminista do Toplessaço.

VulvaRevolução disse...

Tb nao me identifico com nada "feminino" ate pq o "feminino" é uma construcao social com o intuito de oprimir quem nasceu com vagina. Ou eu sou naturalmente "fragil", "bela", "submissa"? Sempre gostei de esportes, de "brincadeiras de menino", etc. Nada disso faz de mim um "homem". Acho que essa inserção do transativismo no feminismo está fazendo com que muita gente naturalize o discurso de que certas características sao inerentes aos homens e mulheres.

VulvaRevolução disse...

Ah, e disforia é algo muito comum em TODAS as mulheres, mesmo quando nao se identificam como trans. Pq o corpo "feminino" é tratado como sujo ou entao é hipersexualizado. Basta conversar mais intimamente com algumas que vcs verão que nao é pequeno o numero de mulheres que odeiam seus seios e vaginas. Já colhi inumeros relatos internet afora. Eu mesma já sofri mt com isso.

Renata disse...

Concordo com a anônima das 17:43, com a Priscila, com a pessoa de 19:33 e com a VulvaRevolução.

Sempre me disseram que sou "masculina", porque gosto de esportes e aventura, não gosto e não uso maquiagem, não ligo pra roupas (uso roupas mais confortáveis, folgadas e neutras, no caso mais "masculinas"), geralmente uso cabelo curto, gosto de jeeps e caminhões, não depilo perna, sobrancelha e afins, não sou "delicada", não tenho a voz suave, também tinha neura com meu corpo (achava que meu peitos eram errados, que minha vulva era errada) e mais um milhão de coisas e detalhes.
Não encaixo de forma alguma no estereótipo de mulher, mas, sabem de uma coisa?
SOU MULHER.
SOU A MULHER QUE EU QUISER, independente de roupa, cabelo, personalidade, vontades e o que quer mais que seja.

Não digo que é fácil se aceitar sendo bombardeada por expectativas sociais e estereótipos sexuais o tempo todo, mas afirmo que é libertador.
A cara de nojo das pessoas ao ver minhas pernas peludas, as piadinhas, os conselhos sobre tirar a sobrancelha, sobre as roupas que eu devia usar, sobre como eu deveria de ser mais delicada, falar menos palavrão, ser mais "feminina" às vezes ainda incomodam, mas, hoje, sou mais forte. Me aceito e me amo.

haM disse...

Concordo com a crítica feita à questão do "boca de preto" conforme crítica do anônimo das 19:32, entendi a intenção crítica do guest poster, mas ficou racista mesmo assim...

Ademais eu fico meio incomodada com certos comentários pq sempre, mas sempre que o assunto for transssexualidade vai ter alguém que vai comentar algo como "ah mas você tem certeza?" "vc não acha que pode ser uma fase?" "vc não acha que vc não pode estar confuso/a?"

É bem irritante pq é a mesma discussão que vejo nos processos judiciais p readequação do documento do transsexual: a começar pra tomar hormônio, depois pra cirurgia: é tudo muito dificultoso, é necessário que um terapeuta ateste q a pessoa é realmente transsexual, que essa condição se manteve por mais de dois anos, "que não existam "outros" transtornos mentais" (coloquei entre aspas pq não concordo, mas é assim que vêm nos documentos por causa do cid f64-0).

Eu não acho que devamos ficar questionando e questionando a pessoa, pq ela não tem cinco anos de idade e provavelmente já pensou mto sobre isso antes de vir falar em público.

Obviamente que existem pessoas impulsivas e que certas decisões não podem ser tomadas da noite pro dia (e iniciar o processo de transcender é uma delas); mas não acho q devamos ficar tratando os outros como se eles fossem incapazes de refletir e tomar as próprias atitudes; até pq somente o guest poster sabe sobre como ele se sente e sobre as próprias dúvidas.

Enfim garoto, acho q vc está no caminho certo, cerque-se de pessoas que te apoiem e te amem incondicionalmente e não deixe de olhar p dentro de vc, sempre.



Anônimo disse...

@ anônima 17:43

nossa, te entendo super. tenho 27 e dos 13 até os 18 passei por uma fase bem complicada. eu odiava meu cabelo comprido, odiava meus peitos, odiava meu quadril, me recusava a usar saias e vestidos, tinha pânico só em imaginar a possibilidade de estar grávida. secretamente achava que devia ter nascido homem.

daí cortei o cabelo, troquei os sutiãs por tops super restritivos e passei a usar roupas cada vez mais masculinas, ao ponto de ser chamada de 'garoto' por desconhecidos mais de uma vez. mas daí eu ficava braba, porque não me sentia menino. nem menina. naquela época eu não sabia o que existiam transgêneros, quando menos agêneros, não-binários, etc. então só fui me adaptando do jeito que dava, me permitindo fazer o que eu queria, sem pensar muito se era coisa de homem ou coisa de mulher.

depois de uns anos de angústia e muita leitura, posso dizer que tô tranquila com o que sou. o cabelo continua curto (deixei crescer pelos últimos dois anos pra ver se curtia e... nope). sou vidrada em artes marciais; adorava quando fazia muai thay e via meus bíceps crescerem a cada dia (lenda de korra, alguém? meu sonho é aquele tônus muscular, mas e a preguiça?). tenho uma relação cordial com meus peitos e tô prestando mais atenção na sustentação deles, até porque não param de crescer (até quando, deos?). compro as roupas que quero; uso vestidos com renda e regatas com estampa de surfe meio cafonas que não assentam direito nos meus quadris porque não foram feitas pensando em pessoas com o meu tipo de corpo, e tá tudo bem. aprendi que não existe um modelo de feminilidade e foi o suficiente pra mim. ainda acho esquisito me enxergar como mulher, mas cada vez mais me cerco de conteúdo produzido por mulheres e me sinto acolhida, compreendida, contemplada. então, no momento, sou #timedasmeninas, como jamais imaginei que seria.

tá tudo bem, j., vai fazendo o que te der vontade. eu passei meses tentando convencer minha mãe que era ok eu raspar a cabeça e hoje em dia ela acha lindo. e meu pai. e minha vó evangélica. corta teu cabelo. compra uma calça na seção masculina (roupa pra homem tem mais bolsos, né? eu quase choro quando encontro um vestido com bolsos), compra até umas cuecas se te der na telha (só parei de comprar essas porque hoje fazem calcinhas legais que cobrem a bunda e acomodam meu quadril ao mesmo tempo, o elástico da cueca era a morte). entendo como é se sentir presa dentro do seu corpo (uma bosta), e te desejo toda sorte numa possível transição, mas existem coisas que você pode fazer pra amenizar esse sentimento imediatamente. se joga, amigue.

p.

vivian disse...

Interessante e não pude deixar de comparar com minha história de vida.

Eu atualmente rejeito muitos estereótipos femininos, e rejeito especialmente o modo como homens me olham por que eu sou mulher (e uma mulher dentro dos padrões do que se considera bonito). Eu entendo que se eu fosse homem, eu seria olhada como um homem, o que significa ser olhada como um ser humano. Porém, embora eu rejeite esses olhares, eu rejeito OS olhares, e não a mim.

Mas isso sou eu com meus pensamentos de 30 anos. O meu eu com 13/14 anos se vestia como menino, tinha cabelo curto e com meu skate embaixo do braço eu aparentava ser um guri, realmente. Naquela época eu rejeitava o que ser mulher significava na sociedade. Eu me recusava a crescer e ser uma pessoa com tantas limitações, muito mais do que tinha na infância. Eu acabei sendo um menino por algum tempo, mas aquilo me deixou em conflito e acabei "cedendo" as normas de gênero.

Até hoje eu acho roupas de homem lindas. As vezes cedo e compro algo, um tênis ou um casaco. Ainda gosto de andar de skate. Mas até hoje não aceito as condições limitantes que ser mulher acarreta. E isso é uma merda. Eu penso, será por trás desse seu desejo há o desejo de ser tratado como um ser humano apenas, e não mais como uma "mulher'? (Desculpe se a pergunta pode ser ofensiva, eu realmente não tenho conhecimentos sobre pessoas trans).

Eu penso que em um futuro distante poderemos manter nossos longos cabelos sem isso significar ser olhada como uma mulher, e que as normas de gênero vão cair. Até lá, a sociedade ainda vai criar pessoas que não conseguem conviver com suas condições limitantes, e que tentam apenas viver em paz.

Anônimo disse...

haM, a guest está assumindo que até mesmo o cabelo e roupas dela tem que seguir regras porque ela é mulher. Ela está claramente desinformada sobre como gênero afeta a sociedade. O tratamento para a transexualidade na maioria das vezes é irreversível e trás graves problemas de saúde, em especial para homens trans, e o arrependimento de homens trans não é nem um pouco raro (frequentemente a pessoa quer apenas ser tratada como "humana", mas se ela não passar por homem cis, ela será tratada como aberração, e se ela passar, vai sentir a mesma pressão de gênero, mas para outros esteriótipos). Além disso a taxa de suicídio entre trans não diminui depois de eles fazerem cirurgias e tomarem hormônios, continua sendo alta. Não faz sentido apoiar esse tipo de mudança cegamente, principalmente quando os problemas parecem ser muito mais uma questão de gênero do que de sexo biológico.

Anônimo disse...

(cont)
Com o adicional de, caso você passe por cis, o pânico de descobrirem que você era mulher sempre vai te acompanhar, porque você perderia os privilégios de ser homem assim que isso fosse descoberto. Como consequência disso, muitos homens trans tentam fazer uma hiper performance de gênero, e tem crises de ansiedade muito fortes quanto a isso.

Raven Deschain disse...

Olha, fora o boca de preto (como assim moça, só fica bonito pq vc tem olho azul? Qual a conexão?) é bastante problemática a parte em que vc diz que todo e qualquer traço "feminino" vc despreza. Desprezo é muito forte e expansível não? Quero dizer, se eu desprezo meu cabelo cacheado - nope, acho pheeno haha- acabo desprezando qualquer cabelo cacheado do planeta.

Mas claro, se vc se sente menino e tals. Seja, oras. Sempre penso na minha irmã quando vejo posts assim. Ela não é trans (por isso ainda chamamos de ela), mas tb despreza qualquer "mulherzice". Só que no caso dela é misoginia mesmo, do tipo desejar que eu fosse estuprada. Tadinha, sabe de nada, a inocente. Espero que vc não seja assim.

André disse...

Raven,

Acho que você fez uma leitura bem pouco amigável do relato. Pelo que entendi o autor não critica a boca de preto, apenas afirma que um traço que seria considerado feio num preto a sociedade acha bonito nele. Além disso, parece que o desprezo que ele tem pelos traços femininos se restringe ao fato de estarem no corpo dele, tanto que os considera bonitos. Sem falar que esse "Seja, oras." foi bem cruel com uma pessoa que está passando por tantos conflitos.

Priscila disse...

haM, não é à toa que muitas pessoas questionam a transsexualidade de outras. É porque DE FATO muita gente não tem certeza - tanto é que não faltam relatos de pessoas trans que se arrependem e querem destransicionar. É óbvio que cada um é livre para "performar" (existe essa palavra? :p) o gênero que quiser da forma como quiser. Mas todos também são livres para questionar o próprio conceito de "identidade de gênero" como algo separado do sexo. Eu pessoalmente não acredito nisso. Quero mais é que a própria noção de gênero se foda. :-D

Anônimo disse...

André, concordo plenamente com você. O "Seja, oras." foi cruel. Se fosse possível simplesmente ser, oras, a autora não estaria passando por esse conflito tão difícil.

Anônimo disse...

Sou mulher cis e não me identifico com a maioria das coisas ditas femininas que tentam me empurrar goela abaixo.
Não me identifico como homem, mas fico pensando pq eu por ser mulher, tenho que amar rosa, maquiagem, moda, ser delicada, fofa e etc?
Gosto de rosa e acho legal homens com roupas rosa, mas rosa demais me enjoa.
Por ser pequena, miúda, magra, aparentar ser mais nova, quieta na minha e ter voz fina, me taxam de delicada e boba. Perdi a conta de qts vezes tentaram passar a perna em mim por isso e qt gente me acha quietinha.
Bem, sou nervosinha, se me irritam a coisa fede, xingo mt e até porrada se precisar, dou. Gosto de bater aliás, queria praticar esporte de luta. Sou forte, não curto que homens me ajudem a carregar coisas que consigo carregar mt bem, e nem que abrem a porta ou puxem a cadeira pra mim. Tenho braços. Sento em casa e qd tô relaxada, como um "moleque" ou até pior. Qd as pessoas veem esse meu lado, meu eu verdadeiro, se assustam.
Me convidaram a ir num casamento. Falaram que precisava fazer a sobrancelha coisa que nunca fiz pra "limpar"(o que, gente?). Doeu pra caralho e não gostei do resultado. Gosto dela como ela é! Falam que preciso de vez em qd fazer, oi?Entupiram minha cara de kilos e mais kilos de maquiagem. Meu olho é caído e conseguiram levantar.
Me olhei no espelho e choquei. Não me reconheci. Geral me elogiando, falando que eu tava linda e etc, mas aquela não era eu.
Fui usar salto alto coisa que não faço e todos me elogiando, mas meu pé doía.
Um tia machista e chata pra cacete veio perturbar tirando mil fotos da minha cara "falsa" e dizendo que tenho que sempre me produzir pq assim minha beleza aparece, ah? Que sou mt sem gracinha(já me chamaram de caipira até por não gostar de me produzir), que minha beleza fica sumida...mas o que???
Sou hétero, chamo mt a atenção de mts homens estando sem maquiagem(uso só batom) e sem nada. Mts dizem que sou linda e etc. Ou seja, pra que me maquiar, fazer sobrancelha, usar salto se eu como sou me basta?
E antes da aprovação masculina, me curto como sou.

jujis disse...

J., desejo que você tenha uma vida feliz. Falo por experiência própria: às vezes tudo parece caótico demais, mas tendo força para continuar na luta as coisas vão danto certo (momento super auto ajuda neh, mas é oq penso mesmo, hahaha).

Muito obrigada pelo seu relato. Tenho uma amiga que se não for trans tem algum problema sério com a sexualidade, o que tem causado um isolamento muito grande dela em relação aos amigos. Fico super sem saber o que fazer. Alguns falam para que eu pergunte a ela se ela é trans, lésbica ou até assexuada, mas é muito difícil fazer isso. Percebo que ela não está bem, mas não sei se devo abordar o assunto.

Anônimo disse...

Anônimo disse...

Essa questão da inadequação corporal é o que quebra todo o discurso transfóbico das radicais. Corpo não é socialização, é biologia.

20 de janeiro de 2015 14:49


Corpos são influenciados pela socialização patriarcal de gênero e muito frequentemente são transformados por causa dela. Mas já que você prefere ignorar a socialização, só tenho uma coisa a te dizer: NUNCA SERÃO!

Machos são do sexo masculino, jamais serão do sexo feminino, não importa como "se identifiquem" nem quantas cirurgias plásticas eles façam nem o quanto eles apresentem estereótipos "femininos", nunca serão mulheres. Assim como as mulheres, pessoas do sexo feminino, não são do sexo masculino e jamais serão (graças à deusa! :)

Nem auto-declaração, nem vestuário, nem maquiagens, nem cirurgias cosméticas, nem tentar forçar todo mundo a concordar com seus delírios de gênero, nada nesse mundo é capaz de mudar o sexo biológico de alguém. Cirurgias mutiladoras que remodelam genitais (e outras partes do corpo), apenas modificam sua aparência externa, não criam órgãos funcionais.

Mas, de qualquer forma, o sexo de uma pessoa não é identificado apenas por seus genitais ou por outras partes específicas do corpo. Na verdade, o sexo de alguém é atestado por cada célula do seu corpo, pois todas as células do corpo humano têm cromossomos sexuais em seu DNA.

É aí que a biologia quebra todos os devaneios tirânicos individualistas, generistas, superficiais, anti-éticos, anti-feministas e anti-ciência do discurso trans.

Anônimo disse...

Não atoa que radfems são consideradas transfóbicas.

Anônimo disse...

Por que muitos trans não se identificam com o sexo biológico?

Anônimo disse...

J., todo o meu apoio pra ti. Sugiro que você se conheça, passe um tempo sozinho com seu próprio eu sem dar espaço pra pensamentos e preconceitos de outros, e se descubra. Olhe pra você mesmo, se conheça, se goste, se entenda; é assim que gente descobre o caminho a seguir. Tudo de bom pra você. Já pensei que devia ter nascido homem também, mas o que eu detestava mesmo era o """""feminino""""" (muitas aspas mesmo aí), limitante, controlador, repressivo, incômodo, tedioso. De boa, por que o feminino sempre tem que ser definido por um monte de frescuras, limitações e chatices? Acho que não conheço nenhuma mulher que realmente goste desse "feminino". Na minha opinião o melhor mesmo é acabar com essas definições de gênero idiotas. Cada um deve ser como é e ponto. Todos seriam mais felizes.

Anônimo disse...

Se OUSAR QUESTIONAR esse conceito altamente mal-explicado de "identidade de gênero" é transfobia, então prazer, transfóbica. :)

Anônimo disse...

Uma coisa é questionar e outra é jogar na cara da pessoa a maneira como ela se sente, se vê e se identifica nada significam porque há apenas a biologia no meio.

Anônimo disse...

"Por que muitos trans não se identificam com o sexo biológico?"

Sexo biológico não é questão de identificação, é uma realidade material!

E não é uma coisa que possa ser mudada, encarem os fatos.

O desprezo e a rejeição ao próprio corpo por parte das pessoas denominadas trans, assim como acontece com a maioria das mulheres, é mais uma consequência das imposições misóginas de gênero da nossa sociedade patriarcal, que dita que as mulheres devem ser "frágeis", "belas", delicadas, submissas, cuidadoras, que sua existência é subordinada à dos homens e que as mulheres devem colocar os homens em primeiro lugar e ser aprazíveis para eles, que devem se preocupar excessivamente com a própria aparência e precisam se submeter aos mais diversos processos "embelezadores" e "purificadores", pois seu corpo é considerado errado, sujo e incompleto. O que a ideologia trans faz é manter intactas mais uma vez as imposições e hierarquias de gênero da supremacia masculina, pois diz que as pessoas que não se conformam às normas e papéis de gênero prescritas para o seu sexo pelo patriarcado, nasceram no corpo errado e precisam modificá-lo para adequar sua aparência à do outro gênero.

Contrariamente ao feminismo, que luta contra o patriarcado e suas mentiras, distorções e enganações que afirmam todos os dias que as mulheres são inferiores, fracas e devem ser submissas e subordinadas aos homens e que os homens são superiores, fortes e devem dominar as mulheres e controlar o mundo; a ideologia trans é mais uma forma de controle social patriarcal, pois surgiu para manter a estrutura hierárquica da supremacia masculina intacta e apenas substituir uma prisão de gênero pela outra, se você não se conforma às normas e expectativas de gênero. Por que uma mulher não pode ter características ditas "masculinas" e fazer coisas "de homem" sem ter que ser considerada um homem ou ser hostilizada por isso? Por que um homem não pode ter características "femininas" e fazer coisas "de mulher" sem ter que ser considerado uma mulher ou ser hostilizado por isso? Por que devemos conformar nossas mentes e modificar violentamente nossos corpos na tentativa artificial, fútil e inútil de tentar ser o que não somos, ao invés de aceitar quem realmente somos e buscar modificar uma realidade social opressora, repressora, baseada em mentiras, deturpações e na negação dos fatos em favor da satisfação do ego daqueles que não aguentam encará-los e desejam manter essa realidade falsa?

Anônimo disse...

Acho que mulheres trans não existem de acordo com o comentário a cima.

Anônimo disse...

Mulheres trans não existem... buá buá buá buá buá e agora? Eu não sou como a maioria dos homens, eu não me sinto como os outros homens, os homens não me representam, eu não gosto de ser homem... então eu não posso ser um homem, pois ser homem deveria ser a coisa mais maravilhosa do mundo e eu deveria gostar disso e ser como os outros homens se eu fosse um! Eu também não posso ser mulher e agora o que eu sou? Buá buá buá buá buá buá...

Anônimo disse...

É claro, ninguém tem a menor ideia do que quer, do que deseja ou do que sente. É impressionante que em uma sociedade tão artificializada ainda tenha gente que acha que biologia deve determinar quem você é ou deixa de ser.
O mais hipócrita é que é justamente essa ideologia que pretende "destruir papéis de gênero" que propõe a segregação via "sexo biológico".

Raven Deschain disse...

Se foi cruel, me desculpe, uai. Mas no fim das contas não passa disso: seja, oras. Se vai ficar ligando pra opinião da família, do vizinho, do tio do cachorro quente, quem vai ser infeliz é ela/e. E se fiz uma leitura desfavorável é pq ela não soube se expressar não? Não consigo ver "traço de preto" e desprezo como coisas auto infligidas somente. É impossível achar minha bunda grande um nojo mas achar a bunda grande de uma panicat, linda. É incoerente.

Anônimo disse...

Hipócrita é reforçar papéis de gênero e chamar isso de feminismo.

Anônimo disse...

Ninguém tá dizendo que os sentimentos da pessoa não significam nada. Isso não me obriga a levar a sério tudo que a pessoa diz.

Anônimo disse...

@Vivian
"Eu entendo que se eu fosse homem, eu seria olhada como um homem, o que significa ser olhada como um ser humano."

Desculpe-me dizer isso, mas eu discordo disso. Para um homem ser olhado como ser humano, não basta ser homem: tem de ser branco, cis, hétero, cristão e, sobretudo, bem de vida (financeiramente). E precisa também "caber" dentro da men box, o que é bem complicado.

Não sou mulher e, apesar de saber que existe uma "women box" à qual as mulheres são forçadas a se encaixar, não sei muito bem o quão grande é a pressão e o quão desumanizante é isso. Apenas posso imaginar pelos relatos que recebo.

Mas posso garantir que até mesmo homens passam por uma espécie de "processo de objetificação", embora esse nada tenha a ver com a objetificação que as mulheres passam. É que os papeis masculinos são muito mais importantes para o homem do que a pessoa.

E há várias expressões humanas que são negadas para homens (cis), principalmente as sentimentais. É quase como se o cara fosse, na verdade, um robô e não uma pessoa. Um robô cuja obrigação é ser bem-sucedido.

Anônimo disse...

De verdade? o vitimismo rad me dá úlcera. Tem que ter uma auto-imagem muito cagada para achar que transsexuais tem poder cultural e político suficiente para interferir na vida delas. Ou mesmo que a sociedade patriarcal recebe melhor um transsexual do que um/a cissexual sem estereotipia de gênero.
Elas dizem que nós mulheres vivemos em amarras sociais onde a liberdade é impossível, mas eu acho que são elas que vivem entre o paredão e o precipício, sem saída dentro da paranoia narrativa em que se trancafiaram.

Anônimo disse...

...E a teoria da interseccionalidade chega para o resgate!

Homens de todas as cores, classes, credos, gêneros e sexualidades aplaudem entusiasticamente em gratidão ;-)

Anônimo disse...

Anon 17:45

você não faz nem ideia do que tá falando não é? ou é só muita desonestidade intelectual mesmo? vitimismo feminista? "cissexual sem estereotipia de gênero"? que porcaria é essa que você tá falando, meu? aposto que não tem a menor ideia da onde surgiu essa classificação trans e nunca viu nada sobre a história da criação da transexualidade, só pra começo de conversa, não é?

Anônimo disse...

Vai lá ver o post da Lola sobre o mascu Chris e suas teorias mirabolantes sobre travestis serem "melhores" que mulheres e volta a vir falar em privilégio de mulher cis...

Anônimo disse...

Homens de todos os gêneros? Pensei que homem era gênero... Oh, wait.

Anônimo disse...

Mulher é uma humana adulta do sexo feminino. Homem é um humano adulto do sexo masculino. Acorda pra vida!

Sexo não é gênero.

Sexo importa.

Deal with it!

Anônimo disse...

Anônimo disse...

Autora do post: transite. Se tu não transitar, vai acabar que nem essas rads. Um bando de recalcada. Toma lá tua testosterona viril, suplementos viris, faça sua musculação viril e seja feliz.

21 de janeiro de 2015 20:30

Que irresponsável, sem ética e sem caráter. Não consegue se segurar né, tem que externalizar a machice. De um jeito ou de outro a escrotidão transborda. Mascus gonna mascuzar, always! Patético.

pp disse...

Anônimo das 17:37, sou mulher e concordo com essas pressões que vc disse que os homens sentem. Realmente elas existem. O feminismo também propõe que esse papel do homem provedor seja deixado para trás.

vivian disse...

Oi @anônimo17:37

A caixinha dos gênero é engessada para ambos. Concordo com a limitação que os homens tem ao cumprir seus papel de gênero. São limitações diferentes das mulheres, mas existem também.

Vou tentar explicar pra ti o que é ser olhada como um ser humano. Mulheres são avaliadas pelos homens como disponíveis para sexo ou não. A maioria dos homens nos olha e trata como algo que eles querem ou não comer. Se eles querem, vão nos olhar com jeito nojento, de cima a baixo, vão se insinuar (não interessa o que nós pensemos, eles se expressam de qq forma). Se eles não querem, a mulher em questão não serve pra nada. E isso é ser vista como mulher, e não como um ser humano.
Esse jogo nojento afeta TODAS as interações entre homens e mulheres. Na família, na rua, no ambiente de trabalho, com fornecedores ou parcerias comerciais. Tente imaginar como é um dia a dia típico de uma mulher, avaliada sem cessar - e sem previsão de término.

Muitas mulheres não pensam nisso ou não percebem. E eu bem que gostaria de estar no lugar delas. É MUITO nojento.

Anônimo disse...

Feministas não costumam chamar a colega de "recalcada". Só posso concluir que tu é troll.

Anônimo disse...

Talvez te interesse: http://lettherebedoodles.tumblr.com/

É um tumblr que lida com androginia, troca de gênero, com humor e arte. Vale a pena.

Anônimo disse...

Autora, vou ser franca contigo:

Se tu aponta evidencias antropológicas da transexualidade, as rads dirão que é pós modernismo nonsense.
Se tu aponta evidências científicas, elas dirão que é ciência patriarcal.
Elas passam o dia reclamando de serem mulheres, e a noite inventando que testosterona causa mil doenças. Essas pessoas, minha cara, são infelizes, e se for na onda delas, será infeliz também, pois é isso que pessoas frustradas querem: Frustrar os outros.

Toma tua testosterona, deixa seu cabelinho másculo e faz uns esportes. Mesmo que se arrependa(o que é lenda), ainda é melhor que ficar atrás do PC destilando inveja e se tornando um gordo granudo sem testosterona e dizendo que isso é "ser gente".

Anônimo disse...

Mais alguma dúvida que isso aí em cima é um mascu troll nojento e patético?

Anônimo disse...

Um mascutroll nojento e patético atrás de um PC destilando inveja e achando que é "gente"... :-D

Trícia disse...

Corta o cabelo bem curtinho: é libertador! É uma delícia! O meu é aquele franjão na frente e atrás mega curto; eu que sou feia me sinto linda, vc, que é lindo vai se sentir deslumbrante! Enquanto vc falava eu me lembrei de um ensaio fotográfico da Tilda Swinton (AMO!) como David Bowie (AMO!), vc já viu? E vá aos poucos diminuindo as peças femininas, gradativamente! Seja paciente consigo mesmo! Afável, carinhoso! É um processo, né? Vai com serenidade! Sem recuar, mas, um passo de cada vez! Um perfume masculino hoje, um calçado mais neutro amanhã, e por aí vai. Se dê isso! Boa sorte, beautiful! Torcendo por você!

Anônimo disse...

ser homem é um pesadelo não sei como alguem pode querer levar essa vida,eu odeio cada centimetro do meu corpo a cada pelo que cresce me da vontade de chorar e as pessoas me ignoram, sim fingem que eu não existo, por mais que eu tente eu não consigo me sentir bem interagindo com o mundo, ter nascido no corpo de homem só me trouxe problemas e ter que ouvir xingamentos todos os dias da minha infancia foi extremamente traumatico, até hoje as pessoas percebem que eu sou diferente que não sou um MACHÃO a moda antiga, queria ter nascido mulher pra não ter que cumprir com essas convenções sociais ridiculas que são impostas a mim todos os dias

Ass:Penelope

Renata disse...

"Se OUSAR QUESTIONAR esse conceito altamente mal-explicado de "identidade de gênero" é transfobia, então prazer, transfóbica. :)" 2