terça-feira, 21 de janeiro de 2020

VOCÊ NÃO VAI ENTRAR NO BOLÃO DO OSCAR?

Devo dizer que adorei Jojo Rabbit (veja o trailer legendado), filme do neozelandês Taika Waititi que concorre a seis estatuetas do Oscar. 
Entre os nove indicados a melhor filme, Jojo deve ser o mais levinho, o mais "feel good" (que faz a gente se sentir bem). Se bem que ainda não vi Adoráveis Mulheres e Ford vs Ferrari
Mas como assim, se Jojo se passa na Alemanha no fim da Segunda Guerra Mundial? Pois é, e ainda assim é uma comédia, uma sátira, que me fez verter umas lágrimas no fim. 
É um filme muito bonito sobre um menino de 10 anos que tem Hitler como amigo imaginário (o ídolo de Bolso é interpretado pelo próprio diretor, que também é comediante). Lá pelas tantas, o mini-nazi descobre que há uma menina judia escondida nas paredes de sua casa. Foi a mãe dele, feita pela Scarlett Johansson (indicada a melhor atriz coadjuvante), que a acolheu. 
É tudo muito fofo, ousado e criativo. Algumas pessoas não gostam que temas sérios como o antissemitismo e o holocausto sejam usados para fazer rir, e teve gente que criticou que Jojo pode passar a perigosa mensagem de que até nazistas podem ser boa gente (não, não podem). Mas eu achei que é uma sátira acima de tudo aos nazistas e ao que eles ainda hoje pensam e falam dos judeus.
Acabei de ler um livro muito bom, que a antropóloga Adriana Dias (que pesquisa neonazismo há 18 anos) me enviou em pdf. Chama-se Inside Organized Racism: Women in the Hate Movement, de Kathleen M. Blee. A autora entrevistou dezenas de mulheres que fazem parte da Ku Klux Klan, dos skinheads e de grupos neonazis nos EUA, e o que todos esses movimentos têm em comum é seu ódio aos judeus. Pra eles, judeus são seres abstratos (como identificar um judeu, se tantas vezes eles são tão parecidos com as "pessoas brancas"?), demoníacos, monstruosos, que agem nas sombras. Todas essas absurdas teorias da conspiração são exploradas em Jojo Rabbit. A gente ri do ridículo. E o humor pode ser uma arma poderosa contra o ódio. 
Sei que alguns se lembrarão que eu detestei A Vida é Bela, que também usa o holocausto para provocar risos, e também tem um menino como um de seus personagens principais. Confesso que meu desgosto pela comédia dramática de Roberto Benigni (que nunca revi, então não me lembro muito bem) foi influenciado pela competição com Central do Brasil (Vida concorria com Central pra Oscar de melhor filme estrangeiro em 1999, e lamentavelmente ganhou). Mas Jojo me parece totalmente diferente de Vida. Mais inteligente, menos piegas. 
O maridão, que também gostou pacas de Jojo, discordou de mim quando afirmei que o filme nos faz sentir bem. "É como assistir Bambi de trás pra diante e achar que ele tem final feliz", disse ele. 
Corram pra entrar no bolão!
E aí, você acha que Jojo tem chances de ganhar uma das seis estatuetas a que foi indicado (filme, atriz coadjuvante, roteiro adaptado, design de produção, figurino e edição)? Entre no meu tradicional bolão do Oscar pra fazer suas apostas! Clique aqui para entrar no bolão grátis e/ou aqui para o bolão pago (custa R$ 25, as instruções você lê neste post). Só até o dia 7 de fevereiro, gente!

4 comentários:

Cão do Mato disse...

"Você não vai entrar no bolão do Oscar?"

Não.

Mario Arkus disse...

Ontem eu assisti Jojo Rabbit. Não tinha muitas referências, mas nos primeiros minutos pensei que não ia terminar de ver. O filme foi crescendo e as personagens e situações cobrando altura com originalidade e bom humor. Pelo assunto lembrei do filme de Benigni, porém muito mais de outros filmes de humor negro e política como "A morte de Stalin" -produção inglesa de Armando Iannucci.
No tratamento, eu penso que o filme atinge sutilezas que Benigni nem conseguiu imaginar para o seu, e fica muito longe daqueles golpes baixos à sensibilidade do espetador feito pelo diretor-protagonista. O mundo do Jojo Rabbit é um mundo onde tudo é absurdo e quase irreal, menos os sentimentos.
Com a visão difundida sobre os judeus, convertida em fake-news na fala da Fräulein Rahm, mais de um cidadão de bem que acreditou na mamadeira piroquiana e no kit-gay, vai rir, mas quem sabe ele consiga ver o reflexo das suas próprias crenças absurdas.
Se vai chegar a obter o prêmio principal, não sei, mas é um grande filme.

Anônimo disse...

"passar a perigosa mensagem de que até nazistas podem ser boa gente (não, não podem)"

Em se falando de crianças, acho esse pensamento problemático. A mesma coisa "O Menino do Pijama Listrado", o protagonista é filho de um diretor de um campo de concentração que nem sabe direito o que está acontecendo no seu país e vê os judeus como inimigos simplesmente porque foi ensinado que eles são maus, até conhecer o tal menino que vestia pijamas listrado, que na verdade era o uniforme do Campo de Concentração.

Felipe Roberto Martins disse...

Gente na torcida por Parasita, mas meu coração é Bacurau!