domingo, 21 de abril de 2013

GUEST POST: O FEMINISMO NA TRILOGIA MILLENIUM

Quando estive em Natal no ano passado, meu querido e antigo leitor Allan Patrick me levou pra almoçar num restaurante chinês, e também me deu de presente a trilogia Millenium, a série de três livros (o primeiro, e mais conhecido, sendo Os Homens que Não Amavam as Mulheres) do sueco Stieg Larsson.
Infelizmente, ainda não tive tempo de lê-la (antes preciso ler Jogos Vorazes; não consigo ver nada além de teoria), mas minha mãe devorou os livros e adorou. 
O Patrick, além de ser uma pessoa doce e adorável, tem um blog, é delegado da Receita Federal, e feminista (mas casado com a Juliana, sorry, meninas). Ele já contribuiu com um guest post aqui pro bloguinho, e agora publico este outro.

A Trilogia Millenium de Stieg Larsson já mereceu dois posts aqui no blog: "Lisbeth Salander, heroína pra quem?" e "Crítica: Os homens que não amavam as mulheres". O primeiro sobre a personagem principal da obra literária e o segundo uma resenha sobre a adaptação hollywoodiana da trilogia (que, a propósito, não está tendo vida fácil para gerar uma sequência). Houve também uma adaptação sueca para o cinema, esta da trilogia completa.
O interessante é que os debates provocados pela obra também chegaram às universidades. Em junho foi publicado pela Universidade Vanderbilt Men Who Hate Women and Women Who Kick Their Asses, Stieg Larsson's Millennium Trilogy in Feminist Perspective, uma coletânea de artigos acadêmicos sobre a obra de Larsson numa perspectiva feminista. 
[Nota da Lolinha: como se pode perceber, tudo é objeto de estudo na academia. Por isso, é ridícula a gritaria em torno de um belo projeto de mestrado, aprovado pela UFF, que irá discutir a contribuição (ou não) de Valesca Popozuda pro feminismo. Só leigo não entende que tudo pode e deve ser estudado, ou que teses sobre o que se chamava de "baixa cultura" -- distinção que já foi destruída pelo pós-modernismo há décadas, então os leigos estão um tanto atrasados -- vem sendo escritas por universidades no mundo inteiro. Tem que ser muito ignorante pra bradar "Só no Brasil!" Mas suponho que as pessoas que criticam esse tipo de tese são as mesmas que acham que só deveria existir faculdade de engenharia, medicina e direito. O resto é inútil! Fim da minha intervenção. Desculpaí, Patrick!]
É difícil resenhar uma coletânea de artigos (dezoito no total) bastante plural, mas acho que o primeiro artigo dá um tom equilibrado a partir de onde começar. Intitulado "Always ambivalent" e de autoria da Professora Abby L. Ferber (que também já escreveu para o Huffington Post), trata dos múltiplos sentimentos que Millenium desperta numa feminista. A principal crítica da autora é à violência explícita da obra, ao mesmo tempo em que reconhece que há um mérito na medida em que essa violência não é gratuita mas serve para tirar da zona de conforto a quem minimiza ou tem uma percepção pouco acurada do que é misoginia.
Ferber ressalta que ao longo de toda a trilogia (estamos aqui nos referindo à obra literária, evidentemente) o feminismo é explicitamente citado sob uma perspectiva positiva, sendo creditado aos movimentos de mulheres uma série de conquistas na luta contra a violência de gênero. Ao contrário da mídia em geral -- e de boa parte da produção cultural atual -- que adota uma visão pós-feminista, na qual se pressupõe que as desigualdades de gênero são coisas do passado, a obra de Larsson refuta repetidamente esse consenso.
Um ponto importante na caracterização da violência contra a mulher, ressaltado por Ferber, é que esta violência não é o produto de um punhado de vilões intrinsecamente maus. Pelo contrário, essa violência é apresentada como sistemática e institucional, praticada pelo advogado bem quisto na sociedade ou pelo aposentado "inofensivo". Esses vilões não são apresentados como monstros solitários, mas como componentes de uma cultura de opressão. Nesse contexto, ainda segundo Ferber, é louvável o esforço de Larsson para mostrar, através de advérbios de tempo, como a violência contra a mulher não é um fato extraordinário, mas antes, tristemente comum.
Ferber destaca também o cuidado de Larsson em incluir diversos contra-exemplos de masculinidades saudáveis, como é o caso dos personagens Holger Palmgren, Jan Bublanski, Paolo Roberto, Dragan Armansky e, claro, Mikael Blomkvist. Adicionalmente, os encontros sexuais em que Blomkvist está envolvido são exemplarmente consensuais e, não raro, de iniciativa das mulheres.
Por outro lado, a Professora Roberta Villalón destaca em seu artigo, "Accounts of Violence against Women", que a descrição realista feita por Larsson dos atos de violência vem sendo utilizada pela Rape, Abuse and Incest National Network (RAINN) como uma plataforma para educar o grande público sobre a face real da violência contra a mulher. Villalón destaca ainda, ao tratar da verossimilhança da narrativa de Larsson, o paralelo de sua descrição dos atos de violência contra a mulher com os relatos das vítimas da tortura praticada pela ditadura militar argentina.
A principal crítica à construção da personagem principal vem das pesquisadoras Anna Westerståhl Stenport e Cecilia Ovesdotter Alm, em seu artigo "Corporations, the Welfare State, and Covert Misogyny in The Girl with the Dragon Tattoo", ao ressaltarem o aspecto conservador que a personagem Lisbeth assume ao agir como um superpoder individual que resolve todos os seus problemas, construindo suas soluções desconectada de qualquer luta coletiva de gênero e através da violência.
A coletânea inclui ainda "An Open Letter to the Next Stieg Larsson", em que a editora LeeAnn Kriegh dá dicas a autores sobre como compor adequadamente personagens femininos marcantes, e "Pippi and Lisbeth, Fictional Heroes across Generations", um dos meus preferidos, em que a professora Meika Loe traça um paralelo entre as personagens Lisbeth Salander e Píppi [Bibi no Brasil] Meialonga que seria, de certa forma, sua versão infanto-juvenil, já que influenciou Larsson na composição de Lisbeth. Loe descreve como Píppi exerce uma influência positiva sobre sua filha, ainda em idade pré-escolar, servindo-lhe como modelo feminino no imaginário infantil, uma das poucas opções fora do padrão "princesa".
Perpassando vários dos artigos está a força da personagem Erika Berger, a que mais sofreu em todas as adaptações cinematográficas, pois de personagem principal na obra literária, passou a praticamente figurante no cinema, tanto na versão sueca como americana, embora a trama paralela que protagoniza, em especial no terceiro volume da série, seja quase tão interessante quanto a principal, mas muito mais realista. A crítica à ausência de Berger nas telas também é feita por Eva Gabrielsson, viúva de Stieg Larsson.
Enfim, a coletânea é mais rica, diversa e interessante do que minha simples resenha faz parecer. Mesmo tendo origem acadêmica, o livro é de fácil leitura e vale a pena ser conferida por qualquer fã da Trilogia Millenium.

40 comentários:

Luana França disse...

Ah, minha trilogia preferida!!!
Ótimo texto! Já era hora de fazer um post sobre ela, né Lola. (:

Pamela disse...

Sou fã da Trilogia Millennium e posso dizer que Lisbeth é a personagem mais marcante com a qual me deparei em um livro. É impossível ler a trilogia sem se apaixonar pela Lisbeth.
Mikael é fantástico, é fácil perceber o respeito de a admiração que ele tem pela Salander e por Erika Berger, duas mulheres de personalidade forte e seguras de si.
No 2° e, principalmente, no 3° livro Erika se mostra uma mulher ambiciosa, corajosa e sem medo de se focar na carreira, ela é digna de aplausos.
Nunca me apeguei tanto a personagens literários como me apeguei a estes.

Anônimo disse...

Adorei que a minha UFF tenha aceitado um tema tão polêmico como esse,sabe?
Só acho triste em ver como as pessoas(elite/classe média/conservadora/branca/homofóbica/machista/metida a cult)ficaram extremamente revoltadas...
Tem professor meu,da UFF inclusive,que acha isso o fim da picada,que a Valeska não tem pq ser estudada. Poxa,o cara nem é do Rio,nem é daqui,pois é do interior de um outro estado aí e vem meter bedelho na cultura dos menos favorecidos da minha cidade?
O pior é que tem mts assim por aí que não sabem de nada e já ficam jogando mil tijolos,cagando regra para o que deve ser considerado cultura e o que deve ser chamado de lixo!
Pior são aqueles que dizem que isso é um absurdo pq o funk deprecia a imagem da mulher e mimimi. Mas estes são sempre os primeiros no dia a dia a tratar a mulher como lixo...
Mas funk não pode,né? Pois é coisa de negro e pobre e essa gente deve ser ignorada(ou morrer como alguns desejam).
O funk tem sim seu lado podre? Tem assim como qualquer outro ritmo e tb tem seus louros assim como outros estilos musicais por aí,mas ninguem critica. É uma expressão cultural.
O funk sempre é escrachado e ele já sofria com o preconceito bem antes de criarem músicas de alto teor sexual.
Essa coisa de que suas letras são baixas e por isso o funk deve ser destruído,é conversa pra boi dormir.
Outros ritmos tb já fizeram e fazem letras do mesmo tipo e ninguem liga.
Não sou de favela,nem funkeira e nem nada,mas me irrita esse preconceito/racismo gritante com uma cultura especifica da cidade que mais tem projeção nacional e mundial no Brasil.
E o objetivo do estudo é ver se o funk poder ser usado como arma na luta feminista ou se suas musicas de cunho erótico são feitas para atender o mercado erótico,ou seja,se o funk é usado para atender a demanda capitalista e machista.
Detalhe: qd o funk toca nas festas,o povo dança até não poder mais e os homens que reclamam que suas letras objetificam o corpo feminino,amam qd uma moça fica rebolando na sua frente!

Patty Kirsche disse...

Eu não li os livros, mas não me lembro de ter visto no filme (só assisti o dos EUA) nenhuma menção a misoginia, embora seja tão óbvio que se trate disso.

Patty Kirsche disse...

Interessante você mencionar essa questão de que na academia a gente estuda qualquer coisa e tals. Eu sou de estudos culturais, então estou bem tranquila com essa questão de "baixa cultura" e etc. Meu objeto é uma série sobre vampiros para adolescentes, e já enfrentei vários preconceitos por causa disso em eventos. A organização sempre me coloca nos piores horários, isso quando meu trabalho é aceito. Estive num evento em São Luís e foi horrível, o coordenador da mesa tratou meu trabalho com um mega desdém... Nossa academia ainda precisa amadurecer muito.

Patrick disse...

Ficou muito bacana a conexão do texto que eu tinha enviado com o projeto de pesquisa sobre a Valesca Popozuda. Valeu, Lola :)

Anônimo disse...

Valeska Popozuda objeto de estudo realmante é o fim da picada.Mas fazer o que as feministas defendem as prostitutas com unhas e dentes.Pena ninguém realizar um estudo sobre toda a vida e obra da saudosa Dra Zilda Arns que morreu no Haiti fazendo o bem.Mas seria chato,ela nunca precisou fazer programa pra ficar famosa.

Patrick disse...

Depois que escrevi essa resenha, Lola, li uma biografia de Stieg Larsson, e vi uma curiosidade conectada à realidade atual da islamofobia. Um dos motivos para Larsson escrever a trilogia era o escancarado sensacionalismo que a mídia sueca fazia com casos de machismo e misoginia cometidos por imigrantes de origem muçulmana. Ele, como jornalista, estava careca de ver violências semelhantes sendo praticadas por patrícios - tráfico de escravas sexuais inclusive - com mínima repercussão de mídia. Escrever os livros foi a maneira que ele encontrou de chamar a atenção para o tema, ao mesmo tempo em que alertava para o risco da xenofobia. Não é à toa que a trilogia tem diversos personagens estrangeiros, das mais diversas origens, como o faxineiro curdo, o boxeador italiano e o investigador bósnio.

Anônimo disse...

Concordo com a Patty. Tbm vi o filme e em nenhum momento ele faz menção à misoginia. Não sei quanto aos livros, nunca os li, mas se fosse depender do filme não leria, não gostei.

Ana Carolina disse...

Eu não li os livros, mas não me lembro de ter visto no filme (só assisti o dos EUA) nenhuma menção a misoginia, embora seja tão óbvio que se trate disso.

21 DE ABRIL DE 2013 15:18

Pra mim esse é o grande ponto e sabor dos livros - não precisar falar com todas as letras "estou tratando sobre misoginia" para tratar sobre... misoginia. Está em todos os cantos e poros do livro, mas nunca é tratado de modo panfletário. Acho excelentes como literatura, como diversão e como material feminista - e uma pena o autor ter morrido tão cedo e antes que pudesse concluir a saga inteira.

Anônimo disse...

O problema é achar que qualquer material que faça alusão a uma ideologia tenha que, obrigatoriamente, ser feito de forma direta para ser usada como propaganda.
Não sei qual foi o objetivo do autor (só li um livro), mas provavelmente o livro foi escrito para ser lido, para contar uma história... Se pode ser usado como material feminista, ok! Mas esperar que ele reflita as vontades de um grupo só para ser usado como material "educativo" é querer muito...

Sobre a dissertação... Obviamente a Academia é livre para estudar o que bem quiser, mas há de se levar em conta questão da relevância. Não julgo a importância do estudo, até porque nem li, mas quando se usa financiamento público para realizar uma pesquisa espera-se que ela traga algo de positivo para a sociedade como um todo. Não precisa ser medicina e engenharia, mas estudar temas que não aparentam ter retorno é questionável sim, por que não? Direta ou indiretamente estão usando dinheiro da população e eu gostaria de receber algo em troca.

Anônimo disse...

eu já li a série millenium e adorei!!
adoro personagens femininas fortes que sabem se defender.

mas será que alguém realmente acha que valeska popuzada ajuda o feminismo? pra mim é o contrário ,ela e outras funkeiras,fazem sucesso graças a exibição do corpo,pq talento para ser cantora,raramente alguma funkeira tem.isso vale pra funkeiros também.

esses dias vi um entrevista dela,e ri muito em uma parte que ela diz q faz sucesso pela sua voz e n pela sua bunda. kkkkkk meu deus,é muita auto estima ou auto ilusão.
a voz dela é horrível.
os figurinos dela eram uma tira de pano para cobrir os seios e outra para as partes baixas.

um dos grupos mais nojentos que vi são as tequileiras do funk, uma das coreografias delas consiste em pegar um cara da plateia,sentar ele no chão,uma delas fica no chão como se fosse fazer flexão,mas fica com as pernas apoiadas nos ombros do cara,dai simplesmente começa a bater com a bunda no rosto do homem,nojento!

Lorena disse...

Pra quem não leu os livros, só viu os filmes: leiam o livro. Eles são estupendos! Eu fiquei maravilhada de ler um livro, pela primeira vez, com uma história tão abertamente feminista e progressista. De verdade, leiam.

Excelente artigo, parabéns ao autor, e já fiquei morrendo de curiosidade de ler essa coletânea de trabalhos!

Anônimo disse...

Os livros são como a Ana Carolina disse, não falam de misoginia nem de feminismo com todas as letras, podendo ser interpretado em uma mostra apenas de como mulheres fortes lidam com a misoginia sem o feminismo (bem na linha 'humanista' que muitos dizem ser).

Eu devorei os livros e adorei, mas, pensando um pouco depois, vi que uma outra chave de leitura pode transformar esses livros em algo extremamente misógino, como uma critica a essas mulheres e, inclusive, com 'meios' de enfrentá-las. Tá, pode ser algo exagerado, mas tem idiota pra tudo no mundo.

Sinto uma grande pena por ter sido só uma trilogia (parece que seriam mais livros), pois quem sabe desenvolvendo mais o tema a crítica não ficasse mais claro a todos.

Duas coisas que me marcaram nos livros: a existência de uma advogada especialista em crime contra mulheres (eu quero! eu quero que tenha isso no Br.) e a história da Lisbeth em si (a cena do Mikael entrando no apê novo dela me comove, me faz entender o personagem dela).

Anônimo disse...

Patrick disse: "Um dos motivos para Larsson escrever a trilogia era o escancarado sensacionalismo que a mídia sueca fazia com casos de machismo e misoginia cometidos por imigrantes de origem muçulmana."

Engraçado, mas isso ocorre aqui no Brasil tb. Temos o hábito de apontar as atitudes machistas de outros povos, mas não vemos como a sociedade brasileira trata mal as mulheres.

Um exemplo é o que ocorre na Índia. Vários sites de notícias brasileiros que abordaram os estupros coletivos e o estupro de uma menina de 5 anos recentemente, tiveram centenas de comentários do tipo "Indianos são monstros" ou "Só podia ser na Índia" e etc... Mas esses mesmos brasileiros se esquecem q aqui no Brasil temos inúmeras mulheres violentadas todos os dias. Será que somos tão diferentes assim dos indianos? A única diferença que vejo é que nos casos de estupro da Índia, o povo foi as ruas pra pedir justiça e um melhor tratamento dos casos por parte da polícia. E nós o que fazemos diante de casos assim?

No Rio tivemos recentemente um caso de estupro coletivo de uma americana que foi altamente alarmado, mas nos esquecemos que várias brasileiras foram estupradas anteriormente pelos mesmos homens e a polícia não fez nada. Alguém reparou nesse detalhe? Alguém se indignou? Não, continuamos calados.

Elaine Cris disse...

Acho que quem critica estudos como esse sobre o funk e a Valeska, se esquecem da força e da influência da cultura pop em nossa sociedade.
É tão ou mais influente que a publicidade.
Cultura, seja "alta" ou "baixa" é espelho, influência, via de mão dupla. Não dá pra achar que um estudo como esses é simplesmente irrelevante e não possa até mesmo servir de base pra outros tipos de trabalho sobre o gênero feminino, violência, mercado de trabalho, etc.
É muito bonito fazer uma análise discursiva de um Almodóvar, por exemplo (e adoro esse tipo de trabalho). Mas não dá pra perder de vista que o alcance que esse tipo de produto tem na sociedade brasileira é bem menor.

Anônimo disse...

Eu acho que a Erika some nas versões cinematográficas pq ninguém, nem na Europa, nos EUA ou no Brasil, acha "normal" uma mulher que conviva normalmente com seu marido e seu amante. Vagabundagem demais para os reaças de plantão no mundo todo. A obra literária permite que esse assunto tão delicado e tratado como tabu seja mais aprofundado. Meu namorado assistindo o filme não se conformou com o "corno" do marido na mesma festa que o amante... Acho uma pena q a 2a. parte da trilogia talvez não saia nos EUA pq Rooney Mara mostrou-se ótima atriz. E legal tb foi ver Daniel Craig, um fodão nos filmes do 007, acostumado a bater, virar mulherzinha na mão da Salander e apanhar mais do que judas em sábado de aleluia.

nic disse...

esse alvoroço todo em relação só projeto da velesca popozuda é engraçado. eu acabei de entrar no mestrado com um projeto sobre fotografia que é tão inusitado quanto o dela e não virou notícia.essa noção de ciência "de verdade" só mostra como não se leva a sério o conhecimento científico no Brasil. em relação a trilogia,eu concordo que a lisbeth vira personagem secundário no primeiro filme, mas no livro também tenho essa impressão... o que me incomoda dos livros é como a lisbeth é pragmática em contraste ao mikael. é como se o autor quisesse mostrar como homens podem ser justos, sabe? mikael fala diversas vezes em como ele respeita as mulheres mas ao mesmo tempo não respeita em momento nenhum a decisão da lisbeth de não ve-lo.

L. G. Alves disse...

Eu preciso ler os livros. Eis o que a maior parte das mulheres que foram estupradas fizeram com a pessoa que as estuprou: nada." Ah, eu consigo achar umas ótimas maneiras de vingança. Com toda a certeza. Nada? Hum, rs, não penso que não se possa fazer nada. Há muito a se fazer.

Sara disse...

Todas as sociedades são machistas no planêta inteiro, aqui no Brasil não é diferente, mas pelo menos temos leis q supostamente deveriam nos proteger desse machismo, muito embora sejam leis muito recentes, pq ha bem pouco tempo o machismo era até institucional com absurdos como leis de "defesa da honra".
O que eu vou continuar a me revoltar falem o q falarem é com paises que institucionalizam o machismo em suas leis, principalmente esses que tem suas constituições baseadas em livros religiosos como essas republicas islâmicas.
Aqui e em outros lugares por mais machismo que soframos, existe uma esperança de reparação em nossas leis, nessas republicas a lei é um crime contra a mulher.

Anônimo disse...

Quem reclama dos objetos de estudos acadêmicos (principalmente de humanas) demonstra quão nocivo é, de fato, a universidade não atender à todos. Como se, por exemplo, estudar o funk fosse apenas destrinchar letras. Sei lá, o ser humano é tão complexo que tentar explicar isso assim, de supetão, é reduzir a humanidade ao mesmo diagrama de funcionamento de uma lâmpada.

Salander é minha heroína favorita. Acho estranho dizer que a luta dela é individualista exatamente por acreditar que o feminismo tem um ponto inicial, de onde derivam inúmeras facetas - daí dizer sempre que cada uma luta por e com seu feminismo.

Lillian Cardoso disse...

Excelente post e tema! Como já disseram, o feminismo está bem presente nas obras do Stieg Larsson, só que ele não é descarado nem panfletário. Mas isso não tira o mérito da obra por tratar questões como a violência contra a mulher sob uma ótica bem realista. E também, por ter personagens femininas extremamente poderosas. Poxa, no primeiro livro é a mocinha quem dá um cacete no vilão e resgata o mocinho indefeso. Girl Power e hail Libeth, hehehe. Fora a presença da Erica, uma personagem forte, ambiciosa e liberal. Uma pena terem dado pouco destaque a ela nas telonas, mas como já disseram por aí, uma mulher que tem um marido e um amante (e todas as partes estão cientes disso e acham ok) é demais para algumas cabeças.

No mais, Lola, imagino como sua agenda deve ser apertada. Mas se tiver um tempinho, leia essas duas trilogias sim: Milllenium e Jogos Vorazes. Eu gostaria muito de ver Jogos Vorazes por aqui, pois é uma trilogia tão feminista que dá gosto! E a trilogia ainda é uma ótima crítica ao consumismo, ao uso da comunicação de massa como forma de alienação, ao totalitarismo, ao maniqueísmo... eu juro que fico muito contente que uma série de livros que enfoca tantas questões sociais e políticas de maniera tão lúcida esteja fazendo esse sucesso junto à molecada. Acho que vale conferir.

P.S: sobre a tese de mestrado. Bem, o objetivo da garota é levantar se Valeska Popozuda e outras funkeiras contribuem para o feminismo. Muitos aqui acham que isso não tem serventia e que não querem ver seu dinheiro investido nesse tipo de coisa. Pois bem, eu acho muito válido. O funk é um fenôneno cultural que influencia milhões de pessoas no Brasil Bem ou mal não é minha discussão. Mas é FATO que ele influencia. Mais que Tchaikovsky (e tenho certeza de que, se o tema do mestrado fosse Tchaikovsky, muitos que condenam a tese da menina estariam aplaudindo de pé). Por conta disso, acho que qualquer estudo sobre coisas que influenciam a população é pertinente.

Eu ficaria ainda mais contente se, em sua pesquisa, a autora chegasse à conclusão de que, de certa forma, o funk contribui sim para o feminismo e para a liberdade sexual da mulher. Muito tem se falado sobre a Valeska (a quem eu não considero um bom exemplo, mas conheço muito superficialmente para julgar), mas a autora vai estudar outras funkeiras. Eu já ouvi letras da Tati Quebra Barraco em que ela brada "A porra da buceta é minha e eu dou pra quem quiser". Entre outras citações, "Vou tocar uma siririca", "Sou feia mas tô na moda", "Se marcar eu beijo mesmol". Gostem ou não, na boa, isso é exatamente o que discutimos aqui com termos mais polidos e rebuscados: liberdade sexual, aceitação do próprio corpo, liberdade de tomar a iniciativa, liberdade de buscar o próprio prazer. Só que traduzido para vocabulários mais populares. Se isso não tem utilidade pública, se isso não tem valor, se isso não merece ser estudo, então, acho que estamos perdendo muito tempo aqui - pois é exatamente o que fazemos.

Eduardo Luft disse...

Falando em academia... Vi hoje o documentario "noivas do cordeiro". Gostei bastante, trata de uma comidade do interior de Minas onde mulheres são protagonistas. Acho que isso vale uma postagem, viu Lola.

Paty disse...

Obaaa! Sou fã de carteirinha da trilogia e adorei o guest post. Já fiquei de olho nesse livro e aproveito para recomendar mais três:

"There are things I want you to know about Stieg Larsson and me." A autobiografia da Eva Gabrielsson, esposa do Stieg Larsson, conta mais sobre o autor, o processo de criação dos livros e da briga judicial dela com o pai e o irmão do Stieg pelo legado artístico e a herança (ainda sem tradução em português, tem versão ebook) http://www.amazon.com/There-Things-about-Stieg-Larsson/dp/B00ANY4FDG/ref=la_B0050OS7BA_1_1?ie=UTF8&qid=1366591137&sr=1-1

"The Psychology of The Girl with The Dragon Tattoo." Coletânea deliciosa de artigos acadêmicos analisando a enigmática e irresistível Salander. Imperdível pra entender a personagem. (Também sem tradução em português) http://www.amazon.com/Psychology-Girl-Dragon-Tattoo-Understanding/dp/1936661349

"Girl with The Dragon Tattoo And Philosophy" Esse aqui é bastante irregular, os artigos são menos interessantes ou esclarecedores do que os títulos dão a entender, mas vale pra fomentar o debate: (foi lançado em português com o título de A Garota com A Tatuagem de Dragão e a Filosofia, mas só de ver o texto promocional no site da editora, não recomendo a tradução) http://www.amazon.com/The-Girl-Dragon-Tattoo-Philosophy/dp/0470947586/ref=pd_sim_b_2

Sobre falar de cultura popular em textos acadêmicos, já dei minha modesta contribuição: uma monografia sobre representação de gênero no seriado Lost (momento jabá: o título é Que Mulher Você Seria numa Ilha Deserta - Aspectos da Representação Feminina em Lost). Quanto mais estudos, melhor. Quero ler a dissertação sobre a Valesca que, por sinal, já se declarou feminista em entrevistas.

LoliPorto disse...

Lola, assisti a versão americana do filme e como sempre acontece, suspeitei que o livro seria melhor. Engoli os três livros em uma semana (estava de férias). Amei. Lógico que Lisbeth Salander esta longe de representar uma personagem real por sua postura de heroína autossuficiente e imortal, apesar de toda violência cometida contra ela ser algo verdadeiro para milhares de mulheres no mundo todo. Assim como a história de Erika, que com certeza representa um pouco da minha história e de muitas profissionais. Adorei seu post. Parabéns!

Anônimo disse...

Quando acabei o terceiro livro eu só me perguntei: como viver sem Salander?!
Muita pena que Larson tenha morrido sem acabar a saga (já li que eram pra ser 9 livros).
Os livros sao recheados de mulheres fortes e todos os personagens sao muito bem construídos. Só vi os filmes suecos. Achei bons, mas os livros sao muito melhores. Tb fiquei chateada com a Berger ter sido rebaixada a coadjuvante.
Salander é uma vingadora em causa própria, mas como já ouvi dizer, se cada um pensar em si próprio, ninguém será esquecido. Tb nao diria exatamente que ela é egoísta, ela deu um jeito de ajudar várias pessoas, só nao é paternalista a ponto de achar que ele tinha o direito/dever de resolver a vida dos outros.
O livro fala repetidamente sobre violência de gênero, desde crimes horríveis quanto as pequenezas do dia a dia.
Jogos vorazes tem uma trama envolvente e uma heroína muito digna, com certeza vale a pena ler, mas Millenium é mais gente grande.

Sphynx disse...

A trilogia é incrível. Fazia tempos que eu não lia um best-seller tão bom, e ainda comprometido com temas de direitos humanos geralmente ignorados pela mídia.

Tenho um comentário a fazer sobre as críticas que enxergam como conservadorismo o fato de a Salander resolver tudo na individualidade e com violência, alheia a lutas coletivas.

Isso acontece porque a Salander não tem a menor confiança nem nas instituições, nem na sociedade. Ela foi vítima de um enorme complô institucional que, para proteger um espião internacional, internou a Salander num manicômio quando criança e mesmo depois de adulta a manteve sem capacidade civil e sob a tutela estatal. E a sociedade também não ajuda em nada, em toda parte ela é olhada torto, vista como louca.

Fora isso, até com Mikael Blomkvist ela tem uma desilusão, quando ele decide fazer uma vista grossa e não publicar a verdade sobre o serial killer de mulheres, para não prejudicar algumas pessoas que ele gosta na família Vanger.

Enfim, ela não sente que tem muito pra onde correr além de resolver tudo com as próprias mãos. A construção da personagem como pária social não é compatível com instinto gregário, com luta organizada.

Apesar disso, tem um fato importante: quando Salander se vinga do advogado estuprador, ela não faz isso pensando só individualmente. Ela faz garantir que ele nunca mais leve outra mulher ao apartamento dele.

Sphynx disse...

Quando à tese de mestrado sobre a Valesca: primeiro, é preciso tomar muito suco de maracujá ou fazer um tai chi chuan antes de abrir o site do G1, porque não importa qual seja o assunto da notícia os comentários de lá são sempre inacreditáveis de escrotos. Fortes candidatos a comentaristas mais retrógrados, ignorantes e preconceituosos da internet brasileira.

Aliás, suponho que esse pessoal só acha mesmo importante engenharia e medicina. Direito não, por ter o defeito intrínseco de ser um curso de humanas e estar "contaminado", no Brasil, por (grandes) autores de esquerda como Paulo Bonavides, Luís Roberto Barroso, Celso Antonio Bandeira de Mello e Fabio Konder Comparato.

Enfim. É incrível ter um pessoal, com uma mentalidade já tão estreita, querendo dizer o que pode ou não ser estudado na academia. Todo projeto de pesquisa tem lá um item chamado "justificativa", onde o autor defende qual é a relevância do tema proposto. Se a justificativa da mestranda convenceu uma banca de professores doutores, é ridículo ver o trabalho ser apadrejado pura e simplesmente por conta do objeto escolhido.

Pessoalmente, eu acho que o funk não contribui para o feminismo em nada. É o que me parece. Pelo que eu sei a maioria das músicas é feita por homens e trata a mulher como objeto sexual mesmo, e as feitas por mulheres também não deixam de centralizar o homem de uma forma ou outra. Quem sabe a dissertação me fizesse mudar de ideia.

Não tenho grande familiaridade com o funk (gosto de dois ou três), mas fiquei com a curiosidade de saber qual é, se existe, a influência do suposto feminismo da Valesca sobre quem gosta, e se ela faz mesmo alguém entender ou pensar sobre a liberdade sexual feminina, se faz alguém parar de julgar. Se sim, eu acharia uma interessante ironia uma pessoa não ter aprendido esse respeito ao próximo em casa, nem na escola, nem na igreja, e acabado aprendendo no funk.

Unknown disse...

Oiess!!

Eu não li os livros, DEVOREI eles, e sim percebi varias indicações explicitas e outras nas entrelinha ao feminismo em todos os livros e em cada um deles apontava mais para uma ou outra personagem e o problema relativo a sua posição na estoria... claro que o pano de fundo pode até ser questionável (pra mim foi ótimo, amo livros de ação, mas não podemos esquecer que se trata de uma estória de ação. Mas mesclar isso à questões tão forte e ainda atuais, como trafico de mulheres, violência física, psicológica e outras mais que praticamente todas as personagens femininas passam é extraordinário. Quando fiquei sabendo que Mr. Larsson havia falecido eu fiquei tão triste como se fosse um parente meu... porque não tão cedo teremos um autor que consiga fazer uma obra semelhante, com muita ação, fantasia, romance e heroínas fodonas do jeito que eu gostos!! kkk

Clarice disse...

olha, a ideia do livro até que pode ser boa... mas, na minha opinião, é um livro escrito de forma rasa, bem superficial e sem passagens que realmente te fazem parar pra pensar

Unknown disse...

Não vi os filmes suecos. Mas o americano é um lixo, não chega nem no cheiro da ação que tem nos livros.... a única coisa que salva é a ver a atriz Rooney Mara hahahaha

Ana Clara disse...

Putz, vou ter que ler essa coletânea de artigos! Alguém achou pra comprar aqui no Brasil? No site da universidade fica meio salgadinho... Livro + frete = 39 dólares.

Sphynx disse...

Só uma observação sobre o "assunto paralelo":

A resposta da mestranda à jornalista Rachel Sheherazade (SBT), que disse que o trabalho "parece até piada" e questionou a profundidade do tema.
http://marivedder.wordpress.com/2013/04/21/carta-resposta-a-rachel-sheherazade/

Anônimo disse...

Como assim, tem gente que acha que o livro nem fala abertamente de misoginia? O título original do primeiro, em tradução literal, significa "Os homens que odeiam as mulheres" (no Brasil ficou "Os homens que não amavam as mulheres"). Tem como ser mais direto que isso????
Não vou discorrer sobre os livros e os personagens porque eu gostei bastante deles (aqueles livros que a gente fica "órfã" quando acaba), mas também as pessoas e a mídia criticarem que a violência é muito explícita é uma certa palhaçada, né? Eles esperam que violência seja amena, boazinha? Acham que um estupro deveria ser retratado nas telas ou nos livros como "agradável" pra vítima? Isso eu achei que o autor fez muito bem, ele mostrou que a violência dói! E eu achava que a versão hollywoodiana ia atenuar estas cenas, e fiquei feliz em ver que isto não aconteceu, e que o estupro do livro foi pras telas. Assisti no cinema e o desconforto das pessoas é notável. E é assim que tem que ser ao se tratar de violência sexual: as pessoas de certa forma têm que, de certa forma, "sentir" pra fazerem alguma ideia de como é. Se todo mundo sentisse esse desconforto, talvez passassem a culpar menos as vítimas e mais os agressores, e não o contrário, que é o que vemos...

Patrick disse...

Ana Clara, eu comprei o livro na Amazon usando o Kindle e saiu bem mais em conta. Preço atual: R$ 26,79. Men Who Hate Women and Women Who Kick Their Asses na Amazon.com.br

Cris disse...

tá na promoçao no submarino! http://www.submarino.com.br/produto/110320259/livro-box-millennium-a-trilogia-3-volumes-

Ana Clara disse...

Obrigada, Patrick!
Infelizmente não tenho Kindle... Achei o livro completo no Scribd, se alguém mais tiver se interessado, dá pra procurar ali.

Patrick disse...

Também é possível ler livros do Kindle sem o aparelho. Ele também tem versões para Mac, Windows, iPad e Android.

Lillian disse...

Terminei de ler ontem a trilogia completa. E tudo o que eu tenho a dizer é: Stieg Larsson é 100% feminista! E dos bons. Vou elucidar mais pra frente os pontos da trilogia que a meu ver ressaltam as ideias feministas do autor, mas de modo geral, toda a trilogia é um épico cujo principal objetivo é narrar as diversas formas de violência contra a mulher, e como somos guerreiras ao matar um leão por dia na luta contra um sistema patriarcal.

O que mais me chamou a atenção (aviso: contém MUITOS spoilers):

1-) Denúncia contra o estupro: acho que é o mais notável, presente desde o primeiro livro. O autor tem o cuidado de denunciar cada aspecto do estupro. Os estupradores da obra de Stieg Larsson não são maníacos num beco sujo. São advogados, empresários, médicos, que estupram para manter uma relação de poder. No segundo livro, há ainda a questão da culpa da vítima. Um dos personagens repete os clássicos "ela se vestia daquele jeito, estava pedindo" e "ela já havia tido relações sexuais antes, então, tudo bem". Quando li essas frases, até tive a impressão de que o Stieg passou por aqui.

2-) Descaso das autoridades diante da violência contra a mulher: esse acaba sendo o grande mote da trama do segundo e do terceiro livro (que é a mesma dividida em duas partes). Na verdade, o autor leva esse descaso a ares até meio fantasiosos e cria uma mega conspiração internacional para proteger um criminoso de acusações de violência doméstica. Lisbeth é a principal vítima dessa conspiração. Quando adolescente, seu pai, um dissidente soviético refugiado na Suécia, agrediu sua mãe a tal ponto de deixá-la inconsciente e com sequelas irreversíveis. Apesar de suas tentativas de denúncia, não só ela não foi ouvida como foi trancada num hospício para forçar seu silêncio sobre seu pai, um segredo de Estado. No hospício, sofreu maus tratos de um psiquiatra pedófilo. E um tempo depois de sair do hospício, foi parar nas mãos de um tutor que a estuprou. Acho que isso esclarece o descaso da personagem com autoridades.

3-) Mocinhas que salvam o dia: apesar do protagonista ser homem, as grandes heroínas dos livros são mulheres. No primeiro livro, Lisbeth acaba salvando a vida e a carreira de Mikael. No segundo, outras personagens ocupam papeis de maior destaque entre os "heróis": as agentes Rosa Figueirola e Sonja Mondig, a detetive Suzanne Miller, a advogada Annika Giannini e a editora Erika Berger. Acho interessante como o autor parece associar mulheres a "mocinhas" e homens a "vilões". Poucos homens de sua obra são de boa índole; por outro lado, pululam machistas, corruptos, violentos, criminosos.

4-) Nem santas, nem putas, apenas mulheres: as mulheres de Stieg Larsson fazem sexo. Muito sexo. Mas não é isso que as define. Acho que o maior exemplo disso é a Erika Berger. Ela tem um relacionamento aberto com o marido, já frequentou clubes S&M, já fez sexo grupal, e volta e meia "trai" o marido com o Mikael. Entretanto, em nenhum momento sua função parece ser a predadora sexual da história. Pelo contrário, ela é sempre descrita pelo autor como uma editora extremamente competente e mulher de fibra. Lógico que há personagens machistas que tentam julgá-la por sua vida sexual. Mas isso não é o que a define. O mesmo vale para Lisbeth Salander: ela tem um apetite sexual voraz, mas o que a define são sua inteligência e aversão às normas sociais. Assim como Erika, homens machistas também tentam julgá-la pela sua vida sexual.

(continua...)

Lillian disse...

6-) Preconceito e assédio no ambiente de trabalho: em dado momento, Erika deixa a Milllenium e vai trabalhar no maior e mais tradicional jornal da Suécia. Acaba sofrendo preconceito pelos homens do local e assediada via e-mails e ameaças em sua casa por um redator e ex-colega de classe.

7-) Tráfico de mulheres: embora a história acabe tomando outros rumos, a princípio, este é o assunto que dá início aos fatos do segundo livro. Um casal de pesquisadores preparava um material bombástico cobre o tema e acaba sendo assassinado. Mais tarde, revela-se que o pai de Lisbeth estava envolvido com o tráfico de mulheres.

Enfim.... há muitos outros aspectos que pra mim indicam que o autor é um grande feminista. Talvez o primeiro livro ainda deixa algumas dúvidas sobre as intenções de Stieg Larsson, mas nos próximos livros ele deixa suas posições bem claras.

Devo dizer que, além do conteúdo bastante feminista, a trilogia é excelente, capaz de te prender até a última página. Altamente recomendada.