domingo, 5 de março de 2017

AMOR A BUENOS AIRES

Como já falei muitas vezes, nasci em Buenos Aires, mas vim pro Brasil cedo, com menos de quatro anos de idade. 
Meu papi e eu, década de 70
Sou naturalizada brasileira, moro aqui há 45 anos, e não tenho mais laços familiares na Argentina há varias décadas. No entanto, sempre que visito aquela cidade magnífica eu me lembro do meu amado papi, portenho da gema (e que vivia falando mal dos argentinos).
Silvio na primeira vez que estivemos
em Buenos Aires juntos, no início da
década de 90
Eu e o maridão estivemos lá durante uma semana agora no final de janeiro, direto de Santiago, que conhecemos pela primeira vez. Não sei exatamente quantas vezes visitei a cidade depois que minha família se mudou pro Brasil, na década de 1970 -- umas seis ou sete vezes? Só sei de três fatos: estivemos lá dois anos atrás, em 2015, e as coisas andavam mais baratas; gostaria, se o dinheiro e o tempo permitissem, de ir a Buenos Aires (e a Jericoacoara) a cada dois anos; e me dei conta que nunca estive lá no inverno, e não sinto falta.
Lolinha descansando numa praça
Este post não é nem de longe um guia da capital argentina. Daniel, querido aluno meu que trabalha com turismo, já nos presenteou com um brilhante guest post sobre o assunto. Agora são só algumas impressões.
Desta vez ficamos, pela primeira vez, num apartamento alugado através do AirBnb. E foi incrível. Recomendo mesmo
Entrada do prédio em que ficamos,
em Callao
Pagamos apenas R$ 600 por uma kitinete linda, completa, super bem decorada, num prédio com piscina (que não usamos porque a água estava um tanto fria pro nosso gosto, mesmo no verão). E a localização era exatamente o que queríamos: Av. Callao, a três quarteirões da Av. Corrientes, que é nosso espaço de estimação na cidade (Callao eu amo ainda mais por estar nesta canção tão comovente e tão representativa de Buenos Aires). 
Parte do apê de 36 m2
A dona do apartamento, muito simpática (só não fale com ela sobre política, porque ela defende o Macri -- e o país está visivelmente mais pobre, com mais mendigos pelas ruas do que há dois anos), é uma advogada viajada que conhece bem o Brasil e que tem um escritório perto do apê. Isso é super conveniente, porque assim ela é capaz de entregar as chaves pessoalmente e de explicar tudo. 
Além do mais, ao chegarmos no aeroporto, já mais pro final da tarde, não trocamos dinheiro, porque estávamos com pressa (foi um erro. E, milagrosamente, a cotação no aeroporto estava melhor que na cidade). O tempo voou e as casas de câmbio fecharam. Mas Anahi, a dona do apê, nos emprestou 500 pesos (cerca de cem reais; a melhor cotação que conseguimos foi 5,30 pesos por real, na Cambio Platinum, na Lavalle 1590), que devolvemos no dia seguinte. Coisas que um hotel dificilmente faria pela gente.
E lembram que eu disse que fiquei espantada com o pouco que dava pra comprar com cem reais no Chile? (lá os primeiros cem reais deram pra seis empanadas, um suco, uma água, e dois sorvetes). Bom, em Buenos Aires nosso dinheiro rende beeem mais. Com esses 500 pesos (menos de cem reais) pudemos jantar 
(nada sofisticado, um buffet por quilo num restaurante/ mercado chinês perto de Callao), comprar dois sorvetes (sem dúvida o produto mais caro que consumimos na Argentina: costumamos comprar para cada um um potinho de um quarto de quilo, ou seja, 250 gramas, mas eles chamam de um quarto de quilo, e que custa entre 80 e 100 pesos, dependendo da sorveteria), garantir um maravilhoso café da manhã no dia seguinte, e ainda sobrou dinheiro.
Felicidade é: comer empanadas bara-
tinhas no apê (o vinho é do Silvio)
Depois descobrimos que, próximo de onde estávamos, havia um lugar que vende deliciosas empanadas por dez pesos cada. Tem uns dez sabores, inclusive com queijo roquefort, com massa integral, opções vegetarianas, e putz, dez pesos por empanada! É menos de dois reais (fica na Lavalle, quase esquina com Callao). Então posso dizer que comemos muitas empanadas, inclusive pro café da manhã. E alfajores. 
Outra coisa que me deixou fascinada foram as "picadas", bandejinhas com pedaços de queijo, presunto cozido, salame, mortadela. Cada bandejinha, encontrada facilmente nos mercados, custava em média 25 pesos, ou seja, menos de 5 reais. 
E mercados, há um em cada esquina. Praticamente do lado do nosso prédio havia dois, um Carrefour (não são supermercados, são mercados pequenos, mas muito úteis, e que praticam os mesmos preços dos supers), e outro de donos chineses. Nesses mercados de donos chineses há um setor de frutas, mantido por donos latino-americanos (peruanos, bolivianos, talvez alguns dominicanos). E você paga o que compra em caixas separados. Funcionou bem pra mim.
Pelo jeito este post será apenas sobre comida. Ah, mas você viaja pra quê, se não for pra comer?
Confesso que um dos principais motivos de ir pra Buenos Aires é pelos sorvetes, os melhores que já comi na vida, junto com os italianos (menção honrosa pra excelente sorveteria de Jeri, a Gelato Grano). Como eu disse, os sorvetes não são nada baratos (compare: o potinho de 250 gramas por 80 pesos equivale a 8 empanadas, ou a 3 bandejinhas de picadas), mas valem muito a pena. Os de doce de leite são famosos, se bem que eu não tenho olhos pra qualquer sabor que não seja o de chocolate amargo. Você identifica a qualidade de um sorvete pelo sorvete de chocolate. Quanto mais escuro, mais chocolate.
Lolinha na sua segunda casa, a Cadore
Minha sorveteria preferida é a Cadore, em Corrientes, perto do teatro San Martin. Não tem franquia. A lojinha é só lá, e os sorvetes são feitos lá mesmo, há muitas décadas (a loja foi inaugurada naquele mesmo endereço em 1957, ano em que nasceu o maridão). Os donos estão sempre lá, no caixa, e às vezes servindo também. Deve ser o único lugar na cidade que a gente faz questão de ir todo dia.
Antes de ir pra Argentina desta vez, pesquisei brevemente na internet sobre sorveterias. Gostei bastante deste post. Praticamente todo texto sobre Buenos Aires fala sobre as sorveterias, e praticamente todo texto sobre sorveterias recomenda aquelas "melhores que o Freddo, que é a mais famosa. Mas reconheço que o sorvete de chocolate amargo do Freddo realmente está entre os melhores.
Lolinha descabelada chegando a heladeria Jauja, após uma interminável caminhada
Outra sorveteria que abriu inúmeras lojas pela cidade foi a Volta. Eu, sinceramente, não gostei. Só posso falar pelo sorvete de chocolate amargo, claro
Uma surpresa, porque não costuma constar na lista das melhores sorveterias, mas eu achei o de chocolate amargo perfeito, é a Vanshelato, na Recoleta, perto do cemitério (Gal. Hera com Junin). Adorei mesmo. E fica uma dica, se alguém for a Buenos Aires em fevereiro: em homenagem ao dia dos namorados deles (San Valentin, 14/02), durante duas semanas, a Vanshelato vende tudo em dobro. Você paga 80 pesos por um potinho e ganha outro grátis. Há várias promoções também em hotéis por conta da data, a preços convidativos. Fique de olho.
Num domingo, tive uma ideia um tanto maluca: fazer um tour pelas melhores sorveterias (o quê, algumas pessoas visitam museus?!). Bolei um mapa no Google, mas a verdade é que não deu muito certo. Tirando a Cadore, que está em Corrientes, quase todas as outras estão localizadas em Palermo, que é o maior bairro da cidade. E a gente decidiu ir andando. Foi assim que descobri a Vanshelato no meio (começo?) do caminho.
Placa de sorveteria em Pipa
que Daniel mandou p/mim:
Vc não pode comprar feli-
cidade, mas pode comprar
sorvete, e é meio que a
mesma coisa  
Pelo menos na Jauja eu queria chegar. São sorvetes da Patagônia. E são ótimos (mas Cadore é melhor). Quando finalmente chegamos, fomos muito bem recebidos por um atendente que me deu uma colher enorme de sorvete de chocolate com laranja pra experimentar (pô, eu tenho cara de quem contamina chocolate com laranja?!). É óbvio que eu comprei o de chocolate amargo, que na Jauja se chama Chocolate Profundo
Pra voltar, conversamos com o atendente, que não quis acreditar que pretendíamos voltar andando també
("és lejíssimo", disse uma mulher que ouviu nossa conversa). Na realidade, não foi exatamente ideia minha voltar andando. Eu pegaria de bom grado (em vez de caminhar a Av. Santa Fe e Independência inteiras) um táxi ou metrô, mas o maridão aparentemente é do tempo em que a roda ainda não havia sido inventada 
(três dias antes, ele me fez ir de Callao até Porto Madero andando, ida e volta; eu comentei que a cidade tinha alguns meios de transporte alternativos, digamos, tipo táxi, metrô e ônibus, mas ele insistiu que a gente devia andar mesmo. E você acha que ele comete essas loucuras por razões de saúde, pra praticar exercícios, sei lá? Nada, é porque ele é um pão duro miserável mesmo).
Ele é lindo, mas um pão duro miserável incorrigível
Eu sei que sou sovina também, mas perto do Silvinho, sou uma amadora. 
Só pra dar um exemplo. No nosso penúltimo dia em Buenos Aires, eu calculei (meio errado) que iriam "sobrar" 300 pesos, depois de tudo que a gente ainda iria gastar. Então disse ao maridão para que ele gastasse aquilo no que quisesse, no que precisasse. Ok, 300 pesos não é muito (uns 60 reais), mas dá pra comprar umas coisinhas, um mouse sem fio, uma loção pós-barba, sei lá. O maridão saiu sozinho e voltou duas horas depois com quase todo o dinheiro. Ele havia comprado uma pilha e uma revista antiga que continha a última entrevista com John Lennon. Ficou falando bastante tempo sobre como quase comprou uma lanterna.
Wilson, à esquerda
Só fomos comer em dois restaurantes mais chiques duas vezes. Um deles na Recoleta; outro, em Corrientes. Na Recoleta conhecemos um brasileiro, o Wilson, que junto com sua mulher começaram uma agência de turismo, a Magic Travel. Não fomos a nenhum lugar com ele porque estava em cima da hora, mas os preços que ele me passou pareceram muito bons. Tipo: para ir a um show de tango com jantar incluso, com bebidas (que é o que mais encarece as refeições na Argentina), e transporte, sai uns cem reais pro casal. Vou fazer propaganda do Wilson porque ele é uma simpatia. 
As minas do Mujeres Arriba
Ah, fomos ver um show de stand-up comedy! Creio que foi o primeiro de nossas vidas. Eu quis ir pra praticar meu espanhol, que depois de quase duas semanas estava tinindo (eu entendia tudo! Me comunicava com todo mundo! Parecia nativa!). Escolhi um show no Paseo La Plaza (que eu adoro: Corrientes 1660) chamado Mujeres Arriba. Foram quatro apresentações só de mulheres e eu ri bastante, apesar das piadas gordofóbicas de uma delas (logo da gordinha). Uma dica: não vá direto à bilheteria comprar os ingressos. Procure alguém que está fazendo divulgação do show na entrada (em Corrientes mesmo) e ela te leva até o local. Sai bem mais barato.
Comédia que não fui ver, em cartaz:
Casados, sem filhos (childfree)
Na volta pra cá, uma grande confusão que nos fez perder tempo e dinheiro: fomos pro aeroporto errado! Como não havia nada na nossa passagem indicando que o voo sairia logo do aeroporto na cidade, pertinho da gente, fomos de táxi ao aeroporto por onde tínhamos chegado do Chile. E não há transfer de um aeroporto pro outro, como deveria haver. E eu tinha aula marcada já pro dia seguinte. Se a gente perdesse aquele voo, sabe-se lá quando a gente conseguiria voltar. 
Não encontrei foto do Gonzalo
E eis que surge um jovem argentino, Gonzalo Boraglio, dizendo algo tipicamente portenho quanto a suas habilidades no volante ("Soy el mejor"), que conseguiu nos levar de um aeroporto pro outro em tempo recorde (infringindo várias leis de trânsito, tenho certeza). Graças a ele não perdemos o nosso voo. Portanto, farei propaganda dele também: +54 9 11 2159-2375, email arg.taxi.ok@gmail.com. Atenção, porque há cada vez mais voos internacionais saindo do aeroporto menor, central, de Buenos Aires (o que é ótimo, desde que você não erre de aeroporto). 
A gente em frente ao Louvre, em 2011
Acabamos gastando R$ 1.670 em Buenos Aires. Com os R$ 1.510 do Chile, e mais os R$ 300 no Rio, foram R$ 3.480. Todo o resto (aluguel dos apartamentos via AirBnb e passagens, que não pagamos, finalmente usamos as nossas milhas! Só pagamos o trecho entre Santiago e Buenos Aires, e as taxas dos aeroportos, que não são baratas), que deu R$ 3.060, já havia sido pago em 2016, vários meses atrás. Logo, nossa viagem de duas semanas custou no total R$ 6.540. 
Daniel em sorveteria em Pipa
Compare com os quase 15 mil que gastamos em 2011 por duas semanas na Europa
Ah, uma última dica. O melhor dia e horário pra checar promoções de passagens aéreas é de sexta pra sábado, a partir da meia noite, durante a madrugada. Sugestão do especialista chamado Daniel, que conseguiu voo de Fortaleza para Natal durante o carnaval por apenas R$ 59. And all I got was this lousy photo (tenho que explicar essa referência?).

11 comentários:

Unknown disse...

Parabéns a vocês pelo passeio. Obrigado por compartilhar conosco! São um casal lindo.

Giovanna Segalla disse...

Ai Lolinha, acho você uma querida! Moro em Buenos Aires e da próxima vez que vocês vierem pra cá, podem ficar na minha casa. Meu noivo é um argentino que adora os seus posts! Sintam-se convidados de verdade ♥ (meu e-mail é gi_segalla@hotmail.com) :)

Anônimo disse...

Lola vc escreve com tanto entusiasmo sobre a sua experiência na Argentina que dá vontade de ir lá tbm. Beijos querida.

lola aronovich disse...

Muito obrigada pelo carinho, Giovanna! Vou anotar o convite. A primeira vez que eu e o Silvinho fomos pra Buenos Aires, em 91, ficamos no apê do Arturo, ex-marido da minha mãe (ele estava em Nova York, trabalhando). O apê ficava em Palermo, bem pertinho do zoológico que fechou. E foi muito bacana. Todo aquele lado é lindo, muito arborizado. Mas gosto mesmo é da região central de Buenos Aires, Corrientes e tal. E esse apartamento da Anahi é muito acessível, economicamente falando. O maridão queria se mudar pra lá pra sempre. Aí vc tem que explicar pra pessoa que uma coisa é viajar, de férias; outra é morar num lugar, trabalhar, ter compromissos... Mas ele tá louco pra jogar um torneio de xadrez aí (já jogou dois). Abração pra vc e pro seu noivo argentino! Da próxima vez que a gente for vcs precisam nos levar prum passeio, um tour pra algum lugar da cidade que vcs gostam!


lola aronovich disse...

Obrigada, Charles! É bom escrever sobre essas viagens, assim eu não esqueço nunca.


Anon das 18:42, ah, eu adoro Buenos Aires! E tomara que meus relatos sejam contagiantes e façam muita gente ir pra lá. Pra quem mora no Sul, dá pra ir de carro. Fizemos esse passeio duas vezes quando morávamos em SC. Claro que parando em várias cidades pelo caminho. Mas é bom, porque a gente vai conhecendo um monte de lugares em SC, RS, Uruguai, Argentina... Se fizer esse passeio com outras 3 pessoas que saibam dirigir, dá pra todo mundo pegar no volante e não cansa tanto. Recomendo muito! Não sei como dá pra morar no Sul e não conhecer Uruguai e Argentina!

Anônimo disse...

Adoraria fazer viagem usando airbnb só que uma amiga minha flagrou câmera no lugar em que se hospedou, o dono ainda veio com papo que era pra segurança dele etc. e a empresa também se fez de sonsa. Nem duvido que hotel também tenha mas acho que nesse caso fica mais fácil tomar uma providência. Foi aqui no Brasil mesmo, isso.

Camila Lélis Oliveira disse...

Lola... Me ajuda denunciar essa página no Facebook: https://www.facebook.com/blogmetendoareal/

É uma página machista e misógina.

Agradeço.

Anônimo disse...

Vendo o comentário da Lola, deu vontade responder também: moro no RS e já visitei o Uruguai e a Argentina, só de carro! Acho estranho ver muitas pessoas que não sabem nada desses países, mesmo tendo condições para ir, sinceramente. É uma passeio legal para fazer no fim ou no início do ano, vale a pena.

Unknown disse...

Oi Lola

Passei um tempo sumida e fiquei tão contente de ver você viajando e feliz! Que coisa boa.

Isso só aumenta minha admiração por você, que consegue lutar, defender seus ideais e viver, a despeito das mazelas desse mundo que anda cada vez mais triste.

Também adoro Buenos Aires, a primeira vez que visitei foi com um grupo de amigas, foi tão mágico, a cidade é linda, acolhedora, charmosa, com uma comida espetacular! Em geral só tenho ótimas impressões do povo argentino e de outros da nossa america latina, todos muito educados e gentis!

Estarei lá nas passeatas do 08 de março pela vida das mulheres, pensando em todas as maravilhosas mulheres que tive a graça de conhecer, tal como você! Fico muito agradecida. Gratidão mesmo por seu trabalho.

Desejo tudo de bom pra você :-)

Um forte abraço!

Carla

Flavia disse...

Pois é, eu moro no RS e só fui a Buenos Aires uma vez. Fiquei com vontade de voltar ao ler teu relato. Vou fazer tour em sorveteria também. :-)

Daniel Carvalho - UFC disse...

Caríssima Lola! Acabei de me encontrar no blog!!! Melhor professora de Literatura ever. Vale ressaltar que não gosto da disciplina, se não fosse você não teria aguentado 4 semestres. Abração!