quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

MÉDICOS CUBANOS FORAM EXPLORADOS POR CUBA?

Reproduzo aqui o texto que o guitarrista André Reichhard, que esteve em Cuba, escreveu depois de uma conversa que teve uma médica cubana, participante do Mais Médicos. 

Me hospedei na casa de uma médica cubana que fez parte do programa Mais Médicos em 2014, no município de Capim Grosso, interior da Bahia. Perguntei como foi a sua experiência e, claro, sobre os mitos e fatos que ouvimos no Brasil a respeito do programa.
Quanto ao pagamento recebido por cada médico cubano, o governo Dilma havia feito um acordo com o governo cubano de que cada médico custaria 10 mil reais ao Brasil, por mês. Destes 10 mil, cada médico ficava com 2800 reais, que na época correspondia a 1400 CUC (moeda convertível cubana). Para termos de comparação, o salário que recebiam aqui [em Cuba] era em torno de 60 CUCs.
Fora esse salário, os governos estaduais e municipais garantiam alimentação, moradia e contas como luz, gás, água, transporte e mais o que fosse necessário (o que variava de município para município. Disse ela que era só pedir o que precisava, que lhe traziam em casa).
Com isso, puderam enviar dinheiro para suas famílias, que melhoraram MUITO de vida aqui em Cuba. Uma das coisas que essa médica conseguiu foi comprar uma casa nova, trocar todos os eletrodomésticos antigos por novos e ainda construir uma casa anexa, que fez de air bnb.
Você pode até pensar “mas o governo cubano ainda ficou com a maior parte”. Pois bem, sejamos minimamente racionais. Cuba é um país socialista! O governo fica com grande parte da arrecadação, porém pode equipar os hospitais (todos são públicos) com máquinas novas, construir novos postos, aumentar a oferta de atendimento e baixar ainda mais o preço dos remédios para a população. 
O sentimento dessa médica é também de estar contribuindo com a melhora da qualidade do atendimento em seu país. Em nenhum momento ela mostrou desejo de ter mais ou de que algo foi tirado dela. Ela não só entende como faz questão de ajudar na qualidade do todo (difícil pensar assim, né amigos?).
Sobre ir pro Brasil, ela relatou que todos foram convidados. Muitos recusaram a oferta. Não houve retaliação do governo cubano, muito menos penalidades. Todos que aceitaram sabiam quais eram as regras do jogo e o que estava no contrato. Se alguém não gostasse, bastava recusar e seguir a vida normalmente.
Isso só pra rebater os argumentos do presidente da república a respeito das condições da qual os médicos cubanos se submeteram.
Sobre o atendimento, essa médica tinha 14 pacientes por dia, fora, é claro, aqueles “mas doutora, dá só uma olhadinha aqui, fazendo favor”.
Disse que foi uma experiência linda, se encantou com o povo brasileiro e que foi extremamente bem recebida e benquista por todos, desde o desembarque no aeroporto, passando por bares e restaurantes, atendimento etc. Mas aí, sabemos que somos, na maioria dos casos, um povo alegre, gentil e hospitaleiro.
Houve médicos cubanos que se casaram no Brasil e ficaram. Não houve em nenhum momento uma expulsão ou mando do governo de Cuba para que retornassem “porque a ditadura mandou e ponto”.
Essa médica e seu marido amaram o Brasil e disseram que voltariam no primeiro chamado. Viram uma população carente e pior, sem atendimento médico (coisa que em Cuba não existe).
Ela diz entender médicos brasileiros que, se lhes for oferecido um salário maior numa clínica particular, fossem. Mas lamentou pelas pessoas que puderam, talvez pela primeira vez, ter atendimento de qualidade e atencioso, e agora não podem mais (ela era a única médica de Capim Grosso).
Cabe a nós, como população, ouvir as pessoas que eram atendidas por médicos cubanos e saber suas opiniões. São elas que ficaram sem, elas que precisam de cuidados.
Enquanto debatemos teoricamente a situação ideal, com nosso plano de saúde particular, muitas comunidades carentes ficaram desamparadas.
O que mais me aliviou, foi não ter ouvido dela aquela recepção nojenta que alguns poucos médicos deram aos cubanos quando chegaram. Essa hora deu muita vergonha de ser brasileiro!

5 comentários:

Anônimo disse...

Comprou casa nova? Propriedade privada em Cuba? Achava que lá todas as residências eram do estado que distribuía a população de acordo com as necessidades.

Anônimo disse...

O casa nova se refere a mobiliário novo! A linguagem humana tem desses subentendidos e figuras de linguagem! Se digo que passei o 'reveillón' com Machado de Assis, isso significa lendo as obras dele ou se digo que passei com a pena em punho toda a noite, que fiquei escrevendo.. As moradias cubanas são concedidas por direito de uso, como as de algumas prefeituras no Brasil nas moradias populares dos DEMHABs, podem morar e passar aos filhos , mas não podem vendê-las.
Em Cuba quase toda a população (exceto os que trabalham com turismo) recebem esses salários baixíssimos de 30 a 60 CUCs( cerca de 750 a 1500 pesos cubanos) que não permite comprar eletrodomésticos ou móveis, já que estes são vendidos somente em CUCs nas lojas de venda liberada. Como os salários são pagos somente em pesos cubanos, não é possível comprar nestas.Portanto os trabalhadores cubanos no exterior ganham mensalmente o que levariam 2 ou 3 anos para ganhar em seu país. Assim se pode compreender a casa nova desta médica, ou seja a reforma e mobília total e a construção de um anexo.
Deve se ressaltar que em Cuba todos os serviços públicos são pagos pelo estado ou oferecidos com valores muito extremamente insignificantes. Os ônibus, cinemas, teatros, mercados e restaurantes para cubanos cobram exclusivamente em pesos cubanos e os valores são de centavos. O ônibus urbano, por exemplo, custa somente 5 centavos de peso cubano, ou seja o equivalente a cerca de 20 centavos de real. Quando estive em Cuba, como eu não tinha peso cubano, colocava qualquer moeda de CUC como pagamento na caixa de cobrança e ainda assim saía bem mais barato que no transporte público do Brasil!! Entender Cuba é TOTALMENTE IMPOSSÍVEL, por quem tem referências exclusivamente de uma sociedade capitalista como é o Brasil!! Os jornalistas da grande mídia jamais conseguirão entender o funcionamento do país, pois as referências e parâmetros que utilizam são os dos países capitalistas. É como querer analisar o funcionamento das sociedades indígenas através dos parâmetros ocidentais euro-estadunidenses! Um exemplo de como os jornalistas dessas mídias são completamente ignorantes de como funciona o país é o dos cinemas, por exemplo. Se o jornalista entrar na fila e comprar um ingresso pagará um valor em CUC ( suponhamos 10) ao passo que o cubano pagará os mesmo 10 mas em peso cubano que vale uns 30 vezes menos que o CUC. Quando comprei bananas no mercado de hortigranjeiros que há nas ruas, recebi o troco em pesos cubanos apesar de ter pago em CUCs. Gastar esses CUCs foi muito difícil, visto que desconheço a maior parte do vocabulário específico do espanhol cubano. Ou seja o estrangeiro consegue comprar em pesos cubanos se souber falar em espanhol usando o léxico e o acento local da língua espanhola, o que para a maioria dos brasileiros é totalmente impossível, eis por que os jornalistas dessa mídia empresarial se equivocam mais ainda!!!!

Anônimo disse...

Na verdade as moradias sempre foram propriedade privada em Cuba. Apenas os meios de produção eram estatais. Parem de acreditar em mentiras. Os comunistas não vão tomar as casas em que vocês habitam.

Nina disse...

Seu comentário foi muito enriquecedor. Não sabia sobre a maioria das coisas citadas. Obrigada!

titia disse...

Esses mimizentos querendo falar mal de Cuba sem saber nem em que continente o país fica me enche o saco. Seguinte, galerê com peninha dos cubanos: vocês acham que médicos associados a planos de saúde são explorados? Vocês tem pena dos médicos de plano que trabalham o dia inteiro e ficam com menos de 50% do que suas mães pagam pro plano? Não? Se acham que não, então também não tenham pena dos médicos de Cuba, porra!