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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

PALMITEIROS? ASSIM NÃO

Diversos comentários interessantes no post em que perguntei sobre a eficácia de ativistas que "cagam regras", como algumas negras que criaram o termo "palmiteiros" para condenar negros que se relacionam com brancas. 
Por outro lado, a discussão está ligada a um tema muito mais sério, a solidão da mulher negra, também um assunto polêmico.

"A Lola tá certa sim de citar esse exagero do movimento negro radical de chamar de 'palmiteiro'. Tá ficando ridículo! E a justificativa que dão pra isso é a solidão da mulher negra!
Ou seja, estão justificando os relacionamentos afrocentrados (!) por causa da solidão da mulher negra. Um cara negro que namora uma mulher branca/ asiática etc é esculachado nesses movimentos, dizem que ele tá contribuindo com a 'solidão da mulher negra' e que ele deveria namorar uma negra em vez da branca. 
Tive a infelicidade de ler numa página ridícula uma guria dizendo que a namorada branca de um cara negro, que tava grávida dele, era 'ventre sujo' e que o cara tava traindo sua raça! CHEGA DE RADICALISMO! Esse movimento, desse jeito, tá perdendo a credibilidade. Essas páginas radicais estão com o mesmo discurso de segregacionistas!
Uma pergunta sincera para negras daqui: se a solidão da mulher negra existe, como acabar com ela sem cair no segregacionismo? Pergunta sincera mesmo (porque as páginas do movimento negro e feministas do Face tão de dar nojo)" (B.)

"B.: Para mim, a solidão da mulher negra perpassa pelo empoderamento e desconstrução de estereótipos. 
A meu ver, a solidão da mulher negra se dá por critérios históricos, nos quais as negras eram relegadas ao trabalho escravo ou à condição de escrava sexual/ amante/ concubina de homens brancos. Com isso, surge a cultura da mulata tentação e que ela só serve para ser sexual. Então, destruir esse estereótipo de mulher negra sexualizada e/ou que só serve para ser doméstica seria um deles. 
Pensa só como foi o papel da mulher no começo do nosso país, como os homens colonos que detinham o poder faziam filhos nas negras e índias e como esses filhos eram párias na sociedade (e daí a gente pensa também no estigma da mãe solteira).
A questão 2 passa pela desconstrução de mulher como objeto. Aí que o machismo e racismo andam de mãos dadas. O homem entende a mulher como objeto, sendo a mulher branca o objeto cobiçado, um passaporte para ser tolerado entre os brancos. É por isso que vemos muito homens negros com dinheiro (pense em jogadores de futebol) ao lado de mulheres brancas. Elas representam status social para eles, algo que as negras não proporcionam.
Quando acabarmos com essa mania de atrelar aparência à status, estaremos tratando mulheres como seres dignos e não como ferramentas de promoção social. Do outro lado, tentar limar a cultura de subvalorização do negro também implica em redefinição em ser negro como algo bom, em vez de ser uma coisa ruim e como uma herança maldita. Acabando com a desigualdade de gênero e raça, ninguém vai apontar o dedo para o outro e se meter em quem ele deve ou não se relacionar." (Mila)


"Lola, copio aqui uma postagem que fiz no meu facebook em setembro, sobre esse lance do ‘palmiteiro’ e logo abaixo, um comentário que dei em resposta a um amigo.
Acho que resume bem minha opinião sobre o assunto.
'Essa semana descobri que existem as tais páginas e grupos que criticam homens negros que se envolvem com mulheres brancas. Palmiteiros. 
Ok. Aceito e entendo que gosto é construção social, que a solidão da mulher negra existe SIM (SOU NEGRA E VIVO ISSO) e que tem um monte de preconceito, em diversas nuances. Mas não concordo, e nunca vou concordar, com essa ‘caça às bruxas’ que fazem com o assunto. Criar memes, fazer piadas, zoar... não concordo.
Meu pai, negão, segundo essa regra, foi palmiteiro. Casou com minha mãe, branca. Por mais que gosto seja construção social, viver quase 30 anos do lado de alguém não é ‘querer ascender racialmente’. Limpar a bunda de uma pessoa doente, dar banho, cuidar, alimentar... estar lá, para uma pessoa que está morrendo, não é construção social. É amor.
Então desculpa, sou negra e vc não vai me ver metendo o bedelho na relação alheia, querendo tachar o que é amor e o que não é. Acredito que existe uma distância muito grande entre tomar consciência de certas coisas e meter o bedelho nos relacionamentos alheios. (...)
Eu sei que amor tem cor, tem raça, tem mulher pra casar, tem mulher pra trepar, tem travesti que vai passar a vida sozinha porque ninguém quer assumir. Existem mil problemas. MAS acredito que essa militância, essas críticas exacerbadas, esse discurso ditatorial (porque não deixa de ser) enfraquece QUALQUER modo de lidar com isso. Que esse não é o caminho pelo qual isso vai ser debatido, trabalhado e, exponencialmente (um dia, espero) superado.
Para mim, a mesma linha de pensamento que proibia os casamentos de negros e brancos antigamente, sustenta essa vibe palmiteiro. Acho uma forma tão deturpada de tratar um problema. Me dá nos nervos.” (Mona)

"Só lendo os ótimos comentários sobre a solidão da mulher negra, obrigada gente, aprendo muito com vocês. 
E penso que concordo com a B. e a Mila e a Mona, há muito de político no gosto estético, portanto temos sim que debater os porquê do amor, dos gostos, das subjetividades. 
Sobre abordagens e táticas de sensibilização, eu penso que infelizmente nós somos uma sociedade autoritária para caramba, e isso reflete inclusive nas práticas de diálogo sobre direitos e práticas de vida. 
Pessoalmente sou muito reativa a qualquer tipo de discurso agressivo (hoje, há anos na terapia, entendi que isso é fruto da minha história com violência psicológica), fico possessa de raiva com quem escolhe ofender os demais para chocar. 
Todavia, sendo um dedinho mais madura, percebo hoje que nem toda 'provocação' é inútil. Às vezes uns bons petelecos morais são necessários para criar a necessidade de reflexão. Nunca será o meu meio de debate (a menos que eu seja muito provocada, por que né? Santa não sou, nem quero ser), mas tô tentando ser tolerante. 
Até porque, se eu aprendo com meus erros quando faço política, por que não os outros? 
Quanto mais diálogo entre aquelas que discordam, quero acreditar, melhor fica a interação entre quem fala e debate." (Márcia)

"Curioso que quem caga regra geralmente reproduz o discurso do opressor, se passa por ridículo e nem se dá conta do que tá fazendo? Tipo lésbica dizendo: 'mulher minha não sai de saia curta!' Dá vontade de gritar 'Mas você é mulher, MULHER! Pare de reproduzir esse discurso machista!'
Quando eu era mais nova minha mãe dizia que eu era um pouco racista também, por nunca ter paquerado ou namorado com meninos negros. Me peguei pensando nisso que ela disse essa semana e percebi que isso se deu por eu ser uma negra privilegiada! Estudei em bons colégios, entrei na faculdade cedo, e até o segundo ano, quando chegou uma intercambista africana na minha turma de jornalismo, eu era A ÚNICA NEGRA DA TURMA. Bem... assim realmente ficava difícil escolher um namorado ou um paquera negro." (Jan)

"Este assunto da solidão da mulher negra é espinhoso para alguns setores do movimento negro (os que defendem relacionamentos afro centrados e os moderados, que se revoltam com o racismo no caso de relacionamentos). Até com algumas feministas negras já tive experiência desse assunto ser classificado como mimimi de mulher negra de classe média que tá chorando por não ter namorado branco como as amigas.
Como eu disse, a minha maior crítica a isso é que não se pensa da perspectiva feminista, que é o de desconstruir a objetificação feminina da mulher referendando o status do homem. 
Eu, que sou mestiça, me sinto pessoalmente ofendida com afrocentrismo. Mestiços costumam estar no limbo em divergências entre raças, é como se fôssemos culpados por isso." (Mila)

segunda-feira, 25 de maio de 2015

EU, MAIS OU MENOS BRANCA

Terça retrasada no final da tarde voltei de uma linda mesa sobre opressões e escrevi um simples tuíte:
Exemplo de reaça
Pouco tempo depois, montes de reaças no Twitter (esses são fiéis, acompanham tudo que escrevo, apesar de estarem bloqueados) passaram a ridicularizar o que eu havia dito. Mas, né, dane-se o que reaças falam e pensam. Só que algumas horas depois várias feministas negras (eu não conhecia a maioria que apareceu, nem elas me seguiam no Twitter) também passaram a zombar do que eu havia escrito. Pior: estavam furiosas.
As perguntas que elas faziam entre elas, não para mim, eram do tipo: Como assim, a Lola se identificar negra? Ela não é argentina? Ela não é judia? Ela não tem olhos azuis? Ela não tem cabelo liso? 
(As respostas seriam, respectivamente, sim, não, não -– meus olhos são verdes -–, e não, mas não entendi por que qualquer uma dessas características seria incompatível com alguém ser negro).
Pelo menos duas moças foram ainda mais longe: uma disse que queria me dar uma chinelada na boca por eu haver escrito aquele tuíte, outra, “tremendo de raiva”, disse que torcia para não cruzar comigo novamente na rua ou na universidade, porque sua vontade era de "meter uma mãozada nas fuça dela".
Não compreendo essa violência. Por que querer me bater? Por uma mulher negra (a moderadora da mesa) ter me identificado como negra? Por eu ter ficado feliz com isso? Ou por eu querer escrever sobre o assunto no meu próprio blog?
No meu tuíte eu sequer me identifiquei como negra. Disse apenas que fui identificada como uma, e que fiquei feliz. Por que não ficaria? Deveria ficar envergonhada? Deveria ter interrompido e corrigido aquela mulher negra, a moderadora da mesa, quando ela disse com orgulho, no fechamento do simpósio, de que havia lá três mulheres negras? Se eu tivesse feito isso, aí sim é que seria racismo, a meu ver.
Fui perguntar pra ela depois: “Você me identificou como negra?” E ela respondeu que sim. 
Eu na Casa TPM, em 2013
Ela disse que o fato de eu prender meu cabelo e que a melanina debaixo dos meus olhos dava a entender que eu era negra. Eu não entendi direito, confesso (brancos não têm olheiras? E ultimamente venho prendendo o cabelo porque a menopausa deve estar se aproximando e eu morro de calor). Conversamos um pouco, e eu disse que não me via como negra, mas também não me via como branca. E que já fazia tempo que eu queria escrever sobre essa minha identidade.
Toda a minha vida, eu me identifiquei como branca. E, pelo que sei, fui identificada como branca também, já que nunca sofri racismo. Mas aí comecei o blog, e vieram várias reflexões. Em primeiro lugar, eu também havia comprado aquela ideia de que na Argentina não havia negros. E não é verdade
Uma mulher que se identifica como
afro-argentina
Argentina também teve escravos negros. No tempo da colônia, um terço da população era negra. Mas esse povo foi dizimado  em guerras e epidemias de febre amarela. Enquanto os negros sumiam, os imigrantes europeus (brancos) desembarcavam. Nos anos 1920, mais da metade dos habitantes de Buenos Aires era formada por estrangeiros (meus avós ucranianos entre eles). Hoje, pouquíssimos argentinos se identificam como negros. Em 2013 foi criado um dia nacional do afro-argentino justamente para que mais gente possa ter orgulho de se reconhecer como tal. 
A linda que fez o meu cartaz e eu em
João Pessoa, 2013
Segundo que, com o blog, eu me tornei uma pessoa mais pública, mais ou menos conhecida dentro do mundinho na internet. E vi que montes de pessoas cismavam com meu cabelo. Pra elas, eu não ter cabelo liso era sinônimo de desleixo, feiura e falta de higiene. Dezenas de vezes me mandaram alisar e pentear o cabelo (como se, poder ser cacheado, estivesse despenteado). Antes disso, eu nunca tinha tido qualquer problema com meu cabelo. Gosto dele!
Daí passei a perceber que muitos dos meus inimigos não me identificavam como branca (já li que só superherói tem inimigos, mas, sei lá, eu já tive que fazer quatro boletins de ocorrência contra misóginos que me ameaçam e me difamam, então sim, eu tenho inimigos). Num fórum mascu que também é neonazista, eu sou às vezes chamada de macaca, e sempre de parda. 
Mestiço, tela de Portinari
E desde que comecei a palestrar (sobre gênero), tenho percebido minha relutância em me ver como branca. Aliás, até antes. Em várias crônicas de cinema, se eu tenho que falar da minha cor, está sempre lá: “mais ou menos branca”. Nas palestras, eu uso o exemplo da raça pra dizer por que os homens não podem ser protagonistas no feminismo: “Seria como se eu, que sou mais ou menos branca, quisesse liderar o movimento negro”. Eu não conseguia dizer “sou branca”.  Sempre saía assim, “mais ou menos branca”.
Minha mãe e meu pai na década de 80
Em pelo menos uma dessas palestras, cerca de um ano atrás, em Curitiba, uma senhora, negra, veio falar comigo depois pra dizer que, com esse cabelo, com essa minha cor, já estava na hora de eu repensar minha identidade racial. Naquele dia eu dei duas palestras em Curitiba e, depois da segunda, saí pra jantar com os alunos da UFPR que haviam organizado o evento, todos uns amores, super politizados, um papo excelente. 
Eu em Campina Grande, PB, 2013,
posando com leitoras queridas
Contei pra eles o que a mulher negra havia me dito, falei das minhas inquietações. Disse que, quando estive na Paraíba, depois de três dias de praia, eu havia “mudado de cor”. Essa foto, ao lado de mulheres brancas, pra mim é incrível. Eu não estou branca! Um dos estudantes que estava lá era negro, e perguntei pra ele se ele achava que eu deveria me identificar como  parda. Ele respondeu, com muito entusiasmo: “Claro!” A visão dele era que quanto mais gente se assumisse preta e parda, melhor pra luta. 
Ronaldo Fenômeno se declarou branco
em 2005
Aconteceram vários outros incidentes, e não vou narrar todos, porque o texto já está gigantesco. Mas, assim, quando fui renovar minha carteira de identidade, em fevereiro, aqui em Fortaleza, eu vi que a funcionária colocou para minha raça -– parda. Isso não vai na carteira, e creio que não é perguntado. Mas num dos itens os responsáveis têm que colocar a raça, e eu fui vista como parda. Só que, uns quarenta dias depois, quando fui depor numa delegacia, a escrivã escreveu branca pra mim. 
Minha mãe e eu no último natal
Fui conversar com minha mãe sobre isso. Sei que na família do meu pai são todos brancos. Meus avós, ucranianos, judeus, migraram da Ucrânia para a Argentina antes da primeira guerra. Mas da parte da minha mãe, eu não sei nada. Nunca conheci os pais dela, a irmã, nada. Nunca vi fotos. Minha mãe sempre foi muito misteriosa nesse sentido. Perguntei pra ela se havia algum antepassado negro na nossa família. Ela disse que não -– “Índios sim, negros não”.
Em março, dividi um quarto com uma blogueira negra bem conhecida e querida. Não vou citar o nome porque não quero envolvê-la na confusão. Não sei como começamos a falar sobre o assunto, mas ela disse que quando ela está de turbante ninguém duvida da sua negritude. Porém, quando ela está com o cabelão (lindo) dela, sempre vem gente dizer que ela não é negra, que a pele dela é clara. E ela concorda que, por não tomar quase nada de sol, fica com a pele descolorida mesmo. Mas o pai dela é negro. 
Até um tempo ela se identificava como mulata (hoje essa é uma palavra não aceita, pois vem de mula), depois como parda (mas muita gente do movimento negro defende que a pessoa parda deve se identificar como negra, que “parda” é um agrado ao mito da democracia racial). 
Aliás, um parênteses aqui, mais um: já participei de várias mesas em que havia um ou mais representante LGBT, um ou mais representante negro, e uma ou mais feminista. E quase sempre tem um momento em que a pessoa negra conta a história de quando “percebeu” que era negra, e não morena ou bronzeada ou mestiça. De quando se assumiu negra como identidade política, de luta, de combate às opressões. De quando passou a ter orgulho de ser negra. Essa é uma narrativa que nos aproxima bastante, porque feministas de toda cor também falam de quando se descobriram feministas. 
Mas voltando a essa feminista negra com quem dividi um quarto: no meio do nosso papo ela disse que nunca me viu como branca, principalmente por causa do meu cabelo. A dica que ela dava a qualquer pessoa que quisesse se identificar negra era: saiba se você tem antepassado(s) negro(s) na família antes e quais são.
Meus avós ucranianos com
minhas tias no colo em
1922, antes do meu pai nascer
Eu acho que não tenho. Mas só ter parentesco negro pode não ser suficiente. Mês passado, no curso de extensão sobre gênero, literatura e cinema, pedi pra turma ler um artigo da Sandra Azêredo, "O que é mesmo uma perspectiva feminista de gênero?". Ela narra que, no início da década de 80, quando foi fazer doutorado na Califórnia, explicou pra sua orientadora (a festejada Donna Haraway) que, no Brasil, há preconceito de classe, não de raça. Naquela época, Sandra ainda acreditava nesse mito. Mas passou a refletir sobre sua vida, e lembrou-se que, quando era criança, alguns colegas confundiram sua mãe parda com uma empregada doméstica. 
Em 2009 uma estudante (à esquerda) se
declarou parda e entrou na UFSM por
cotas. Uma comissão tirou-lhe a vaga,
pois não viu a aluna como parda
O artigo gerou uma discussão riquíssima na classe. Dois rapazes disseram que sabem que têm a pele escura, e por isso gostariam de se identificar como negros, mas têm o cabelo liso de índio e nenhum outro fenótipo negro. Portanto, sentiriam-se mal se entrassem no movimento negro, porque não gostariam de “roubar protagonismo”. E eles não estão sozinhos. Esses dias vi um comentário parecido numa rede social:

Neymar, numa entrevista aos 18
anos, disse que não era preto
É complicado determinar quem é negro e quem não é. Negro é quem a polícia vê como negro? Negro é quem é vigiado ao entrar numa loja? Quanto mais escuro, maior a discriminação e o preconceito contra essa pessoa, isso sabemos (é o que se chama de colorismo). Mas no caso desses meus dois alunos, quem decide se eles são negros? (eles mesmos, certo? Já que no Brasil a raça é autodeclarada).
Para muitos, o ex-presidente Lula é
mestiço ou não branco
Voltando a mim, que este post quilométrico é todinho sobre mim, sobre uma problematização minha da minha identidade: aquele mero tuíte da semana retrasada gerou uma revolta e tanto. E até agora não entendi o porquê. Não tenho o menor interesse em ocupar um espaço que não me pertence. Se nunca quis o protagonismo no feminismo, vou querer muito menos no movimento negro. Além do mais, identidade tem muito a ver com um sentimento de pertencimento. E obviamente não foi isso que senti como resultado do meu tuíte. 
Fui chamada até de racista por ter ficado feliz por uma negra ter me identificado como negra! Evidente que ser identificada como negra não faz de mim negra, assim como ser chamada de racista não faz de mim racista. Eu sempre lutei pelo fim de todos os preconceitos, pois considero que o combate ao racismo não cabe apenas aos negros, mas a todos (tal e qual o combate ao machismo e à homofobia é um dever de toda a sociedade, não só de mulheres e LGBTs).
Minha identidade racial agora é uma que eu percebi que venho adotando faz tempo: mais ou menos branca. Talvez um dia, quando ninguém estiver olhando (no Censo do IBGE, por exemplo, ou quando eu não tiver mais blog), eu seja realmente audaz e me diga mais ou menos preta.