domingo, 7 de janeiro de 2007

EXPERIÊNCIAS CINEMATOGRÁFICAS

Aqui em Detroit, como no Brasil, praticamente não há mais cinemas na rua, só multiplexes dentro de shoppings. E em Detroit mesmo só existem uns dois multiplexes, o resto fica nos subúrbios. Aqui não tem esse negócio de estudante pagar meia (só no cinema de arte do museu perto de casa, onde o ingresso normal custa US$ 7,50 e, pra estudante, 5). Mas a verdade é que até agora nunca pagamos mais de 7,50 por uma entrada. É que, por causa do transporte público limitado, e por não termos carro, só vamos às sessões da tarde, que geralmente são mais baratas. Depois das 6 acho que sobre pra 9 dólares. Claro que os cinemas ganham muito mais dinheiro vendendo pipoca e refrigerante do que ingressos. Uma vez tivemos que pagar 4 por um maldito cachorro-quente que era puro sal. Era isso ou sair do multiplex pra comer lá fora e depois ter que comprar um bilhete novo pra entrar.

Melhor explicar. Olha, juro que não somos desonestos nem nada. No começo, quando a gente pegava dois filmes direto, um depois do outro, até pagava por cada filme. Mas aí descobrimos que não havia ninguém pra recolher os bilhetes pra segunda sessão. E que as salas ficam todas no mesmo corredor. Só há um bilheteiro na entrada do multiplex, não na entrada de cada sala. Ou seja, querendo (e a gente quer), dá pra pagar somente um ingresso e passar a tarde toda no cinema, vendo quantos filmes quiser. Um amigo americano explicou que tem tão pouco louco que faz isso que não compensa pros multiplexes contratarem mais funcionários pra fiscalizar essa gentinha.

Algumas (poucas) redes tentam dificultar a vida do cinéfilo de um ingresso só. Elas não dizem em nenhum lugar o que tá passando em cada sala. Pra saber onde tá passando, por exemplo, “Eu sou a Lenda”, só comprando o bilhete. Ou entrando em cada sala pra ver, o que faço sem dor na consciência.

Umas redes promovem boas campanhas pra educar os espectadores. Antes do filme começar, passam desenhos animados pedindo pra que o sujeito desligue o celular e “não acrescente sua própria trilha sonora”, conversando com o colega de poltrona. Nesses multiplexes o público se comporta mais civilizadamente do que nas salas sem campanhas educativas. Quando fui ver “O Gângster”, vários casais conversaram animadamente durante toda a sessão. Não adiantou fazer “Shhhh” ou gritar “Eu vim aqui ouvir o filme, não vocês, you bastards!”. Mas, enfim, pelo menos aqui tem campanhas. No Brasil o copo de refrigerante do shopping diz no máximo “Fale baixinho”. Que falar baixinho o quê! Cinema não é lugar pra tagarelar. Isso já virou praga no Brasil. Aqui, pelo jeito, é uma praga que já foi pior, e que estão tentando combater.

Outra diferença interessante é que por aqui o público que vai ao cinema é mais velho. Pensei que fosse só adolescente, como no nosso país tropical, mas não. No Brasil costumamos ser os tataravôs da sala. Em muitas sessões daqui é o contrário. Às vezes somos até os mais jovens. Tá bom, tá bom, não vamos exagerar.


Cinema Mudo

A greve dos roteiristas em Hollywood, a primeira desde 1988, é muito séria e vai afetar o mundo do entretenimento. É indiscutível que os roteiristas têm razão. Eles querem subir o valor que ganham por DVD vendido (de US$ 0,04 pra 0,08) e, principalmente, colocar no papel um bom negócio pra quando os estúdios começarem a ganhar dinheiro pela internet – o que ainda tá longe de acontecer. Quando surgiu o vídeo, os roteiristas não imaginaram os lucros formidáveis que sairiam disso e fecharam um acordo ruim. Não querem que isso se repita com as novas tecnologias. Mas e as consequências? Graças à greve, os estúdios vão perder uma montanha de dólares. A televisão americana (e a cabo que chega pra gente), já a partir do ano que vem, será invadida por reality shows. Sem ninguém pra escrever os diálogos, vamos ficar com as besteiras que saem das bocas dos Big Brothers da vida. E não quero nem pensar em como será a cerimônia do Oscar, em fevereiro. Imagina os astros tendo que improvisar suas próprias piadinhas! O cinema vai sofrer, mas talvez só em 2009. Os estúdios ainda têm material pra desenvolver pro ano que vem. No entanto, como um longa demora em média três anos entre sua primeira fase, o roteiro, e o produto final, é altamente provável que falte filme em 2009. Se eu fosse um cineasta brasileiro, aproveitaria pra filmar agora e estrear o filme daqui a um ano e meio. A concorrência desleal vai baixar um monte.

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