quarta-feira, 6 de agosto de 2008

MULHER COMO PRATELEIRA

Mulher é exposta como objeto sexual em 99% dos comerciais de cerveja. Neste que a Suzana mandou, da Guinness, isso fica ainda mais explícito. O único imperativo – e propaganda é a arte dos imperativos (compre, beba, faça, experimente) – está no final: “Compartilhe uma com um amigo. Ou dois”. “Uma” tanto pode ser a cerveja como a moça. Tanto faz. Eu diria que neste comercial mulher e cerveja têm igual importância, mas não é verdade. A cerveja tem rosto e é tratada com mais carinho e respeito. A mulher não pára de se mexer. E não dá pra saber ao certo o que está fazendo. Ela tá inconsciente, sendo estuprada? Ela tá fazendo sexo oral em alguém? Está numa esteira? A mão meio cambaleante que vem de baixo reforça a idéia que é algo sexual e que há dois ou três homens envolvidos. Ela não bebe cerveja. Está ocupada demais com afazeres mais importantes. Mas eles bebem sim, e depois de cada gole, dão o seu parecer: “Ahh!”. Como se fosse um gemido de prazer. Já que a mulher é um objeto, e objetos não têm prazer, apenas proporcionam prazer, à figura sem rosto não geme nem chia. À mulher é negado o prazer. Tanto o de beber cerveja quanto o sexual.

Nada mais justo: prateleiras não consomem cerveja. Vão ter prazer como? Mais uma vez fica claro: o único prazer que mulher pode ter é dar prazer aos homens. Não relaxe e goze, e ai de você se derrubar a garrafa.

P.S.: Eu gosto da musiquinha. Ela podia ser a trilha sonora pro suicídio coletivo dos publicitários que bolam esses fantásticos comerciais de cerveja.

P.S.2: Ao procurar uma foto pra ilustrar este post, descobri que o comercial é uma paródia da Guinness e não foi autorizado pela marca. Não que seja muito diferente dos anúncios “verdadeiros” de cerveja que costumamos ver.

P.S.3: Tem gente se referindo ao vídeo como “the orgy ad” (o comercial da orgia). Ah, então é sobre sexo? Eu nunca participei de uma suruba, mas até em De Olhos Bem Fechados elas parecem mais animadas. E olha que nesse filme do Kubrick todo mundo fala e age como sonâmbulo!

22 comentários:

L. Archilla disse...

excelente observação, Lola! escrevi um texto sobre o assunto neste blog aqui, dá uma olhada...

http://abacoros.blogspot.com/2008/06/na-contramo.html

bjs!!

lola aronovich disse...

Obrigada, Lauren! Muito bom o seu texto. Acho que eu já o tinha lido em junho, mas não lembrava. De fato, fazer pesquisa científica pra comprovar o que todo mundo sabe (que sexualidade feminina vende produtos pra homem) é jogar dinheiro fora. Mas boa parte da pesquisa científica é mesmo feita por homens pra homens. A gente se esquece, às vezes, que o mundo é deles. Quase tudo na nossa cultura é feito pra eles.
Sabe, eu amo os homens, mas gostaria de ser lembrada de vez em quando como um ser completo, não apenas como um objeto sexual com função decorativa ou como mãe de varões. É impressionante como mulher segue sendo avaliada nesses dois quesitos...

Anônimo disse...

Nossas cervejas precisam tomar uma aula :D... mesmo sendo forjado, bem interessante o comercial e a foto da mulher ao lado da cerveja, bem complexo e criativo. Já o texto, apenas feminista haha.

Lolinha vc bebe ? Abr


PS: Ainda que seja uma martelada no mesmo lugar (mulher como produto), texto legal Lolinha.

Anônimo disse...

Bom ver que A sete palmos esta encalhado, já Lost ...

lola aronovich disse...

Pedrinho, que bom que vc está reaparecendo aqui no blog, mesmo que seja pra dar marteladinhas nos meus posts. Tá, sei que não é um assunto novo, mas eu não ia deixar um comercial desses passar batido, né?
Eu não bebo nadinha. Só água. Aliás, ainda preciso escrever um texto sobre a lei seca, tolerância zero, essas coisas.
Cadê a Maíra que não aparece aqui pra fazer campanha pra Six Feet Under?! Ficou lá pra trás... Pior que nem posso torcer pelo segundo colocado (House), porque não gosto de House. Vc não pensou que Heroes teria mais votos? Sinal de que a segunda temporada foi um fracasso mesmo. Six Feet Under! Six Feet Under!

Anônimo disse...

Claro hahaha e sim escreva sobre essa lei cretina (quase = a tolerancia zero, com essa base que eles tem de medida onde até um bombom de licor "já lhe deixa bebado", onde até aqueles negocios de boca tipow Listerine já apitam no bafometro hahha).
A Maira hahaha espero que não apareça por aqui, mas eu falei que a serie favorita dela estava perdendo... quanto a Heroes comecou bom, ficou foda e no final já caiu consideravelmente, depois na segunda temporada todo mundo fala que ficou tão ruim e que no final conseguiu ser pior ainda, então nem vi. Um dia eu vejo.

E outra, estou viajando hoje a noite, perto do dia dos pais e tal, prepare-se que de lá votarei em Lost novamente ;).
Abr

Anônimo disse...

Nossa! Que senso de humor nojento.
(Ando tão chata com esse negócio de humor. Estou arrumando birra por qualquer coisinha)

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Só para constar (meu computador está sem som): A mulher realmente não parece estar se divertindo muito. Uma passividade assustadora para alguém que - teoricamente - está participando de uma suruba.

lu disse...

repare que no ritmo da música tem uns barulhinhos de sexo oral, indicando que ela tá fazendo um boquete. acho que fica bem claro que é uma orgiazinha... nunca que isso é um estupro - e não entendi onde estaria a esteira rs

ah, eu tbm queria saber o q vc pensa dessa lei seca.

lola aronovich disse...

Vou escrever sobre a lei seca, Pedrinho. E obviamente mais uma vez vou discordar de vc. Ah, fala pra Maira vir aqui. Quando a enquete começou e Six Feet Under tava empatada com Lost, eu falei pro maridão que não achava que iria continuar assim por muito tempo. Afinal, Lost deve ser muito mais popular que Six. O que não significa que é melhor, só que é mais vista! O quê? Vai vai votar em Lost 3 vezes?! Por isso que essa joça tá ganhando!


Ollie, eu me considero muito bem-humorada, mas tem vezes que canso de rir das mesmas piadas. E são piadinhas em que somos sempre o alvo! E também estou cada vez mais cansada de piadas racistas e homofóbicas.
Total passividade mesmo! É como eu disse, nem em Eyes Wide Shut uma suruba é tão chata!

lola aronovich disse...

Lu, sei lá, a primeira vez que eu vi pensei: por que ela tá se mexendo? Nem notei que tinha sexo na jogada! Por isso pensei em esteira. Quer dizer... Não tem umas maquininhas pra queimar gordura, tipo eletrochoque? Esteiras, whatever? Ok, é aqui que eu revelo TODA a minha ignorância. Não notei barulhos na trilha sonora. Só os "AHH" dos caras depois de beber cerveja, que realmente parece ser uma atividade muito mais prazerosa, a julgar por esse comercial, que sexo. E sobre a mulher, por ela estar tão passiva e não haver absolutamente nenhum gemido dela (só dos caras, e por beber cerveja), pode dar a entender que ela está amordaçada, ou inconsciente. E se ela estiver inconsciente e for sexo não-consentido, é estupro, certo? Quer dizer, é uma possibilidade nesse comercial em que a mulher tá sendo usada de prateleira...

Anônimo disse...

Oi Lola! Sou amiga da Andie, de Detroit, e ela me disse que seu blog era muito bom, então eu vim conferir. E, realmente, é muito bom. Ontem eu estava lendo uma dessas revistas femininas, estilo "Cláudia" enquanto esperava os meninos saírem do judô, e me deparei com uma reportagem sobre as mulheres brasileiras na Europa, em especial na Espanha e em Portugal. As mulheres lá são tratadas como prostitutas, mesmo as que não são. Mulheres universitárias são chamadas a todo tempo de mulheres da vida e, sinceramente, acho que a culpa é (quase) toda nossa.
As mulheres são tratadas como objetos porque deixam. Basta olhar o carnaval: milhares de mulheres seminuas ou nuas, sambando e rebolando na cara dos machos que assistem. As mulheres se dispõem a fazer comerciais em que aparecem de biquini, vendendo cerveja. Pior são as propagandas de roupa veiculadas em outdoor, em que ninguém está vestido. Eu acho que, para que possamos reclamar e reivindicar, devemos primeiro mudar nossa própria mentalidade. (digo "nossa" porque sou mulher, mas eu me valorizo.)
Acho extremamente válidos seu post e sua reflexão. Quem sabe assim as "mulheres objeto" se dão conta do papel ridículo a que se propõem.

Beijos.

lu disse...

aah, entendi! aquelas de emagrecer... hahahahaha nossa, ia ser tão espirituoso se eles abrissem a câmera e tivesse isso aí.
é verdade, podia até ser uma boneca no lugar dela. eu queria saber exatamente porque a guiness não topou esse comercial como oficial - aposto como seria pelos motivos errados, já que eles não têm escrúpulos em retratar mulheres assim nas propagandas. deve ser porque é mto explícito, o "sexo"...

ps - coloquei um adendo lá no meu post, depois da sua crítica.

Dgsantos disse...

Bom, é inegável o efeito que a sexualidade feminina exerce sobre os cérebros de nós homens.
Se isso ajuda a vender alguma coisa eu não sei, mas com certeza ajuda a atrair nossa atenção. Eu pelo menos não tenho esse impulso de comprar determinado produdo só porque colocam aquela modelo linda, seminua no anúncio... mas com certeza vai me fazer olhar. É claro que existem formas mais criativas de atrair a atenção de alguém, mas suponho que esse seja o caminho mais fácil.
E Lola, eu realmente admiro as mulheres, acho que vcs são melhores que os homens em quase tudo. Sério mesmo, gostaria que o mundo fosse governado por vocês, acho que seria um lugar muito melhor.
Mesmo assim, nem sempre consigo fugir desse lado perverso, de enxergá-las como objeto de sexual... acho que é algo impresso nesse nosso DNA primitovo.

Lolla disse...

Essa é fácil de entender. A mulher tá sendo "spit roasted" (imagem pra entender: http://www.morgansbbq.co.uk/photos/pig_1.jpg); sexo oral em um e sendo "pega por trás" pelo outro. O que o "terceiro" amigo estava fazendo ali embaixo, pode ser tanta coisa que só Deus sabe, haha.

lola aronovich disse...

Oi, Juliana, bem-vinda! Que bom que a Andie te trouxe aqui. Espero que vc não se ofenda se eu discordar um pouco de ti. Já vi em alguns blogs europeus (principalmente portugueses), todas as mulheres brasileiras serem chamadas de prostitutas. Isso é altamente ofensivo, não por eu ter algo contra as prostitutas, que estão fazendo um trabalho que, se não houvesse procura (masculina), nem existiria, mas porque é preconceito. É colocar todas as mulheres no mesmo saco. Agora, acho que o problema tá com quem faz (ou pensa) uma afirmação dessas, NÃO com as brasileiras ou prostitutas. A gente não pode cair na ladainha de "blame the victim", sabe, de achar que uma mulher mereceu ser estuprada por causa da roupa que usava. Mesmo que ela estivesse nua rebolando na frente do cara, o estuprador é o culpado. E o mesmo com o europeu que acha que toda brasileira é prostituta, a meu ver. Eu, vc, e quase todas as mulheres que conheço não desfilamos no carnaval ou fazemos propaganda de cerveja. E mesmo as que fazem isso não são prostitutas, certo? Concordo contigo que muitas mulheres se deixam fazer de objetos sexuais e, claro, gostaria que isso mudasse. Mas gostaria que a cabeça dos homens, não só a das mulheres, mudasse também. Um cara que acha que brasileira é tudo prostituta tem muito menos o meu respeito que qualquer mulher que desfile seminua no carnaval. Ou que qualquer prostituta.
Apareça sempre, Juliana!

lola aronovich disse...

Lu, é, pelo que entendi, a Guinness "desautorizou" o comercial por ser sexual demais, não por destratar qualquer mulher. Contra isso ninguém vê nada de mais.
É, vi o seu adendo, mas, sei lá, quando vc fala de "teoria feminista" o que me vem à mente são as teóricas feministas, sabe? E não sabia que seu blog era especializado em teoria feminista, ou que seus leitores(as) fossem experts em teoria feminista. Não há nada de errado em ser leigo num assunto. Ser leigo não é ser ignorante. É apenas não ser um especialista. Por isso, acho, sim, que a maior parte dos seus leitores(as) - e dos meus, e de todos os blogs que leio - é leiga. O erro no seu post, no meu entender, foi vc dizer que sem ler teoria feminista não dá pra ser feminista. Discordo mesmo.
E claro que, quando visito ou comento nos blogs dos outros, levo a minha visão de mundo. Vou levar a de quem? Tem como embrulhar a minha visão e deixá-la guardadinha em casa? Todas as minhas opiniões vão refletir a minha visão. As suas também refletirão as suas.

lola aronovich disse...

Daniel, acho que não devemos confundir sexualidade com comercialização da sexualidade. Vc, como hétero, vai mesmo se sentir atraído por mulheres e, inclusive, pela sexualidade feminina. Eu, como hétero, sinto o mesmo pelos homens. E acho até bonitinho quando um comercial coloca um George Clooney sem camisa pra vender um lava-roupas, como já fizeram (comigo não funciona muito, mas nada funciona. Eu não compro. E eu só me lembro do George, não da marca da máquina de lavar). Um dos problemas é a desproporção em que homens e mulheres são usados como objetos-sexuais. Pra mulher é TODA hora. Pode atrair a atenção dos homens, mas certamente atrai a das mulheres também. E acho que ver diariamente dezenas de imagens que nos tratam como objeto sexual afeta a nossa auto-estima. É uma lavagem cerebral. Somos ensinados (homens e mulheres) a ver que mulher só serve pra duas coisas mesmo: objeto sexual e mãe. Vc, como homem, pode ver um comercial como esse da Guinness, até sentir-se atraído, mas analisá-lo... e acabar ficando tão revoltado quanto eu. Até porque esses comerciais que usam e abusam das mulheres-objeto também não têm uma opinião muito boa dos homens...


Lolla, tá, acho que entendo a imagem, mas a mulher do comercial parece morta. Pruma posição sexual como essas não deveria haver alguma movimentação da cabeça e do bumbum? Tirando uma leve tremedeira geral, que por pouco não derruba garrafas?

Chaves disse...

Nossa eu fiquei com tanto ódio desse comercial quando eu vi...
Não consegui nem falar nada, é tão humilhante...

lola aronovich disse...

É uma coisa mesmo, né, Camomila?!

Mosaico incompleto disse...

É realmente para depor contra a Guiness.

Não consegui ver humor no comercial, achei aliás bem deprimente.

Se fosse só grosseiro, ainda poderia ser engraçado, mas deprimente não dá... Isso foi veiculado onde?