
Fora esse pequeno incoveniente, há inúmeras cenas implausíveis. O próprio rapaz seguir o caminhão onde está sua irmã já beira o ridículo. Mas o pior é quando dois personagens conseguem fugir e, ao invés de ficarem no meio de uma multidão, vão até um orelhão isolado fazer um telefonema pra outro país. Por quê? Só pra trama poder continuar.
Há também uma certa xenofobia no ar, como se atravessar a fronteira do México fosse resolver tudo, porque os policiais americanos sim que são honestos. Mas o horror mesmo é ver cenas de estupros de mulheres, e crianças sendo drogadas. Ainda que não haja muita glamurização, essas sequências são terríveis demais. No fascinante “O Mito da Beleza”, Naomi Wolf explica que mostrar cenas de estupro tem um efeito diferente do de mostrar cenas de morte, porque, na vida real, não é uma em cada sete pessoas que é morta. Mas essa é a estatística pra estupros de mulheres no mundo: uma em cada sete mulheres já foi violentada. E os efeitos que rever um estupro causam na vítima são devastadores.
Mesmo assim, claro que o tema de “Desaparecidos” é importante. 50 mil mulheres e crianças são trazidas ilegalmente todo ano pros EUA pra serem escravizadas sexualmente. Isso quer dizer que o mercado é amplo. No mundo, esse flagelo atinge mais de um milhão de pessoas. E, mais uma vez, dá pra ver claramente quem são as vítimas (mulheres e crianças) e quem são os predadores (homens). Lógico que não são todos os homens que são exploradores da miséria alheia, pedófilos e assassinos. Eu sigo acreditando que a vasta maioria é boa. Mas não dá pra negar que 99% dos pedófilos e assassinos são homens. Nossa culpa como mulheres? Uma só: não soubemos educá-los.