Além de mostrar a vida difícil dos cavalos de 350 a. C., que recebiam nomes como Bucéfalo e tinham que enfrentar elefantes em batalhas, “Alex” fala da história de Alexandre, o Grande, que conquistou 90% das terras conhecidas de seu tempo. Isso é motivo de orgulho? Bom, depende pra quem. Podia ser pros gregos, não pros povos conquistados. É como se hoje a gente olhasse pro que os americanos fazem com o mundo e dissesse, “Pô, mas esses cabras-da-peste são porreta! Qual será o próximo país que eles vão invadir, quer dizer, conquistar?”. As semelhanças entre o grego arretado e o Bush não terminam aí. Alex às vezes devolvia o poder ao antigo líder pra cultivar aliados. Parece familiar? Não vai ter eleição no Iraque? Ainda que o Bush não chame todas suas novas terras de “Bushlândia”, como Alexandre fazia com suas “Alexandrias”, Alex teve a brilhante idéia de dominar uma civilização por meio da cultura. Sabe, como os EUA fazem através de Hollywood? Então, infelizmente o filme não explora bem isso. E é justo na indecisão ideológica que “Alex” se perde. Stone vangloria muito mais que condena o imperialismo. É verdade que, quando a narração em off diz, “Aos 25 anos, Alexandre já era o rei de tudo”, a câmera exibe um campo de mortos. Mas pra cada uma dessas contradições temos dez instantes contando como Alexandre era mais que grande, era enorme. Isso se explica porque o Stone, no fundo, tem adoração pelo poder. Em “Wall Street”, por exemplo, ninguém brilha mais que o capitalista selvagem do Michael Douglas, certo?
Outro problema do filme é a preguiça. O Stone enche a tela de nomes e datas, e ainda assim não esclarece nada. O pior é a narração babona do Anthony Hopkins. E, se a gente quer ter um parâmetro de como o Anthony tá ruim, é só comparar com a Angelina Jolie, que faz a mãe (parecendo namorada mais nova) do Alex. A Angelina, ultra-exagerada, meio que mastiga o cenário e rouba todas as cenas. Só não entendi porque ela imita o sotaque do Drácula. No filme, todo mundo fala inglês porque, lógico, era o que os gregos usavam pra se comunicar naquela época. Já os macedônios têm sotaque irlandês, uma salada. O mais irlandês de todos é o do Colin Farrell (“Por um Fio”, “Demolidor”), que faz o papel-título. Pra mim o Colin é século XX demais pra convencer como grego da antiguidade. Mas, pelo menos, o menino que faz o Alex mirim é a cara do Colin.
Claro que nada disso, ideologia, interpretações, importa. Pelo que pude perceber na sessão, o filme será debatido pela ótica do homossexualismo. Stone deixa claro que o grande amor da vida do Alex foi um amigo de infância. O sujeito se casa com o sexo oposto só pra reproduzir e formar alianças. E o público atual, homofóbico, ficou nervoso com essa revelação. Eram gemidos e uivos de pavor a cada troca de olhar entre dois homens. Ahn, gente, Alex não foi um guerreiro pior ou melhor por ter sido bi. Isso era comum na Grécia daquele tempo, e aposto que, se em 350 a. C. houvesse cinemas passando filme mostrando um homem apaixonado por outro, o respeitável público de então não se escandalizaria. E olha que o Stone não é nada explícito. Se com olhares e abraços entre os dois a platéia já tava tendo um chilique, se houvesse beijo o pessoal ia ter um ataque epilético. Aí sim o espectador sairia horrorizado, reclamando das “cenas fortes” à la “Cazuza”. Prum filme de 150 milhões de dólares, acho que o Stone foi muito audaz. Mas eu não canso de me impressionar. Tem tromba de elefante cortada ao meio, tem neguinho perdendo membros do corpo, e o público se choca com as declarações de amor do Alex pro seu amigo?! Deixa quieto. Bom, depois de “Tróia” e deste “Alexandre”, a gente já tá doutor em história grega. E tudo graças a Hollywood, aquele império tão bonzinho...
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