Diversos comentários interessantes no post em que perguntei sobre a eficácia de ativistas que "cagam regras", como algumas negras que criaram o termo "palmiteiros" para condenar negros que se relacionam com brancas.
Por outro lado, a discussão está ligada a um tema muito mais sério, a solidão da mulher negra, também um assunto polêmico.
Por outro lado, a discussão está ligada a um tema muito mais sério, a solidão da mulher negra, também um assunto polêmico.
"A Lola tá certa sim de citar esse exagero do movimento negro radical de chamar de 'palmiteiro'. Tá ficando ridículo! E a justificativa que dão pra isso é a solidão da mulher negra!
Ou seja, estão justificando os relacionamentos afrocentrados (!) por causa da solidão da mulher negra. Um cara negro que namora uma mulher branca/ asiática etc é esculachado nesses movimentos, dizem que ele tá contribuindo com a 'solidão da mulher negra' e que ele deveria namorar uma negra em vez da branca.
Tive a infelicidade de ler numa página ridícula uma guria dizendo que a namorada branca de um cara negro, que tava grávida dele, era 'ventre sujo' e que o cara tava traindo sua raça! CHEGA DE RADICALISMO! Esse movimento, desse jeito, tá perdendo a credibilidade. Essas páginas radicais estão com o mesmo discurso de segregacionistas!
Tive a infelicidade de ler numa página ridícula uma guria dizendo que a namorada branca de um cara negro, que tava grávida dele, era 'ventre sujo' e que o cara tava traindo sua raça! CHEGA DE RADICALISMO! Esse movimento, desse jeito, tá perdendo a credibilidade. Essas páginas radicais estão com o mesmo discurso de segregacionistas!
Uma pergunta sincera para negras daqui: se a solidão da mulher negra existe, como acabar com ela sem cair no segregacionismo? Pergunta sincera mesmo (porque as páginas do movimento negro e feministas do Face tão de dar nojo)" (B.)
"B.: Para mim, a solidão da mulher negra perpassa pelo empoderamento e desconstrução de estereótipos.
A meu ver, a solidão da mulher negra se dá por critérios históricos, nos quais as negras eram relegadas ao trabalho escravo ou à condição de escrava sexual/ amante/ concubina de homens brancos. Com isso, surge a cultura da mulata tentação e que ela só serve para ser sexual. Então, destruir esse estereótipo de mulher negra sexualizada e/ou que só serve para ser doméstica seria um deles.
Pensa só como foi o papel da mulher no começo do nosso país, como os homens colonos que detinham o poder faziam filhos nas negras e índias e como esses filhos eram párias na sociedade (e daí a gente pensa também no estigma da mãe solteira).
Pensa só como foi o papel da mulher no começo do nosso país, como os homens colonos que detinham o poder faziam filhos nas negras e índias e como esses filhos eram párias na sociedade (e daí a gente pensa também no estigma da mãe solteira).
A questão 2 passa pela desconstrução de mulher como objeto. Aí que o machismo e racismo andam de mãos dadas. O homem entende a mulher como objeto, sendo a mulher branca o objeto cobiçado, um passaporte para ser tolerado entre os brancos. É por isso que vemos muito homens negros com dinheiro (pense em jogadores de futebol) ao lado de mulheres brancas. Elas representam status social para eles, algo que as negras não proporcionam.
Quando acabarmos com essa mania de atrelar aparência à status, estaremos tratando mulheres como seres dignos e não como ferramentas de promoção social. Do outro lado, tentar limar a cultura de subvalorização do negro também implica em redefinição em ser negro como algo bom, em vez de ser uma coisa ruim e como uma herança maldita. Acabando com a desigualdade de gênero e raça, ninguém vai apontar o dedo para o outro e se meter em quem ele deve ou não se relacionar." (Mila)
"Lola, copio aqui uma postagem que fiz no meu facebook em setembro, sobre esse lance do ‘palmiteiro’ e logo abaixo, um comentário que dei em resposta a um amigo.
Acho que resume bem minha opinião sobre o assunto.
'Essa semana descobri que existem as tais páginas e grupos que criticam homens negros que se envolvem com mulheres brancas. Palmiteiros.
Ok. Aceito e entendo que gosto é construção social, que a solidão da mulher negra existe SIM (SOU NEGRA E VIVO ISSO) e que tem um monte de preconceito, em diversas nuances. Mas não concordo, e nunca vou concordar, com essa ‘caça às bruxas’ que fazem com o assunto. Criar memes, fazer piadas, zoar... não concordo.
Meu pai, negão, segundo essa regra, foi palmiteiro. Casou com minha mãe, branca. Por mais que gosto seja construção social, viver quase 30 anos do lado de alguém não é ‘querer ascender racialmente’. Limpar a bunda de uma pessoa doente, dar banho, cuidar, alimentar... estar lá, para uma pessoa que está morrendo, não é construção social. É amor.
Então desculpa, sou negra e vc não vai me ver metendo o bedelho na relação alheia, querendo tachar o que é amor e o que não é. Acredito que existe uma distância muito grande entre tomar consciência de certas coisas e meter o bedelho nos relacionamentos alheios. (...)
Eu sei que amor tem cor, tem raça, tem mulher pra casar, tem mulher pra trepar, tem travesti que vai passar a vida sozinha porque ninguém quer assumir. Existem mil problemas. MAS acredito que essa militância, essas críticas exacerbadas, esse discurso ditatorial (porque não deixa de ser) enfraquece QUALQUER modo de lidar com isso. Que esse não é o caminho pelo qual isso vai ser debatido, trabalhado e, exponencialmente (um dia, espero) superado.
Para mim, a mesma linha de pensamento que proibia os casamentos de negros e brancos antigamente, sustenta essa vibe palmiteiro. Acho uma forma tão deturpada de tratar um problema. Me dá nos nervos.” (Mona)

"Só lendo os ótimos comentários sobre a solidão da mulher negra, obrigada gente, aprendo muito com vocês.
E penso que concordo com a B. e a Mila e a Mona, há muito de político no gosto estético, portanto temos sim que debater os porquê do amor, dos gostos, das subjetividades.
Sobre abordagens e táticas de sensibilização, eu penso que infelizmente nós somos uma sociedade autoritária para caramba, e isso reflete inclusive nas práticas de diálogo sobre direitos e práticas de vida.
Pessoalmente sou muito reativa a qualquer tipo de discurso agressivo (hoje, há anos na terapia, entendi que isso é fruto da minha história com violência psicológica), fico possessa de raiva com quem escolhe ofender os demais para chocar.
Todavia, sendo um dedinho mais madura, percebo hoje que nem toda 'provocação' é inútil. Às vezes uns bons petelecos morais são necessários para criar a necessidade de reflexão. Nunca será o meu meio de debate (a menos que eu seja muito provocada, por que né? Santa não sou, nem quero ser), mas tô tentando ser tolerante.
Até porque, se eu aprendo com meus erros quando faço política, por que não os outros?
Até porque, se eu aprendo com meus erros quando faço política, por que não os outros?
Quanto mais diálogo entre aquelas que discordam, quero acreditar, melhor fica a interação entre quem fala e debate." (Márcia)



Como eu disse, a minha maior crítica a isso é que não se pensa da perspectiva feminista, que é o de desconstruir a objetificação feminina da mulher referendando o status do homem.
Eu, que sou mestiça, me sinto pessoalmente ofendida com afrocentrismo. Mestiços costumam estar no limbo em divergências entre raças, é como se fôssemos culpados por isso." (Mila)