terça-feira, 4 de junho de 2013

GUEST POST: COMPAIXÃO PELAS OUTRAS, NÃO POR MIM

M. é uma leitora muito querida. Eu só fiquei sabendo de tudo isso quando ela comprou meu livro, e me mandou um resumo da sua história. Aí eu pedi pra ela escrever mais.

Há cerca de um mês eu ia escrever um texto sobre minha cirurgia bariátrica. Enquanto eu escrevia o texto comecei a chorar muito. Não sabia como explicar por que eu tinha feito a cirurgia, por que eu era gorda, por que eu passei a vida toda me escondendo atrás de roupas grandes e da comida. Não sabia por que eu não confiava nas pessoas, não sabia por que eu me tratava mal, por que eu achava que qualquer homem só iria querer ter comigo uma noite apenas, e por que eu me submetia a isso. E enquanto eu escrevia, e tudo isso passava pela minha cabeça, depois de chorar muito tomei coragem e perguntei pra minha mãe: por que a gente não contou pra polícia?
Com 11 anos eu sofri abuso. Um amigo da família, de "confiança", às vezes dormia lá em casa. A gente morava num lugar isolado, então quando ele ia visitar, ficava por lá, mesmo. Mas à noite entrava no meu quarto e passava a mão em mim. Isso durou uns três meses. Era horrível, eu demorava a entender o que estava acontecendo, mas tinha medo de gritar, de fazer qualquer coisa, achava que a culpa era minha. Achava que eu estava provocando esse comportamento. Achava que ninguém iria acreditar em mim ou ficar do meu lado.
Uma vez, um ano antes, eu ouvi minha tia falando com minha mãe: você não pode deixar sua filha andar por aí desse jeito, ela não se comporta, esses pedreiros (a casa estava em reforma) ficam olhando pra ela, porque ela não usa sutiã, não tem modos.
Eu nem entendi o que ela quis dizer com isso. Eu não ligava se eles eram pedreiros, eles tinham cimento, pá e um carrinho de mão, e eu queria brincar. Mas aparentemente eu tinha que ter medo deles. Talvez tivesse que ter tido, mesmo. Um deles foi esse que ficou "amigo" da família, e fez isso comigo.
Tadinha da minha mãe, ficou arrasada com a minha pergunta, começou a chorar e pediu desculpas, ela também não sabia o que fazer. Tinha medo de me expor, de alguém questionar por que ele estava lá, por que eu demorei a contar. Ela tinha medo que alguém falasse que eu que provoquei.
Claro que era bem possível isso acontecer. Até hoje acontece. Nós morávamos no nordeste, muito machismo, ninguém falava dessas coisas, não tinha internet pra ajudar, pra explicar. Eu sou filha de mãe solteira, então não tinha um pai pra ajudar na decisão. Não porque só um homem poderia tomar a decisão, mas teria sido bom alguém pra ajudá-la, um companheiro. Ela só tinha minha avó. Que eu achei que tinha ficado decepcionada comigo, com vergonha. Mas depois dessa conversa, minha mãe disse que ela ficou arrasada, deprimida, porque ficava comigo em casa o dia todo e não tinha percebido como eu estava.
Nunca gostei de associar meus problemas de relacionamento, ou meu problema de ansiedade com a comida a isso. Eu achava que era frescura minha, que isso não tinha sido tão ruim, afinal, ele nunca me bateu, nunca me agarrou, ele só entrava no quarto e passava a mão em mim. Então eu achava que na verdade eu era mesmo preguiçosa e não tinha autocontrole, que eu estava arrumando desculpas. Fui a psicólogos duas vezes na minha vida. Nunca contei sobre o ocorrido. Eu tinha muito medo de ouvir alguém dizer: ah, isso não tem nada a ver, já passou muito tempo, essas coisas não causam traumas.
Nem eu levava a sério o que tinha me acontecido, até chegar no blog e ler tantos relatos que me fizeram chorar, me fizeram pensar: por que eu tinha tanta compaixão por essas moças, mas não tinha por mim?
A princípio minha decisão de fazer a cirurgia foi porque eu não aguentava mais ser gorda. Sério. 
Odiava sair na rua e as pessoas gritarem coisas maldosas pra mim. Odiava ter que encarar o olhar de desdém de vendedor de loja, de ter uma dor de cabeça, chegar no médico e ele falar que era por que eu estava gorda.
Aí as pessoas falam que dietas e exercício resolvem, mas eu sabia que não era isso. Eu precisava comer. Precisava preencher alguma coisa dentro de mim. Eu não comia porque gostava. Quantas milhares de vezes terminei de comer chorando? Minha relação com a comida não era de prazer, era de punição.
A cirurgia foi a solução que eu encontrei pro meu problema com a obesidade. Hoje, 34 quilos mais magra, me sinto bem comigo mesma. Além da saúde ter melhorado, não tenho mais vergonha de sair de casa nem de expor o que eu penso. Porque não importam nossos problemas internos, as pessoas são cruéis com você porque você não tem a aparência adequada. Ninguém quer saber de verdade a sua dor, elas só querem que você não as incomode com sua "feiura". E se você for "feia" e tiver opinião, aí tá pedindo pra virar saco de pancada.
A cirurgia foi fácil. Um mês na dieta líquida, só sopas, caldos, sucos etc. Depois a gente vira bebêzinho de novo, numa papinha mais sólida, mastigando com cuidado pra não colocar tudo pra fora. Não senti dor nenhuma vez; o remédio pra dor foi comprado e fechado ficou. Vomitei algumas dezenas de vezes, mas nada desesperador. Algumas pessoas até me procuraram pra pedir orientação sobre a cirurgia e fizeram também. Eu recomendo. Não é fácil, exige muita coisa, mas pra quem precisa, ajuda. Porque também não é nada fácil ser gorda nesse mundo, muito menos mulher gorda.
O fato é que eu passei seis meses me preparando pra cirurgia, mas a parte mais difícil foi contar isso aqui. A gente revive aquele tempo, aquele medo, volta tudo. Ao mesmo tempo liberta. Hoje com 27 anos, ainda dói quando eu lembro, dói não ter denunciado o cara, dói imaginar o sofrimento da minha mãe, dói ter vivido tanto tempo com essa culpa. Que no fim nem era minha.

25 comentários:

Anônimo disse...

M. compreendo toda a sua dor, você foi molestada quando criança, eu tb fui, também não houve penetração, mas deixa cicatrizes e traumas e me atrevo a dizer que um dos piores tipos são o do inconsciente/subconsciente, que por ignorarmos tal fato acaba virando uma bola de neve na sua vida. Você pode melhorar, aprender a conviver, mas trauma é trauma é igual cicatriz profunda não se apaga!!
Fico muito feliz ao saber que vc está superando e recuperando a sua auto-estima, espero que você sempre busque seu melhor; e o ser humano é um bicho cruel mesmo vc sempre vai ser magra demais, gorda demais, triste demais, feliz demais, loria/morena/ruiva/oriental demais, nunca estão satisfeitos com si mesmo e principalmente nunca jamais satisfeitos c/ os outros!!
O melhor mesmo é ignorar e se cercar de pessoas que te querem bem.
Bjos

Anônimo disse...

M. Eu chorei aqui lendo seu relato.

Eu nunca sofri abuso, mas também estou bem acima do meu peso e sempre tive depressão.

Eu tenho um amigo que foi abusado na infância por um tio e não consegue perdoar a mãr por ela não ter chamado a Polícia. Fico me perguntando se quando a denuncia acontece é mais fácil para a vítima lidar com isso. Essa é uma dúvida real que tenho.

*Renata disse...

Anônimo das 12:23, não sei se pra todo mundo, mas, pra mim, ter dado queixa fez uma GRANDE diferença.

O dia em que fui registrar ocorrência foi o mesmo em que sofri o estupro, então eu ainda estava meio em choque.. Não tinha caído a ficha direito.
A médica que me fez o corpo de delito foi muito babaca e grossa e aquilo mexeu comigo.. o polícial que tomou meu depoimento foi muito seco e eu fiquei incomodada... tava tudo indo mal, mas eu continuei firme, com esperança de que tirassem aquele crápula das ruas.

Não aconteceu absolutamente NADA e o cidadão ainda me ameaçou ano passado.

Agora, quase 4 anos depois fui intimada para um novo depoimento e foi tudo ótimo. O policial que me atendeu foi muito simpático e atencioso, mesmo quando eu chorava horrores sem conseguir me controlar por causa das perguntas que ele me fazia.
Fiquei confiante de que dessa vez vão fazer justiça, mas enquanto isso, ainda sinto um pouco de medo.

Portanto, pra mim, fazer a denúncia foi muito bom, apesar de todo o resto.

Unknown disse...

Quando eu leio essas coisas super tristes eu fico maior deprê =/

Mas torço pra M dar a volta por cima!

Anônimo disse...

Lola, vou deslogar por motivos óbvios. Sou a garota que alguns posts atrás disse que foi estuprada pelo irmão e abusada pelo tio. Anônimo de 12 e 23, o que posso te dizer é a minha experiência : eu nunca contei pra ninguém e nem penso em contar. Lido bem com essas coisas, inclusive convivo com esses dois babacas hoje em dia, procuro não pensar no que aconteceu e tocar a vida. Mas conheço pessoas que só se sentem em paz com elas mesmas quando denunciam, ou pelo menos contam pra alguém. Em resumo, é como tudo na vida: varia de pessoa pra pessoa.

Anônimo disse...

M. Toda a força para você.

Risa disse...

Quédizê... cirurgia bariátrica é a solução para os problemas da vida, né? E não lutar por visibilidade independentemente do corpo, da aparência, ou do que quer que seja.

Dá um desânimo ler isso...

patricia. disse...

M. eu nunca sei o que dizer quando leio esse tipo de relato, pq 'sinto muito' me parece simplesmente muito pouco.

Eu nunca sofri abuso sexual,e é difícil para mim me colocar no lugar de quem sofreu, eu não faço ideia de como eu reagiria no seu lugar, mas eu espero que esse desabafo tenha te trazido mais tranquilidade.

Porém, eu consigo me identificar com seus problemas em relação a aparência, porque uma porção enorme da minha vida girou em torno disso.
Eu era muito magrinha e pequena quando criança, dava muito trabalho para me alimentar, o que não contribuía para que eu melhorasse, e de quebra, ainda tive um problema de saúde sério.
Quando minha mãe foi me colocar na escola, aconselharam a me colocar logo no jardim 1, porque eu já tinha aprendido toda a matéria do maternal em casa. Eu era a criança mais nova da sala, a menor e a mais magrela, então claro que me pegaram para cristo.
A minha relação com os meus familiares também não era muito melhor, eu tinha uma tia que sempre achava alguma coisa para criticar em mim, e eu sempre era comparada com a minha prima desinibida e com o peso dentro dos padrões.
Durante toda a minha infância e adolescência, eu não lembro de ter me achado bonita uma vez sequer. E nessa época, eu já não era mais baixinha, tinha ganho um pouco de peso e todo o resto correspondia aos padrões de beleza.

Eu tive depressão e eu costumava me cortar, e ás vezes eu me sentia tão desesperada que eu me perguntava se alguma coisa terrível havia acontecido comigo e eu apenas não lembrava.

Eu não sei dizer quando eu comecei a aceitar meu corpo, mas aos pouquinhos foi acontecendo. Eu acho que muita coisa se deve ao fato de eu ter me dado conta que não importava quantos quilos eu pesasse, ou que tudo fosse exatamente como eu queria que fosse, sempre teria um babaca para criticar. Outras coisas também ajudaram, mas acho que isso foi o principal, parar de dar tanta atenção ao que me diziam.

Tem outras coisas que ainda dói lembrar, mas aos pouquinhos a vida continua.

Fico feliz que você tenha ficado satisfeita com a sua operação, espero que daqui a diante a sua vida só melhore:)


Nih disse...

Risa disse...
Quédizê... cirurgia bariátrica é a solução para os problemas da vida, né? E não lutar por visibilidade independentemente do corpo, da aparência, ou do que quer que seja.

Dá um desânimo ler isso...

4 de junho de 2013 17:19

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Muito lindo isso de querer colocar nas pessoas individualmente a responsabilidade por resolver os problemas do mundo. Parabéns!

Muito lindo isso de querer fazer alguém que se sente mal se sentir pior ainda...Magnífico!

Mariana disse...

"Risa disse...
Quédizê... cirurgia bariátrica é a solução para os problemas da vida, né? E não lutar por visibilidade independentemente do corpo, da aparência, ou do que quer que seja.

Dá um desânimo ler isso..."

É por causa desse tipo de comentário e pensamento no "meio feminista" que eu desanimo de falar abertamente sobre minha cirurgia. Muita força, M! :)

Maya Falks disse...

Eu ainda to procurando onde a moça disse que a cirurgia é a solução pros problemas da vida.

Interpretação de texto mandou um abraço apertado pra Risa.

Maya Falks disse...

Eu ainda to procurando onde a moça disse que a cirurgia é a solução para os problemas da vida.

Interpretação de texto mandou um abraço apertado pra Risa.

pp disse...

Isso que a Risa falou é tão ridículo que não consigo nem argumentar...

M., espero que vc supere seus problemas, e sempre se lembre de que pelo menos vc tem uma mãe que tentou fazer o melhor pra vc, e que não simplesmente te culpou pelo acontecido, como é tão comum.

E parabéns pela cirurgia! Não devemos cultuar tanto o corpo, mas obesidade é doença e cada um deve combate-la da forma que puder.

Algumas correntes feministas me dão muita preguiça, pois tudo que a pessoa faz para ficar mais bonita (nesse caso nem só isso, mas mais saudável)é uma coisa errada, submissa, etc. Pelo amor de Deus gente. Não é pq a pessoa muda o cabelo, ou usa maquiagem, ou faz qualquer coisa que ela é uma mulher conformada com padrões, ou sei lá oq. Outro dia vi uma feminista dizendo que tinha muita vontade de mudar o cabelo, mas resistia, pois isso seria contra aquilo que ela prega. Esses radicalismos também escravizam a pessoa.

Nih disse...

Bem, eu faço várias coisas destas de "mulher-clichê" e lavo uma pia cheia de louça todos os dias.
Ah, e vou pra academia também! Malho a bunda sim sinhô.

E depois disto tudo, continuo feminista!

E obviamente, meu feminismo não torna menor o feminismo de quem não lava louça, se depila, se maquia, etc.

E sobre a obesidade, é importante atentar para o que estamos chamando de obesidade (e nós sabemos que algumas pessoas que não precisam desta cirurgia a fazem) e também para o fato de que pessoas obesas tem sentimentos, vivem, amam, sofrem como qualquer um.
Não é melhor dizer que obesidade PODE provocar problemas sérios de saúde? Ou então, pode não falar nada, né?

Não acho que pessoas obesas precisem ficar ouvindo que são doentes, sabe? Existe televisão, internet e pessoas desagradáveis o suficiente cumprindo esta função.

Rezinha disse...

Quédizê... cirurgia bariátrica é a solução para os problemas da vida, né? E não lutar por visibilidade independentemente do corpo, da aparência, ou do que quer que seja.

Dá tristeza ler comentários destrutivos como o seu minha querida RIZA!
Gente, tem gente aqui tendendo o radicalismo, e acabam queimando o filme do feminismo e em nada vcs diferenciam dos machistas (estou falando das extremistas, antes que venham as pedras).
Eu acho que cada pessoa deve viver e se apresentar da melhor forma que acha possível, não cabe a ninguém aqui julgar porque a mulher quer modificar o corpo dela, vejo que aqui muitos querem julgar a vida dos outros...
Ahh mas vc quer um corpo bonito pq os machistas incutiram na sua cabeça que ser magra é ser bonita e mimimi, ninguem tá nem aí sobre a opinião pessoal do indivíduo, se a pessoa se acha mais bonita estando mais magra deixem que seja.
Concordo que há muita imposição da sociedade machista, mas as pessoas podem ter uma opinião própria não é? Ou até isso vão criticar?
Não sou anti-feminista Lola, só quero que as meninas pensem bem antes de vir atacar os outros pelo padrão que seguem, pq vai ser o mesmo quando o femen se achou no direito de representar a liberdade das mulheres islâmicas...
Muita calma nessa hora gente, mais feminismo e menos extremismo por favor!

pp disse...

Mordred, concordo com vc, mas quando relaciono obesidade com doença não estou pensando em gordinhas, mas sim pessoas de tipo 200, 250 quilos, ou que já possuem problemas como diabetes, colesterol alto, etc. Acho que não fui clara antes.

Com certeza tem gente que não precisa e faz a cirurgia. Eu mesma conheço quem fraudou o convênio de saúde para conseguir (imagina o médico que ajudou, que ótimo que deve ser).

Adorei oq vc escreveu sobre se cuidar e ainda ser feminista.

OBS: não quero dizer que a mulher tenha obrigação de ser vaidosa, apenas que isso não pode virar uma proibição.

Nih disse...

Paula: eu sei que obesidade mórbida provoca problemas graves de saúde. Aliás, do ponto de vista médico somente pessoas muito obesas poderiam fazer cirurgia. É meio óbvio porque pessoas muito acima do peso dito normal vão emagrecer como se as formas mais comuns de perder peso ou são pouco eficazes ou impossíveis?

Só que devemos tomar cuidado quando falamos coisas do tipo "obesidade é doença". Eu penso nas pessoas muito obesas e no quão poderia ser difícil para elas ler coisas do tipo constantemente.


E uma observação para quem encara a cirurgia como algo "antifeminista" (como se houvesse receita de bolo pra ser feminista, aliás):

É importante deixar claro que a cirurgia em alguns casos é desnecessária e em outros é questão de vida ou morte. Então antes de falar mal de quem faz, é importante se informar

pp disse...

Mordred, entendi oq vc quis dizer. Vc está certa.

Unknown disse...

Esses casos de abuso me abalam. Nunca sofri nada do tipo, mas acho que não precisamos para ter empatia pelo sofrimento do outro.

Quanto ao comentário infeliz sobre a cirurgia bariátrica da M., fico chocada como tem gente que se dá o trabalho de entrar no blog, logar para escrever tamanha bobagem. Pensar primeiro no que vai escrever para uma pessoa que se abriu e, portanto, está vulnerável, imagina! E olha que pensar é grátis, não paga nada.

Unknown disse...

Assédio e abuso sexuais são coisas terríveis. Eu passei pelas duas experiências. Fui vítima de abuso quando tinha uns 4 anos, por um rapaz que na época tinha uns 19 anos, e fui vítima de assédio no trabalho em 2011. Ainda não consigo definir se o abuso sexual que sofri aos 4 anos deixou algum trauma em mim. Eu bloqueei a lembrança desse episódio e só a resgatei em 1998 (já estava com 21 pra 22 anos...), durante uma sessão de meditação chamada "pulsation", desenvolvida por Osho. Na época eu estava com depressão grave e fiz de tudo pra sair daquele estado de mal estar profundo. Não sei dizer se a depressão teve alguma coisa a ver com o abuso sexual da infância. Mas pode ser. O episódio do assédio foi muito desagradável. E felizmente só aconteceu 01 vez. Tive vontade de denunciar, mas achei que não adiantaria. O assediante foi um superior hierárquico braço direito da então chefia maior da instituição em que trabalho. A palavra dele me parecia bem mais importante do que a minha, e de fato era mesmo. Mas depois de um tempo eu fiquei sabendo que o cara que tinha me assediado vinha fazendo a mesma coisa com outros rapazes, e que um deles o havia denunciado e aberto um processo administrativo contra ele. Acho que a importância de denunciar é que essa atitude acaba estimulando outras pessoas a fazer a mesma coisa. Eu não formalizei uma denúncia porque, como aconteceu comigo apenas uma vez, eu não tinha como provar a ocorrência. Mas outros que haviam sofrido assédios reiterados, e que tiveram condições de produzir alguma prova, também denunciaram o assediante. Não aconteceu nada com ele ainda, e talvez nem aconteça. Mas pelo menos a prática dele foi exposta. Acredito que nem que seja pelo bem de si mesmo ele pensará 2 vezes antes de repetir o assédio, o que já é muita coisa. Sobre a cirurgia bariátrica, acho importante pra quem precisa dela. Meu irmão mesmo teve que fazer em 2010, por causa da síndrome metabólica. O médico disse que se ele não fizesse a expectativa de vida dele estaria muito reduzida. Ele precisava tomar remédio pra muita coisa, glicemia alta, pressão alta, colesterol alto, triglicérides alto, ácido úrico alto. Estava com índice elevado de gordura no fígado... Além de gastar um bom dinheiro todo mês com remédios, ainda tinha a questão da autoestima e da preocupação com a própria vida. Ele emagreceu 30 e poucos depois da cirurgia. Hoje em dia ele não toma mais remédio nenhum, a não ser complementos vitamínicos. A obesidade em si pode ou não ser uma doença, mas realmente é um fator de risco para o desenvolvimento de muitas doenças. Porém, acho que a questão da obesidade é abordada de forma equivocada pelos meios de comunicação. Do jeito como a questão é tratada, a impressão que se tem é que apenas quem é obeso precisa se preocupar com a alimentação, com o exercício físico regular, com os check ups periódicos... E não é bem assim, mesmo quem não está acima do peso precisa ter todas essas preocupações também. Eu estou obeso, mas de 6 em 6 meses estou lá na cardiologista fazendo um hemograma completo e uma ultrassonografia abdominal total. A obesidade já está alterando o funcionamento do meu metabolismo, mas eu venho monitorando os índices e tomando remédio apenas para o colesterol, já que todo o resto está normal. Preciso fazer uma atividade física moderada com regularidade, mas, para ficar 100% saudável, a cardiologista me disse que eu não preciso perder 30 kg. Eu não preciso virar magro. O indispensável mesmo é a atividade física regular, que é indispensável inclusive pra quem é magro. Enfim, uma pessoa obesa pode ser mais saudável do que uma magra. Embora a obesidade seja fator de risco pra muitas doenças, a magreza sozinha não é atestado de saúde pra ninguém. Todo mundo precisa fazer exames médicos regulares. Só eles e os médicos são capazes de atestar como anda a saúde de alguém.

Elaine Cris disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Tão cagando tanta regra que eu, tola, achei que o feminismo era pelo direito de escolha - inclusive o de ser imbecil (com os outros).


M., também fiz bariátrica, perdi 70 kgs, fiz tudo quanto foi plástica depois (tenho mais de 2m de cicatrizes, no total) e sabe pq fiz isso? Pq sendo gorda/obesa, eu não arranjava trabalho (eu era noiva, fazia muito sexo, na área amorosa tava lindo!). Ou seja, eu não tinha como esperar nenhuma revolução, por mais que eu queira e apoie, pq eu precisava de grana pra sobreviver e infelizmente não me contratavam pela capacidade - sou publicitária formada numa das melhores universidades da área.

Enfim, ainda sonho pelo feminismo não caga-regra, onde as pessoas possam ESCOLHER sem ser achincalhada.

Raíssa disse...

Quando eu era criança fiz uma cirurgia para corrigir orelhas de abano (as minhas não eram discretas) e eu sofria muito, muuuuito bullying na escola, e lembro q esse era o meu pensamento até o ultimo minuto quando me sedaram : aquilo ia parar, todos iam gostar de mim, eu não ia mais ser estranha.

a verdade é que com cirurgia ou sem nada mudou, quem mudou fui eu, se o problema não eram as minhas orelhas então o problema eram aquelas pessoas que não gostavam de mim sem saber por que e simplesmente me tiraram pra saco de pancadas, e eu parei de aceitar isso.

Muita força pra você, espero que você se sinta mais feliz e mais confiante, não por causa da cirurgia, mas por superar esses problemas e se abrir com a sua mãe.

Cereja disse...

Fico muito triste quando alguém critica quem faz cirurgia bariátrica/plástica/malha/etc. porque seria "antifeminista".

Se ficar bonita te faz bem por que isso vai diminuir o seu feminismo? Se quer ficar mais bonita (mesmo que seja baseado no padrão de beleza), fique bonita, fique bem, fique feliz. E seja uma feminista feliz. Ninguém tem nada com isso.

Quanto aos abusos, eles afetam, sim. Eu sofri algumas agressões psicológicas ao longo da vida, fui assediada por um primo que passava férias na minha casa e meus pais brigaram comigo, eu com 1m68 e 55kg era chamada de gorda pelo meu PAI, hoje eu vejo como essas coisas me afetaram, principalmente no campo social/amoroso/sexual.
A gente pode se curar por fora, mas é muito importante que lidemos com essas coisas pra nos curarmos por dentro.

alice disse...

muito bonito vocês xingando a Risa sem saber pq ela falou isso. ela é gorda, eu também sou gorda e sofro demais por isso. ler que cirurgia bariatrica resolve problemas emocionais/sociais é uma coisa que NOS OFENDE, NOS MAGOA, NOS FAZ MAL, É UM TRIGGERING pra gente. vocês que são magras jamais vão entender isso então parem pra pensar antes de lincharem alguém, chamarem de 'cagarregra', 'pseudo feminista', ou qualquer merda do tipo.