Reproduzo aqui um belo post da Mariana, que responde a uma pergunta muito difícil (qualquer definição é excludente).
Eu pretendia começar esse texto com a frase “hoje não quero falar sobre feminismo”, mas seria contraditório da minha parte. Qualquer questão feminina faz parte do feminismo. Sendo mulher, por si só, sou um “problema do feminismo”. Logo, hoje vamos falar sobre feminismo. Vamos falar sobre mim.
Escrevo esse texto no dia 12 de março de 2017. Há alguns dias “comemorou-se” (se assim posso dizer) o Dia Internacional da Mulher. Logicamente, o teor histórico dessa data não foi abordado, mas sim clichês e estereótipos sobre a experiência feminina. Qualquer um sabe o que é ser mulher. Está nos filmes, nas propagandas, nas músicas apaixonadas de homens heterossexuais e nas bocas misóginas dos indivíduos. Todos sabem, menos nós, mulheres, porque somos sempre acusadas de sermos o que somos erroneamente.
Lendo diversas interpretações de outsiders da minha experiência vivendo dentro do meu próprio corpo, decidi falar por mim mesma. Esse texto não busca validar qual é a forma correta ou errada de ser mulher, mas sim de erguer a voz para relatar o peso do meu gênero em minha vida.
Eu sou uma mulher branca, nascida mulher, de classe média, heterossexual e não tenho qualquer tipo de deficiência. Fui oprimida por padrões de beleza durante toda a minha vida, mas, de alguma forma, faço parte deles. Resumindo: mesmo sendo mulher e sofrendo por isso, ainda tenho características que me tornam privilegiada sob outras pessoas.
Minha vida foi marcada pela constante sensação de estar presa em um corpo que me limitava. Eu sempre soube que era tratada de forma diferente, inferiorizada, e por isso incessantemente busquei fugir do que eu interpretava, mesmo que ainda em minha inocência, como uma sentença.
Ainda criança, sofri a violência de ter que me adequar à censura constante, ao entendimento de que, por ter uma vagina, não me era permitido ter direito à experiência completa do que é ser criança. Quando fui flagrada fazendo xixi de pé, porque eu havia visto meu pai fazendo dessa forma, eu apanhei porque não era “coisa de menina”. Enquanto meu primo tinha a liberdade de brincar na rua até o entardecer, eu devia ficar em casa porque a rua não era “lugar de menina”.
Enquanto os meninos ganhavam bola, videogame e carrinhos, eu tinha uma coleção de bonecas, uma cozinha da Eliana e maquiagem infantil (e mesmo tendo tudo isso, minha diversão era brincar com lápis e perfumes, imaginando que fossem crianças na escola). Quando minha mãe chegou bem na hora em que eu estava beijando pela primeira vez, aos meus 6 anos de idade, apanhei com aquele antigo tamanco de madeira, mesmo nem entendendo direito exatamente o que estava fazendo, enquanto o menino que me beijou não sofreu qualquer tipo de consequência, porque aquilo era interpretado como promiscuidade e bem longe do que minha mãe, tão ingênua quanto eu, entendia que fazia parte do tal “coisa de menina”.
Enquanto os meninos ganhavam bola, videogame e carrinhos, eu tinha uma coleção de bonecas, uma cozinha da Eliana e maquiagem infantil (e mesmo tendo tudo isso, minha diversão era brincar com lápis e perfumes, imaginando que fossem crianças na escola). Quando minha mãe chegou bem na hora em que eu estava beijando pela primeira vez, aos meus 6 anos de idade, apanhei com aquele antigo tamanco de madeira, mesmo nem entendendo direito exatamente o que estava fazendo, enquanto o menino que me beijou não sofreu qualquer tipo de consequência, porque aquilo era interpretado como promiscuidade e bem longe do que minha mãe, tão ingênua quanto eu, entendia que fazia parte do tal “coisa de menina”.
Fui apresentada ao assédio muito cedo. Um vestido, em uma criança de 7 anos, já era motivo para atiçar homens muito mais velhos do que eu. Minha inocência, meus traços infantis, minha voz fina, meu corpo liso e meus seios em desenvolvimento eram provocações para as mentes doentias e misóginas de muitos homens.
Não demorou muito para eu aprender a odiar meu corpo. Eu percebi que era errado ser eu. Não me sentia contemplada pelo o que via no espelho, porque, de alguma forma, o mundo enxergava aquela pessoa como alguém que fez por merecer passar por tudo aquilo. Eu não queria ter aquele exterior que, supostamente, era o motivo da violência que eu sofria.
Tentei fugir de mim mesma imitando os homens ao meu redor. Deixei a feminilidade de lado, não queria mais usar roupas de menina, aprendi a ser agressiva, a falar palavrões, a sentar com as pernas abertas e até engrossei minha voz. Todos os meus role models (modelo de vida, inspiração) eram homens. Eu os admirava, queria ser como eles e fantasiava isso na frente do espelho.
Com a puberdade e pré-adolescência à vista, minha ilusória interpretação masculina se tornou o principal motivo para minha autoestima baixa. Enquanto outras meninas eram, de certa forma, admiradas por estarem agindo exatamente como esperava-se, eu era uma estranha, machorra e sapatona. Eu precisava de aprovação. Agora, eu queria me conformar com as consequências de ter nascido como nasci e os papéis de gênero que eu deveria cumprir. Insisti para minha mãe deixar eu depilar minhas axilas e pernas quando eu tinha apenas 11 anos. Passei a usar vestidos, saias e blusas apertadas com mais frequência. Aprendi a usar maquiagem. Me tornei mais delicada e frágil. Passei fome para emagrecer.
No processo de transição para a adolescência e feminilidade, tive meu primeiro acesso ao feminismo por meio da música assistindo uma entrevista da Donita Sparks, integrante da banda L7, falando sobre o movimento riot grrrl (movimento feminista inserido no grunge nos anos 90). Daquele dia até hoje, meu processo de aprendizagem de como eu me insiro como mulher na sociedade é constante.
Sendo jovem, tenho completa consciência de que muitas imposições brutais esperam por mim. Ainda preciso convencer o mundo que ser esposa e mãe não são minhas obrigações. Logo logo, terei que provar que é permitido envelhecer, ter rugas e cabelo branco. Terei que passar por tudo isso me esforçando para não cair no golpe do patriarcado de fazer eu me sentir culpada por existir.
Pai ao lado de suas filhas usa camiseta rosa que diz: "Eu corro como uma garota. Tente me acompanhar" |
Tendo em mente que o gênero é uma invenção para criar uma hierarquia em que o homem é superior e a mulher é inferior, atualmente, posso afirmar com todas as palavras que eu não me sinto como mulher, assim como também não me sinto como homem.
Eu não me adequo aos estereótipos do meu gênero ou de qualquer outro. Me sinto como uma pessoa e que deve ser respeitada como tal. Infelizmente, o machismo ainda existe e resiste na sociedade, o que faz com que não apenas eu, mas todas as mulheres não se sintam confortáveis em seus próprios corpos.
Eu não me adequo aos estereótipos do meu gênero ou de qualquer outro. Me sinto como uma pessoa e que deve ser respeitada como tal. Infelizmente, o machismo ainda existe e resiste na sociedade, o que faz com que não apenas eu, mas todas as mulheres não se sintam confortáveis em seus próprios corpos.
Esse texto é apenas uma recapitulação superficial de como o gênero impactou a minha vida. Muitas pessoas podem afirmar que suas vivências e interpretações das mesmas situações são completamente diferentes das minhas, mas nada disso faz com que a minha história e de todas as mulheres que se identificam com a mesma simplesmente desapareçam.
28 comentários:
<3
não é tão difícil definir. mulher= fêmea humana adulta.
as definições dos homens sobre nós, sempre tão exigentes, sempre tão absurdas, é que fazem parecer difícil dizer o que é uma mulher.
mulher é a fêmea humana submetida à violência da socialização feminina numa sociedade patriarcal.
com todas as diferenças entre nós (orientação sexual, cor, classe) temos essa trágica herança comum.
Mulher é um bixo da raça ser humano, o qual nasceu com uma buceta no meio das pernas.
"Quando minha mãe chegou bem na hora em que eu estava beijando pela primeira vez, aos meus 6 anos de idade, apanhei com aquele antigo tamanco de madeira, mesmo nem entendendo direito exatamente o que estava fazendo, enquanto o menino que me beijou não sofreu qualquer tipo de consequência"
tipico.o msm q eu,nao exatamente igual.
Mas o contrario de vc,era consciente do que estava a fazer.
Lembrando disso só dar ódio e pena dessa disparidade e de quem a propaga.
Catarina,a grande.
Quando cheguei aos 35 anos,estou com 39 hoje,é que notei que não "podemos" envelhecer.Já percebo a invisibilidade. Enquanto jovens somos analisadas como num abatedouro.Seios,pernas,bunda etc.O mundo nos tolera por termos útero e vagina,caso contrário já estaríamos extintas da face da Terra.
"O QUE É SER MULHER?"
com certeza não é ser um omen q no alto de seus 30 anos de idade se deu conta de q "nasceu mulher", e q por causa disso começará a usar banheiros/vestiários femininos, mas ainda sim usando roupa masculina e com pipi pendurado, pq nos dias hj basta vc se "auto-identificar" q pronto, já basta
com certeza ser mulher não é isso
a 15:47 definiu de forma perfeita o q é ser uma mulher de fato, parabéns, não tiro uma vírgula da sua definição, querida
Mulher tem mesmo que ter buceta, peito e bunda bem bonitos e sim, ser medida por sua beleza. Afinal, é exatamente esse o papel dela na sociedade. O machado não pode querer fazer a função do alicate. Cada coisa no seu lugar.
O que é ser mulher? Bom, minha única certeza a esse respeito é que "ser mulher" é algo que não pode ser definido pelos homens, por mais que eles queiram ter esse poder - que, aliás, não eles não tem. Ser mulher é algo que só as mulheres podem definir. Ponto final.
06:00 quer dizer que agora as mulheres podem medir você pela sua conta bancária, pelos seus músculos, pelo número de parceiras que já teve e pelo tamanho do seu pau?
Bom, você continua sendo um fracassado do mesmo jeito. Pobre, feio, gordo, flácido, pau minúsculo, virgem... sorry, mascu, mas é assim que banda toca. O cesto de lixo não pode querer cumprir a função do filtro d'água. Cada coisa no seu lugar, né?
Ah, o seu lugar é no lixo, só pro caso de você ser burro demais pra entender.
Quero lembrar aqui que mulheres trans também são mulheres! Nascer com uma vagina não significa nada além de... ter nascido com uma vagina. A transfobia já mata e já violenta as pessoas trans todos os dias, de forma que a expectativa de vida delas é de cerca de 30 anos. Pensem duas vezes antes de reforçar esse discurso que mata e inviabiliza a existência dessas pessoas.
"Tendo em mente que o gênero é uma invenção para criar uma hierarquia em que o homem é superior e a mulher é inferior, atualmente, posso afirmar com todas as palavras que eu não me sinto como mulher, assim como também não me sinto como homem."
Aprendeu errado.. gênero é um fato biológico, uma realidade da Natureza... os papéis dos gêneros podem mudar de sociedade em sociedade, mas o corpo é o corpo...
O que ocorreu com a autora do texto foi que passou a odiar sua aparência devido ao mau comportamento de algumas pessoas, e aí tentou mudá-la... muitos diriam que foi uma forma errônea de lidar com a situação, embora só quem esteja na posição saiba o que sente, não significa que necessariamente tomará decisões corretas... isso vale pra qualquer um, em qualquer idade, em qualquer lugar...
BLH
Ainda criança, sofri a violência de ter que me adequar à censura constante, ao entendimento de que, por ter uma vagina, não me era permitido ter direito à experiência completa do que é ser criança
Não é necessário ter vagina para ser mulher. Ninguém nasce mulher, torna-se. E mulheres trans também passam por toda a questão, só que infinitamente pior, da inadequação do corpo, censura social de familiares, pseudoamigos, igreja, professores, médicos, funcionários públicos, celebridades, qualquer um que se sinta no direito de fazer isso e as pessoas que dizem querer seu bem e com uma agressividade muito maior, incomparavelmente maior já que somos tidas como aberrações, anormalidades, coisas que tem cura e uma cura sempre muito violenta, que ainda outro dia violentou Verônica, matou Dandara e tantas outras, todos os dias, em todos os lugares, em todos os tempos.
BHL:
Significado de Gênero
O que é Gênero:
Gênero pode ser definido como aquilo que identifica e diferencia os homens e as mulheres, ou seja, o gênero masculino e o gênero feminino.
De acordo com a definição “tradicional” de gênero, este pode ser usado como sinônimo de “sexo”, referindo-se ao que é próprio do sexo masculino, assim como do sexo feminino.
No entanto, a partir do ponto de vista das ciências sociais e da psicologia, principalmente, o gênero é entendido como aquilo que diferencia socialmente as pessoas, levando em consideração os padrões histórico-culturais atribuídos para os homens e mulheres.
Por ser um papel social, o gênero pode ser construído e desconstruído, ou seja, pode ser entendido como algo mutável e não limitado, como define as ciências biológicas.
Nos estudos biológicos, o conceito de gênero é um termo utilizado na classificação cientifica e agrupamento de organismos vivos, que formam um conjunto de espécies com características morfológicas e funcionais, refletindo a existência de ancestrais comuns e próximos.
Por exemplo, o “homo sapiens” é o nome da espécie humana a qual pertence ao gênero “homo”.
Fonte: https://www.significados.com.br/genero
Dançou, colega, dançou, não vai ganhar o doutorado.
Cesar, não aceitar definir mulher por esteriotipos (porque é isso que sobra se não for determinado por biologia) não quer dizer querer que mulheres trans morram ou sofram preconceito. Aceito mulheres trans como elas são, trans, e não devem ser julgadas ou agredidas por isso. Não tenho qualquer problema com homens que por qualquer motivo prefiram usar roupas 'femininas' ou até mesmo usar hormônios e passar por cirurgias. Mas jamais permitirei quer ser mulher seja considerado uma 'escolha' ou 'auto-definição' baseada em um conjunto de esteriótipos. Que 'ser mulher' seja redefinido por homens 'femininos'. Sou mulher independetemente de eu me identificar com isso, é assim que o mundo me vê e me trata desde que nasci.
Homens que ocupam lugares clássicos de mulheres não são mulheres; podem ser homens, apenas, ou crossdressers, drag queens ou transformistas. Não são mulheres. A mulher trans é uma mulher e isso independe do que as mulheres cis pensam! Vamos lá, digamos que uma garota não tem genitália masculina ou feminina definida, sendo intersexual; ou que uma garota tenha nascida desprovida de útero e ovários. Ninguém tem o direito de dizer que ela não é mulher. Da mesma forma que um garoto com vagina não é menos garoto. Me estranha muito dizer que respeita e trazer esse discurso. Lembrando que aceitar mulheres trans não te deixa menos mulher; pelo contrário, te dá o poder de saber que é mulher pelo seu autoconhecimento e não por uma visão externa e preconceituosa.
"Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume..."
FÊMEA HUMANA
Simone, maravilhosa, falava sobre a violenta socialização imposta à FÊMEA HUMANA.
Se vcs querem apagar a existência das mulheres pelo menos sejam decentes e parem de distorcer as produções intelectuais das mulheres.
césar, então o q é uma mulher trans, afinal?
"Homens que ocupam lugares clássicos de mulheres não são mulheres; podem ser homens, apenas, ou crossdressers, drag queens ou transformistas"
pois é, até onde eu sei as trans se encaixam nesse grupo
O que seria do Dia das Mulheres sem uma dose cavalar de transfobia envolvida não é mesmo? Felizmente tem gente bem mais estudada e esclarecida no mundo que sabe diferenciar sexo biológico de gênero. Fico feliz com o reconhecimento das crianças trans, por exemplo, é uma vitória que se comece a questionar a patologização dos corpos e das almas em uma questão que, a rigor, não deveria ferir a ninguém e que é na tentativa de curar que está a verdadeira doença. E me parece bem claro que a sociedade está caminhando para esta evolução de pensamento, com resistência é claro porque esse é o papel que os conservadores dão a si mas a verdade é que a revolução do gênero já começou e quem não acompanhar vai ficar assim, paradão no tempo, alface esperando ser comida pela lagarta, pegando poeira como todas as coisas velhas e sem uso, o oposto do progresso, fazendo companhia para fitas K7 e o cartão da Blockbuster.
não entendo como alguém pode se dizer feminista e defender a exclusão de mulheres
não tem coisa mais alinhada com o câncervadorismo do que esse papo de macho e fêmea, qual vai ser a próxima, usar a Bíblia como argumento? apenas melhorem
20:09
conservadorismo é dizer que existe cérebro masculino e feminino, peloamordedeus
macho e fêmea são condições biológicas. a hierarquização entre os sexos é baseada no gênero, que vcs querem reforçar quando afirmam que feminilidade é o que torna um ser humano mulher.
atrelar feminilidade a mulheres (ou mulheridade) é o que há de mais conservador.
cis é ofensivo porque eu não me identifico com a minha opressão.
afirmar que existe mulher cis é afirmar a subalternidade consentida do sexo feminino (que implica na mutilação genital, casamento infantil, além de menores salário, estupros, prostituição, miséria e cuidado com vulneráveis que atingem predominantemente quem tem vagina)
quem inventou essa hierarquização entre macho e fêmea foram os machos. e agora o transativismo reforça essa hierarquia, afirmando a existência de diferenças naturais nos cérebros masculino e feminino.
homens que defendem essa merda: vcs só são mais do mesmo. sabemos o que vcs são e o que querem fazer conosco. não nos enganam.
mulheres que concordam: entendo e já concordei com isso também. espero que passe.
que coicidencia que hoje mesmo li esse quadrinho que fala sobre essa dificuldade de entender o que é ser mulher quando não se sente mulher https://medium.com/@renatanolasco/os-feminismos-e-eu-ou-como-nunca-me-senti-mulher-1f4acf1947ed#.u147u3m9s
recomendo a leitura pra todes!
Vocês sabem porque as mulheres ficam mais nervosas, sensíveis e choram mais quando etão de TPM ou gravidas? Por causa do aumento do estrogênio que é um hormônio feminino! E sabiam que o tratamento pra falta de apetite sexual e feito com testosterona que é um hormônio masculino! Só que esse hormônio também aumenta a agressividade e outros comportamentos típicos masculinos. Simone de Beauvoir não teria como saber disso porque os hormônios ainda eram pouco conhecidos no começo do século XX, mas é fato que algumas das características femininas ou masculinas são frutos da natureza sim. Negar isso é ser igual os criacionistas, negar a ciência em nome de sua fé.
O que quer dizer se sentir mulher? Não conheço nenhuma pessoa trans, e queria muito entender esse sentimento de não identificar-se com o sexo biológico que nasceu. Tirando as construções sociais atribuídas ao feminino ou masculino (rosa, boneca, vestido, maquiagem x azul, carrinho, futebol etc), com o que essas pessoas se identificam?
Anônimo das 22:53, MUITO obrigada por esse quadrinho! Amei mesmo.
09:23
os hormônios são responsáveis pela feminilidade então.
mulheres têm os pés deformados para que pareçam menores, usam colares para esticar os pescoços, sofrem mutilação genital, tudo por causa dos hormônios (não vou falar das torturas da feminilidade ocidental - salto, cirurgia plástica inclusive na vagina - porque isso já é naturalizado, o eterno mito da mulher vaidosa e fútil argh, nojo de vcs).
tomem vergonha nessa cara, sensível é macho sendo contrariado.
os ciclos femininos merecem atenção e estudo (de verdade, e não esse reforço estereótipo ridículo de mulherzinha que vcs tanto gostam), são importantes sim, mas esse uso cretino e canalha para justificar desigualdade de gênero não cola mais.
vcs estão vindo com tudo para cima de nós (reforma da previdência, hormonização de crianças, projeto do JW para que qualquer um que se declare mulher assim seja considerado - qualquer um, o projeto não tem restrições, projeto de lei para reduzir a pena para estupro de vulnerável, projeto de lei que garante ao nascituro direitos humanos e desumaniza mulheres).
podemos retroceder - e infelizmente acho que vamos - mas vai ter resistência. muitas mulheres estão percebendo, muitas estão se levantando.
Que triste isso de gente transmisógina, credo... não tem como ser feminista e odiar mulheres ao mesmo tempo, isso é esquizofrenia pura.
Mas não tem problema. Enquanto uns peixes ficam aí se debatendo na memória de um rio, nós continuaremos a lutar pelo direito de existir e sim, ainda que com perdas, estamos vencendo.
Ser mulher é ter que colocar "Trigger Warning" em tópico de sobre legalização do aborto dentro de comunidade feminista porque falar de aparelho reprodutor feminino fere as sensibilidades das irmãs transsexuais.
Aborto, uma das 5 coisas que mais matam mulheres adultas no Brasil, é assunto que dentro de uma comunidade feminista depende do aval e dos termos de pessoas do sexo masculino.
Mas não pode não. Ofende. Vagina então é termo proibido. Inclusive, o termo adequado é buraco frontal.
Deixa eu pensar rapidinho aqui qual é o nome da estrutura social que desqualifica e inferioriza "fêmeas humanas" por conta da sua configuração biológica...
"Nascer com uma vagina não significa nada além de... ter nascido com uma vagina."
Disse o homem. Lógico.
Amiguinhos, vamos ler e entender a citação completa de Simone de Beauvoir em vez de distorcer totalmente o sentido do que ela ou do que outras mulheres disseram? Vamos parar de ficar espalhando informações erradas de forma tão desonesta? Pode ser?
"Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino. Somente a mediação de outrem pode constituir um indivíduo como um Outro. Enquanto existe para si, a criança não pode apreender-se como sexualmente diferenciada. Entre meninas e meninos, o corpo é, primeiramente, a irradiação de uma subjetividade, o instrumento que efetua a compreensão do mundo: é através dos olhos, das mãos e não das partes sexuais que apreendem o universo."
Ela não disse em momento algum que uma mulher torna-se a si mesma mulher (o inessencial, o Outro do Homem). Ou pior, como querem inferir atualmente quando recortam só a frase inicial e repetem aos quatro ventos: que qualquer um que queira pode tornar-se a si mesmo mulher. O que a Simone quis dizer é que as fêmeas humanas são feitas mulheres pelos homens. Ela disse que ao longo de toda a história das civilizações masculinas as fêmeas humanas são desde crianças, desde que nascem, submetidas à socialização feminina que as torna Mulheres: o oposto dos Homens; o Outro pertencente aos Homens; o inessencial que é referente ao essencial, ao Sujeito Masculino, sem reciprocidade; o produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam como feminino. Isso não é um dado natural, é um histórico fabricado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas e mantê-las subservientes a eles.
Vídeo legendado em português da Simone de Beauvoir explicando sua frase "Não se nasce mulher, torna-se":
https://www.youtube.com/watch?v=nvlgLsHPPMY
Acho sintomático que tantas vezes deturpem totalmente essa frase da Simone de Beauvoir em nome do transativismo, em apoio à ideologia transgênero.
É uma amostra recorrente de como essa merda é parasitária em relação ao feminismo e os seus fundamentos são baseados em distorções contrárias ao feminismo. Porque um dos objetivos do transgenerismo é barrar/suplantar o feminismo.
As evidências que o transgenerismo é mais uma forma de antifeminismo são flagrantes pra qualquer pessoa que esteja disposta a ver.
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